«Neste volume levei em consideração uma série de factores, subjectivos e objectivos, que procurarei explicar. Para começar, é preciso esclarecer que, em relação à poesia russa, para além dos factores de objectividade ou subjectividade, há outro elemento que é preciso levar em conta: a tradutibilidade. Devido à fonética russa, nesta língua abundam os poetas que vivem, em minha opinião, excessivamente do idioma e que, quando vertidos para outras línguas, não são suficientemente eficazes, não «resultam». É o caso, por exemplo, de Pushkin, considerado o maior poeta russo e que é talvez o menos traduzido. Com outros autores, pelo contrário, dá-se um encontro imediato, sensível e, para além de viverem mais amplamente de elementos que não exclusivamente os linguísticos, o tom encontra rapidamente o seu correspondente na outra língua. É o caso de Maiakovski. Outro poeta que também ocupa muito espaço neste volume é Aleksandr Blok: o poema «Os doze» completo. É um dos grandes poemas, uma das grandes obras primas da poética europeia deste século, de que se fala muito, mas de que em Portugal não havia nenhuma tradução. Não quis também perder a oportunidade de o incluir neste volume.»
Alexander Blok (Russian: Александр Александрович Блок) was born in Saint Petersburg, into a sophisticated and intellectual family. Some of his relatives were men of letters, his father being a law professor in Warsaw, and his maternal grandfather the rector of Saint Petersburg State University. After his parents' separation, Blok lived with aristocratic relatives at the Shakhmatovo manor near Moscow, where he discovered the philosophy of Vladimir Solovyov, and the verse of then-obscure 19th-century poets, Fyodor Tyutchev and Afanasy Fet. These influences would be fused and transformed into the harmonies of his early pieces, later collected in the book Ante Lucem.
He fell in love with Lyubov (Lyuba) Dmitrievna Mendeleeva (daughter of the renowned chemist Dmitri Mendeleev) and married her in 1903. Later, she would involve him in a complicated love-hate relationship with his fellow Symbolist Andrey Bely. To Lyuba he dedicated a cycle of poetry that brought him fame, Stikhi o prekrasnoi Dame (Verses About the Beautiful Lady, 1904). In it, he transformed his humble wife into a vision of the feminine soul and eternal womanhood (The Greek Sophia of Solovyov's teaching). Blok's few relatives currently live in Moscow, Riga, Rome and England.
During the last period of his life, Blok concentrated primarily on political themes, pondering the messianic destiny of his country (Vozmezdie, 1910-21; Rodina, 1907-16; Skify, 1918). Influenced by Solovyov's doctrines, he was full of vague apocalyptic apprehensions and often vacillated between hope and despair. "I feel that a great event was coming, but what it was exactly was not revealed to me," he wrote in his diary during the summer of 1917. Quite unexpectedly for most of his admirers, he accepted the October Revolution as the final resolution of these apocalyptic yearnings.
By 1921 Blok had become disillusioned with the Russian Revolution. He did not write any poetry for three years. Blok complained to Maksim Gorky that he had given up his "faith in the wisdom of humanity". He explained to his friend Korney Chukovsky why he could not write poetry any more: "All sounds have stopped. Can't you hear that there are no longer any sounds?".[2]. Within a few days Blok became sick. His doctors requested him to be sent for medical treatment abroad, but he was not allowed to leave the country. Gorky pleaded for a visa. On 29 May 1921, he wrote to Anatoly Lunacharsky: "Blok is Russia's finest poet. If you forbid him to go abroad, and he dies, you and your comrades will be guilty of his death". Blok received permission only on 10 August, after his death.[2]
Several months earlier, Blok had delivered a celebrated lecture on Pushkin, whom he believed to be an iconic figure capable of uniting White and Red Russia. His death and the execution of his fellow poet Nikolai Gumilev by Cheka in 1921 were seen by many as the end of the entire generation of Russians [2]. Nina Berberova, then a young girl, recalled about the mood at his funeral: "I was suddenly and sharply orphaned... The end is coming. We are lost."
"Numa esquina está um burguês com o nariz tapado. E um cão mete-se-lhe entre os pés, sarnoso, indeciso, com o rabo entre as pernas.
O burguês, como o cão esfomeado, está indeciso e calado. E o velho mundo, como um cão sarnoso, está atrás dele com o rabo entre as pernas." (excerto de Os Doze) — Aleksandr Blok (1880-1921) ___________________________________
"Adeus, meu amigo, adeus, querido amigo, que trago no coração. A separação predestinada para mais tarde promete novo encontro.
Adeus, meu amigo, sem aperto de mão nem palavras. Não lamentes e não haja dor nem pena, — nesta vida morrer não é nada de novo, mas também nada de novo é viver." (poema encontrado junto do cadáver de Iessénine, que se suicidou aos 30 anos) — Serguéi Iessénine (1895-1925) ___________________________________
"Glorificai-me! Que são a meu lado os grandes homens? Em tudo o que até agora foi criado ponho o meu nihil. Nunca mais quero ler nada. Livros? Mas livros para quê?" — Vladímir Maiakovski (1893-1930) ___________________________________
"Mas é preciso viver sem pretensões, viver de tal modo que no fim de contas venha até nós um amor ideal e ouçamos o apelo dos anos que hão-de vir.
O que é preciso rever é o destino, não antigos papéis; lugares e capítulos de uma vida inteira anotar ou emendar.
E mergulhar no anonimato, e ocultar nele os nossos passos, como foge a paisagem na neblina em pela escuridão.
Que outros nesse rasto vivo seguirão o teu caminho passo a passo, mas tu próprio não deves distinguir a derrota da vitória.
E não deves por um só instante recuar ou trair o que tu és, mas estar vivo, e só vivo, e só vivo — até ao fim." (excerto de Hamlet — Boris Pasternak (1890-1960) ___________________________________
"Eu escrevia num quadro de ardósia e nas folhas de leques apagados, e na areia de riachos e mares, com um patim no gelo, com um anel nos vidros,
e na casca de árvores centenárias... E finalmente, para que ninguém possa ignorar que tu és amado! amado! amado! amado!, eu assinava num arco do azul do céu." — Marina Tsvetáieva (1892-1941) ___________________________________
"E o meu coração já não bate na minha voz, de alegria e tristeza. Acabou... E o meu canto galopa para a noite vazia, onde tu já não estás." — Anna Akhmátova (1889-1966) ___________________________________
"Ó século XX, ó grande era do spútnik, como é grande a tua tristeza e mortificação, tu — século generoso, e canalha também, século que assassina as nossas ideias, século de uma juventude furiosa. Os jovens estão extremamente furiosos. Os seus olhos brilham de desdém pelo seu tempo. Desprezam os partidos, os governos, a igreja e as previsões dos filósofos. Desprezam as mulheres com quem dormem, o mundo dos bancos e escritórios. Desprezam com dolorosa perspicácia o seu próprio lamentável desprezo." (excerto de Os Jovens Furiosos) — Ievgueni Ievtuchenko (1932-2017)
O prólogo, da autoria do tradutor, Manuel de Seabra, parece conter uma lucidez crítica que se torna refrescante para o leitor: sem rodeios ou fingimentos, assume que qualquer antologia está envolta em fragilidades, presa ao gosto (invariavelmente) pessoal de quem se presta a reunir poemas e a aglomerá-los num só objecto. Cada vez mais valorizo os prólogos e as introduções nos livros de poesia - de certa forma sinto que acabam por limar o nosso olhar e preparar-nos para o terreno até então desconhecido. Neste caso tratava-se, de facto, de um mar desconhecido e no qual submergi sem grande paixão (para grande pena minha)... mas desta experiência voltei à tona com um carinho e respeito enorme pela poesia de Anna Akhmátova.
"E o meu coração já não bate na minha voz, de alegria e tristeza. Acabou... E o meu canto galopa para a noite vazia, onde tu já não estás."