Slow down, you crazy child
cena de Atonement, 2007Sentei aqui para escrever esse texto de hoje com muita relutância. É muito fácil me esconder, enroscar na coberta aqui, na casa da minha mãe, cercada do meu colírio pro glaucoma, meu Kindle e meu celular tocando Sex And The City S04EP11. E eu juro, é o que eu queria estar fazendo agora.
Ainda sim, uma força me puxa. Preciso escrever. Preciso falar. O expurgo das palavras precisa acontecer. Esse é meu método.
Estou passando por um momento clichê e crucial na minha vida. Carreira, família, amor. O Retorno de Saturno me pegou de jeito e ainda bem que tenho a ele para culpar pelo meu caos. Estou em um momento na corrida onde seus músculos já aqueceram e estão preparados, mas seu cérebro não. É o ínterim, o momento em que se acelerar demais, você se cansa, se acelerar de menos, você para.
Ah, leitor, eu não posso parar. Essa promessa fica.
People are fragile things you should know by now.
It breaks when you don't force it
It breaks when you don't try
Quebra, se você não força. Quebra, se você não tentar.
Quais são esses limites entre a quebra e a tentativa? Acho que são únicos para cada um de nós e só descobertos em movimento, em contato, em vida. É impossível mensurá-los assistindo a vida passar, sentado em uma poltrona de veludo, mas se passar rápido demais, deixamos de enxergar.
Sou a filósofa do movimento, da defesa do caminhante no hay camino, se hace camino a andar. E às vezes, movimento não quer dizer sair do lugar, mas sim uma revolução silenciosa, dentro de um peito desesperado repleto de gritos e palavras que nunca ultrapassaram a linha da garganta. Você acha que não tem nada acontecendo ali, mas sob a superfície, montanhas estão sendo movidas e os rios, transplantados.
A resiliência sempre foi minha pior inimiga.Graças a Deus não sou um elástico. Muito menos um bambu. Acho que metáforas de resiliência não me pegam mais, por mais que elas funcionem muito bem no ambiente corporativo do Linkedin.
Estou em um momento que o baque não é mais aceito calmamente, ele é aderido ao meu movimento. Absorvo a força do impacto enquanto corro, em vez de virar um elástico, eu levo o soco e se eu cair, preciso levantar o mais rápido possível. Não paro mais.
O chão, o fundo do poço e a melancolia vinda dos socos da vida são locais muito familiares para mim. Se eu me esticar para absorvê-los, eu não volto mais para a superfície. Meu baque é em movimento, preciso ter o shape de um carro de Formula 1 ou de um freio ABS, para não parar de uma vez, porque se parar, eu perco a minha pole position e rodo na pista. Retomar o pace é muito mais difícil depois que você para.
Sofro, mas escrevo. Choro, mas mando minha newsletter.
Estou chorando e sofrendo há muitos dias e não acho que isso vai diminuir. É o impacto. Como diz minha querida amiga Hachiko, todos os caminhos requerem coragem. Você tem?
Eu acho que tenho, aqui em algum dos meus bolsos, espera um minutinho que já já eu acho. Eu sei que vou encontrá-la. Ela tá aqui.
Recomendação de música da semanaJá citada aqui, Munich do Editors é um soco no rosto e um lembrete de que humanos são coisas frágeis, you know?
Recomendação de livro da semanaO que eu falo quando falo de corrida, do Murakami.
Se você ainda não sabe se vale a pena pagar R$100,00 em um top de alta sustentação e comprar um pote de vaselina pra passar entre as coxas, chegou o seu momento. Esse livro do Mura dá uma vontade terrível de calçar o tenis e sair vazado na rua, sem medo de ser assaltada e se lembrando de alongar no final e no começo. Recomendado pra quem quer começar a fazer algum esporte. O mais importante é começar e fazer aos pouquinhos.
Obrigada por ler até aqui. Vamos sobreviver até a próxima semana, combinado?


