In August 1960 the publication of Quarto de Despejo ( Child of the Dark ) created a sensation in Brazil—and in the rest of the world—as it appeared in translations in fourteen languages. That diary of a poor black woman from a favela on the outskirts of São Paulo became the best-selling book in Brazilian history. In it, Carolina Maria de Jesus chronicled her life as an unemployed, single parent of three children, eking out a precarious existence selling scrap paper and other detritus found in the city streets. She described how she wrote at night on the scavenged scraps. Her remarkable diary—angry, proud, wretched, and hopeful—was found and published by an enterprising journalist. The book’s success permitted Carolina to leave her flimsy shack in triumph and move into the cinder-block house of her fantasy.
I’m Going to Have a Little House is de Jesus’s second diary. It covers the first year following her rise to fame. In it she recounts her struggles with celebrity, middle-class expectations, and the racial and social tensions her success had exacerbated. This work, never previously translated into English, tells the rest of the story—the grim truth that favela life doesn’t prepare one for middle-class "respectability" and that the fall back into poverty is as easy as the struggle to escape it is difficult. Carolina Maria de Jesus died in 1977, forgotten and in poverty.
Carolina Maria de Jesus was born on March 14, 1914 in Sacramento-MG, where she lived in her childhood and adolescence. Her parents probably migrated from Desemboque to Sacramento as a result of changing the economics of gold mining to farming activities.
In Sacramento, she attended primary school in a Spiritualist College, which had a mission aimed at poor children of the town, with the help of influential people. Carolina studied just over two years but learned to read and write there. She later remembered reading posters outside movie theaters and realizing that reading was not just something done in school, but a skill that could be used everywhere. All her reading and writing was based on this short time of formal education. She quit school but never stopped reading and writing.
Moving to São Paulo in 1947, Carolina went to live in the now defunct favela of Canindé, in the northern part of the city. She earned money by collecting recyclable materials. When she found notebooks or blank papers in the trash she saved them for her writing. She wrote novels, plays, letters to authorities and poetry in addition to her ongoing journal.
Even before all the injuries, losses and discrimination she suffered throughout her life, Carolina revealed through her writing the importance of speaking up in honest testimony, as a means of complaint about social inequality and racial prejudice.
Her best known work, Quarto de Despejo (Place of Garbage) – Diário de uma favelada (published in America as Child of the Dark), edited by journalist Audalio Dantas and released in 1960, had an initial print run of 10000 copies, which sold out the first week. More than 55 years since then, the book has already been translated into 13 languages and sold in more than 40 countries. This book is a chronicle of life in the favela do Canindé, at the beginning of the "modernisation" of the city of São Paulo and the emergence in the outskirts. Its cruel and perverse reality was until then little known. This documentary literature, in its unique black female narrative, was known and named as journalism of denunciation of the years 1950-1960. It is still considered a current work, because the theme of problems lasting to this day in the big cities.
The work of Carolina Maria de Jesus is an important reference to the cultural and literary studies, both in Brazil and abroad and represents our peripheral/marginal and Afro-Brazilian literature. An example of strength, intelligence and ability to stay forever in the history of our culture.
Even today, much of Carolina's production remains unheard. The researcher Raffaella Fernandez still is dedicated to the organization of the manuscripts of the author. In a set of more than 5000 pages, are 7 novels, 60 short texts , 100 poems, 4 theatre plays and 12 letters for Carnival marches.
In 2014, as a result of the Projeto Vida por Escrito – Organização, classificação e preparação do inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, awarded the Prêmio Funarte de Arte Negra, it launched the Biobibliografic Portal of Carolina Maria de Jesus (www.vidaporescrito.com) and, in 2015, released the book Vida por Escrito – Guia do Acervo de Carolina Maria de Jesus, organized by Sergio Barcellos. The project mapped the entire material of the writer who is guarded by several institutions, including: Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Museu Afro Brasil, Arquivo Público Municipal de Sacramento and the Acervo de Escritores Mineiros (UFMG).
E chegou a primavera! Nada como comemorar com uma resenha para o Desafio Literário Popoca de setembro, cujo tema é uma obra que se passe na sua cidade ou país!
Já faz algum tempo que a importante autora negra brasileira Carolina Maria de Jesus ronda minhas listas de leituras a fazer, porém, sua obra não é fácil de encontrar em livro digital. Esse ano finalmente consegui comprar seu segundo livro estilo autobiografia, Casa de Alvenaria.
Carolina não deveria precisar de apresentações, mas sabemos como essas coisas são no Brasil. Nascida em 1914 no interior de Minas Gerais, de pais analfabetos, Carolina foi ainda jovem para São Paulo em busca de melhores condições de vida, e acabou morando numa favela, que hoje já não existe mais. Para sobreviver, a autora trabalhou como empregada doméstica e catadora de papel, sustentando sozinha seus três filhos. Ela mesma construiu o seu barraco na favela, e nas horas vagas escrevia um diário sobre como vivia na miséria. Descoberta pelo jornalista Audálio Dantas em 58, seu primeiro livro, Quarto de Despejo, foi lançado em 1960 e desde o seu lançamento vendeu mais de um milhão de exemplares no Brasil e no exterior, sendo traduzido para 13 idiomas em mais de 40 países.
Durante muito tempo ela foi uma das autoras brasileiras mais famosas fora do país, e hoje é considerada uma das autoras mais importantes da literatura brasileira, em especial da literatura negra.Depois de Quarto de Despejo, Carolina começou a escrever outro diário, onde registrou os problemas pelos quais passou quando se tornou famosa. Esse livro é Casa de Alvenaria. E que livro!
Sendo meu primeiro volume da autora não tenho como comparar com sua obra mais famosa, mas posso dizer que Casa de Alvenaria é um dos melhores livros que li esse ano. O estilo de Carolina Maria de Jesus é singular, considerando que apesar dela ter estudado por apenas dois anos quando criança, quando aprendeu a ler e a escrever, ela sempre foi apaixonada por livros e leu de tudo que conseguiu colocar as mãos. Soma-se a isso uma forma de pensar e de analisar a vida e o cotidiano com uma singeleza ímpar, porém muito realista e sem papas na língua, e você tem esse resultado único e absolutamente incrível.
Casa de Alvenaria é um diário muito interessante, que tem um retrato impressionante do início dos anos 60 de São Paulo, com direito às anedotas fantásticas da vida da autora, incluindo aos lançamentos, autógrafos, jantares em sua homenagem e a adaptação do seu livro em peça de teatro. Além disso, a autora incluiu seus pensamentos sobre política, economia, pessoas famosas que teve oportunidade de encontrar (e são muitas), racismo e também sobre os inúmeros pedidos de ajuda financeira que passou a receber.
Os dois últimos itens foram os que mais me fascinaram no texto de Carolina. Seu retrato da forma como o tratamento que recebia mudou de uma hora para a outra, como a olhavam como se fosse um animal exótico e como seus filhos eram tratados faz um contraste imenso com sua afirmação de que não existe racismo no Brasil, o que ela repete inúmeras vezes ao longo do texto. A maneira como seus antigos vizinhos de favela passaram a tratá-la, além de como ela passou a ser recebida em lugares que jamais imaginaria poder entrar também atestam sobre a luta de classes e a natureza humana.
Seu diário é fascinante não apenas por seu estilo maravilhoso, mas porque Carolina Maria de Jesus tem uma mente afiada para observar o que a cerca e tirar conclusões. Seu lugar no panteão da literatura brasileira é muito mais que merecido. Estou doida para conseguir outros livros dela.
Carolina Maria de Jesus è l'autrice brasiliana di cui mi sono occupata per la mia tesi di laurea, avendo tradotto un suo libro. Questo libro è il terzo di una ideale trilogia che racconta la vita di questa donna straordinaria che dal nulla è riuscita a farsi strada nel mondo delle lettere superando un'infinità di ostacoli: Carolina era infatti donna, nera, con un bassissimo livello di istruzione, madre single di tre figli e "favelada", ossia abitante di una delle peggiori favelas di San Paolo. In queste pagine incontriamo Carolina appena dopo la pubblicazione del romanzo che la consacrò al successo, una Carolina che finalmente lascia la favela con i suoi bambini, che si avvia verso una vita migliore, una Carolina che però non sarà mai davvero accettata nel mondo letterario e nelle più alte sfere della società. Troviamo qui tutta la sua frustrazione per essere sempre "la scrittrice della favela", e non la scrittrice e basta come lei avrebbe desiderato e meritato e, dall'altro lato, la sua quasi infantile felicità nel vedere il suo libro nelle vetrine di tante librerie di San Paolo. Carolina Maria de Jesus è stata una donna coraggiosa e determinata, una voce che ha denunciato per la prima volta senza paura e senza nessun secondo fine, la miseria nera e la violenza della favela dall'interno e la sua storia avrebbe meritato sicuramente un finale migliore.
"Disseram que sou comunista porque tenho dó dos pobres e dos operários que ganham o insuficiente para viver. E não tem um defensor sincero a não ser as greves, meios que recorrem para melhorar suas condições de vida. Mas são tão infelizes que acabam sendo presos e dispensados do trabalho. Conclusão: o operário não tem o direito de dizer que passa fome."
Quando li Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus o impacto foi enorme. Algumas vezes me peguei chorando. Os seus relatos sobre sua sobrevivência na favela do Canindé são extremamente dolorosos, principalmente, quando ela mencionava os momentos em que ela e seus filhos passavam fome. É de partir o coração. Dói em mim que nunca passei fome. Essas dores e impactos não foram grandes em Casa de Alvenaria e fico feliz por isso. Novamente, em forma de diário, Carolina como está sendo a mudança em sua vida depois de seu primeiro livro ter sido publicado. As dores da fome e da pobreza não prevalecem mais aqui. Mas isso não que dizer que não há outros infortúnios ou chateações.
Em Casa de Alvenaria acompanhamos a ascensão de Carolina e sua família, a mudança do barraco e favela para uma casa mais acolhedora. Além dos relatos de suas viagens para divulgar o livro e o seu contato com a alta sociedade brasileira. Carolina diz inúmeras vezes que saiu do inferno e foi para o céu com o sucesso das vendas de seus livros. Ela e sua família não passa mais fome ou necessidade daquilo que é básico. Estão vivendo em ascensão. A mudança de vida da autora não tira a consciência de classe incrivelmente forte que ela possui. Em inúmeras passagens desse segundo livro é possível ver a sua preocupação para com aqueles que ainda residem nas favelas, com os trabalhadores que ganham pouco e vivem fazendo greves. Os pensamentos possuem um viés comunista. Em determinado momento a questionam sobre o seu posicionamento político, se ela era comunista, ela diz que não porque nunca leu sobre. Acredito que Carolina não precisaria afirmar-se como uma pessoa comunista, uma pessoa de esquerda. A sua vivência, o seu conhecimento sobre a vida e sobre como os políticos, os empresários e o capitalismo tratam os mais pobres sempre foram claros para ela. Ela sabia que os pobres existiam porque os mais afortunados não intercediam e, sim, exploravam os mais necessitados. Casa de Alvenaria permanece extremamente político.
Gostei muito de ler a mudança de ar de Carolina, dos seus rolês com os granfinos. Pareceu-me que ela não se sentia tão deslocada. Sempre elogiava a forma como era tratada, dos restaurantes chiques ia, das pessoas com que conversava. Além disso, ela viajou bastante com o sucesso das vendas do livro. No entanto, nem tudo foi um mar de rosas. Inúmeras vezes ela relata o cansaço depois desses momentos de alegria. Esse não era o único momento que a deixava para baixo. Ela relata que muitas pessoas iam até ela pedir dinheiro ou outras formas de ajuda. Eram valores exorbitantes. Ela estava ganhando bem, mas não tinha virado milionária. Apesar disso, ela ajudou muitos dos que a procuraram. Ela sabia que de alguma poderia ajudá-los. Outro momento que oscilava bastante seu humor era sua relação com Audálio Dantas, o jornalista que a ajudou a publicar Quarto de Despejo. Ela conta que muitas vezes sentia-se como uma escrava quando se relacionavam. Ele parecia ser o seu senhor e também não gostavam quando ele afirmava que ela gastava muito do dinheiro que ganhava. Dantas a ajudava na parte financeira de seus ganhos.
A segunda obra de Carolina Maria de Jesus tem muitos outros momentos que martelam na minha cabeça. A autora queria seguir outras carreiras, estava com medo de escrever esse livro e relatar suas experiências com os ricos, os favelados que não gostavam mais dela. Além, é claro, de todo racismo que permanece já que ela era uma mulher preta retinta. Há passagens dela sofrendo racismo aqui e também há ela agradecendo por não existir um racismo tão forte no Brasil como havia nos EUA e em outros países. Infelizmente esse pensamento, com certeza, é obra do mito da democracia racial. Os momentos de felicidade também são inúmeros a felicidade em ver os filhos bem e sem fome, o seu livro publicado e ganhando o mundo, as entrevistas que deu. Enfim, Casa de Alvenaria é uma sequência feliz, menos impactante, mas tão poderoso quanto Quarto de Despejo. É uma obra que despertou ainda mais a minha vontade de conhecer não só a obra, mas principalmente a vida Carolina. É uma obra que recomendo sem questionar.
“Hoje eu não lavo as roupas porque não tenho dinheiro para comprar sabão. Vou ler e escrever.”
Extraído do livro “Quarto de Despejo: Diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus (1914-1977). A grafia foi mantida da forma como a autora escreveu.
Mesmo diante de uma vida sofrida e repleta de miséria, Carolina encontrava forças para ler e escrever muitas vezes com o som de sua barriga roncando de fome. Ela enfrentou as piores misérias humanas, lutando diariamente para tentar comprar o mínimo para distrair a fome dela e de seus filhos, e nem sempre ela conseguia atingir esse direito básico de qualquer ser humano. Grande parte da narrativa, ela expressa a dor da fome, como nesta passagem:
“... Eu não nasci ambiciosa. Recordei este trecho da Biblia: ‘Não acumules tesouros, porque lá estará o teu coração.’ Sempre ouvi dizer que o rico não tem tranquilidade de espirito. Mas o pobre também não tem, porque luta para arranjar dinheiro para comer.”
Se em Quarto de Despejo a gente sentia fome junto com Carolina e seus filhos, em Casa de Alvenaria vamos gradualmente perdendo o ar com o ritmo alucinado das obrigações profissionais que surgem com a fama, a importunação constante dos que batem à porta para pedir dinheiro, a falta de liberdade e sentimento de ser controlada que fazem Carolina duvidar se realmente houve uma melhora em sua qualidade de vida...
A simplicidade das constatações como "é bom ter comida" e como ela voltava o pensamento para a favela sempre que preparava o almoço.
Meu coração se despedaçou em mil pedaços cada vez que ela escreve, grata, "que bom que moramos no Brasil, onde não existe racismo".
Na continuação de Quarto de Despejo, Carolina mais uma vez expande minha visão de mundo com suas observações e relatos. Os cenários e as circunstâncias mudam, mas a verdadeira riqueza continua nas suas palavras.
Um novo angulo pelo mesmo olhar. Uma realidade diferente, longe da fome, longe do desprezo, do despejo, do esquecimento. E a realização de como isso pode ser tão indesejável, como carniça. Contrastes e mais contrastes do que existe ao redor de uma vida que mudou por completo graças a si mesma e ao acaso de ter sido encontrada pelo Repórter. Ela finalmente se vê lembrada, sem fome, vivendo o seu sonho, e infelizmente, bajulada à exaustão.
li recententemente na versão digital da LeBooks Editora. O grande mérito do livro é mostrar uma realidade que é diferente da nossa, embora muito comum no Brasil. A autora é uma mulher que se fez sozinha e criou os filhos com trabalho duríssimo, e, ainda assim, em condições totalmente adversas, conseguiu manifestar o seu amor pela escrita por meio de seus livros. Uma leitura que vale a pena.