No seio de uma aldeia beirã, Olímpia Vieira começa a sofrer os sintomas de uma demência que ameaça levar-lhe a memória aos poucos. A única pessoa que lhe ocorre chamar para assisti-la é a sua nora viúva, Letícia. Mas Letícia, que se faz acompanhar das duas filhas, tem um passado de sobrevivência que a levou a cometer um crime do qual apenas a justiça a absolveu.
Perante a censura dos aldeões, outrora seus vizinhos e amigos, e a confusão mental da sogra, Letícia tenta refazer-se de tudo o que perdeu e dos erros que foi obrigada a cometer por amor às filhas. O passado é evocado quando Sebastião, amigo de infância de Olímpia, surge para ampará-la e Gabriel, protagonista da vida paralela que Letícia gostaria de ter vivido, dá um passo à frente e assume o seu papel de padrinho e protector daquelas três figuras solitárias…
Célia Correia Loureiro nasceu em Almada, em 1989. É escritora e tradutora. Demência foi o seu primeiro romance publicado (Alfarroba @ 2011). Que descreve como “um grito de revolta contra as circunstâncias da mulher portuguesa no século XX, e da mulher ainda vulnerável, isolada e silenciada pelos bons costumes, em contexto rural, em pleno século XXI”. Em Abril de 2019 é reeditado pela Coolbooks, numa edição revisitada na íntegra, juntando-se assim a O Funeral da Nossa Mãe (Alfarroba @ 2012), A Filha do Barão (Marcador @ 2014, coleção Os Livros RTP), Uma Mulher Respeitável (Marcador @ 2016). Pela mesma chancela da Porto Editora lança Os Pássaros (Coolbooks @ 2020) e, em edição de autor, por se tratar de uma autobiografia ficcionada, Até os Comboios Andam aos Saltos (2021), que explora temas como o cancro terminal do pai, o alcoolismo da mãe e os dilemas de uma mulher de 30 anos com um passado por resolver. Em 2024 publicou No Tempo das Cerejas, no grupo Infinito Particular, e Erros Crassos da História: Figuras Histórias e os Erros que Mudaram o Mundo (Ideias de Ler).
Mudou-se para o Alentejo no início de 2025, a fim de poder dedicar-se aos estudos em História e Artes. Vive com dois cães, rodeada de muitas planícies e vacas.
Volvidos cinco meses desde que a Coolbooks disponibilizou Demência aos leitores, é hora de vos agradecer pela recepção a esta narrativa inconveniente.
Segundo a APAV, entre 2008 e 2011, em casos de violência doméstica, 85% das vítimas foram mulheres, e 80% dos agressores foram homens. Demência não é apenas sobre violência doméstica ou sobre a violência de género. É também sobre “violência social”: o tipo de violência que ocorre quando nos tornamos, involuntariamente, cúmplices de crimes que têm lugar entre quatro paredes, nos domínios onde ninguém deve meter a colher. Esta narrativa, ambientada num meio fechado e rural, tornou-se a voz de muitas mulheres.
Não esperava que, 8 anos depois da sua publicação original, a premissa da mulher que sofre às mãos de um homem violento, e da conivência dos vizinhos, continuasse tão atual, tão premente. Muito menos esperava que as respostas do Estado continuassem a ser tão desadequadas à realidade deste tipo de crimes. Enquanto tiverem de ser as mulheres a sair de casa, em circunstâncias de agressão, o Demência continuará a fazer sentido. Enquanto houver incompreensão, culpabilização generalizada da mulher pela situação vivida no seio doméstico, enquanto houver minimização e desculpabilização do homem (essa infantilização nociva de alguns homens, dos seus modos e do seu papel no seio do lar) em julgamentos a respeito de violações, de assédio, de agressões em geral, o livro continuará a fazer sentido. Enquanto, em interrogatórios, a vítima feminina continuar a ser questionada sobre o que vestia quando “instigou” o agressor a agredi-la, o Demência continuará a fazer sentido. Enquanto a sociedade assumir que a figura da mulher incita à perda de controlo por parte do homem, e que portanto tem algum tipo de responsabilidade nos abusos, o Demência continuará a fazer sentido. Enquanto a sociedade, a religião, os costumes, sugerirem que a mulher deve “suportar”, “perdoar”, “ficar”, apesar dos maus-tratos, da carência afetiva, do regime de terror (a casa transformada numa trincheira) - isto é, enquanto houver mulheres para as quais a própria casa não lhes é refúgio, mas teatro de guerra - o Demência continuará a fazer sentido. Enquanto a cultura - as telenovelas, os filmes, alguma literatura - continuarem a sugerir que o afeto (o amor) envolve ciúme, posse, satisfações, o Demência continuará a ser atual.
Espero que o dia chegue em que o Demência passe a ser apenas o relato de uma realidade distante - antes de a estrutura judicial, social - ter protegido as mulheres deste flagelo, antes de a própria sociedade se unir para defender estas mulheres, para denunciar estes agressores, para salvaguardar as crianças dessa aprendizagem nefasta que as destrói emocionalmente desde tenra infância, e que desvirtua as suas relações desde o berço.
Agradeço a todos os que se têm entregado a esta história, a esta realidade, e que se permitiram reconhecer nela os traços da nossa Portugalidade que perpetuam este ciclo de violência. E que, todos juntos, possamos quebrá-lo - para que tanto as mulheres tenham na sua casa o seu retiro, a sua paz, porque a violência doméstica é intolerável e diz-nos respeito a todos. Urge erradicá-la.
Este foi um dos melhores livros que li este ano. Acho que não o vou conseguir tirar da cabeça durante muito tempo.
Este livro transmite uma mensagem poderosa e fala-nos sobre um tema que deve ser falado e não ignorado.
Fala-nos de um tema atual que ainda continua a causar muito impacto na vida de quem passa por estas situações.
Este livro transmitiu-me tantas emoções que é impossível descreve-las a todas, impossível de as colocar por escrito.
A autora dá-nos a conhecer a história de duas mulheres, uma vítima de um agressor e a mãe desse mesmo agressor. Letícia, vítima, não teve um vida fácil e é constantemente julgada pelo que fez.
Estes julgamentos pioram quando chega a casa de Olímpia, mãe do agressor. Olímpia sofre de demência e os seus traumas continuam a vir ao de cima. Mas Olímpia também esconde um segredo que vai colidir com o de Letícia e que vai mudar o rumo desta.
A história decorre numa pequena povoação em Portugal, onde todos se conhecem uns aos outros e ainda onde prevalece mentalidades antigas onde preferem acreditar na mentira do que na verdade dura e crua. Preferem acreditar no que é mais fácil de acreditar. Preferem acreditar porque é mais difícil encarar a verdade.
Neste livro ficamos sensibilizados por a história de luta destas duas mulheres, por tudo o que passaram e é impossível ficar indiferente.
Este livro é de leitura obrigatória, faz sem dúvida o leitor pensar sobre o conceito de violência doméstica, sobre o apoio que é preciso da comunidade, sobre justiça e injustiça. E faz alertar para uma mudança de mentalidades que é necessária ocorrer na sociedade.
Até que ponto vamos continuar a apoiar agressores em vez de apoiar vítimas? Até que ponto vamos manter o silêncio nestas situações?
Terminei agora a leitura e é a quente que tenho que escrever o que sinto. Tantos sentimentos, tantas emoções. É com lágrimas nos olhos que penso em todas as mulheres que perderam a vida por terem tido a infelicidade de se cruzar com monstros que as destruiram. Queria tanto que houvesse mais mulheres como a Letícia...
A minha opinião em: https://youtu.be/L9_dIVQM_ys há livros que ficam para sempre na nossa memória, há livros que têm o poder de quase arrancar o coração de dentro do peito. Grande leitura está, obrigada Célia, muitos parabéns pela escrita e por uma história tão especial. :)
Review Demência, de Célia Correia Loureiro 11/2021
Este foi o livro mais difícil de ler, para mim, desde o início deste ano. Terminei-o no dia 10, mas tive que pôr a cabeça entre os ombros antes de conseguir escrever esta review. E não me entendam mal, eu adorei este livro e aconselho muitíssimo! Está muito bem escrito, coeso, com personagens que respiram, que têm vida, que são tão reais que arrepiam. Não foi por isso que ele me foi difícil.
A Célia consegue abordar temas tão, mas tão importantes neste livro. Tentarei fazer-lhe justiça com as minhas escassas palavras. De uma forma muito fundamentada e bem construída, a autora aborda, por exemplo, a desertificação do interior do país e o fecho de escolas nas zonas rurais, onde as crianças escasseiam cada vez mais. Além deste tema importantíssimo, lidamos, ao longo do livro, com a deterioração da qualidade de vida de uma pessoa com Alzheimer. Resultado de hereditariedade, mas também de muitos traumas vividos por uma mulher rochedo extremamente maltratada.
Mas não é aqui, a meu ver, que reside o retrato mais importante de Portugal. É no retrato puro e duro da forma como Portugal trata os problemas sociais, a violência e as mulheres. Este livro consegue tocar da forma mais profunda que li, até hoje, o tema da violência doméstica. No seu âmago, de dentro da realidade das vítimas.
Este é um tema transversal à minha vida e àquilo que sou enquanto pessoa. Sem querer expôr demasiado, quero dizer-vos que, durante demasiados (são sempre demasiados) anos, esta foi a minha realidade. E a forma como a Célia retrata o processo e o ardil que é criado por quem diz que nos ama e apenas nos quer diminuir e alocar frustrações da sua pequenez enquanto pessoa, são de uma veracidade que me fez chegar a questionar se a autora não passou por isto ela mesma, ou se não terá visto alguém muito próximo passar…
O medo que voltei a sentir ao ler este livro, o terror que me fez ficar sem ar, as memórias que me arrebataram e me puxaram para umas trevas que todos os dias quero acreditar que aconteceram numa outra vida, só revelam que este é um livro feito com muita verdade, com muita pele. A forma como as instituições que deviam proteger-nos, proteger os nossos direitos à integridade física e, sobretudo mental, a normalização da violência (e, infelizmente, não apenas no interior rural do país) está tão bem representada que é aflitivo.
A violência intergeracional, que se quer fazer crer hereditária, está tão bem retratada nas vidas de Olímpia, Letícia, Luz e Maria, que aconselho a quem tenha passado por situações, mesmo que remotamente, violentas, a ler este livro devagar, com tempo para respirar e vir à tona. Porque estas são trevas a quem ninguém quer voltar, em que ninguém quer viver, e muito menos perdurar.
Nem sei bem que escrever aqui. Foram tantas emoções que a leitura deste livro me despertou que nem sei como começar. Só posso dizer que todas as críticas boas que li e ouvi deste livro se confirmaram com a leitura. Personagens fortes com passados sofridos mas que no final alcançam a redenção. Uma história que nos Mostra um Portugal atual mas ainda assim um bocado retrógrado principalmente em meios pequenos onde o preconceito e o julgamento sem provas ainda prevalecem Sem dúvida, uma excelente leitura.
Primeiro livro que li até agora de uma escritora portuguesa que me tocou inteiramente.
Eu sinto que para nós, geração mais nova não existe escritores portugueses que nos preencham. Mas ainda assim descobrimos num mar de livros, um livro como o demência. Uma escritora boa e atual que não tem tanto reconhecimento.
Eu acho sinceramente que este livro vai agradar a qualquer pessoa e de qualquer idade, logo que tenha maturidade suficiente para perceber toda esta história. Com temas tão longínquos mas tão atuais que nos mete "medo".
Numa era em que se fala de feminismo (igualdade de géneros), de preconceito e de injustiças este livro não poderia ser mais atual, infelizmente.
Escrito de forma simples e direta, a autora consegue captar a atenção longo nas primeiras páginas. Esta obra retrata um portugal tão real e tão "pequenino".
📑 " - Às vezes, as pessoas que gostam de nós têm tanto medo dos problemas que o facto de nos ajudarem lhes pode trazer que preferem não fazer nada."
📑 "Como poderia ser tão pessimista num momento em que precisavam tanto de acreditar?"
📑 " - Devia ter tentado fugir todos os dias e a todas as horas. É esse o problema com este tipo de histórias... A pessoa habitua-se à ideia de que não vale nada e depois acha que perdeu o direito, inclusive, à própria integridade física. Quando dá por ela, é miserável todos os dias e já nem se atreve a querer mais do aquilo."
Comecei a ler este livro e não o conseguia largar. Sempre que podia dedicava-me a ele. Era um vício. Terminei e pousei-o. Tinha que reflectir. Precisava de espaço e tempo para digerir a história. Não conseguia escrever nada. Não porque não soubesse o que dizer, mas como o fazer de um modo a incentivar a todos a lerem este livro.
Nunca tinha lido nenhum livro da autoria da Célia Correia Loureiro. Já há muito que a conhecia destas andanças do blogue. Não posso dizer que comecei tarde, pois nestas coisas da leitura vamos sempre a tempo de descobrir novos autores e novas histórias.
Um dos melhores livros que já li, quer em termos de escrita, quer na sua essência. A escrita da Célia agarra de uma forma bonita e simples. Envolve-nos na narrativa como ninguém, com a sua pureza nas palavras.
Um livro sobre o amor de mãe, as demências e como (não) lidamos elas, a vida no seu estado mais puro. Um livro que me tocou bastante, não pelo tema, mas por toda a sua envolvência.
Li, mas quero reler. Leiam-no também! Acho que não se vão arrepender.
Que livro fabuloso! Ainda tenho de digerir o que acabei de ler... Sinto que a história de Letícia vai ficar comigo durante muito tempo... Com um ritmo muito bom, mas ao mesmo tempo não deixando perceber tudo logo de seguida, este livro faz-nos querer lê-lo sofregamente, mas ao mesmo tempo queremos saborear a sua história para não perder pitada. Um livro muito poderoso que mexe com os nossos sentimentos e nos faz pensar. E aquele final! Estava a ver que me dava uma coisinha má...
Há realmente pessoas que nascem com um dom, e a Célia tem o dom da escrita e de contar histórias cativantes! Autores destes vale mesmo a pena conhecer!
Dos melhores livros que li na vida e talvez o livro mais feminista e mais justo que li na vida. Não vou dizer mais nada, porque é sempre muito difícil falar dos livros bons, aqueles que nos marcam e que dizem tudo aquilo em que acreditamos. É mais fácil dizer que toda a gente, sem excepção, o deveria ler, e que eu própria, depois de só ouvir dizer bem, tinha as expectativas altas, mas esta história superou-as, sem margem para dúvidas.
Li o Demência como desafio do mês de Maio do Book Gang e foi uma fantástica surpresa depois de me ter sido recomendado por outra leitora. E este é um livro que mostra como há tanta coisa a falhar na literatura portuguesa quando a Célia não é sequer reconhecida pelas obras que já escreveu. O Demência é uma narrativa violenta, fabulosa, espantosamente bem escrita, que nos transporta para os cenários do interior de Portugal e que consegue captar de uma forma tão crua o abandono social, cultural e até intelectual das aldeias.
É um livro que foi escrito em 2011 - importante ressalvar porque a Célia tinha 20 anos e, céus, quantos de nós aos 20 anos teríamos capacidade para escrever um livro como este? - mas que podia ser de agora tal é a sua actualidade e que reflecte tão bem a mentalidade portuguesa onde a violência doméstica se tornou um problema geracional.
Tudo nesta obra é absolutamente sublime: os cenários, as personagens tão bem construídas, os habitantes da aldeia, a forma como vamos visitando o passado de Letícia e de Olímpia e como estas mulheres são mais parecidas do que parecem à primeira vista, como conseguimos sentir raiva, ódio, medo por elas e, ao mesmo tempo, orgulho por vermos a forma como tão estoicamente conseguiram libertar-se da vida que tinham (independentemente da forma como o fizeram ou das consequências dos seus actos).
Só tenho elogios para tecer à Célia, uma admiração enorme pela sua escrita e, de colega para colega, um orgulho em dizer que nós - a nova geração de escritores - se calhar estamos aqui para vingar.
Desde há uns tempos que andava a olhar para os livros da Célia Correia Loureiro como garoto para montra de loja de doces. Tinha muita curiosidade para a ler, mas simultaneamente receava não a apreciar – ela é tão jovem, ainda! - o que me colocaria num dilema no momento de dar a opinião: entre o ser fiel a mim mesma e a hipótese de ser injusta com a autora. Então, decidi adquirir o livro, lê-lo “em segredo” e não o assumir (no GR) caso não gostasse. Às páginas 100 estava cativa das personagens e escrita da Célia! Através de uma linguagem simples foi-me oferecida uma história, de amor e dor, com personagens que, aos poucos, se me foram revelando de modo a criarem-me sentimentos de repulsa, simpatia e encanto. (Ai, quem me dera ter um amigo como Sebastião...). Com sabedoria e sensibilidade a Célia conseguiu dar-nos um retrato autêntico; quer de gente má e mesquinha que, cruelmente, se apronta a condenar os actos alheios sem se importar com as motivaçoes que a eles levam; quer de gente que consegue lutar e sobreviver apesar de todos os obstáculos que se lhe atravessam no caminho. Não é um livro perfeito, tem alguns pequenos deslizes, mas que são irrelevantes, quando comparados com as emoções que me foram oferecidas. Parabéns Célia, pela bonita história que criaste. Obrigada Célia, por a partilhares connosco. E agora, “vou andando” até ao “Funeral da nossa mãe”...
Tinha imensa curiosidade em conhecer este livro. A Célia é uma moça mais ou menos da minha idade e com vinte e poucos anos escreveu uma história tão crua e, infelizmente, bastante realista. Portanto aplaudo a capacidade da Célia para tal. Gostei muito de conhecer a história do passado da Letícia e da Olímpia e as circunstâncias que as juntaram. E inclusivamente foram as partes que mais gostei. Achei que por vezes o passado se prolongava um pouco e que também pouco acontecia. Achei que algumas personagens tiveram atitudes que não se coadunavam propriamente com a sua personalidade (ou pelo menos aquilo que aparentavam). Apesar de achar que possa ser um livro que não vá de encontro a todo o tipo de leitor, é sem dúvida uma história que merece ser lida.
Eu diria que este livro é uma chamada de atenção para dois temas muito importantes- saúde mental e violência doméstica. Arrepiei-me muitas vezes enquanto o lia. Cheguei a ler mais de 100 páginas de seguida.
E assim nasce uma escritora. O primeiro romance de Célia Correia Loureiro é revelador de uma literatura pontuada de temas fulcrais, tratados com a sensibilidade necessária. São personagens sinceras, que tomam caminhos verosímeis.
Abordando questões como a violência doméstica, a senilidade, a dura vida no interior de um país voltado para o litoral ou a dificuldade em singrar na vida, “Demência” é tal qual um embrião de uma prosa que, ainda tendo muito para florescer, sabe bem qual é o seu caminho.
Não interessa dizer que por vezes a ação evolui de forma muito lenta e descritiva, nem que o caráter novelesco se sobrepõe amiúde ao que poderia ser um estilo narrativo mais cru. Isto é verdade. Mas o livro “Demência” vai para além deste óbvio.
O leitor atento conseguirá mergulhar em episódios fenomenais. As personagens de Sebastião e Olímpia poderiam constar de um elenco de boas personagens da literatura portuguesa. As suas vidas entrelaçadas são o ponto alto da história. E, talvez por isso, quisesse ter visto mais deles na trama.
Ao terminar o livro fico com saudades deles todos. Gostaria de ter tomado um café com Gabriel, ajudado Luz e Maria nos deveres de casa e conversado com Sebastião acerca de como era a vida naquele tempo.
Como não posso, vou até ali à janela de casa imaginar que de lá vejo as árvores da cruel aldeia de Ferreirós.
Há muito tempo que não era surpreendida tão positivamente com um livro. Português, escrito brilhantemente, aos 18 anos, pela talentosa Célia. Adorei, espero que muito mais gente o leia, e goste tanto quanto eu!
Um dos melhores livros que li este ano. Que história tão poderosa. Uma obra que é um hino a todas as Letícias que, nos dias que correm, ainda são vistas como as agressoras e não como as vítimas. Uma leitura que fica connosco para sempre.
Gostei muito deste livro!! Aliás adorei, uma óptima surpresa, por parte de uma autora portuguesa.
Eu não leio muita literatura portuguesa, esforço-me para ler, mas tirando alguns autores e alguns livros, todos as sinopses parecem-me sem interesse. Foi com bom agrado que li este livro da autora Célia Loureiro, esperemos que seja o primeiro de muitos.
Acho que a sinopse descreve vem a história do livro. A acção decorre numa aldeia, ou seja num ambiente rural, e eu adoro histórias que se passem em ambientes rurais! Não sei porquê mas acho as personagens mais humildes, mais realistas, mais humanas. Isto é um facto, não apenas nos livros mas no mundo real. Moro na cidade e quando vou para o campo, para a vila onde tenho a casa, é um mundo completamente diferente.
E toda a essência do mundo rural está espelhado no livro. Os vizinhos que se entreajudam, os olhares de lado pelas pessoas da aldeias, os boatos, os problemas sociais e financeiros de uma escola,o preconceito das pessoas da aldeia com as novas habitantes (Letícia, Luz e Maria), o tratar dos animais...todos estes elementos foram importantes, para mim, na leitura porque não só são importantes para o contexto da história mas também transportam o leitor para a história do livro. Eu senti-me completamente absorvida pela história, parecia que era mais uma personagem, uma vizinha, por exemplo!
Por falar em personagens, posso dizer que no geral gostei bastante das personagens, mas claro que simpatizei bastante com as duas miúdas, a Maria e a Luz. A Letícia, gostei dela mas havia certas atitutes que não me cairam bem, mas eram compreensíveis devido a tudo o que ela sofreu. A Olímpia e o Sebastião foram duas personagens que gostei bastante, principalmente o Sebastião. Quanto ao Gabriel, sinceramente não consegui gostar dele a 100%.
Foi uma leitura rápida e bastante intensa, como disse parecia que eu também era uma personagem do livro e convivia com as personagens. Não me lembro de ter encontrado nenhum erro gramatical mas houve palavras que não me soaram bem.
Não acho que seja uma história direccionada para um público mais adulto pelos temas que apresenta, como violência doméstica, a doença de Alzeihmer ou a maldade que as pessoas são capazes de cometer para defender naquilo que acreditam, pois todos os dias somos bombardeados com notícias dessas. É sim um livro maturo, bem escrito, que mostra um dos grandes defeitos dos portugueses que é intrometerem-se na vida dos outros, quando não têm o direito de o fazer. E que por melhores intenções as nossas acções tenham, há sempre alguém para nos julgar, mas também é uma leitura de esperança, onde há o acreditar que amanhã será um dia melhor.
Aconselho todos a lerem, pois a autora merece, e sinto-me orgulhosa por ter uma jovem portuguesa, com apenas 22 anos a escrever um livro com esta qualidade!
Parabéns @celiacorreialoureiro, este foi um livro que me fez me fez bem. Foi tão realista, tão cru e tão bem escrito. Sendo de uma zona onde se vê muitas situações dessas, senti-me revoltada, triste porque a história não é fácil mas é necessária. Precisamos ter noção de que aquilo que foi descrito são temas reais e que precisam de ser discutidos e não ignorados. Não é um romance propriamente “feliz” e a leitura pode ser complicada pela forma como é apresentada a história. Adorei a dinâmica entre a Letícia e Olímpia, principalmente a evolução da segunda. Apreciei a escrita da Célia porque é pouco diferente do tipo de escrita que me costuma cativar mas nunca me fez desistir da leitura, bem pelo contrário. Para além de ser um romance diferente das leituras habituais, aconselho imenso a sua leitura, pela história, pela visão de um Portugal verdadeiro e por ser escrito por uma autora portuguesa.
Acabei de ler o livro e estou absolutamente encantada! Nunca pensei dar a minha opinião sobre um livro publicamente. Não sou crítica literária, sou apenas uma leitora que gosta de bons livros. Por norma apenas partilho a minha opinião com as pessoas mais chegadas e a quem gosto de “tentar” com as minhas leituras, para depois partilharmos pensamentos, sensações e até talvez criticas, mas nunca me atrevi a fazê-lo publicamente. Este caso foi diferente! As emoções ao ler o livro foram tão intensas que senti que tinha de dizer alguma coisa. Gosto muito de autores portugueses! Gosto de “estórias” sobre este nosso cantinho e tenho sempre curiosidade em conhecer os nossos novos autores. Ao ler a sinopse fiquei conquistada. Talvez pelo facto de referir uma aldeia beirã e as minhas raízes virem de uma! Ou pelo tema ou talvez apenas curiosidade por ser uma autora tão jovem e portuguesa. Não sei, conquistou-me e não descansei enquanto não consegui o livro, o que aconteceu exactamente através da autora, com quem troquei alguns e-mail e cuja personalidade naquelas poucas palavras me fascinou. E não me enganei! Ela é fascinante. Assim que comecei a ler o livro, confirmou-se uma boa escolha! É um livro com bastante ritmo, que nos prende desde a primeira frase e que se torna difícil de pousar. Uma história arrebatadora! Os temas que escolheu são ambiciosos por dolorosos e difíceis, infelizmente reais mas a autora não teve medo de lhes pegar e trabalhou-os com uma maturidade que nos espanta numa pessoa tão jovem. Mostrou um conhecimento profundo do Mal e da alma humana e do Mundo, que gente bastante mais velha não possui. A escrita é acessível e fluída, arrebatadora mas também profunda e nota-se que foi crescendo ao longo do livro. Gostei e tive dificuldades em “livrar-me” dele depois de lido, é tão intenso que permanece em nós mesmo depois de terminado, e talvez por isso sentisse necessidade de falar sobre ele, tinha de o “expulsar”. No final da leitura fica a sensação que somos amigos, vizinhos ou simples conhecidos das personagens e que gostaríamos de continuar com elas, é difícil despedirmo-nos… São personagens fortes com uma grande carga psicológica intensa, que ao longo do livro nos emocionam, nos revoltam, que nos fazem ter vontade de interferir, que nos fazem “torcer” por elas. Os “recadinhos” de Olímpia a ela própria são enternecedores, e fazem-nos pensar como deve ser desesperante não conseguir lembrar. Luz e Maria são as filhas que todos gostaríamos de ter, embora ache que pelo menos a Luz podia ter tido um papel mais relevante. A força e a coragem de Letícia impõem-se no decurso da trama e emocionam-nos ainda que por vezes nos revolte a falta de reacção perante o que pensam dela e não reaja perante tanta injustiça, mas é um romance e não a vida real. As personagens masculinas principais, Sebastião e Gabriel, embora de gerações diferentes, são movidas pelos mesmos sentimentos: amizade, amor, e acima de tudo a necessidade de proteger as mulheres que de uma forma ou outra fazem e fizeram sempre parte da sua vida, são personagens muito ricas. Acho que o Sebastião podia ter sido um pouco mais explorado e ter tido um papel mais activo. Não vou obviamente contar a história. Essa terá de ser uma experiência pessoal, mas digo: vale a pena. É uma história sobre o nosso tempo, mas é também intemporal. É uma história sobre sentimentos, emoções, lutas interiores, mas é também uma história sobre o nosso Portugal interior com grande riqueza de pormenores, com cor, com cheiros… A Célia tem talento, na minha humilde opinião muito talento! Tenho a certeza que virá a ser um grande nome no panorama literário português. Leiam este “Demência” e compreenderão o que digo. Eu já o fiz e já espero ansiosamente o próximo livro. Obrigada Célia. Continue sempre e sempre igual a si própria. Parabéns.
Este livro arrebatou-me por completo! Célia Correia Loureiro tem uma escrita viciante e perfeita, é incrível que tenha escrito este livro com 19 anos, pois demonstra uma maturidade e lucidez incríveis. Este livro apresenta-nos Olímpia e Leticia, duas mulheres com histórias de vida duras e tão parecidas . Olímpia sofre de demência e precisa de cuidados e a sua nora, Leticia, volta à aldeia para tratar dela. A partir daqui vamos saber o que se passou para Leticia ser tão odiada pelas pessoas da aldeia, inclusive pela sogra. É um livro muito bom que aborda temas muito importantes, como a saúde mental, violência doméstica, o racismo, a coscuvilhice e a hipocrisia nos meios rurais assim como a condenação em praça pública sem saber de todos os factos. Adorei este livro e fiquei fã da escrita da Célia, uma jovem escritora que devia ter mais reconhecimento, assim como esta obra devia ser lida por todos e amplamente divulgada.
Primeiro livro que leio desta jovem autora e vou começar pelas partes menos boas. Tal como alguém já mencionou numa crítica anterior, o livro parece puxar mais para o público feminino e confesso que por vezes se aproximava perigosamente dos enredos das novelas da tvi. Contudo, atendendo à juventude da autora, penso que este aspecto será melhorado ao longo do tempo, até porque Célia Correia Loureiro escreve fluída e despretenciosamente.
Adorei! Um livro que nos faz seguir a vida em Portugal nos sitios mais recatados, onde as mulheres não podem ter qualquer tipo de opinião ou vontade. Uma perspectiva bastante realista e no entanto com um toque de romance e amor divinal!
Entrou diretamente para a estante dos meus livros preferidos de sempre. Extraordinário. Como uma autora assim tão jovem e talentosa não é mais divulgada?!
".. Aprendera cedo que o ser humano não era apenas bom ou somente mau, mas sim uma mescla que implicava que, quem com ele lidava, tivesse de compreender as ocasiões em que cada um desses lados emergia. Fora habituada, por inevitabilidade, a crescer com o lado mau das pessoas a quem devia obediência e em quem tinha de confiar."
Fui surpreendida pela escrita tão madura da Célia Correia Loureiro. Um livro que aborda temas tão difíceis como a demência, a violência doméstica, a vida no interior do nosso país e o isolamento. Uma história muito bem escrita e que me transportou para a aldeia do meu pai: com uma rua única, onde toda a gente se conhece e sabe o que acontece na porta ao lado. Onde o povo é bem rápido a opiniar e estabelecer veredictos. As últimas páginas foram devoradas, um climax galopante para o desfecho desta história. Senti um carinho enorme pela Olivia que apesar da crueldade da vida foi bastante ponderada. Os seus amores, a sua história comoveram-me bastante. Embora retrate uma realidade muito nossa este livro devia ser um best seller internacional.
Fala sobre a vida de duas mulheres que sofreram muito, mas que por amor aos filhos se ergueram de novo! Duas mulheres que têm tudo para se odiar mas no fundo se entendem mutuamente. Duas histórias de amor marcadas por adversidades do tempo! Duas histórias em tempos diferentes que são contadas de forma fluída! E dois temas de estrema importância sempre! Saúde mental e violência doméstica! Tão bom que nem sei o que escrever! Só que leiam! Obrigada Célia! ♥️