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Cinzas do Norte

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Cinzas do Norte e o relato de uma longa revolta e do esforco de compreende-la. Na Manaus dos anos 1950 e 60, dois meninos travam uma amizade que atravessara toda a vida. De um lado, Olavo (Lavo), o narrador, menino orfao, criado pelos tios, cresce a sombra da familia do melhor amigo, Raimundo Mattoso (Mundo), de berco aristocratico.

A fim de realizar suas inclinacoes artisticas, ou quem sabe para investigar suas angustias mais profundas, Mundo engalfinha-se numa luta contra o pai, a provincia, a moral dominante e, para culminar, os militares que tomam o poder em 1964. A rebeldia e a posterior fuga do rapaz ampliam o universo romanesco, que alcanca a Europa da irrequieta decada de 1970, de onde Mundo manda sinais para Lavo, ainda preso a cidade natal.

Por versoes e revelacoes que se cruzam ou desencontram, sem jamais chegar a esgotar o enigma da vida de seus protagonistas, Hatoum escreve, neste aclamado romance,uma historia moral de sua geracao.

231 pages, Paperback

First published January 1, 2005

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950 people want to read

About the author

Milton Hatoum

34 books254 followers
Milton Hatoum nasceu em 1952, em Manaus (Amazonas), onde passou a infância e uma parte da juventude. Em 1967 mudou-se para Brasília, onde estudou no Colégio de Aplicação da UnB. Morou durante a década de 1970 em São Paulo, onde se diplomou em arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, trabalhou como jornalista cultural e foi professor universitário de História da Arquitetura. Em 1980 viajou como bolsista para a Espanha, onde morou em Madri e Barcelona. Depois passou três anos em Paris, onde estudou literatura comparada na Sorbonne (Paris III). Autor de quatro romances premiados, sua obra foi traduzida em dez línguas e publicada em catorze países.
Foi professor de literatura francesa da Universidade Federal do Amazonas (1984-1999) e professor visitante da Universidade da California (Berkeley/1996). Em 2008 foi nomeado Tinker Professor de literatura latino-americana na Stanford University (EUA).
Foi também escritor residente na Yale University (New Haven/EUA), Stanford University e na Universidade da California (Berkeley). Bolsista da Fundação VITAE, da Maison des Ecrivains Etrangers (Saint Nazaire,França) e do International Writing Program (Iowa/EUA).
Em 1989 seu primeiro romance (Relato de um certo Oriente), ganhou o prêmio Jabuti (melhor romance). Em 2000 publicou o romance Dois irmãos (prêmio Jabuti/ indicado para o prêmio IMPAC-DUBLIN), eleito o melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas. Em 2005, seu terceiro romance (Cinzas do Norte ), obteve cinco prêmios: - Prêmio Portugal Telecom,Grande Prêmio da Crítica/APCA-2005, Prêmio Jabuti/2006 de Melhor romance, Prêmio Livro do Ano, Prêmio BRAVO! de literatura). Em 2010 a tradução inglesa de Cinzas do Norte(Ashes of the Amazon/Bloomsbury/2008) foi indicada para o prêmio IMPAC-DUBLIN.

Em 2008 publicou seu quarto romance ( Órfãos do Eldorado ), que faz parte da coleção Myths, da editora escocesa Canongate. Órfãos do Eldorado será traduzido em 16 línguas, tendo já sido publicado na França, Inglaterra, Alemanha, Portugal, Suécia e Croácia. Em 2009 publicou o livro de contos A cidade ilhada.

Hatoum publicou também ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latino-americana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus contos foram publicados nas revistas Europe, Nouvelle Revue Française (França), Grand Street (Nova York) e Quimera (México). Participou de várias antologias de contos brasileiros publicados na Alemanha e no México, e da Oxford Anthology of the Brazilian Short Story.
Desde 1998 mora em São Paulo, onde é colunista do Caderno 2 (O Estado de S. Paulo) e do site Terra Magazine.

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Community Reviews

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265 (42%)
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137 (22%)
2 stars
25 (4%)
1 star
3 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 68 reviews
Profile Image for Priscila Jordão.
40 reviews43 followers
September 26, 2012
Fiquei com uma impressão fortíssima ao finalizar a leitura de "Cinzas do Norte".

Como pano de fundo, dando cores à trama, o cenário da Amazônia, com sua culinária típica, o rio Negro, barcos, palafitas e a extrema pobreza contrastando com os prédios pretensiosos do centro da capital.

O momento histórico é o mesmo do regime militar, que determina fortemente a vida dos personagens e exerce uma influência autoritária sobre os rumos do norte do Brasil, modificando sua paisagem no decorrer da narrativa.

Por fim, vêm os personagens, por vezes estereotipados, mas que representam os "tipos" da época e nos remetem aos nossos próprios conhecidos: Ranulfo, com sua revolta pessoal e má vontade em trabalhar; Ramira, trabalhadora, mas amargurada e invejosa; Alícia, filha de uma índia com um estrangeiro que quer subir na vida a qualquer custo; Jano, herdeiro de um português que só pensa em enriquecer exportando matérias-primas enquanto trata o filho desumanamente.

Da complexa teia de relacionamentos entre esses indivíduos surgem os personagens principais: os amigos Lavo, criado pela tia pobre Ramira e órfão desde pequeno, e Mundo, filho dos abastados Alícia e Jano. Mundo só pensa em ser artista em vez de assumir os negócios do pai, provocando sua ira.

O fio condutor do livro é a história da vida de Mundo, e por si só já valeria a leitura. Mas o que "Cinzas do Norte" tem de melhor a oferecer é o panorama de uma época em que o elemento natural, o histórico e o humano se articulam, determinando mútua e muitas vezes tragicamente os destinos um do outro.

É uma composição fantástica e muito bem construída, que conta parte da história do Brasil a partir da perspectiva do Norte, desconhecido para muitos de nós brasileiros e, por isso mesmo, delicioso de se descobrir.
Profile Image for Luiz Fujita Junior.
102 reviews1 follower
March 22, 2019
Adoro o Hatoum, mas até então somente por Dois Irmãos, o único que tinha lido. Lendo Cinzas do Norte, é bom ver que ele de fato tem seu estilo. Você reconhece a marca do autor, o que sempre considero positivo. O tema também: drama familiar. É difícil escapar de uma comparação com Dois Irmãos, um dos melhores livros que já li, e nesse sentido fiquei com a impressão de que ele segue a mesma ideia de modo geral, mas a execução não é tão boa. Assim como Dois, tem conflitos familiares intensos e também tem uma "revelação final", mas ambos chegam de forma muito menos impactante. Claro que se vê que o domínio do escrever está ali, mas no final fiquei com aquela sensação mais de "médio".
Profile Image for Felipe Neves.
3 reviews4 followers
March 1, 2018
Estranhamente relevante em tempos tão sombrios. Há um tempo atrás lembro de perceber uma certa saturação em relação a abordagem do periodo da ditadura militar no Brasil, talvez por conta de datas fechadas (algo como 40 anos do golpe). Já há alguns anos o assunto morreu um pouco, acreditávamos que a narrativa dos horrores da ditadura eram um mero passado, um algo que já foi e já não volta mais. Pois é...


A principio o livro me cansou, a historia dos dois meninos numa época de crescimento tentando encontrar seu lugar no mundo me pareceu somente isso, com uma roupagem desse período historico como que ara ressaltar os impulsos rebeldes da adolescência. Depois, furtivamente, aquela historia inofensiva parece se entrelaçar com a própria História do país... As relações se tornavam um tanto caóticas e não ironicamente alguns personagens parecem saídos de de um folhetim, mais ainda quiçá de uma obra de Nelson Rodrigues, com a ressalva de que o próprio destino das personagens acompanha os horrores que assolavam o Brasil nessa época (horrores esses continuam ecoando até a presente data, tomando formas bisonhas e confusas).


É de extrema importância este constante exercício de memória e lembrança, é de extrema importância que não nos esqueçamos das feridas deixadas por tão complicado momento.
Não sei se consigo por em palavras suficientemente claras as sensações que este livro evoca, o que resta é uma sensação amarga que insiste em estar ali, sem intenção de sair, e nos observa esperando.


Profile Image for Luciana Rosa (Bookmark Curiosities).
197 reviews21 followers
March 10, 2021
You can count on Hatoum for great coming-of-age stories with the most flawed human beings and complicated emotions that can culminate in a drama that reminds me of the Brazilian soap-operas.

So yes, I loved this book.

It is about 2 boys who grow up together in Manaus. The story starts with them as 13 y.o. studying in the same school, but Mundo is rich and Lavo is poor. They became good friends but life isn't easy for them, for different reasons.

Mundo wants to be an artist but his father is very harsh on him. Lavo just wants to study and make his aunt and uncle proud - he was raised by them after his parents died in an accident.

The first half reads slow and it was difficult for me to understand the descriptions and the family relations in the book.
About the character's name, in the beginning, I got confused with the names Mundo (short from Raimundo), Raimunda, Ran (short for Ranulfo) and Ramira.
And there are many words that are specific for Manaus, that are new even to me (I am Brazilian).
But after I got used to the setting, I really got into the book. Especially when the boys become young adults.

The book is really about Mundo, and how he is a very disturbed kid/man, a real misunderstood artist. He has such a horrible relationship with his father, and they treat each other very badly.
The book shows how Mundo grows more and more strange from his father, and from any form of discipline (school, authority). And his relationship with his mom and others in the book.
The whole book I tried to understand Mundo, and little by little I got to know him better. What a fascinating character.

There are some passages about the dictatorship period in Brazil, and about the development (and increased poverty) of the city of Manaus.
The book starts with Lavo, in his late thirties or early forties, receiving a letter from a very sick Mundo. After reading the whole book, that first chapter makes sense. And I recommend going back and reading the first chapter again.
It is a little gimmick but it worked very well for this book.

This is a character-driven book but the plot develops well. And there is a big plot twist at the very end of the book. Genius.
Profile Image for Gláucia Renata.
1,305 reviews41 followers
October 14, 2014
Gosto muito do estilo do autor, mas seus livros são um pouco parecidos um com o outro. Sempre uma vida marcada pelo passado e suas consequências, as lembranças, uma dose de amargura. Deveria ter esperado um tempo maior entre um e outro.
Profile Image for Isabella.
135 reviews3 followers
January 13, 2019
First thoughts: I mostly enjoyed the beautiful description of life in a Brazilian in the middle of the Amazon with the riverboats, the exotic trees and old people playing domino in the streets. Hatoum paints livid pictures of the scenery and had me longing to go back to South America to see Brazil for myself. To me this was really the strongest part of the story. While at times I was sucked in, at others it seemed hard to care for the characters. The romance of Ranulfo and Alicia was enjoyable, but I feel like Hatoum failed in describing Lavo and Mundo’s friendship - often it seemed like Lavo cared more for Mundo than the other way around and it was missing genuine interactions between them and since this strong bond is such an essential part of the story, this was kind of a dealbreaker to me. Still it had some really good parts and I did enjoy it - but it wasn’t anything special. Perhaps some of it got lost in translation.
Profile Image for Fábio Jorge.
10 reviews26 followers
April 5, 2013
As palavras deslizam tão suavemente, sem dor, sem monotonia alguma que impressiona qualquer leitor. Com absoluta certeza: é um dos melhores livros que já li. Verdadeiro teletransporte literário.
Sensacional!
Profile Image for Dulcinea Silva.
195 reviews
September 6, 2025
Um romance que começa com memórias fragmentadas e termina como um inventário de ruínas: assim é Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. Narrado por Lavo, um homem que revisita sua juventude em Manaus, o livro recompõe a trajetória de seu amigo Raimundo (o “Mundo”), filho do poderoso empresário Trajano Mattoso, e de outros personagens que orbitam essa família. Entre rebeldia artística, política autoritária e relações pessoais sufocantes, a narrativa se debruça sobre a vida íntima de figuras que parecem devorar a si mesmas, deixando atrás de si apenas cinzas, tanto as cinzas de uma memória quanto as de uma cidade que perdeu parte de sua alma nos anos da ditadura militar e da modernização predatória.


Recentemente falei de livro ruim e minha objetividade para detectá-lo, mas quando você lê uma obra que você reconhece valor, mas não consegue nominar o que sente ao lê-la, o que fazer? Se identificar com a alegria ou dor do personagem ou com ele próprio na jornada, é um dos prazeres da leitura, mas aqui não consegui me conectar com os personagens.


Mundo é, ao mesmo tempo, o motor e o fardo do romance. Raimundo, ou Mundo, surge como um artista rebelde, inconformado com o pai e com o sistema, desejoso de liberdade absoluta. Porém, sua rebeldia rapidamente se converte em obsessão narcísica: Mundo não se volta para o coletivo, não luta de fato por algo além de si mesmo. Sua recusa às convenções é mais uma forma de autodestruição do que de resistência.


Ranulfo, tio de Lavo, por sua vez, funciona como um espelho invertido. Enquanto Mundo despreza a ordem, Ranulfo sonha em se afirmar dentro dela, ascender socialmente, conquistar poder. Mas também nele predomina o ressentimento e a obsessão pelo próprio destino. Se Mundo é o rebelde que não constrói nada, Ranulfo é o ressentido que não vê além de seu rancor. Ambos, cada um a seu modo, parecem incapazes de olhar para fora de si mesmos.


Se Mundo e Ranulfo são sufocantes, Lavo oferece outro registro. Filho de uma família mais humilde, Lavo ocupa o lugar de observador, narrador e testemunha. Ele é, em grande medida, um personagem passivo: assiste às tensões entre Mundo e Trajano, acompanha a trajetória de Ranulfo, observa Manaus se transformar.


No entanto, é justamente essa passividade que o torna mais humano. Lavo não se consome em obsessões; seu olhar é mais aberto, mais sensível, mesmo que muitas vezes impotente. Ele admira Mundo, mas também enxerga suas falhas. É por meio de sua voz que a narrativa se constrói, e talvez seja nele que o leitor encontra algum respiro. Enquanto os outros personagens parecem devorar tudo ao seu redor, Lavo se oferece como mediador: alguém que tenta compreender, ainda que não consiga agir.


No centro das tensões familiares está Trajano Mattoso, pai de Mundo. Empresário autoritário, Trajano encarna a figura da elite que prospera na Amazônia às custas da repressão, da exploração e da imposição de um progresso que não dialoga com a realidade local. Sua relação com o filho é marcada pela opressão: o pai que exige obediência e disciplina, o filho que responde com rebeldia.


Trajano é mais do que um personagem; ele é uma alegoria de poder. Em sua figura se concentra a lógica da ditadura militar e da elite econômica que sufoca qualquer diferença. Se Mundo busca escapar, é contra essa sombra que ele se debate. Mas o romance mostra que a força do pai, enraizada nas estruturas sociais e políticas, é quase impossível de vencer.


Entre as figuras femininas, duas se destacam de maneira silenciosa mas fundamental. Alícia, mãe de Mundo, aparece como alguém que carrega a impotência de não conseguir proteger o filho da opressão paterna. Já Ramira, tia de Lavo e irmã de Ranulfo, representa outra forma de resistência. Diferente dos homens que se consomem em obsessões e ressentimentos, ela é acolhedora, capaz de gestos de generosidade e cuidado, apesar de um tanto quanto amarga. Sua figura mostra que, mesmo em meio às ruínas deixadas pelo narcisismo masculino e, ao lado de Lavo, oferece ao leitor um contraponto ético e emocional, um lugar onde a narrativa respira.


Eu, como leitora, diante desses personagens, não encontrei espaço de empatia fácil. Eles não despertarqm em mim simpatia, mas incômodo. Hatoum os constrói densos, cheios de contradições, como se quisesse justamente revelar a esterilidade de suas escolhas individuais diante da grandeza e da dor da Amazônia e do Brasil.


O tema da arte atravessa Cinzas do Norte principalmente pela figura de Mundo. Ele deseja ser artista, pintar, expressar sua inconformidade. Sua obra, no entanto, parece sempre interrompida, fracassada, incapaz de se afirmar. Sua rebeldia se traduz em arte, mas uma arte que não encontra espaço nem força transformadora.


Aqui Hatoum sugere um dilema profundo: a arte pode resistir à ditadura, mas até que ponto? Em Mundo, a arte é potência e impotência ao mesmo tempo. Potência porque encarna a recusa, a diferença, a sensibilidade. Impotência porque não muda a realidade, não encontra reconhecimento, se torna apenas testemunho de uma vida autodestrutiva.


Contudo, um dos maiores méritos de Milton Hatoum é transformar Manaus em personagem. A cidade não é apenas cenário: ela respira, sofre, se transforma junto com os personagens. Nos anos 1960 e 1970, Manaus experimentou mudanças radicais com a criação da Zona Franca, que trouxe modernização e desigualdades.


No romance, a cidade é mostrada em suas contradições: a herança cultural e familiar, a modernização que sufoca tradições, o silêncio de uma Amazônia reduzida a espaço de exploração. Hatoum, que nasceu em Manaus, escreve sobre sua cidade com um olhar crítico, consciente de que ela guarda tanto beleza quanto decadência. Essa capacidade de sentir-nos nessa cidade é das belas coisas do romance. E assim como os personagens centrais vão se perdendo em suas obsessões, Manaus também aparece como uma cidade em ruínas, que perde parte de sua alma ao se adaptar a um progresso imposto de fora.


Cinzas do Norte é, sobretudo, um romance sobre a memória. Lavo, ao narrar os acontecimentos, recompõe a vida de Mundo e de outros personagens, mas sua memória é fragmentada, parcial, subjetiva. Não há verdade única, mas múltiplas versões.


Essa escolha narrativa reforça o tema do narcisismo. Se Mundo e Ranulfo são incapazes de olhar para fora de si, Lavo também não consegue dar uma visão total: ele reconstrói lembranças atravessadas por afetos e lacunas. O romance mostra, assim, como não alcançamos o conhecimento da totalidade dos indivíduos, mesmo daqueles queridos por nós que guardam histórias e partes de si que não conhecemos.


O narcisismo dos personagens não é apenas traço psicológico: também é metáfora de uma geração e de um país incapazes de olhar para o outro, presos a seus próprios interesses e frustrações.


Ler Cinzas do Norte é uma experiência densa, muitas vezes incômoda. Milton Hatoum não busca criar personagens simpáticos ou histórias agradáveis. Ao contrário: constrói figuras marcadas pelo narcisismo, pela obsessão e pela autodestruição. Para alguns leitores, isso pode soar exaustivo, até irritante, e, de fato, alguns personagens foram difíceis de suportar, pelo menos pra mim. 


Mas essa escolha tem sentido literário e político. Hatoum mostra que não há heróis em sua narrativa: apenas homens e mulheres que refletem as contradições de um Brasil desigual, autoritário e marcado por silêncios.


No fim, Cinzas do Norte é menos sobre gostar ou não dos personagens, e mais sobre compreender o que eles representam: as feridas íntimas e coletivas de um país que se modernizou sem resolver suas desigualdades, que viveu uma ditadura sem superar suas sombras, que produziu artistas e intelectuais cuja rebeldia se voltou para dentro, queimando-se até virar cinza. É um romance que incomoda porque não oferece saída fácil, mas é justamente desse desconforto que talvez nasça a sua grandeza.


Cinzas do Norte de Milton Hatoum. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. 224p. Leitura de Setembro 2025.
Profile Image for Moushine Zahr.
Author 2 books83 followers
July 9, 2021
This is the second book I've read from Brazilian author Milton Hatoum and second I rate 3 stars. This novel reminded me of the first novel I've read from him "Orphans of Amazons" or something similar. The story is fairly similar with one big house in the middle of poverty with rich family whose only son loses everything. The narrative is slightly different this time because the story is told through the narrative of the leading narrator, Lavo, who's a friend and neighbor of same age than the real leading character, Mundo. This "friend" is a witness to the demise of the Matoso family throughout the years. Another narrator is the Lavo's uncle, who writes letters as if he were a mentor to Mundo while he's been Mundo's mother lover for many years.

The author describes the beauty of Amazonie and Manaus and how it is destroyed by growing wild urbanization just like the wealthy family's fortune is ravaged by changing times and lack of heirs. Regardless whether people are rich or poor, man or woman, young or old, Indians of Amazonie or Brazilians or mixed races, all of their dreams become illusions that destroys them from within. Only hardworking regular people with no ambitions can survive.

It seems that if you read one book of the author as if you read the other one.
Profile Image for Mariana Carvalho.
26 reviews3 followers
September 30, 2017
Não é um livro com lindas frases para a gente pinçar. É um livro sólido, com uma narrativa crua e forte. Fala do norte do nosso país, região sobre a qual sei quase nada. E fala sobre a relação pai e filho, de como precisamos deixar que os nossos filhos sejam o que eles querem/precisam ser... Enfim, não vou dizer que o Hatoum é um Raduan, um Agualusa, um Murakami, uma Chimamanda. Não é. Mas o cara tb tem seu estilo.
Profile Image for Maria Maura Cezario.
75 reviews
December 14, 2024
Um livro necessário sobretudo neste momento em que a extrema direita nos assombra. Me transportei para as cidades do Estado do Amazonas retratadas, para o Rio e para Londres. Cheguei a sonhar que estava em Londres. O livro mostra que ao mesmo tempo que a ambição leva à destruição da natureza e das relações humanas saudáveis, a revolta individual leva à destruição do corpo e da mente. E assim tudo vira cinza.
13 reviews
November 3, 2025
um amontoado de nada com nada. que idiotice a revelação do final. a coisa mais interessante é a alicia. o resto? amizade do lavo e mundo saiu de lugar nenhum e o próprio mundo é um ser desinteressante tal qual sua "arte" e sua rebeldia contra o pai
2 reviews
January 21, 2023
Tem aquele clichê de que tem quem vive e tem quem só exista. Talvez esse livro seja sobre a história de personagens que viveram até não poderem mais e como isso impactou outras pessoas.

O início do livro me deu uma sensação de realismo fantástico sem entregar nenhum aspecto fantasioso de fato. Talvez seja a perspectiva de uma cidade que eu não conheça, Manaus dos anos 60, entregue por um jovem. Talvez seja meu fascínio por cidades que se constroem ao redor de rios ou canais. De qualquer forma essa sensação da fantasia vai se dissipando e no seu lugar fica uma história linda de coming of age e de gente complexa e sobre a capacidade de criar e destruir vida e relações que as pessoas têm. Especialmente num contexto como a ditadura militar que move a história através da revolta que causa e das crueldades que a sustentam.

A maneira que o escritor utiliza as artes visuais, especialmente na época em que os artistas começavam a destruir moldes tradicionais para criar novas regras e conceitos, para desenvolver mais camadas simbólicas da narrativa foram muito apreciadas por mim.

Por fim queria comentar do mecanismo de intercalar alguns capítulos da narrativa principal com uma "sub narrativa" de outro personagem. Criando uma dissonância que vai revelando a teia das relações e emoções dos personagens. Amei a sensação de disrupçao e continuidade.

Enfim eu li essa história e escrevi esse review sob efeitos de zolpidem para a insônia. Recomendo. Ler com zolpidem, não a insônia.
32 reviews
June 16, 2011
Apparently, if you want to win the Prêmio Jabuti, the secret is to write a coming-of-age story about two boys (one of whom must be an artist at heart), in '50s/'60s Brazil, coming to terms with the injustices of society. That description fits both this book, and _Se eu fechar os olhos agora_. Unfortunately for _Cinzas_, I read _Se eu fechar_ first, so even though it's the earlier book, it felt a bit trite. But even accounting for that, I still think it was the weaker book: I never came to care about the characters, and it was a really angry book. No one was ever happy, and there's the most embittered father-son relationship I think I've ever come across. And the non-linear narrative didn't really add anything; just made it more confusing. Also, seriously, do you really have to name the children in one family Raimunda, Ramira, and Ranulfo?
3 reviews
August 18, 2010
Depois de ganhar um autógrafo cativante, devorei o livro hipnotizada! Vale a pena visitar a Bienal!
Profile Image for Hélio Neiva.
3 reviews
March 7, 2014
Sempre fico em dúvida se leio algo novo dele ou se repito a leitura dessa trama para além da mãe e o filho!
Profile Image for Lucas.
22 reviews2 followers
September 23, 2015
Maravilhoso, mais um grande livro, em um nível próximo do Dois Irmãos. Devorei, muito bom ler Milton Hatoum!
Profile Image for Alexandre.
22 reviews
October 25, 2024
Um retrato interessante da sociedade de Manaus das décadas de 50, 60 e 70.
A narrativa é sensível e brutal.
O desfecho é emocionante e me deixou boquiaberto
Profile Image for Leila Silva Terlinchamp.
98 reviews2 followers
Read
March 11, 2021
Milton Hatoum
Companhia das Letras

Milton Hatoum nasceu em Manaus, em 1952. Formado em arquitetura e mestre em letras, viveu na Espanha e na França, ensinou literatura na Universidade Federal do Amazonas e na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Recebeu três prêmios Jabuti ( 1990, 2001 e 2006)

Olavo, chamado de Lavo, é o narrador deste Cinzas do Norte, um romance ambientado, na maior parte do tempo em Manaus. O melhor amigo de Lavo, Raimundo, sempre chamado de Mundo (não deve ser por acaso) é filho de Alícia que é casada com Jano mas este, logo compreendemos, não é o pai de Mundo, o mistério em torno desta paternidade permanece até a última página do livro, depois de pistas falsas semeadas.

Alícia amava Ran (Ranulfo) que era preguiçoso, beberrão e sem ambições materiais, então, cansada da pobreza em que vivia, ela casa-se com Trajano Mattoso, homem rico e herdeiro de grandes negócios, filho de um português. Alícia continua, entretanto, a se encontrar com Ran depois de casada.

Entre Mundo e Trajano há uma enorme distância, muitas páginas do romance são dedicadas a uma guerra entre o suposto pai e o filho sempre defendido pela mãe. Mundo quer ser artista, está sempre a desenhar e isso só faz aumentar a fúria de Jano. Na escola ele se aproxima de Lavo, sobrinho de Ran e essa amizade perdura até o resto da vida de Mundo.

Lavo torna-se advogado e Mundo vai, depois da morte de Jano, para o Rio com a mãe, de lá segue para a Europa. Antes disso, em Manaus, aproxima-se de um artista local, Arana que, no final das contas, revela-se uma caricatura de artista, um homem corrompido e sem compromissos com a arte, disposto a pintar o verde da Amazônia, araras e o que mais pedissem por dinheiro ou reconhecimento rápido.

Esse é o primeiro romance de M. Hatoum que eu leio, é um livro interessante, que o leitor percorre rápido, fácil de ler porque é muito linear, o autor conta a sua história sem muitas piruetas. Em alguns momentos a narrativa pareceu quase forçada (meio novela global), quando, por exemplo, o autor dá, ou tenta, umas rasteiras no leitor tentando desviar a sua atenção das relações pai-filho de Mundo e os outros três importantes personagens masculinos. A impressão que me deixou foi a de que, para manter esse mistério, o autor se embanana um pouco e compromete o caráter de Alícia, ela que parecia uma pessoa forte e decidida resvala para o contrário sem que o leitor estivesse muito preparado para tamanha mudança. Assim eu me senti, meio perdida nas linhas de Alícia. Mas é preciso dizer que, apesar destas derrapadas, é um livro envolvente, o leitor permanece atento ao clima, às descrições e ao destino das personagens até o final.
Profile Image for Lucas.
45 reviews
June 1, 2024
É o primeiro livro do Hatoum que leio. Dizem ser seu livro mais abertamente político. Cheguei a ver uma resenha que associa cada personagem do núcleo central da trama a um tipo social brasileiro da época da ditadura. Por esse prisma a obra perde o que há de forte e primoroso.

Em verdade, a ideia parece ser a de fazer uma biografia do personagem com pinceladas que transmitam a confusão da vida. Tanto a vida do biografado, quanto a vida daqueles que tiveram a vida atravessada pelo contato com suas ideias. O resultado é claro que é um retrato confuso. Que não tenta esconder uma raiva perene e nunca perfeitamente justificável que serve de motor para a jornada do protagonista. Um retrato que tenta transmitir a incerteza, o acaso e a tragédia da vida.

Sem dúvida é um livro bem escrito porque o texto me encheu de sentimentos. As fortes emoções desgovernadas para os personagens chegavam até mim sem eu também saber como domá-las ou torná-las mais inteligíveis.

Pode ser que o incômodo que a obra causa seja produto dessa densidade emocional. Mas, infelizmente, achei alguns trechos truncados para além do que seria instigante. As passagens em itálico que marcam o discurso direto de um segundo narrador são fenomenais. Mostram o diálogo de uma figura paterna com um tutelado. Um discurso muito franco que revela as forças emocionais que movimentavam a história. E as apresenta despidas. Sem pudores. Com total franqueza. É bonito. É instrutivo. É forte.

Mas na pena do narrador principal, Olavo, a trama fica menos pujante para justamente refletir a própria personalidade daquele que conta a história do amigo. A impressão que me ficou foi que Hatoum ignorava o ponto forte da sua escrita. O final do livro reforça essa impressão. Nele se revela um mistério de forma açodada de uma subtrama que para o leitor já não era relevante assim. Parece tentar transpor para o centro das considerações algo que é completamente periférico aos pontos fortes da história.

Mesmo que, para mim, o que tenha sido marcante foi a dimensão emocional da história, é preciso dizer como é interessante a possibilidade de se servir do texto para se debater a modernização da Amazônia durante a ditadura. O coronelismo próprio do lugar. A relação das elites locais com os militares. Os oportunistas que embarcam nessa aventura modernizadora. A forma pela qual a população é marginalizada do processo.

Essas questão são profícuas, com certeza. Mas passam como flashes. Colorem a narrativa, mas não são o que lhe dão forma. O inconformismo pessoal do personagem sensível, as inquietações do artista, essas sim são as temáticas que se toma tempo para esmiuçar.
Profile Image for Radamés Marques.
36 reviews7 followers
February 27, 2019
Como Milton Hatoum é gigante!

Talvez Cinzas do Norte não possua a gravidade de Dois Irmãos, cuja relação tectônica dos gêmeos Omar e Yaqub se entrelaçava com os ciclos econômicos que modificavam a paisagem de Manaus. Neste livro, o choque de gênios se dá entre pai e filho. Jano, o pai, filho abastado de imigrante português quer preparar o filho para administrar os negócios da família, que vive da exportação de juta. Mas Mundo, o filho, desde criança quer ser artista. Assim como em Dois Irmãos, a mãe, Alícia, tem um papel importante, tensionando ainda mais a relação entre pai e filho.

Em determinado momento, chega-se à conclusão de que os personagens estão em eterna fuga, Alícia do passado de pobreza, Jano do futuro decadente, e Mundo de todos eles, inclusive do melhor amigo Lavo, o narrador, órfão criado pelos tio que cresceu nas franjas da família rica do amigo, e principalmente de Manaus. Crescendo na velocidade do milagre econômico brasileiro, a cidade governada por militares promove reformas urbanas de intenções declaradamente higienistas.

Se em Dois Irmãos as dores do crescimento de Manaus apareciam de forma alegórica, se espreitando na tragédia familiar dos gêmeos, aqui elas tomam o centro da narrativa. A ditadura militar, os governos biônicos nomeados pelos generais, a reforma urbana e o crescimento econômico são o combustível que alimenta o ódio entre Jano e Mundo, e ressoa justamente o processo de ocupação e exploração da Amazônia. Um processo tão violento cujo resultado não pode ser outro senão a destruição, não só da floresta e da cidade, mas das vidas. Restando apenas as cinzas.
Profile Image for Eduardo Silva.
40 reviews
May 31, 2021
É importante esclarecer que li Cinzas do Norte numa única madrugada, tudo de uma vez.
Dito isso...
Esse é um daqueles livros em que você precisa dar um voto de confiança, o início é chocho, mas o final salva o conjunto. Nas primeiras cem páginas, as motivações dos personagens são pouco críveis (isso quando há alguma) ou, pior ainda, risíveis. A esposa rica/infiel/infeliz, o artista incompreendido etc., são esses os arquétipos clichés das figuras centrais. Curiosamente, é com o narrador, que praticamente não tem agência alguma, que é possível desenvolver certa simpatia.
E pra piorar, as mudanças entre presente/passado são constantes nos primeiros capítulos. As transições acontecem bruscamente e, sinceramente, só confundem o leitor por confundir. Aparentemente não passam de mero caprichoso estilístico.
Mas, se você passar da metade, vai descobrir que o esforço valeu a pena.
A narrativa ganha solidez, aprofunda, e, no fim, oferece um desenho rico da Manaus do século passado. As contradições, as mazelas, a beleza, o crescimento e posterior decadência. Até o vocabulário característico da época é retratado com esmero. Em certo sentido é a cidade e seu momento histórico que tomam o protagonismo dos personagens que, honestamente, são um tanto bidimensionais e detestáveis. Aí a coisa fica realmente interessante.
Profile Image for Diego Braga.
77 reviews2 followers
January 29, 2024
Sou um grande admirador do trabalho de Milton Hatoum. Acompanhar histórias ilustres através dos olhos dos narradores transeuntes de seus romances é um verdadeiro deleite - principalmente quando temos minha terra natal, Manaus, como cenário de seus enredos.

Mas esse não foi o caso de Cinzas do Norte. Diferentemente de livros como Dois Irmãos (sua obra-prima) e A Noite da Espera, ou até seu compilado de contos A Cidade Ilhada, o personagem principal não tem carisma suficiente pra virarmos empatia por ele enquanto Lavo narra sua história.

Até mesmo os trechos de carta escritos por Ranulfo entre capítulos são maçantes e não carregam, de primeira, informações ou relatos suficientes pra nos deixarem curiosos sobre quem e para quem os escreve.

Ainda assim, trata-se de um romance extremamente bem escrito e - com excessão das cartas que interrompem a história em vez de corroborarem para ela - de leitura fluida.
Profile Image for Luis Galveias.
57 reviews5 followers
April 12, 2018
O livro foi recomendado por alguém que me sugeriu um dos novos grandes romancistas brasileiros. No entanto fiquei um pouco decepcionado não pelo que está mas pelo que não está no livro. De certa forma não me senti transportado até Manaus mas o que mais me desagradou foi a falta de informação do narrador. O livro acompanha várias fases da vida do personagem Mundo e o narrador, um dos seus melhores amigos, pouco se refere à sua própria vida, como se permancesse inalterado (apesar da evolução escolar e de carreira). A vida de Mundo evolui, a do narrador permanece estanque - não se conhecem alterações na forma de pensar, agir, amores, uma perspectiva diferente sobre a vida, etc. Fora isso é agradávle de ler e guarda um certo suspense até ao fim mas chegando aos últimos capítulos já se sente que falta ali alguma coisa.
Profile Image for Luan Ferreira.
217 reviews1 follower
December 7, 2024
"Cinzas do Norte" evoca uma Manaus/Amazônia do passado. Mas, não a cidade/lugar de um passado estático. Há em "Cinzas do norte" uma espaço/lugar que traz consigo memórias que transformam o tempo, personagens e lugares. A narrativa propõe aqui inúmeras interpretações, seja por uma perspectiva geral ou pela perspectiva íntima de cada personagem, considerando a visão do narrador: Lavo. Por isso, falar de Cinzas do Norte é escolher uma parte, porque o todo, cada personagem em si, e as temáticas são aparamente inesgotáveis, cada qual dentro de sua proposta. Desse modo, as Cinzas do Norte é cheio de novelos de lãs emaranhados, escolher um é seguir por inúmeros olhares e sensações, pois a cada novelo pode se perceber uma faceta do ser humano.
6 reviews
December 15, 2023
Esse livro me decepcionou tremendamente. Esperava uma exploração da cultura de Manaus, a cultura do Norte do país, e invés disso li páginas e páginas de "Quem é o pai", como se isso tivesse qualquer relevância. O autor explorou levemente os aspectos de sexualização infantil, pobreza e outras problemáticas na região, mas tudo é ofuscado por essa narrativa excessivamente chata, prolongada e dramática da importância de se e quem é o pai do menino. Isso consome os personagens e todos os outros aspectos interessantes do livro, deixando uma casca fútil como resultado, sem nenhuma substância. Potencial desperdiçado, de verdade.
Profile Image for Dan.
Author 1 book5 followers
May 17, 2017
Atmosférico romance de Milton Hatoum ambientado em sua maior parte em Manaus. Escrito de forma desestruturada, até onírica, não me cativou de início. Aos poucos fui me familiarizando com os personagens e lugares, fazendo daquele mundo um pouco meu. Da metade adiante acelera o passo e ganha ritmo, se inteiro assim mereceria até uma nota maior. O final bucólico e triste, fazendo jus ao nome, traz uma surpresa nas últimas páginas. De modo geral me deixou com sentimentos fortes, mas poderia ser melhor estruturado.
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