Os melhores autores contemporâneos das Américas, de língua portuguesa, espanhola, francesa, inglesa e holandesa estão nas páginas de Antologia pan-americana, em que Stéphane Chao sintetiza a produção literária do continente num mapa de talentos com 48 contos escritos por autores de 30 países. O resultado de quatro anos de pesquisas é um feito editorial inédito no Brasil. Chao estabeleceu critérios para obter o resultado mais representativo possível e mergulhou em uma difícil e prazerosa investigação literária países afora.
Trouxe o melhor da literatura de Belize e Curaçao, por exemplo, ao lado de nomes consagrados internacionalmente – Junot Díaz, Jonathan Frazen, Sherman Alexie, entre outros. Países de dimensões continentais, Brasil e Estados Unidos foram divididos por áreas. Representando a literatura do Sul dos EUA, Chao selecionou Richard Ford, enquanto Alexie aparece pelo Oeste, e assim por diante. No Brasil, Alberto Mussa, Luiz Ruffato, e Marçal Aquino, por exemplo, representam o Sudeste.
“Eu queria que houvesse um dialogo entre esses autores, particularmente entre os brasileiros e os outros. Queria criar essa ponte entre literatura brasileira atual e o resto da produção do continente”, conta o organizador.
Chao, francês radicado no Brasil, subverte o próprio conceito de América Latina, que acredita não ser adequado, pois quase sempre deixa de lado as Antilhas e outras regiões de língua francesa. “A idéia era fazer uma antologia diferente, que abrangesse todo o continente, criando assim uma ponte entre América latina e América anglofona, que geralmente se ignoram”, explica.
Romper as fronteiras e transgredir os rótulos — América Latina versus América do Norte — é o objetivo de Antologia pan-americana. Uma abertura inusitada para o que se escreve hoje no continente. Uma janela para o que há de melhor no gênero do conto.
A verdade é que conhecemos pouco, quase nada, do nosso continente. Principalmente se englobarmos a América Central e o Caribe. O que conhecemos sobre aqueles países? Um pouco sobre Cuba e Jamaica, no máximo, e, ainda assim, com muitos estereótipos. Não é todo mundo que se sabe que na América há quem fale holandês e francês, por exemplo.
Essa antologia tem o mérito de trazer escritos vindos desses lugares que a gente mal conhece. Há textos de Curaçao, do Suriname, da Guiana Francesa, do Haiti. Há outros de quem fala inglês e a gente nem sabe, como Belize, como Trinidad e Tobago. A seleção desse livro permite não apenas que saibamos o nome de ao menos um dos escritores desses lugares, mas que tenhamos experiências, ainda que curtas, bastante ricas sobre as culturas desses lugares.
Há uns três ou quatro contos, dos 48 no total, que estão mais para “reportagens” ou “ensaios autobiográficos”. Por meio desses textos, sabemos melhor o que é para um haitiano estar no Canadá, ou para alguém natural das Antilhas Holandesas estar na Holanda, e até o que é para alguém do Suriname viajar para Benin, lá na África. Mesmo nos outros contos, naqueles em que há uma proposta realmente ficcional, não há como fugir das referências culturais de cada lugar, de maneira que lê-los contribui para diminuir a ignorância que nós temos em relação a esses vizinhos.
Nem sempre os contos são fáceis, há experimentações que podem trazer dificuldades na leitura (e isso vale também para os escritores brasileiros presentes no livro). Porém, mesmo esses podem servir para melhor se entender a respeito de um país. O fato de todos os contos serem contemporâneos, feitos nos anos 90 e 00, também contribui para nos aproximar de cada escritor.
O Brasil e os Estados Unidos contam com vários representantes, um para cada região. Há entre os americanos verdadeiras pérolas que são hoje pouco ou nada conhecidos entre nós. Isso inclui até um escritor indígena americano.
Fico pensando se não valeria a pena também incluir textos de línguas não europeias que também são faladas por aqui. Um texto em crioulo, um texto em guarani, não sei. Talvez se achasse que o resultado fugiria bastante do “padrão” do livro, pois esses povos não têm preocupação de seguir os moldes da literatura estabelecida (o que pode ser muito bom), mas, de toda forma, talvez contribuísse para dar uma visão mais acurada do que vem a ser a América.
De toda forma, são poucos os livros que abrangem a literatura desses países e só isso já deve bastar para que se dê uma lida neste.
Gostei, no sentido de que a variedade de crônicas e bem legal, tem muita história e ator bom ali no meio. No entanto, fica minha ressalva que a tradução ainda que não tenha destaque no livro, me preocupa com relação a ser fidedigna a obra original. Uma vez que são vários tradutores, alguns não tão bem estabelecidos, receio alguma falha nesse sentido. Talvez uma ou outra crônica possa ser considerada mais chata/desconexa por uma falha nessa parte