Reunião de narrativas escritas entre 1949 e 1969, Antes do baile verde é considerado por muitos críticos o livro de contos literariamente mais bem-sucedido de Lygia Fagundes Telles. As situações narradas são as mais diversas. Em "A caçada", um homem fica a tal ponto intrigado com uma velha tapeçaria encontrada num antiquário que acaba por mergulhar na cena retratada na peça, como se tivesse participado dela numa outra vida ou numa outra dimensão. Já no macabro "Venha ver o Pôr-do-Sol", um rapaz leva sua ex-namorada a um jazigo de família abandonado. Conflitos amorosos também são tema de "Apenas um Saxofone", "Um Chá bem Forte e Três Xícaras", "O Jardim Selvagem" e "As Pérolas". Mas o enfoque é sempre diverso e surpreendente. Em "O Menino", por exemplo, uma infidelidade conjugal é observada de modo oblíquo, pelos olhos de um garoto que vai ao cinema com a mãe. Mas o escopo humano e literário de Lygia não se restringe aos dramas de casais. "Natal na Barca" é uma pequena parábola, com final epifânico. "Meia-noite em Ponto em Xangai" é o balanço que uma prima-dona da ópera faz de sua vida solitária e vazia. Em "O moço do Saxofone" um motorista de caminhão hesita em ir para a cama com uma mulher casada numa pensão de beira de estrada. Em "A Janela", um louco visita um bordel dizendo que é a casa onde seu filho morreu. Com sua prosa segura e elegante, alternando com desenvoltura gêneros e vozes narrativas, a autora expõe aqui no mais alto grau sua capacidade de seduzir e emocionar o leitor.
Lygia Fagundes Telles (born April 19, 1923) is a Brazilian novelist and short-story writer. She was born in São Paulo and is one of Brazil's most important living writers.
Her first book of short stories, Praia Viva (Living Beach), was published in 1944. In 1949 got the Afonso Arinos award for her short stories book O Cacto Vermelho (Red Cactus). Among her most successful books are Ciranda de Pedra (The Marble Dance) (1954), Verão no Aquário (1963), Antes do Baile Verde (1970), Seminário dos Ratos (1977) and As Horas Nuas, (1989). The book Antes do Baile Verde won the Best Foreign Women Writers Grand Prix in Cannes (France) in 1969.
Her most famous novel is As Meninas (The Girl in the Photograph), which tells the story of three young women in the early 1970s, a hard time in the political history of Brazil due to the repression by the military dictatorship. In 2005 she won the Camões Prize, the greatest literary award in the Portuguese language.[1]
She is one of the three female members of the Brazilian Academy of Letters.
Magnífico! Adorei estes contos de Lygia Fagundes Telles. "Antes do Baile Verde" é a prova da genialidade desta escritora brasileira, de quem já tinha lido "Meninas" e "Ciranda de Pedra". Nestes contos, o leitor começa por entrar confortavelmente, familiarizando-se com personagens e ambientes, até que é confrontado com o inesperado, o surpreendente, o inaudito. Fiquei algumas vezes sem chão, de boca aberta, a olhar para alguns finais, esfregando os olhos, a pensar se tinha entendido bem. Merece todos os elogios.
Lygia Fagundes Telles, São Paulo - 19 de Abril de 1923, é considerada a primeira dama da literatura brasileira e a grande representante do pós-modernismo. É membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa. Entre os muitos prémios que recebeu destaco as quatro vezes com o Prêmio Jabuti (1966, 1974, 1996 e 2001) e uma vez com o Prémio Camões(2005). Em 2016 foi a primeira mulher brasileira a ser indicada para o Prémio Nobel da Literatura.
Antes do Baile Verde é um livro de contos. Inicialmente esta compilação era composta por 16 contos, posteriormente passou para 20 e agora, nesta edição da Companhia das Letras cuja versão é definitiva por desejo da autora, são 18 contos escritos entre 1944 e 1969. É um livro incrível. A narrativa é intimista, a linguagem é rica, cheia de detalhes e subtilezas. Os contos são episódios do dia-a-dia, simples e sem grandes enredos mas cheios de alma e sentimento, mostram as nossas falhas, os nossos desassossegos, os nossos desejos, transitam entre o amor e o ódio, a vida e a morte, o ciúme e a insegurança.
No posfácio Antonio Dimas resume de forma soberba a escrita de Lygia.
“A grande dama não conta: ela murmura, fala baixinho. Aproxima-se do leitor como seus gatos, de que ela gosta tanto. Parece até que são apenas estórias em torno daquelas mesas de barzinhos refinados, em fim de tarde de verão. Não as mesinhas da calçada, propícias ao chope, à algazarra, à voz elevada. Mas aquelas protegidas pelo ar-condicionado e pela luz indireta, nem um pouco solar. Não se engane com essa sinuosidade felina, felpuda. Não vá na conversa, não relaxe. Fique esperto. Porque, quando você menos espera, as unhas retráteis aparecem e, logo depois delas, o risco na carne, o filetinho de sangue escorrendo. Nada muito profundo, mas o suficiente para incomodar, na hora e por tempo extenso, cravadas na memória. O suficiente para se lembrar de que, nas próximas vezes, você não deve se aproximar tão desguarnecido e confiante, porque o bote pode vir, quando menos se espera, não se sabe de onde. A cada aproximação, um aprendizado, independentemente do conto que você escolha. Fique esperto! Não confie no ron-ron de Lygia Fagundes Telles.”
Contos favoritos: Verde Lagarto Amarelo Apenas um Saxofone Venha ver o Pôr do Sol O Menino
Nova autora desbloqueada! ✅ Definitivamente uma bela surpresa. Lygia Fagundes Telles tem um poder para contar histórias que nos deixa completamente desconfortáveis, curiosos e abismados.
Este livro foi uma surpresa do início ao fim (claro que nem todos me prenderam), mas os contos são a praia da Lygia. Ainda mais ajudou ler o Posfácio de António Dimas nesta versão. Li em formato digital mas sem dúvida que quero ter o formato físico.
assim como "as meninas" da mesma autora, livro pra ler e reler. todos contos são ótimos e conquistam pela sutileza, pela sugestão e pelos detalhes que por pouco a gente quase perde... tipo aquele vulto que a gente pensa ter visto de canto de olho, sabe? lygia é assim, em poucas páginas de um conto faz um microcosmo com personagens e sentimentos tão dúbios e controversos que a gente repele mas também se identifica e quer mais. os dezoito (!) contos são tão interessantes que dá aquela vontade de contar prum amigo naquele tom de confissão-segredo como se fossem histórias que eu mesmo vi acontecer ou que ouvi falar. meus favoritos: os objetos, verde lagarto amarelo, antes do baile verde, apenas um saxofone, venha ver o pôr do sol & o menino.
“Alguém por acaso fica atento ao ato de respirar? Fica, sim, mas quando a respiração se esculhamba. Então dá aquela tristeza, puxa, eu respirava tão bem…”
Ainda não tive contato com os romances de Lygia, mas quanto aos contos, não é difícil assimilar o porque dela ser tão exaltada, como foi em vida e certamente o será no futuro, pois se eternizou no tempo por meio da literatura, pelo humanismo e combate a barbárie.
Em Antes do Baile Verde, como acontece em A Noite Escura e Mais Eu e Seminário dos Ratos os temas abordados nos contos são aqueles que pegam o leitor desprevenido, com sutileza e vagar, nos encontramos no meio de um crime, de uma traição, de uma atitude imoral e impremeditada, até encontro com a fé, com a morte e um pouco menos, com a vida. Assim como seu crítico diz no posfácio da obra, Lygia tem a maestria de nos arranhar, não dói muito, não sai muito sangue, mas incomoda, nos faz parar e invariavelmente refletir sobre o que ela nos contou. Lygia é surpreendente e é um prazer me sobressaltar com ela.
No mais, seu famoso conto Venha Ver o Pôr do Sol aqui está, tendo contato com ele durante a graduação, foi novamente um prazer lê-lo, mas ainda assim, O Jardim Selvagem e Natal na Barca foram excepcionais a mim.
Eu não sou a maior leitora e adoradora de contos que existe, mas de tempos em tempos resolvo me aventurar nesse gênero. Queria muito conhecer mais da obra da Lygia Fagundes Telles e resolvi ler seu primeiro livro de contos publicados. Foi uma ótima surpresa. Algo que me incomoda em algumas obras de contos é sentir que são rasos demais, que não consigo me envolver com o enredo nem compreender os personagens como tais. Isso não aconteceu nesta leitura. Senti que todos os contos conseguem, em poucas páginas, apresentar um enredo profundo, complexo e cheio de nuances. A autora consegue apresentar personagens de maneira rápida, onde em algumas linhas já permite que o leitor compreenda quem são aquelas pessoas de quem ela fala. Pessoas sempre muito humanas, retratando de forma incrível a complexidade do ser humano. Ela consegue retratar isso, fugir do 'certo-errado', fugir dos clichês e fugir de histórias óbvias. Gostei muito e com certeza seguirei lendo a obra da autora.
Não apreciei todos os contos, mas há sempre esse senão numa coletânea, é difícil gostarmos de tudo. A autora tem uma mestria belíssima para ir do quotidiano natural e simples para a desordem interior completa, sem que o exterior se aperceba das tamanhas e complexas revoltas. Nós, os leitores, temos todas as pistas e todas as provas, e julgamos a nosso bel prazer. A sensibilidade presente nestes contos é muito bonita e, na sua maioria, terminam como se espectador assistisse à queda de um ideal, de um sonho, de uma tábua de salvação, da destruição do mais íntimo. Sem nada poder fazer, o conto termina e nada nunca mais volta a ser o mesmo.
Que a Lygia é a autora da minha vida já não é segredo, mas a genialidade dela me cativa toda vez. A genialidade de escrever sobre o ordinário, sobre objetos da vida comum, um colar de pérolas, uma tapeçaria, objetos… esse é o mistério dela. Não vou me alongar, pois a Lygia já basta por si mesma, mas ela é a minha alma gêmea, se é que isso ainda existe e não tornou-se brega.
Que livro fantástico, nem tenho por onde começar a elogiar. Texto impecável, enxuto e direto, como gosto. Muitas formas de angústia, perversão, amor, contradições, nas situações e cenários mais diversos, descritos com firmeza e sem pudor. Amei.
Antes do Baile Verde - Lygia Fagundes Telles | 220 pgs., Cia das Letras (2009, 1ed 1970) | Lido de 19.02.18 a 20.02.18
Um dos melhores livros de contos que já li na vida, uma obra-prima da nossa literatura. Em Antes do Bailer Verde, Lygia Fagundes Telles demonstra toda sua habilidade de tecer narrativas profundas, que funcional por camadas, envolvendo a trama de superfície com movimentos emocionais profundos e poderosos.
Ela é a mestra da técnica da "contra-luz", da abordagem oblíqua das almas dos personagens e da essência emocional das histórias, sempre trabalhando com complexidade e sem buscar respostas ou resoluções fáceis ou simplistas para seus personagens.
O cotidiano em Lygia ganha muita poesia, e as revelações que ela traz ao mirar nos pormenores, nas minúncias, no pequeno do dia a dia são incríveis.
Recomendadíssmo, livro para ler e reler! Essencial para que também se envereda pela arte da escrita, aqui temos uma escritora no auge do seu poder narrativo!
meu primeiro contato com a literatura da lygia. são diversos contos que narram experiências humanas do cotidiano, geralmente através de diálogos, trazendo uma certa inquietação e curiosidade. o suspense que ela cria é tão bom que nem me incomodo com os finais que quase sempre nem existem, dando margem à imaginação. e sempre que eu terminava um conto eu sentia a necessidade de contar a alguém pra poder falar sobre antes de partir pra outro. enfim, amei demais a escrita dela! meus contos favoritos: "A Caçada", "Meia-Noite em Ponto em Xangai", "O Jardim Selvagem", "Natal na Barca", e "O Menino".
Todos os contos são situações banais mas inquietantes. São momentos breves e reveladores das relações entre as personagens, geralmente duplas: marido e esposa, dois irmão, patroa e empregada, desconhecido e desconhecida... Tem uns 3 contos que narram situações de marido e esposa no quarto, se arrumando antes de ir pra alguma festa ou coisa do tipo. Todas as angústias estão pairando. Nada se resolve muito. Acabo odiando e me identificando com eles, o que é um pouco desconfortável mas também muito rico. Fora que a Lygia escreve bem demais, ta loko...
Meu primeiro contato com a Lygia, e no conto um desta coletanea eu já estava rendida. Que escrita linda, lírica, intima, sensível e por vezes assustadora. A versatilidade é absurda e a construção atmosférica é impecável, observar a forma como ela narra estas históricas acabou deixando claro para mim que também era uma leitura sobre a alma das pessoas. Não tem UMA história ruim.
Talvez a primeira coisa a ser dita dessa coletânea de contos seja que ela não vai agradar a todos os leitores. Suponho inclusive que essa nem de longe tenha sido a preocupação da autora. É sim um livro pensado e estruturado, mas para obedecer a uma proposta narrativa. Gostar? O leitor que lute. Ainda dentro do assunto do “leitor mimado” é preciso dizer que a autora não está exatamente preocupada com histórias redondinhas com começo, meio e fim, a imensa maioria para não dizer todos os contos tem finais em aberto ou que abrem margem a interpretações. Então se você necessita de uma historinha com começo, meio e fim, lamento não vai ser aqui que vai encontrar. Bom depois de tirar o “elefante da sala” é inegável a qualidade da escrita da Lygia e o que ela consegue fazer com muito pouco, ela constrói situações ou antes faz com que o leitor experimente sensações, fique apreensivo ou se importe com seus personagens utilizando pouquíssimos elementos. Mas que o leitor não espere grandes acontecimentos aqui, a ação em alguns casos é até banal, comum. Também nada de arroubos, mesmo os conflitos mais profundos ocorrem no interior dos personagens, não resvalam para a superfície, pelo menos não na forma de grandes comoções. Fazer uma análise conto a conto ou comentar sobre o enredo deles atrapalharia a experiência do leitor, ainda que julgue que esses contos necessitem e mereçam releitura. Penso que o leitor deve ter o seu primeiro contato com esses contos tendo o mínimo de informação possível. É provável que num primeiro momento a autora confunda o leitor, para logo depois surpreendê-lo. Essa coletânea acredito, é uma ótima porta de entrada para a obra da Lygia, são 18 contos muito bons dos quais se destacam: o conto título, Antes do Baile Verde, Verde Lagarto Amarelo, O Moço do Saxofone, Venha Ver o Por do Sol, As Pérolas e O Menino.
Enquanto lia, algo parecia escapar da minha compreensão, porque eu não estava vendo nada de mais nos contos. Essa percepção foi reforçada pelo fato de que esse livro é muito bem avaliado. Então busquei resenhas, mas as pessoas se recusam a elaborar por que gostaram tanto dessa obra. Fui me deixando levar pela leitura e comecei a entender esse encanto. Não é um livro de contos em que se deve esperar reviravoltas como estamos (mal) acostumados com outros autores (não que contos nocautes - como define Cortázar - sejam ruins), a magia está em algum outro lugar. Claro que há contos aqui esquecíveis (para mim, ao menos), mas alguns são tão potentes. Vou destacá-los: - Verde lagarto amarelo - no qual o irmão mais velho (defeituoso) de certa forma rejeita o amor do irmão mais novo (perfeito). Há uma cena em que esse irmão mais velho anseia por um carinho da mãe, que não vem. Tristíssimo. - Helga - no qual o narrador comete uma atrocidade acontece com a pobre Helga. Sem mais informações. - Meia-noite em ponto em Xangai - no qual tive a leve impressão de que a autora flerta com o horror cósmico (interpretação provavelmente equivocada da minha parte). - Eu era mudo e só - no qual o narrador conta como foi tragado para um relacionamento em que se viu sem escolhas. - As pérolas - no qual o narrador tem medo de que sua mulher seja roubada por um antigo affair. - Os mortos - no qual a narradora percebe que suas atitudes controladores levaram seu esposo à traição. - O menino - meu favorito, no qual um menino vai ao cinema com a mãe e vê uma situação que muda sua percepção em relação a ela. Adorei esse trecho: "Aquele era o pai. O pai. Os cabelos grisalhos. O rosto feio e bom." "O rosto feio e bom" é uma das minhas frases favoritas da literatura agora. Após ler esse conto do menino, que achei muito bom mesmo, voltei ao índice e percebi que havia mais gostado que desgostado dos contos. Então mudei de ideia quanto ao livro.
Uma resenhista aqui no site, em outro livro, disse que os contos daquele não tinham ponta em que se pegue. Isso se aplica a alguns daqui, pois o final é tão aberto que parece que nem ponta têm. Isso me incomodou a princípio, e ainda me incomoda em alguns deles, mas nada que tire a genialidade da autora ao analisar fatos corriqueiros acentuando o que há de interessante nas coisas. Livrasso!
Quando li As Meninas, estava esperando uma coisa completamente diferente e me deparei com algo imenso, que mal cabia em mim. E isso me fez escrever, mais de uma vez, sobre ele. Dessa vez, eu já estava preparada para a grandiosidade de Lygia, preparei meu corpo e alma para ficarem embebidos no êxtase que ela me provoca.
Aqui conheci mil outras faces de Lygia, tão grandiosa, tão plural... Que mulher fascinante. Pula de protagonista em protagonista com perfeição, como se simplesmente trocasse de roupa e pudesse então ser uma nova pessoa, completamente diferente. Mergulhei em todos, fiquei íntima de alguns e me apaixonei profundamente por ela, mais uma vez.
Li contos em vários lugares, no ônibus, no trabalho, na faculdade, em padarias, em cafés, na cama... Tudo some ao redor, fico imersa e me entrego ao seu abraço, fico lá sem ver o tempo passar e mergulho profundamente.
Que antologia espetacular! Conheci Lygias tão inesperadas. Senti em A Caçada um toque sutil de horror e loucura que me deixou fascinada. Percebi também uma recorrência grande à juventude e me perguntei se era por isso que Lygia mentia a própria idade.
Sempre uma nova e esplêndida aventura mergulhar nesse oceano lygiano. Amar e admirar Lygia Fagundes Telles é inevitável.
Essa foi minha segunda leitura de Lygia e minha primeira de contos da Lygia e eu estou completamente encantada por essa mulher! Muito especial quando amigues tem tanto carinho por um autore e quando você vai ler é tudo isso que você ouviu sobre! Minha relação com literatura tem sido muito perpassada pela minha relação com minhas amizades. A leitura não é mais uma atividade solitária. E talvez nada seja, cercada de objetos que estou. E não é um livro um objeto? Enfim, não vou divagar muito, mas me sinto completamente inspirada pelo que Lygia me ensinou em cada sutileza dessa obra: sobre o escrever, o narrar, o observar, sobre os objetos, sobre as minúcias dos diálogos, sobre o sentimento arrebatador do cotidiano, sobre tanto e tanto e mais tanto.
Dezoito contos de Lygia que falam um tanto da natureza humana, construindo uma atmosfera de estranheza crescente, com cuidado aos detalhes e personagens tão bem estruturadas. Gosto de como cada conto sempre deixa algo no ar, algo que falta (como se encerrasse abruptamente, deixando o leitor querendo mais). Os preferidos: A Caçada, O Jardim Selvagem, A Ceia e Eu era Mudo e Só.
É sempre bom revisitar clássicos. Falando de autores brasileiros, recentemente passei por: Machado de Assis (sempre incrível), Fernando Sabino (uma aposta segura), Graciliano Ramos (difícil, mas também garantido), Guimarães Rosa (bem mais difícil) e agora apostei na Lygia Fagundes Telles.
Concordo com algo que foi escrita no posfácio: No ponto de partida dos contos, vemos um aparente equilíbrio descambar para uma situação inesperada, mas sempre sem muito estardalhaço. Daí que em alguns contos isso é feito de maneira tão sutil, que você nem percebe. As vezes a tensão fica num objeto, numa fala, numa ação rápida. De novo, pegando o posfácio, tudo de forma muito pontual, precisa (uma atenção muito grande na linguagem).
Tudo isso torna o livro uma leitura difícil, que requer nossa total atenção a esses detalhes. Estamos acostumados com outro ritmo, nosso cérebro se acostumou com recompensas mais imediatas e a LFT não te entrega isso fácil...