Da autora de O som do rugido da onça ― vencedor do prêmio Jabuti ―, um romance aterrador sobre as consequências perversas da intolerância e da doutrinação religiosa.
Um crime choca os moradores de uma pequena cidade no interior do Brasil: uma mulher é queimada viva, em um ritual motivado por razões religiosas, a fim de purificar a vítima e endireitá-la para o “caminho do bem”. A violência parece ter se tornado parte da paisagem: desde que uma comunidade evangélica se instalou na região, episódios do tipo se tornaram cada vez mais comuns. Cabe então ao leitor juntar fragmentos, seguir as pistas e acompanhar os rastros de uma mulher que tenta organizar a narrativa desse trágico acontecimento ― enquanto ela mesma tenta lidar com seus próprios traumas e a ausência de um grande amigo.
Em Caminhando com os mortos, a premiada escritora Micheliny Verunschk constrói um romance inovador e assustadoramente atual, que demonstra como o ódio às mulheres e às minorias atravessa os séculos, sobretudo quando se vale do fanatismo religioso.
“Micheliny Verunschk vai longe e mergulha na história da colonização das Américas através de uma experiência pessoalíssima e terrível de como as religiões foram um braço forte de um projeto que ajudou a destruir um povo e seus costumes, sua terra, sua alegria de viver, sua relação com o divino.” ― Natalia Borges Polesso
“Quem chega nas regiões em que tudo é ausência? O que fazem quando ocupam todo o espaço? Caminhando com os mortos é sobre o fogo capaz de queimar Celeste em Tapuio, outras mulheres no Brasil e tantas bruxas ao longo da história da humanidade.” ― Manuela d’Ávila
“Como o trágico se constrói através de uma teia de violências, mais ou menos silenciosas? Cumprindo um dos papéis mais fortes da boa ficção, provocando tensões com o real em sua potência imaginária, Micheliny Verunschk nos leva pela mão e pela linguagem ao interior de um Brasil pouco visível, onde habita a fera que pode, também, devorar seu caçador. Se em seu premiado livro de estreia era a onça quem rugia, neste há um imenso silêncio. Assombrado.” ― Bianca Ramoneda
Micheliny Verunschk é uma escritora, crítica literária e historiadora brasileira. É Mestre em Literatura e Crítica Literária e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo. É autora de livros de contos, poesias e romances, incluindo Nossa Teresa: vida e morte de uma santa suicida (Patuá, 2014), ganhador do prêmio São Paulo de Literatura, e O som do rugido da onça (Companhia das Letras, 2021), que conquistou o Jabuti de melhor romance literário e o terceiro lugar do prêmio Oceanos.
Mais uma pedrada da Micheliny. Que livro! Li numa sentada, aos mesmo tempo envolvente pela escrita poética, é proporcional pelo horror que ele emana. Ele trata de assuntos que não devemos deixar morrer em nossos discursos do dia a dia, o fanatismo religioso que tanto tem culpa em crimes de feminicidio, homofobia e transfobia. Quando um acéfalo como o Deltan Dallagnol vai notar que ter um discurso de que mulher deve ser submissa ao homem porque "tá na bíblia" leva milhares delas à morte? Há sangue nas mãos de cada religioso que replica o discurso misógino das igrejas neopentecostais. Esse livro é uma bomba porque mexe e remexe em feridas há muito abertas e que sangram todo dia, não exageraria se dissesse que a Onça já está com outro Jabuti em mãos.
Achei o começo arrebatador, tendo o fanatismo religioso como ponto central.
As discussões que levanta sobre o tema (assim como feminicídio e outros) são bem interessantes e me atraem, mas no geral achei muita poesia e pouca história.
Tudo muito rápido mas sem aprofundamento, o que me deixou frustrada.
Uma mulher queimada viva pela própria família, por razões religiosas. Queriam "purificar" a vítima, regatá-la do "caminho do mal".
Eu amei "O som do rugido da onça", romance anterior da autora. "Caminhando com os mortos", por outro lado, não funcionou da mesma forma para mim. Não há nada de errado ou malfeito, a meu ver: a premissa é intrigante, a narrativa adota estilos diferentes de escrita, passeamos por diversos pontos de vista, as críticas ao fundamentalismo religioso são certeiras... Mas algo não clicou como deveria. A sensação durante a leitura era de que nada me impressionaria ou me faria pensar muito além.
Talvez uma releitura, no futuro, mude minha opinião. Por enquanto, fica no meio do caminho: três estrelas.
um 4,5 de 5 — e acho que essa meia que falta foi por gosto mesmo e não por algo de errado
“Há muito compreendi o que chamam de humanidade como um conglomerado de agentes a serviço de todo o continuum de construção e corrosão, embora deva chamar a atenção para o fato de que parece ser a ruína o que mais nos apraz.”
foi meu primeiro contato, diria que bem positivo, com o projeto estético de Micheliny Verunshk. a autora em muito impressiona por sua escrita revelar sua visão enquanto historiadora, trazendo sempre lampejos de decolonialidade ou reflexões de que toda narrativa (e linguagem) se alteram a partir de quem olha. mas foi num passo seguinte que essa escrita me agarrou: a Micheliny tem um trabalho de forma e linguagem primorosos: assim como o enredo, a estrutura do romance é feita de fragmentos, polifonia; a linguagem é trabalhada de acordo com o sentido que se quer atingir ou o discurso que quer retomar; o narrador e sua complexidade diante da mediação de muitas vozes é instigante; o dedo artesanal para estruturar capítulos mais historiográficos sem soar artificial ou professoril são singulares; a construção descritiva e sonora de imagens e símbolos (principalmente quando o narrador se coloca mais de cima) é capaz de moldar o ritmo da narrativa e lembrar a linguagem da poesia ou do cinema. enfim, tudo isso pra dizer que gostei como a autora escolhe procedimentos de escrita em que é difícil separar o conteúdo da forma. talvez tenha faltado um último tempero pra me pegar totalmente e virar grande favorito, mas saí tendo muito a grifar, discutir, além da curiosidade de ler mais da sua obra.
2º livro da autora q eu leio e acho q ela n é pra mim
achei a leitura muito expositiva (não queria que a autora me narrasse exatamente as explicações e os sentimentos dos personagens e sim demonstrasse isso no enredo), o que me tirava demais da imersão da leitura
acabou que a leitura ficou um pouco confusa e ainda novamente com frases poéticas mal inseridas na narrativa
terminei o livro me importando com ninguém e achando q a autora perdeu mais uma chance de explorar melhor as temáticas sociais do enredo
"Se deus é grande, o mato é maior" é uma das epígrafes de Caminhando com os mortos, o último livro de Micheliny Verunschk, que dá continuidade a O som do rugido da onça como segundo volume do que a autora pernambucana denominou a "Trilogia do mato" (https://m.youtube.com/watch?v=-dtOVga...).
Igual que no seu romance anterior, Verunschk vale-se da sua habilidade poética com as palavras para dar voz ao que ela mesma classifica como as "violências fundantes" da sociedade brasileira: "a violência de Estado, a ditadura militar, a violência contra a mulher". https://www.quatrocincoum.com.br/br/e...
Se em O som do rugido da onça o foco é a desumanização dos povos indígenas pelo sistema colonialista, agora é a utilização da religião como aríete desse mesmo sistema, que, em muitas comunidades, arrasou espiritualidades tradicionais e comunitárias, substituídas por uma visão rígida e opressora da religião.
A autora repete as estratégias narrativas de fragmentaridade, rasura e diversidade de vozes e perspectivas narrativas, alternando as narradoras e exigindo a atenção da leitora e sua vontade de se deixar levar pelo universo lírico da narrativa.
Seguindo o tom do seu primeiro romance, aqui também a salvação está na recuperação da memória dos povos marginalizados, apagada na construção do Brasil, e na retomada das formas de vida coletivas dos povos originários, simbolizada no final do romance pela jurema-preta, árvore que serve de lugar de reunião e assembleia do povo.
É interessante como Caminhando com os mortos dialoga, se não em termos poéticos, pois se trata de estilos bem diferentes, sim em termos de universo geográfico e histórico com os romances Torto arado e Salvar o fogo, de Itamar Vieira Júnior, o que aponta para uma nova sensibilidade na literatura brasileira contemporânea, que se afasta das suas tradicionais narrativas sobre a classe média urbana para observar e retratar as realidades dos diversos interiores do país.
Bem, fico meio indeciso em relação a "Caminhando com os mortos", porque ao mesmo tempo eu acho de um lado as temáticas do fanatismo religioso e da manipulação através do medo facetas muito interessantes e, ao meu ver, pouco exploradas na literatura de uma forma ampla, e de outro a maneira como Verunschk articulou tudo isso um pouco breve e não tão aprofundada como poderia ter sido. Primeiramente, eu acho que o livro tem bons destaques, principalmente a primorosa conexão que é estabelecida entre o território e a fé, e como o pastor pode utilizar as pessoas menos instruídas do distrito de uma forma que não conseguiria se tivesse instalado sua igreja na cidade. Além disso, a linguagem poética empregada pela autora nos coloca numa espécie de transe, habitando um imaginário que só existe enquanto o livro está aberto. Todavia, acredito que isso fica somente na primeira impressão, porque quando o enredo efetivamente vai pra frente, acho que a história descarrilha um pouco e perde sua força, principalmente se tudo tivesse sido fechado com mais calma – acho todo o arco da inspetora um pouco confuso e não sei se ele realmente era tão necessário para a narrativa, visto que ela não é tão particular com suas leituras do caso. Enfim, vale a tomada de próprias conclusões, mas não sei se é o mesmo que todo mundo constatou no Som do Rugido da Onça (cuja leitura eu ainda preciso perder o atraso).
Micheliny Verunschk é escritora, crítica literária, compositora e historiadora brasileira, vencedora do Prêmio Jabuti e do Prêmio Oceanos em 2022 pelo aclamado "O som do Rugido da Onça", um romance sobre a história de duas crianças indígenas raptadas no Brasil do século XIX.
"Caminhando com os Mortos" foca num crime bárbaro cometido numa pequena comunidade do interior, motivado por razões religiosas: uma mulher é queimada viva num ritual de purificação para reconduzi-la ao caminho da retidão. Trata-se de um livro sem protagonista, onde esse papel é assumido pela maldade humana, pela intolerância religiosa e pelo preconceito contra as mulheres. A narrativa apresenta diversos pontos de vista para tentar jogar uma luz sobre esse crime bárbaro e sobre os habitantes da região, mas a prosa poética e introspectiva da autora deixam a leitura bem pouco palatável, apresentando pouco fôlego para as questões que realmente te deixam intrigado. Apesar do tema ser interessante, o livro não funcionou pra mim.
Avaliação Final: 3,0/10 Leitura Concluída: 6º livro de 2024 Próxima Leitura: "Reparação" (Ian McEwan)
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOKO DEMAIS! MATARO UMA MINA, A CIDADE É PEQUENA, OS CRENTE TÃO LOCÃO , A INVESTIGADORA COLA PRA RESOLVER. TEM POESIA, TEM MATO, TEM DEUS E MATO E MAGIA. TE AMO MOCHELINY
Em Caminhando com os Mortos vemos o desenrolar de um crime brutal. Uma mulher foi queimada viva, pelos pais e irmão, que acreditavam estar purificando-a de seus pecados. Esse livro aborda os temas da intolerância e fanatismo religioso.
Somos apresentados a essa história sobre diversas perspectivas. Conhecemos a história da moça assassinada, a de sua família e do local onde tudo aconteceu.
Uma região muito pobre, na qual seus moradores vivem à margem da sociedade, sem a atenção do poder público e sem perspectivas de melhora, de repente vê ser construída na localidade uma imponente e bela igreja, com pastores que escutam e prestam atenção a esse local esquecido.
A partir disso, situações de intolerância religiosa passam a se tornar frequentes na região. Uma moça volta para visitar a família. Os familiares buscam a todo custo convertê-la, porém ela discorda de suas novas crenças, o que culmina no seu brutal assassinato.
A autora aborda um assunto muito pertinente para o momento atual do Brasil, porém as múltiplas perspectivas e prosa poética da escritora, me deixaram confusa e me vi em diversos momentos da história sem entender quem era o narrador da história.
Apesar de não ter sido uma boa primeira experiência com a autora, quero ler outros livros dela e recomendo a leitura, pode não ter funcionado para mim, mas pode ser uma ótima leitura para outras pessoas.
Que espetáculo de narrativa: bem amarrada, muitíssimo bem escrita e contemporânea. Li uma edição digital enviada pela Companhia das Letras e já estou chateada por não ter o livro na estante (e, pior, não poder emprestá-lo por aí!). É daquelas histórias que a gente termina de ler com vontade de que muita gente leia. Tomara!
“É disso que se trata, afinal. De vida e de morte. E dos seus agentes diretos e indiretos, e desse ciclo que nunca acaba.”
(Eu até pensei em escrever uma sinopse sobre o que trata o livro, mas na página 140 veio esse parágrafo aí, tão belo e tão explícito, que peguei emprestado para usar como sinopse).
Agora, pasme! Me falta ler “O som do rugido da onça”, vencedor do Jabuti de 2022, que tenho em casa e ainda não li.
«È successo qualche ora fa ed è già passato. E il passato non finisce mai, si espande, si stende elastico, si appiccica sulle persone come gomma da masticare. Non sappiamo mai cos'è il presente. Se il passato esiste e permane. Oppure niente di tutto questo, lo scorrere del tempo un guazzabuglio privo di senso.»
Inacreditável o poder da Micheliny. Junto com o "o som do rugido da onca", esse aqui deve ser um dos romances mais incríveis e fortes que li. Aterrorizante é a palavra da vez. Por muitos momentos me senti lendo qualquer coisa, menos ficção. Parece também algo da Ana Paula Maia. E o que preenche e brinda toda essa riqueza de vozes, de elementos, de pontos de vista e de terror é a poesia latente na prosa, na escolha das palavras. Micheliny é uma das melhores escritoras em atividade e eu mal posso esperar para ler o que mais ela lançar.
Estar em uma sociedade inevitavelmente religiosa como a brasileira faz com que muitas coisas passem despercebidas em frente aos nossos olhos. Faz com que a crueldade em nome de um ser maior seja facilmente ignorada e a culpa seja jogada inteiramente na obra de um ser mitológico criado justamente para isso - para não dar a responsabilidade para os verdadeiros culpados.
'Caminhando Com os Mortos', mesmo sendo ficção, serve como uma espécie de denúncia acerca da manipulação religiosa conservadora latente no país.
Enquanto uma onda conservadora cresce, as mulheres queimam, somem, são enterradas no quintal de casa e os verdadeiros culpados pela manipulação que leva a isso nunca são responsabilizados porque existe um ser mitológico que pode levar toda a culpa sempre. É quando essas mulheres queimam que os verdadeiros culpados crescem. É enquanto eles crescem que a busca por uma solução para esses crimes diminuem.
Micheliny Verunschk escreve sobre esse descarte de tudo que não é considerado bem visto pela religião de maneira que transporta o leitor imediatamente para o local e, por mais assustador que isso seja, dá muito certo.
Dá certo porque a raiva que sentimos é pra ser sentida, a indignação, a tristeza, o choque e até mesmo o perdão por tudo que acontece apenas por uma manipulação em momentos de fragilidade é sentido exatamente da maneira e no momento em que é para ser assim
São histórias que se conectam porque uma grande parcela do Brasil - infelizmente - já se viu em uma situação de intolerância e manipulação religiosa que remete àquilo.
'Caminhando Com os Mortos' é um livro para ficar de olho, uma grande peça da literatura que faz tanta coisa em suas menos de 200 páginas que até nos momentos mais monótonos consegue transportar o leitor para a fluidez da sua história mesmo quando o choque é muito grande.
Confesso que fui com muita sede ao pote para essa leitura. A premissa é interessante e o lirismo da autora é cativante. Até que se torna cansativo.
A história começa com a trama principal: o assassinato de uma jovem por sua própria família por motivos de fanatismo religioso. E partindo disso, ela aborda temas de suma importância, como a misoginia, bem como o uso indevido da “palavra de Deus” para destilar ódio e sofrimento.
A construção da obra é um tanto confusa. Longe de serem tradicionais, os capítulos saltam entre tempos e narradores distintos. Ora em primeira, ora em terceira pessoa, a narração nos faz pular de um canto ao outro e parece que vamos nos afastando cada vez mais do enredo inicial. Senti que o tempo todo eu queria dar continuidade à história do assassinato, mas a autora não me permitia. É como se ela pegasse na minha mão para me conduzir por um caminho e logo em seguida a largasse para que eu me perdesse. Lá na frente ela buscaria minha mão de novo e eu já nem fazia ideia mais do que estava lendo, de qual era o propósito da história.
O lirismo empregado pela autora dá volume e beleza ao enredo, mas também nos distrai. E quando o livro finalmente chega ao fim (o que pareceu uma eternidade para tão poucas páginas), você se dá conta de que a trama principal não é retomada e que você não saberá do desfecho. Me deixou com a sensação de que no fim, a autora já queria contar outra história, sem dar importância para aquela que começou. Personagens são introduzidos e depois esquecidos constantemente, e somam-se a uma infinidade de nomes abandonados que nos confundem e não mais nos interessam.
Não me levem a mal. A escrita da autora é belíssima e a história tem seu valor. Mas a execução talvez não seja do meu agrado, a ponto de eu não saber como apreciá-la da maneira correta. Desejo mais sorte aos próximos que forem se jogar nessa empreitada.
In Brasile, in una piccolissima comunità rurale, una donna viene arsa viva. Ad ucciderla è stata la sua famiglia, fresca di conversione ad una nuova confessione religiosa, e il rogo doveva avere come fine ultimo l’esorcismo di Celeste – il liberarla dai suoi peccati, dal demone che abitava in lei, per farla tornare rinata alla sua famiglia. Prevedibilmente, non ha funzionato.
Io e la religione non andiamo d’accordo. Io e la religione piena di fanatismi ed estremismi ancora meno. Quindi leggere questo libro è stato a tratti difficile, alle volte per motivazioni totalmente diverse fra loro.
In prima analisi possiamo affermare che questo libro non sia facilissimo perché la narrazione non è lineare. Ogni capitolo ha un punto di vista differente, e ogni punto di vista non è detto che ragioni allo stesso modo di chi l’ha preceduto o che racconti gli stessi fatti e quasi mai in ordine temporale. Quindi a ogni fine capitolo e inizio del nuovo ci si ritrova proiettati nella testa di persone molto differenti che approcciano il fatto in maniera molto differente, alle volte facendo salti indietro di decenni. A tratti questo libro è stato come un incubo febbrile.
C’è poi la questione religiosa che, ammetto, io non capirò veramente mai. Immaginate quindi quanto poco io capisca i fanatismi basati sulla religione e quindi su un presupposto che già mi sfugge. Ho tratto quindi delle mie conclusioni, ma sono conclusioni molto personali e voi sicuramente ne trarrete altre.
Come sottofondo a tutto questo – o anche parte integrante di tutto ciò, ogni tanto è difficile distinguere i confini – c’è la violenza di genere. La vittima, Celeste, è stata messa sul rogo anche perché donna libera. I suoi comportamenti, se messi addosso ad uno dei suoi fratelli, non avrebbero fatto accendere i fiammiferi a nessuno. Quindi...c’è anche questo
foi uma leitura decepcionante :/ tava com muitas expectativas pq fanatismo religioso é um assunto que me interessa mt e quase não vejo livros com esse tema
o início foi bom mas dos 30% pra frente parecia outra história. meu maior problema foi ter vários pontos de vista, deveria ter sido contado de outra forma
Me prometeram discussão sobre intolerância religiosa, me ofereceram divagações sobre a morte no sertão numa prosa muito introspectiva e confusa. Essa história podia ter sido contada de outro jeito
vencedor do prêmio oceanos, "caminhando com os mortos" é um livro desconfortável de ler, pois desenvolve ao longo de suas páginas a problemática da intolerância religiosa e do feminicídio, de um modo que te tira o fôlego e te deixa nauseado. logo de início, somos apresentados a um crime chocante: uma mulher é assassinada, queimada viva por sua família. partindo desse crime, o romance se destrincha em vários caminhos, acompanhando os depoimentos dos envolvidos na delegacia, adentrando nas lembranças da mãe, e também na perspectiva de uma das investigadoras responsáveis, que acompanha o crescimento de crimes de ódio no município, influenciados pela expansão de igrejas evangélicas no local. é assim que celeste acaba sendo morta; sua família começa a mudar seus costumes e a ver o mundo ao seu redor de outra maneira, após frequentar a igreja de um pastor recém chegado. quando celeste retorna para a cidade com um filho de fora do casamento, sua recepção não é agradável. a família começa a desenvolver discursos vinculados aos pecados de celeste e a necessidade de purificá-la, que acabam levando a sua morte. para além do horror do crime, também somos expostos ao horror da percepção de que, para lourença e o resto de sua família, ela nem sequer havia assassinado a própria filha, pois para ela o crime foi uma purificação, de modo que celeste retornaria dos mortos eventualmente. esse nível de manipulação causa um profundo choque nos leitores, pois esses discursos não estão desconectados da realidade que vivenciamos cotidianamente. o crime retratado aqui acontece em todo o país, o tempo todo, apenas mudam nomes, endereços e motivos. a discussão que verunschk traz sobre o fundamentalismo religioso e como ele acaba corroendo a visão de alguns grupos sobre outros, não partiu de um vácuo, mas de uma extensa experiência com esse assunto, basta abrir um jornal. também choca como os traumas de lourença foram alimentados por esse meio, demonstrando como a manipulação religiosa se agarra às nossas maiores fraquezas e dificuldades para nos controlar. o horror, portanto, se caracteriza pelo cotidiano do crime e de discursos como esses, que fomentam essas violências.
Ao mesmo tempo íntimo e abrangente, subjetivo e analítico, esse livro me tocou muito e, a cada descoberta revelada aos poucos pela narrativa, um novo sentimento visceral emergia.
O livro é uma investigação dos ciclos de violência que assombram a humanidade e das estruturas sociais que os permitem, mas o é de um jeito emocionante, gradual e consciente. A autora demonstra um entendimento louvável de escopo narrativo quando começa numa revelação poética da cena do crime e vai se distanciando a cada capítulo: pais, vizinhos, profissionais envolvidos... mudando o fluxo narrativo de acordo com o contexto e o estado mental de cada enfoque e chegando até assuntos muito mais abrangentes como a história de religiões e contextualizações políticas. Essa "inconstância" pode até gerar algum estranhamento, principalmente quando a mudança de estilo é mais brusca, mas depois de aceitar esse movimento da narrativa, fica muito claro que cada parte é um argumento de uma discussão maior, cujo simbólico ponto final é o ouroboros que vem antes do epílogo.
A autora também revela camadas de violência, misturando vítimas e algozes, e, onde outras pessoas colocariam uma violência como justificativa de outra, diminuindo uma ou ambas, Micheliny as apresenta com um lirismo mais investigativo, argumentativo. Elas se acumulam e se fortalecem narrativamente em prol do todo da obra.
Avassaladora de um jeito bonito e sutil, essa leitura certamente vai ficar na minha cabeça por um bom tempo.