Com Papéis Avulsos, que reúne os contos de Machado de Assis publicados entre 1875 e 1882 na imprensa carioca, o selo Penguin - Companhia das Letras revisita alguns dos momentos mais significativos do autor. Prefácio de John Gledson e notas de Hélio Guimarães.
Papéis avulsos, primeiro livro de contos publicado por Machado de Assis (1839-1908) após o lançamento de Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), é integralmente composto por momentos antológicos da ficção curta brasileira. De "O alienista", um dos mais famosos contos do autor, a "O espelho", cujo enredo psicológico tem fascinado sucessivas gerações de leitores e escritores (inclusive Guimarães Rosa, que escreveu um conto homônimo como "resposta"), este livro concentra alguns dos melhores personagens e situações do criador de Dom Casmurro.
Com introdução de John Gledson e notas de Hélio Guimarães, esta edição foi baseada na primeira edição do livro, única em vida do autor, e traz um pequeno texto introdutório de "Na arca", que Machado cortou quando publicou o conto em livro. Segundo Gledson, embora a unidade das histórias não seja à primeira vista evidente, textos tão dissimilares como "Teoria do medalhão" e "A sereníssima república" se entrelaçam do ponto de vista histórico. Além disso, são uma exploração multifacetada e irônica da situação do Brasil e dos brasileiros, no momento em que o autor tinha achado sua verdadeira voz.
Joaquim Maria Machado de Assis, often known as Machado de Assis, Machado, or Bruxo do Cosme Velho, (June 21, 1839, Rio de Janeiro—September 29, 1908, Rio de Janeiro) was a Brazilian novelist, poet, playwright and short story writer. He is widely regarded as the most important writer of Brazilian literature. However, he did not gain widespread popularity outside Brazil in his own lifetime. Machado's works had a great influence on Brazilian literary schools of the late 19th century and 20th century. José Saramago, Carlos Fuentes, Susan Sontag and Harold Bloom are among his admirers and Bloom calls him "the supreme black literary artist to date."
Psychiatry anyone? The Alienist is Dr. Simão Bacamarte, son of a Brazilian doctor, who studied at Coimbra and Padua, then at the age of 34 returned to Itaguahy, Brazil to practice his medicine.
His idea was to place all those suffering from mental health issues in one place, La casa verde. A big house full of windows. A house full of “loucos” all in one place? It will never work, said a lot of folk.
He flattered the local government, hired a chemist, and started his newly popular place. People dropped off their family members and business was booming. He even married a young woman, Dona Evarista. Oh my she is a vanity case. Things were going well until, well things fell apart.
Suspicion ran afoul. Some of the people who came to stay there had questionable past and soon a revolution was under way. Send in the troops; send in the government. Rebellion quashed. New rules are made.
A revelation. Who are the good people? The bad? The crazies? Who really needs to be locked up?
I have read several Machado de Assis over the last few years. His witt, brilliance and humour ran rampant through this tale. Loved the ending. 4.5 stars.
We need more Machado. Read this New Yorker article and you will see that I am not alone in this plea.
This ebook also has a collection of other short stories, so I indulged myself in a bath of Brazilian finery.
Da teoria do medalhão - Advice from a father to his son on his 21st birthday.
A chinela turca - A take on the Cinderella story with a Turkish slipper.
Na arca - Things go bad on Noah’s ark and worse, they might land in Russia or Turkey. Oh no!
Dona Benedita - Her aim in life was to marry off her daughter Eulalia to a good family. It was a struggle but one day, her own husband passes away. A dilemma. Shall she remarry or remain a widow?
Do segredo do Bonzo - A pastiche, in his own words, we are off to the land of Bungo where the invention of the Bonzo was made to alleviate swollen noses. Diogo Meirelles is our man.
Do annel de Polycrates - Xavier had all the luck in the world, like Polycrates of Samos. When Fortune told Polycrates to change his ways, he threw a very expensive ring in the sea. A fish swallowed it and the next day, when his cooks served him that fish, they found his ring. Fortune took his side. Our lucky man, Xavier.
O préstimo- One always needs to grease the wheels of trade with a little extra. Five thousand Reis go a long ways to getting the job done.
A sereníssima república- Behold, the world of the spider. Quiet, industrious, and hard-working. Remember Penelope, Odysseus’s patient wife, who spun her weaving everyday. Give women the vote!
O espelho - Mirror, mirror on the wall, who is the fairest lieutenant of them all? Ah, the mirror shows our twin souls! Very scary!
Una visita de Alcibiades - a surprise encounter by the Athenian one night. We must attend the dance but that Greek garb needs to go. Decked out in the latest fashions, all black, the poor man was ready for the morgue. Literally.
Verba testamentaría - Joaquín Soares was “one of the better artists in the land.” Follow the twists and turns of his life.
A lot of fun here. Amen.
PS I read an Apple e-book and since they are not listed on GR, the stories may be different than this kindle that así selected. But I think any collection of stories by Machado is a perk.
Só depois de ler os dois romances mais conhecidos de Machado de Assis surgiu a ideia iluminada de escrever a proprósito do brasileiro. A “culpa” é da sua função contista e daquele que provavelmente é considerado o seu melhor exercício: “O Alienista”.
Extraordinária é, desde logo, a sua mutação estilística, que faz de Machado de Assis escritor igualmente culto mas menos histriónico. A revelação da loquacidade exibida em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é eficaz, surpreendente, mas com prazo de validade mais ou menos preciso. Ora, em “O Alienista” essa neutralidade, essa ausência de um narrador forte, “engraçadisso”, faz sair para primeiro plano uma reflexão fascinante, modé, sobre a loucura como nova malaise, assente numa estratégia de aparente contaminação (como uma peste, ou uma cegueira progressiva).
Em Itaguaí, pequena cidade brasileira, o dr. Simão Bacamarte é um médico que pede a construção de um asilo, “a casa verde”, para assim colocar em local apropriado de estudo os loucos da zona. Tudo com intuito científico. Mas Simão, imune ao amor de D. Evarista, começa obsessivamente a mandar internar qualquer pessoa da cidade que possua sinais da dita “loucura”. Loucura é, no entender do médico, qualquer manifestação de bizarria, diferença. A dado momento, “o alienista”, assim é designado Simão, parece instrumentalizar a ciência como sinal de domínio político, naquele que se assemelha a um banal trajecto de um tirano. É pelo menos essa a leitura da cidade, quando liderada é a sua revolta pelo barbeiro. Este sim instrumentaliza a insurreição para ganhar o controlo da cidade. A animização do sentimento de revolta é usada para obter poder: uma vez atingido este, há uma tranquilidade que é sinal de falsa simpatia, de falsa segurança, mas que pode ser também o gérmen da sua “queda”. É o que acontece quando a revolta do barbeiro é substituída por outra revolta e logo derrubada. A política, o poder, não são puros, ao contrário da ciência lunática de Simão, e por isso, estão condenados a sucederem-se de forma vazia.
O grano de salis é que é só quando o poder governamental instituído repõe a ordem na cidade e Simão Bacamarte coloca a própria mulher no asilo, que este dá ordens para libertar todos os “loucos”, os contestatários das suas ideias. Porém, mantém-se a dúvida: o alienista é louco pela pureza com que leva as suas ideias? Ou é louco pelo equilíbrio, que entretanto se formou em torno da sua personalidade, equilíbrio quase ficcional, por medo, criado pela sociedade? Ou equilíbrio porque tudo à sua volta se modifica e só a certeza da definição de loucura, em toda a sua obstinação, se mantém sã?
Mimando a forma de ver a loucura ao longo dos séculos, também o alienista constata que o louco não é o que age de forma diferente mas aquele que é demasiado igual: loucos são os sãos (Freud). E por isso, apenas os demasiado justos, ponderados, coerentes, conhecem agora a “casa verde”. Os juízes, o vereador razoável que se opunha à irrazoabilidade da lei (que excluía os políticos desta nova definição de loucura), todos estes, são os novos loucos. Ironia máxima é que, “preso por ter cão, preso por não ter”, e o barbeiro que agora se recusava a encetar nova revolução contra o alienista, porque dizia, a “câmara tinha autorizado a sua nova experiência por um ano” e que confessava que o seu móbil da primeira vez tinha sido exclusivamente a ambição, será, segundo a nova visão, o demente, e então, de imediato, aprisionado.
Como nas grandes façanhas e investigações, a grande sabedoria reconhece a importância do pequeno passo, do papel da natureza, e Simão encontra maneira de colocar os novos loucos em posições em que a natureza e/ou sociedade os corromperia, os tornaria um pouco menos razoáveis e inatacáveis, os “curaria” em suma. Seja esta ideia uma grande invenção da inteligência do “alienista” ou o decorrer normal da natureza, o certo é que este concluiu que não existiam, na realidade, loucos em Itaguaí. Ou melhor, se algum louco haveria - pelo menos as qualidades, atestavam-nas a sociedade, que o eregia como homem de bem e honra inestimável - era ele. Por isso, Simão Bacamarte se encerra na sua “casa verde” e lá, louco ou são, ou ambos, morre.
Machado de Assis sugere que é preciso grande dose de loucura para reflectir razoavelmente sobre a demência humana. E que esta, consoante as circunstâncias sociais, políticas, históricas, pode colocar-se a sel bel prazer onde quisermos. Como a religião, a ciência, tem tanto de ficcional, como factual. Cabe à imaginação, e sobretudo à ambição humanas, ir gerindo fronteiras e barreiras. No fundo, não há cimento, construções, palavras, conceitos, atitudes, que separem o racional do irracional, a sanidade da demência. E ainda bem.
A cultura brasileira está toda aqui, neste livro: desde os estratagemas para parecer em vez de ser, até o cientificismo mais boboca. Também as duas paródias literárias, a da Bíblia e a dos relatos portugueses do descobrimento e da colonização, são divertidíssimas. Para fechar tudo, enfim, nada mais sugestivo do fenômeno brasileiro que o "exemplo" de um sujeito que sofre de uma inveja fisiológica, uma verminose do despeito diante do sucesso alheio.
A obra "O Aliensta e Alguns Contos" do escritor brasileiro Machado de Assis explora temáticas sociais, políticas e amorosas com recurso a descrições promenorizadas e realistas. A obra conta com 8 contos ( "O Alienista" ; "o Empréstimo" ; "O espelho" ; "A teoria do medalhão" ; "A chinela turca" ; "D. Benedita - o Retrato" ; "A sereníssima República" e "A verba testemantária") , nas quais há alusão a personalidades da literatura, cultura e história nacional e internacional ( ex: Balzac, Sêneca, Carlyle, Pitágoras, Shylock, Camões, Long-Fellow, Aristóteles, entre outros).
Em "O Alienista" incide-se sobre a criação de uma "Casa Verde" onde seriam tratados todos aqueles que fossem considerados loucos. Simão Bacamarte inicia a sua longa jornada, que inicialmente acolheu pessoas mais simples até atingir as classes mais altas, inclusive pessoas que no ponto de vista da população não eram consideradas loucas. Isto leva a uma revolta por parte dos aldeões, que apesar das tentativas não nutre em muitas mudanças. O "Alienista" continua a exercer o seu ofício da mesma forma, isolando todos aqueles que pudessem ter o mínimo de loucura. Porém com o tempo, o médico apercebe-se que a loucura faz parte da condição humana, libertando todos aqueles que não eram mesmo louco e focando-se apenas naqueles que precisavam mesmo da "cura" para essa loucura. Simão Bacamarte consegue curar todos os loucos daquela aldeia, isolando-se ele próprio na Casa Verde, onde falece com a patologia de loucura que ele próprio em si se diagnosticou.
No "O Empréstimo" explora-se a história de Custódio, o aspirante a fazer grandes feitos, que sem dinheiro fazia muitos "empréstimos" para tentar atingir os seus objetivos, mas sempre fracassava. Este conto incide em específico no empréstimo que ele faz a Vaz Nuno, onde insiste, presiste, e apesar de não conseguir a quantia que prentendia, consegue retirar algum dinheiro do pobre comerciante.
O conto "O espelho" é uma metáfora da vida, a procura existencial pelo sentido da mesma. Aborda o fato de muitas das vezes estarmos perdidos e procurarmos encontrar a "outra" parte, a "outra" personalidade nossa. "cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro" pg. 86
No que concerne a "Teoria do Medalhão" reflete para um diálogo entre pai e filho, com o intuito descritivo e enumerativo das vantagens de seguir a profissão de medalhão. Neste conto alude-se a Pitt, Napoleão, Hidra de Lerna, Medusa, Danaides, Ícaro. D.quixote, Luciano, Swift e Voltaire.
"A chinela turca" explora o romance, a arte, a paixão e o martírio da morte, o atentado à vida. Incide na chinela turca como metáfora do amor que tem por cecília, o entrar no quadro do Major Lopo Alves e sentir a emoção dele.
"D. Benedita (um retrato)" faz uma narrativa da história da mulher, o seu casamento, os seus filhos, a viúvez. Faz um percurso vivencial e explora a temática dos casamentos arranjados muito comuns na época em questão. D. Benedita queria casar sua filha Eulália com o filho da amiga, mas a filha já tinha suas pretensões e acaba se casando com o homem que sempre quis. Trata-se de um conto descritivo e agradável à leitura.
"A Sereníssima Républica" faz alusão a Aristoteles , Plínio a Darwin , Büchner e Ulisses e explora a temática política, fazendo uso da literatura e da ciência (aranha) de forma interativa e exemplificativa de como as coisas funcionam.
O último conto "Verba testemantária" fala da história de Nicolau, um homem que viveu a vida desprezando e maltratando todos ao seu redor, não tinha empatia por ninguém, não casou, não teve filhos, morreu de doença que o fez sofrer tanto quanto o que ele fez sofrer quem fazia parte do seu núcleo próximo. Foi enterrado no caixão que pediu, o único pedido da sua verba testemantária. "Esquecer é uma necessidade" p. 162
Estes contos de Machado de Assis são interessantíssimos e de fácil leitura, agradável para uma leitura ao final da tarde.
Se há coisa de que não posso queixar este semestre é das obras obrigatórias que tenho tido para leitura na faculdade e um desses extraordinário exemplos é, sem sombra para dúvidas, o título que por muitos é considerado um clássico, O Alienista de Machado de Assis. Escrito na segunda metade do século XIX, esta narrativa destaca-se, entre tantas outras no universo literário, como uma importante chamada de atenção social para a loucura, enquanto doença - algo apenas descoberto pela comunidade científica deste século e que despertou algumas experiências dignas de pesadelos, não queiram saber!
Expressando-se através de um registo cómico e irónico, é logo a partir das primeiras páginas que o autor satiriza e apresenta o seu protagonista, Simão Bacamarte, um médico luso que emigra para o Brasil atrás do seu único interesse, a ciência. Alienado por um brilhantismo fora do comum e cego pelos mistérios da mente, esta personagem introduz-nos de imediato no ridículo da comunidade de Itaguari, o seu universo, onde casa com uma mulher que em nada se enquadra nos padrões da época mas que, no entanto, é muito saudável. Ao estabelecer-se neste lugarejo, Simão inicia então uma busca pelo saber que, ao mesmo tempo, livrará o povo que o idolatra da terrível insanidade.
As peripécias são mais que muitas ao longo deste texto e nem poderia ser de outra maneira para que o leitor possa acompanhar, com gosto, as diversas reviravoltas que esta história vai sofrendo. Confesso, no entanto, que não vos posso contar muito mais, até porque esta não é uma narrativa longa mas sim, considerada por muitos, um conto. Mas, para os interessados, aconselho vivamente estas páginas, mais que não seja, porque são muito divertidas dentro do seu contexto histórico.
Um dos temas principais é, claro está, a loucura, que como doença sofre muitas alterações, encontrando-se apresentada através de diversas perspectivas, consoante as evoluções da pesquisa da personagem principal. O que merece igualmente destaque é a ciência e a forma como esta é encarada, estando contextualizada, em oposição à política social, no tempo em que se desenvolve a narrativa. A ciência é, aqui, apresentada como o reflexo de Simão, como algo instável, dada a sua imprevisibilidade, e o mesmo se verifica em relação aos pensamentos científicos.
Entre o respeito, a aceitação, o medo do desconhecido e, sobretudo, os devaneios das diferentes mentes apresentadas, todas elas em relação à ciência, esta é uma história que eu recomendo aos curiosos, sem qualquer preconceito por estarem a ler um livro publicado nos finais do século XIX, sobre o estreito laço que une a razão e a loucura, até porque se trata de um texto muito bem construído e com a capacidade de surpreender até ao último parágrafo. Um autor que vou voltar a ler, com toda a certeza.
Produced by Laura N.R. & Marc D'Hooghe at Free Literature (Images generously made available by the Bibliotheca Brasiliana Cuita e José Mindlin, Acervo Digital)
I made the proofing of this book for Free Literature and it will be published by Project Gutenberg.
INDICE O ALIENISTA THEORIA DO MEDALHÃO A CHINELA TURCA NA ARCA& D. BENEDICTA O SEGREDO DO BONZO O ANNEL DE POLYCRATES O EMPRESTIMO A SERENISSA REPUBLICA O ESPELHO UMA VISITA DE ALCIBIADES VERBA TESTAMENTARIA
"Avulsos são eles, mas não vieram para qui como passageiros que acertam de entrar na mesma hospedaria. São pessoas de uma só família, que a obrigação do pai fez sentar à mesma mesa."
Esse trecho foi meu guia de leitura. Por meio dele, eu tentei entender o motivo pelo qual esses contos são considerados da mesma família. Tarefa difícil, pois os contos abrangem muitos assuntos.
Mas minha conclusão nessa leitura é que a vaidade, a famosa "sede de nomeada" de Brás Cubas, é o sangue que une essa família. Na verdade, sinto que Machado disseca a vaidade, nomeia sua estrutura, destaca suas falácias etc.
Importante destacar que é uma leitura marcada pelo humor machadiano, aquele que brinca com os leitores ao mesmo tempo que nos denuncia.
Embora o livro conte com os principais contos que fundamentam o pensamento machadiano (O espelho, O segredo do bonzo e A Teoria do medalhão), o trecho final do conto "O Empréstimo" representou melhor a síntese daquilo que une essa família chamada Papéis Avulsos:
"... resíduo de uma grande ambição, que ainda há pouco saíra contra o sol, num ímpeto de águia, e ora batia modestamente as asas de frango rasteiro."
Meu conhecimento de Machado é muito raso, pois, até antes da leitura dessa obra, havia lido apenas Dom Casmurro. E me impressionei com os contos aqui relatados. Mais do que expor e criticar os modos da sociedade da sua época, ele ousa versar sobre a psicologia humana e seus recônditos mais sombrios. Contudo, o que percebi de estranho em suas narrativas foi a linha tênue em que se situava seu discurso, sempre real, mas quase pendendo ao imaginário. Quero dizer que os contos do autor por pouco não eram fantásticos. E refiro-me, principalmente, a "Chinela Turca" e "O anel de Polícrates", leituras que, de vez em quando, pegava-me pensando ser narrativas mágicas. Essa constatação chega a ser cômica, mas precisava compartilhar minha visão real sobre a obra. Enfim, cinco estrelas, pois além de um clássico, é uma vassoura que perscruta a alma humana.
Terminei o principal conto, O Alienista, que é ótimo. Bem escrito e divertido desde as primeiras páginas, porém eu esperava ser mais surpreendido no final. Essa foi minha primeira leitura digital, vamos ver se eu me acostumo. Terminei todos os contos: têm vários outros bons, mas o meu preferido foi esse: http://machado.mec.gov.br/images/stor...
Esse livro reúne alguns de meus contos machadianos preferidos, como por exemplo O Alienista, A Chinela Turca, O Empréstimo, O Espelho, entre outras. Tenho a edição da Garnier, minha preferida, mas pretendo adquirir a recente da Penguin/Companhia das Letras, enriquecida por extras que ressaltam o valor da obra.
A crítica machadiana sempre será atemporal e por isso contemporânea a qualquer momento histórico da civilização ocidental. Papéis Avulsos é a ponta do iceberg de toda a riqueza cultural e literária que se encontra nas palavras desse nosso escritor.
Não importa o que você pensa de Machado de Assis. Esse livro é fundamental para compreender o desenvolvimento da literatura brasileira no século vinte.
machado me faz muito feliz. quero muito um dia esquecer dos diversos enredos pra poder ler de novo e sentir renovado o carinho que eu adquiri por essa livro.
Os Papéis Avulsos são um dos melhores livros de contos que já li. Estão aqui clássicos como O Alienista, Teoria do Medalhão, O Espelho e vários outros. De avulsos, esses contos não têm nada: são, ao contrário, um registro consistente e bem amarrado do Machado de Assis do início da segunda fase, iniciada, segundo a crítica tradicional, com Memórias Póstumas de Brás Cubas. Tudo neste livro é impressionante: por exemplo, a erudição de Machado, que vai da Grécia antiga ao Brasil imperial, do Gênesis à Revolução Francesa, com fluidez e naturalidade. Ou o estilo do autor, límpido na forma e bem humorado, irônico e até meio debochado no conteúdo, mas sempre com discrição e sangue frio. E, se é verdade que o conto deve nos vencer por nocaute, Machado é um dos maiores pugilistas literários da história, com seus finais abruptos, cheios de perguntas e, por isso mesmo, geniais. A edição da Companhia das Letras é excelente, tanto no prefácio quanto nas notas, mas a minha versão para kindle está cheia de erros de digitação, infelizmente.
a ironia machadiana é sem igual, e estamos falando de um livro do século 19. a experiência humana é similar em qualquer período. não tenho costume de ler livros clássicos então a leitura foi mais maçante por termos que não conhecia, mas mesmo assim valeu super a pena.
não, eu não terminei. mas eu li quase todos os contos e o Trujillo teve a audácia de cobrar APENAS os que eu não li. logo, me sinto no direito de marcar como lido!
eu queriadar 4.8, mas a plataforma nao permite. é até um pouco idiota da minha parte não colocar 5, porque provavelmente nao gostei tanto de certos contos por uma limitação pessoal, e não por conta do autor, obviamente.
dito isso, existem personagens completamente existentes nos contos e no nosso cotidiano, sendo essa uma incrivel qualidade do Machadão: sempre ser atual.
Nesta coletânea está o clássico “O Alienista” e os deliciosos “Teoria do medalhão”, “A sereníssima República” e “Verba testamentária”. Algumas notas do autor ao término de cada conto são bem curiosas, como em “Uma visita de Alcibíades” em que ele explica a metáfora do texto. Enfim, Machado é sempre 100% recomendável.
Livro de contos escritos e publicados em jornais entre 1878 e 1982, mas extremamente unitário no estilo e temas, e que marca o início da sua fase realista junto com Memórias Póstumas(publicado um ano antes). Retrato e crítica ao povo brasileiro e sua história. São recorrentes os temas de mundanismo; provincianismo; inveja; dependência cultural e econômica de Portugal, Reino Unido, e França; falta de uma identidade da nação brasileira, uma "alma" autêntica; loucura; mesquinhez; crítica à burguesia; ser impulsivo mudando de opinião e desejo toda hora(tanto do povo como dos governos); crítica a correntes de pensamentos vigentes na época como o positivismo, cientificismo, materialismo(no sentido das ciências naturais), que estão presentes em outras obras com destaque tbm pro evolucionismo social no Humanitismo em Quincas Borba. É considerado o livro de contos mais experimental dele, gerando estranhamento na sua época junto com o fato de todos os contos terem elementos de absurdo e fantasia(influência de Poe). Também percebi que Machado é muito influenciado pelo Cândido de Voltaire, e pela escrita de Flaubert, inclusive fazendo uso do discurso indireto livre. Machado é extremamente autoral e inovador no seu realismo em comparação à varios realistas europeus mais famosos. Em muitos aspectos, como na maneira tão marcante que usa a metalinguagem, as falas às vezes não sinalizadas de quem são como se espera da maneira clássica, e outros usos da escrita, é um realista pré-modernista.
Autor do século XIX, Machado não consegue deixar o leitor indiferente.
Acerca de uma peça de teatro, no conto "a chinela Turca", Assis chega a uma última frase de forma arrebatadora:
"Ninfa, doce amiga, fantasia inquieta e fértil, tu me salvaste de uma ruim peça com um sonho original, substituíste-me o tédio por um pesadelo: foi um bom negócio. Um bom negócio e uma grave lição: provaste-me ainda uma vez que o melhor drama está no espectador e não no palco."
No conto "Teoria do Medalhão", uma curiosa conversa entre pai e filho quando este atinge a maioridade, vários conselhos e indicações podem ser lidos:
"Venhamos ao principal. Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas ideias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente; coisa que entenderás bem, imaginando, por exemplo, um actor defraudado do uso de um braço. Ele pode, por um milagre de artifício, dissimular o defeito aos olhos da plateia; mas era muito melhor dispor dos dois. O mesmo se dá com as ideias; pode-se, com violência, abafá-las, escondê-las até à morte, mas nem essa habilidade é comum, nem tão constante esforço conviria ao exercício da vida."
Por último, no conto "Alienista", história extraordinária:
"...as tempestades só aterram os fracos; os fortes enrijam-se contra elas e fitam o trovão."
Contos geniais! Machado é incrivelmente moderno neste livro. Cada vez mais deve ser lido e apreciado, não somente pelos gêneros literários que ultrapassam e muito o domínio do conto, mas pelas tiradas mordazes e o humor inteligentíssimo do autor. Recomendo a todos a ler o que Machado de Assis faz de melhor: narrativas curtas.
O livro vale pelo conto 'O Alienista'. Os demais contos, porém, muitas vezes carecem de contexto para serem melhor compreendidos. Mas a genialidade de Machado é inquestionável e suas ironias ainda são extremamente atuais hoje em dia.