Patriotismo idealista, linguagem eloquente e enredo de ações grandiosas caracterizam este romance, considerado o melhor exemplar do indianismo romântico. Publicada durante o Segundo Reinado, a obra é um marco na representação dos valores patriarcais da época. A ação, que se passa no início do século XVII, envolve Ceci, a filha de um desbravador português, e Peri, um índio goitacá. O texto de Alencar ganha, nesta edição, prefácio e notas de Eduardo Vieira Martins, professor da USP.
José Martiniano de Alencar was a Brazilian lawyer, politician, orator, novelist and dramatist. He is one of the most famous writers of the first generation of Brazilian Romanticism, writing historical, regionalist and Indianist romances — being the most famous The Guarani. He wrote some works under pen name Erasmo. He is patron of the 23rd chair of the Brazilian Academy of Letters.
José de Alencar was born in what is today the bairro of Messejana on May 1, 1829, to priest (and later senator) José Martiniano Pereira de Alencar and his cousin Ana Josefina de Alencar. Moving to São Paulo in 1844, he graduated in Law at the Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo in 1850 and starts to follow his lawyer career at Rio de Janeiro. Invited by his friend Francisco Otaviano, he becomes a collaborator for journal Correio Mercantil. He also wrote for the Diário do Rio de Janeiro and the Jornal do Commercio.
The house of José de Alencar, in Messejana It was in the Diário do Rio de Janeiro, during the year of 1856, that Alencar gained notoriety, writing the Cartas sobre A Confederação dos Tamoios, under the pseudonym Ig. In those, he criticized the homonymous poem by Gonçalves de Magalhães. Also in 1856, he wrote and published under feuilleton form his first romance: Cinco Minutos. He was a personal friend of Joaquim Maria Machado de Assis. Coincidentally, Alencar is the patron of the chair Assis occupied. He died in Rio de Janeiro in 1877, a victim of tuberculosis.
Eu vejo aqui neste site e não entendo como este livro pode ter média de estrelas menor que 3. Vejo a quantidade de pessoas que deram uma única estrela. Parece que elas estão 'se vingando' de algo, seguramente dos professores que obrigam seus alunos a ler esta obra.
Na era de vampirinhos softs, sadomasoquismo 'clean' para mamães é realmente espantoso a falta de valorização do brasileiro pela cultura que é dele próprio. Este livro é uma pérola nacional que vai além de fronteiras, é um romance universal de qualidade do mesmo porte de um Dostoyevski, um Huxley, ou seja vai muito além de fronteiras.
Leva-se alguns capítulos para pegar o ritmo do escritor, no início é meio árduo, como aliás em qualquer grande romance de qualquer autor, brasileiro ou não.
Reconheço que ler algo obrigado é uma tortura, eu também passei por isso na minha idade de escola e eu prórpio me neguei a ler este livro apenas como forma de protesto (eu era rebelde) contra a "opressão do sistema".
Agora que resolvi ler todos os clássicos da literatura nacional vejo a caixa de tesouros que temos logo ali na esquina pois até em posto de gasolina se vende um ou outro clássico tupiniquim .
Este livro é um clássico, ele é eterno, quase perfeito na forma, quase perfeito na trama e é exatamente por isso que é tão cultuado. Ele transcende, vai além de fronteiras. Influencia quase todos os escritores brasileiros. Sua trama é seguramente universal, quer você seja silvícola como Peri quer você seja branco invasor como d. Antônio. Enfim, leia primeiro, fique com raiva (ou amor) depois.
Bomzinho e tal. Mas uma vez mais, reitero-me naquilo que os clássicos e eu não nos damos muito bem. No obstante, o Guarani até que conseguiu me satisfazer, pois comecei-o esperando encontrar algo bem menos condizente com o que me faz desfrutar com a literatura. Contudo, encontrei uma estória com um ótimo argumento, momentos vários de tensão e intriga, personagens superficiais, mas que causam interesse pelo seus papéis na na trama; assim como uma descrição histórica, geográfica, religiosa e antropológica bastante interessante e aprofundada. Percebe-se que José de Alencar foi um grande estudioso dos costumes indígenas, tanto quanto do ecossistema em que transitavam eles e os exploradores que assaltaram o terreno que não lhes pertencia. Enfim, pode-se dizer que estamos diante de uma boa obra, que muito influenciou nossa rica literatura.
PS: Não consegui suportar a Ceci em momento algum. Credo.
Um romance pelicular que retrata os indígenas do Brasil. As descrições nos transportam para uma natureza idílica que parecem compadecerem-se pelas personagens. Todo o ambiente nos comove e representa os mais diversos tipos de amor. Em particular, Peri e o seu amor devoto por Cecília nos demonstra a grandeza de alma de uma selvagem que todo é capaz de se sacrificar por amor a sua "senhora". Não deixando de ser uma alma livre, der ser um caçador e ter um extrema sintonia com a natureza. O episódio do ataque da tribo , descrevendo os seus rituais fazem-nos entender as dualidades entre os povos ditos como civilizados e os guaranis ( os indígenas).
Comecei a ler “O Guarani” com certo pé atrás. Não faltam motivos para essa prevenção: a leitura obrigatória na escola, que faz José de Alencar virar lição de casa; o estilo palavroso, que saiu de moda, a abordagem da questão indígena, agora antiquada... O livro, porém, recompensa quem ultrapassa a barreira dos elementos datados e se deixa levar pela história.
A primeira noção que superei foi a de que Alencar é um escritor chato. José de Alencar é um grande escritor de aventura e Peri é um Indiana Jones, um James Bond nacional. Depois dos primeiros capítulos, em que Alencar apresenta os personagens e o local em que se desenrola a trama, o que temos é um enredo animado de traições, planos mirabolantes e fugas épicas. Um capítulo engancha no outro, a leitura é empolgante e o clima é de suspense.
Como em “O Vermelho e o Negro”, porém, o que eleva a obra é o final. Como o livro de Stendhal, até os últimos capítulos, “O Guarani” é um novelão - com a diferença que não há um grande personagem n’O Guarani, com motivações complexas e personalidade multifacetada. Os capítulos finais d’O Guarani tem 2 grandes méritos: eles dissolvem a dicotomia entre civilizados e selvagem e operam essa dissolução em campos diferentes. No campo literal, Alencar ainda celebra a nobreza de caráter de D. Mariz, o bom cristão, e valida a imolação de Loredano, o frade que abandona a batina por dinheiro. O leitor se solidariza à família portuguesa e aos aventureiros que desbravam a terra. Porém, as imagens que Alencar constrói, carregadas nas tintas do romantismo, condenam silenciosa mas enfaticamente os portugueses - e, de certa forma, também o leitor que foi levado a se identificar com essa nobre família portuguesa e condenar os atos bárbaros dos aimorés. Alencar nos fala dos aimorés, terríveis canibais com seus rituais macabros; em seguida, nos mostra Loredano na fogueira, uma solução arquitetada pelos bons e civilizados cristãos. Alencar descreve os aimorés como animais de caça, matadores natos; algumas páginas depois, o ato de morticínio em massa é cometido por um D. Mariz agarrado à cruz.
Depois dessa cenas, se ainda resta dúvida ao leitor, vem o último ato - um apocalipse, um dilúvio mítico, um julgamento final. Tal qual o episódio bíblico de Noé, o mundo antigo é apagado e restam apenas o melhor dos indígenas e a melhor dos portugueses - Peri e Ceci, um início esperançoso para a identidade brasileira.
Terminei o livro convencida de que Alencar é um grande escritor. “O Guarani” entretém, é sensível à complexidade e tem a ambição de fornecer uma lenda de origem ao país.
Concluindo o primeiro título da leitura conjunta do projeto #lendoliteraturabrasileiraad cheguei a uma agradável constatação: é possível gostar, de verdade, dos livros que corremos durante toda o ensino médio rs A escrita de Alencar é muito instigante, durante todo o texto ele cria situações que fica humanamente impossível não querer saber o desfecho. Claro, como toda boa obra do romantismo, o título é generoso nas descrições, mas não suficiente para pesar a leitura. Aliás, o maior destaque desse livro é como a história é contada. Alencar ganhou um admirador ;-)
Obs.: maiores informações sobre o projeto mencionado no IG @alvarobooks
Eu entendo que no período romântico da literatura brasileira, machismo não era algo de extrema importância e a visão da sociedade quanto a isso era mínima, e mesmo descartando isso, ainda há toda aquela idealização que não fazem meu estilo literário e a linguagem e muito mais carregada que a de livros atuais, porém é um livro interessante, com um ritmo divertido e descrições poéticas excelentes que, na minha opinião, se encaixavam perfeitamente na época onde o romance foi escrito, e o autor soube como criar um enredo, mesmo que fantasioso (principalmente na força do Peri e nos acontecimentos surreais), muito interessante. Porém não há como esquecer a falta de profundidade de certos personagens e suas motivações e paixões, o que deixa a desejar quando o autor é notavelmente talentoso com descrições detalhadas.
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Maravilhoso, José de Alencar cumpre bem o seu objetivo de criar uma identidade nacional em seu romance. O autor consegue colocar na estória uma parte as origens do povo brasileiro, o índio e o cristão, a paz e a guerra. É impressionante a sacada que ele tem de associar histórias bíblicas, com versões indígenas dessa mesma história, ao retratar a história de Noé com a versão indígena de Tamandaré, e colocar um dilúvio em seu romance. Mesmo tecendo sobre uma base romancista européia, não tem como negar que se trata de um excelente desenvolvimento de uma literatura brasileira, cultura brasileira. A riqueza de detalhes culturais, geográficos, o conhecimento de botânica, além da riqueza do idioma em si é algo fascinante. Super recomendo.
"Sejam mil, Peri vencerá a todos, aos índios e aos brancos".
Tinha por mim que iria demorar para ler O Guarani, que o acharia chato, datado, entediante.... enfim, tudo que me foi reforçado durante meu ensino médio. Qual foi minha surpresa, então, ao me deparar com essa obra prima de José de Alencar!
Não consigo descrever a experiência que foi essa leitura, e me repreendo por muitas vezes preferir os clássicos estrangeiros aos brasileiros, quando temos aqui exemplos tão magníficos da literatura. Tenho certeza que O Guarani vai me acompanhar por toda minha vida, e recomendo a leitura a todos.
Jose de Alencar's writing is incredibly beautiful. Even though the narrative can get redundant and absurd at times, the imagery is vivid and colorful. I won't get into the social and racial issues of the story, I'll just say that it is a great book to read, enjoyable throughout, exciting and tragic.
Até hoje fico chocada que não satisfeito em escrever Iracema, Alencar foi lá e escreveu essa outra chatice aqui só que com os gêneros trocados. Ler sobre toda essa devoção que um indígena "ideal" teria pela sua mestra branca é insuportável e José de Alencar com certeza deve ser responsável por cortar pela raiz o interesse em leitura de mais da metade dos brasileiros. Machado de Assis outsold.
Considered a masterpiece of the literature in Portuguese, I think they should not give it to so young children, almost wearing pampers, in order to read and write essays about it. Doing that totally ruins any possibility of really enjoying the book or the story.
Ler José de Alencar com o passar do tempo faz que o admiremos ainda mais. Encantei-me com a pureza e a devoção de Peri, com sua força, sua coragem e seu caráter. Entender melhor o romantismo, as descrições do nosso país e as particularidades dessa obra foi uma das melhores escolhas para esse ano.
Obra do romantismo brasileiro, versão de telenovela antes da tevê - o folhetim. Originalmente publicada em capítulos semanais no Diario do Rio de Janeiro em 1857. Pretensamente histórico, mas dentro dos cânones da escola romântica no cenário do novo mundo. Distração ligeira.
Magnum opus of the author. Would recommend for those interested in racist depictions of XIXth century Brazil or prolixe and dispensable 18 pages descriptions of objects.
Meu primeiro livro do José de Alencar e posso dizer que estou super surpresa com o quanto gostei dele! Depois dos primeiros 5 capítulos, a coisa começou a andar e não parou mais! Eu dormia pensando nesse livro e nos próximos acontecimentos de tão curiosa que fiquei! Da época do romantismo, tem todas as suas características e obviamente aquele amor louco e alucinante do clássico. Entretanto, nada disso me incomodou, pelo contrário, achei muito interessante a forma como Alencar nos mostrou diversos tipos de amor dentro de uma mesma narrativa. Além disso, é interessante acompanhar as tradições e morais da época do colonialismo, mesmo que elas não façam mais sentido pra gente hoje. Também é bacana enxergar os dois lados da história, mesmo que esse não seja muito o foco, a cultura brasileira e as tradições indígenas estão muito presentes. Peri é um dos personagens mais puros que já conheci na literatura brasileira, e o seu amor por Cecília até me emociona (mesmo estando dentro do estereótipo indianista e romântico). Eu já imaginava o que aconteceria no final, mas as últimas páginas me frustraram um pouquinho. Alencar podia ter nos dado algo mais específico, né?! É um clássico do romantismo que, na minha opinião, vale muito a pena a leitura. José de Alencar tem uma linguagem e uma forma de narrar única, e que é absolutamente encantadora.
Então, né... Tem que lembrar que é uma obra da metade do século XIX, que mulheres eram retratadas de outra maneira - 16 anos já é suficiente para a promessa de matrimônio e paixões ao mesmo tempo que a menina tem olhos tão sonhadores, uma "pureza virginal" e se delicia brincando o dia inteiro -, que o Brasil vivia ainda numa normalização da escravidão e que as dinâmicas sociais eram outras, bem outras.
Vencer 2/3 do livro foi um tanto quanto difícil pela devoção obsessiva de Peri, pela linguagem rebuscada e poética que me roubava um pouco o foco do que estava efetivamente acontecendo e porque parecia que eu lia, lia, lia e pouco tinha evoluído. Mas, paciência. No final o negócio anda mais rápido e as últimas páginas fazem valer a pena.
Enfim, retomei a esse título da minha época de vestibular porque adentrei mais a fundo na história do Brasil ultimamente e perceber a importância da obra. Foi uma jornada que valeu muito a pena!
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Fui consultar meu review de Iracema pra poder me embasar melhor no que eu senti lendo Alencar antes. O Guarani é anterior, mas guarda parte do projeto literário de criar uma literatura genuinamente brasileira (com os matizes românticos da época). Tal qual Iracema, parece que há uma tentativa de não só estabelecer a literatura, mas construir um mito fundador: o brasileiro como junção do indígena ingênuo e nobre com o valente português cristão. Os gêneros aqui são trocados, mas posto que Iracema vem depois, me arrisco a dizer que era mais fácil para a visão de mundo de Alencar encaixar o heroísmo português em Martim do que a ingenuidade de Cecília, a coprotagonista de O Guarani. O que não senti nesse livro como pareço ter sentido em Iracema, é a distinção entre o brasileiro verdadeiro e o indígena. Aliás, pelo contrário, o livro todo é calcado na natureza local como sendo o ponto de pureza da terra, que por exemplo revigorou o fidalgo D. Antônio. Peri, o protagonista indígena, é chamado de nobre, de rei, muito antes da sua conversão ao cristianismo. Ele é o exemplo de um abnegado extremamente virtuoso, inclusive mais até que alguns dos portugueses. O vilão, aliás, é um frade que larga a batina impromptu, nem chega a ser um falso frade ou coisa do tipo, o que parece que seria polêmico na época mas ninguém menciona. Talvez ele metaforicamente largar a batina não tornou isso uma crítica velada à Igreja, mas isso que pareceu legal, o índio tem mais virtude que o frade! Talvez por ter sido anterior à sua época política/conservadora, aqui Alencar está menos marcado por alguns vícios? É óbvio que a colonização feita por D. Antônio é extremamente romantizada, e claramente Peri é uma exceção: os aimorés são representados como bárbaros canibais. Ainda assim, o papel mais relevante dado à natureza brasileira como originária do arquétipo do brasileiro original, ao invés da noção de Iracema onde o brasileiro só surge da mistura de povos e portanto a natureza originária não é protagonista nacional, é mais legal. E de verdade, todo mundo fala que esse livro é um porre, achei que ia ser um peso, e né não, só não devia ser empurrado goela abaixo de uma criança de 12 anos que não lê usualmente.
A ripping yarn set in the forests of the interior of the State of Rio de Janeiro in the 1600s, the plot revolves around the relationship between Peri, a Guarani and Cecilia, the daughter of a Portuguese nobleman. Although a novel that celebrates the beauty and diversity of Brazilian forest and river, there are very dark, Gothic elements woven throughout the book with some surprising and in one case truly ingenious (but profoundly macabre) plot twist. However the characters are superficially sketched which detracts significantly from the tale - the heroes are nothing but heroic, the villains capable only of the most desperate villainy and the idea of the "noble savage" appears over and again with little development. The Portuguese is that of the 1850s which made reading hard work but worth the effort.
Achei um porre, uma chatice. A história pode ter seus momentos, mas no geral é chata e demora pra avançar. A escrita foi o que odiei mais: não era difícil, mas repetitiva, prolixa, feia, sem esmero. A narração me irritava. Toda hora era falando de como a Cecília era pura, inocente, risonha, gentil bla-bla-blá; como o pai dela era nobre, altivo, corajoso, venerável bla-bla-blá; como o Peri era forte, inteligente (mas inculto, sem educação da cidade), ágil, e principalmente servil e obediente. Acho que metade do livro é só dessas descrições idealizadas e estúpidas, enquanto eu quero uma história boa e personagens interessantes
gostei desse livro muito mais do que achei que gostaria, mesmo sendo uma novelona e, como todos sabem, repleto de imagens idealizadas e preconceituosas dos povos originários. obviamente, temos também de situar o livro em seu tempo. o Alencar escreve super bem e a leitura é bem fácil. depois do primeiro quinto do livro, a leitura também fica bem mais rápida.
Me espanta que as avaliações desse clássico sejam tão baixas. A história, que se passa no Brasil colônia dos anos 1500, tem como personagem principal o índio Peri, que apesar de indígena, se vê profundamente atraído pela jovem Cecília, a quem estima como a uma santa. É um romance heróico, particularmente bem construído e com um linguajar rebuscado característico da época em que foi escrito.
Como era de se esperar, apesar disso tudo, a narrativa carrega fortes esteriótipos comuns ao período. Indígenas são retratados como povos selvagens, até mesmo monstruosos, como quando se refere aos Aimorés: “Os lábios decompostos (…) se haviam transformado em mandíbulas de feras afeitas ao grito e ao bramido. As grandes unhas negras e retorcidas que cresciam nos dedos, a pele áspera e calosa, faziam suas mãos, antes garras temíveis, do que a parte destinada a servir ao homem e das ao aspecto a nobreza do gesto. (…) que a não ser o porte ereto se julgaria alguma raça de quadrúmanos indígenas do novo mundo”.
A história tem um quê eurocentrismo branco muito presente. Os colonizadores portugueses são retratados como um espécie de enviados do Deus cristão para povoar uma terra repleta de selvagens desprovidos de inteligência. Ainda que Peri seja bem quisto e represente o grande herói da narrativa, este é constantemente subjugado pela família branca que o acolheu e tratado mais como um serviçal do que como um amigo de fato. O próprio Peri se intitula “escravo” de Cecília inúmeras vezes, e tanto a moça quanto sua família praticamente o tratam como tal, ainda que sejam afeiçoados a ele.
De toda forma, são questões e preconceitos de se esperar de uma história escrita há mais de 150 anos e ambientada à época das capitanias hereditárias — e isso não desmerece a história. Apesar das problemáticas, é uma obra que merece ser lida, sobretudo pelo valor histórico e literário. José de Alencar construiu uma narrativa envolvente, com cenas marcantes e personagens que, embora idealizados, ajudam a compreender um Brasil que ainda buscava definir sua identidade.