A Curva da Estrada é um livro muito rico psicologicamente, um dos melhores de toda a obra de Ferreira de Castro. O autor escreve sobre políticos que encarnavam as aspirações populares e cujo problema era permanecerem fiéis a essa opção de classe ou desviarem-se dela. Ferreira de Castro conheceu os homens da República e apresentou-nos um socialista em decomposição que, todavia, no final opta pela dignidade e pela continuação da luta. É um romance ainda hoje extremamente atual.
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«... o directório é constituído por arrivistas ambiciosos, que não querem outra coisa senão trepar à custa dos velhos militantes. Não cessam de prometer às massas aquilo que eles sabem muito bem que não lhes podem dar e não hesitam em caluniar aqueles que lhes podem fazer sombra... Para eles, só eles próprios são socialistas verdadeiros; os outros são todos uns reaccionários....»
Contracapa
O romance de Ferreira de Castro, centra-se numa questão de carácter existencial. Don Álvaro Soriano é um velho deputado da oposição que está prestes a abandonar o seu partido para se filiar no partido do Governo. Esta metamorfose, acompanhada de uma dúvida fundamental, constitui o problema central de A Curva da Estrada. O próprio título do romance, simultaneamente uma metáfora e uma imagem, remete o leitor para uma questão que se tornou fundamental nas chamadas "filosofias da existência". Essa questão reporta-se ao caminho que cada homem persegue ao longo de uma vida cheia e inteira. Podemos utilizar aqui uma metáfora cara ao próprio existencialismo, proposta por Kierkgaard, que compara a existência a um labirinto e não a uma estrada rectilínea, conforme certos ideais nos levam a acreditar. A consciência da dificuldade é assumida com desencanto, mas há uma evidência a que nenhum homem pode fugir: essa evidência acontece quando se dá a queda definitiva no abismo. É uma queda de tal forma violenta que já não é possível voltar atrás para remediá-la. Esse tem sido um dos pressupostos da condição humana.
José Fernando Tavares http://www.ceferreiradecastro.org/sil...
José Maria Ferreira de Castro was a Portuguese writer and journalist. At age 12, he immigrated to Brazil, where his work at a rubber plantation for the following four years would be the inspiration for his most famous book, A Selva (1930; The Jungle; filmed 2002 - http://us.imdb.com/title/tt0210971/). He returned to Portugal in 1919, and started working as a journalist. He was a noted oppositionist to António de Oliveira Salazar. He was also famous for his travel literature, namely his book A Volta ao Mundo, recounting his travels around the world in the outset of World War II.
Um romance sobre o envelhecimento e as metamorfoses que ele provoca no indivíduo, a ponto de poder renegar-se, defendendo hoje o que ontem condenara. O protagonista é um líder político do PSOE na Espanha republicana (1931-1936/9), em tempos referência dos ideais socialistas e trabalhistas, que, chegando à veterania, deixa de reconhecer-se na teoria e na prática do partido, entrando em choque com os dirigentes mais novos. À desilusão e ao despeito oferece-se-lhe uma saída pela porta do partido nacional (conservador), permitindo-lhe não apenas continuar na ribalta política como tirar desforço dos outrora seus camaradas, por quem foi secundarizado. Não é apenas um romance, magistral, sobre o envelhecimento, mas também sobre a questão ética que se põe a quem teve (e continua a ter) responsabilidades perante os outros (sendo como tal considerado uma bandeira), e as obrigações éticas, morais e políticas que essa condição de liderança acarreta. Escrito na Bretanha, em 1948, foi publicado em 1950, quando em Portugal há um quarto de século não se falava de partidos políticos e as disputas ideológicas eram dirimidas pela Censura e pela PIDE.
O romance que Ferreira de Castro publicou em 1947, a que deu o título significativo de A Curva da Estrada, representa, no contexto da obra do autor, aquela que podemos considerar a sua época de maturidade. Não apenas maturidade estilística mas também um tipo de maturidade que já lhe permite perspectivar de uma forma diferente a própria dimensão do humano. De facto, enquanto que em romances como Emigrantes (1928) ou A Selva (1930), livros maiores na sua obra, o humano é encarado na sua dimensão mais miserabilista, pois trata-se de um tipo de homem circunscrito a uma época específica do processo histórico que enfrenta apenas a sua condição de ser sobrevivente, a problemática apresentada em A Curva da Estrada já em muito se distancia das questões da sobrevivência para centrar-se sobretudo nas questões de ordem ética e ideológica. Mais do que isso: centra-se também em aspectos marcadamente psicológicos, característica que irá afastar, de um modo definitivo, a obra da Ferreira da Castro da corrente literária dominante no seu tempo conhecida por neo-realismo.
A Curva da Estrada é um romance interessantíssimo. Datado, claro está. Mas no sentido de que tem data, de que foi publicado em 1950 e não poderia ter sido escrito em nenhuma outra época. Os romances são assim, como qualquer obra humana. Padecem desse defeito de serem fixados num tempo determinado. E determinante, já agora, pois que o tempo em que foi escrito, isto é, ás condições concretas de uma situção que se não repete e nas quais o autor se move e delas recebe influências, saberes e inspiração se reflectem inevitavelmente na obra que cria. A perenidade de uma obra de arte reside no facto de poder continuar a fazer-nos reflectir, ultrapassando as décadas que para trás ficaram.
Um livro inteligente, como o são todos os de Ferreira de Castro. Com um grande poder visual, o autor leva-nos por uma reflexão meticulosa sobre as convicções de cada um: a sua mutabilidade e, sobretudo, a responsabilidade que temos em agir de acordo com o que é moralmente correto. Não é uma história brilhante, mas um relato sóbrio que se lê facilmente.
Ferreira de Castro está entre os cinco primeiros melhores prosadores do século XX, na minha lista. Uma vez mais, o autor de Ossela, leva-nos pela mão aos interstícios mais recônditos da mente humana. Mostra-nos, seccionados a bisturi, os dilemas morais e éticos do ser humano. Com pano de fundo histórico, com foco no sentido do envelhecimento humano e com foco nas escolhas que fazemos para fazer daquele e deste mundo um mundo mais humano.
Uma obra muito interessante de Ferreira de Castro. Desde logo, pelo cenário: este escritor, que viveu entre Portugal e Brasil, escolhe Madrid para expor os dilemas do envelhecimento do narrador. Esses dilemas são reconhecidos da velha problemática política: o envelhecimento implica uma viragem à direita? O protagonista, que é um socialista, surge-nos com o desencanto da idade a resvalar para o lado conservador. Sofre pressões de vários sectores (amigos, famnília, jornais, companheiros de luta, adversários), mas será na sua solidão que ele tem que (re)encontrar o caminho. Dá-nos, pois, um retrato das movimentações políticas partidárias, mas também das dúvidas humanas. Por vezes tive a sensação que Ferreira de Casto escrevia esse livro para si mesmo: "sou de esquerda e passo-me para a direita?", como que uma espécie de reflexão sobre o seu próprio caminho e envelhecimento (o livro é escrito em 1947, tem o autor 49 anos). Um livro que tenho como referência pessoal nesta luta esquerda/ direita e juventude/ envelhecimento.
Um livro centrado num tema fora da minha zona de conforto: política.
Apesar de ser um livro de outra época a escrita é muito fácil de acompanhar.
Apesar da história se centrar na política e o personagem principal ser um ministro, o que tirei daqui foi a nossa evolução, a mudança que sofremos ao longo dos anos.
É legítimo mudarmos de ideias. Não somos a mesma pessoa para sempre. Como poderíamos, se estamos constantemente a aprender? É uma mudança faseada, não ocorre de um momento para o outro, mas é legítimo que a determinada altura cheguemos a um ponto de não retorno.
Podemos ou não tomar as melhores decisões nessa altura, mas se tivermos pessoas ao nosso lado que nos queiram bem, vamos conseguir fazer o melhor possível para nós.
As decisões, sejam elas quais forem, devem ser tomadas por e para nós. Sempre.