Um sofá encalhado no mangue, uma coifa uruguaia, os trocadilhos nos nomes dos pet shops, o bairro de Perdizes, o jogador Ronaldo, os mictórios cheios de gelo dos restaurantes, o salto mortal sem rede que o amor exige dos apaixonados, a casa de um morador de rua, um sorvete de cheesecake, o barulho das marretadas de um apartamento em reforma - eis alguns dos temas de 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda', o livro de crônicas de Antonio Prata.
Escritor, roteirista e filho dos escritores Abandonou sucessivamente os cursos de Filosofia (na USP), Cinema (FAAP) e Ciências Sociais (PUC-SP). Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como roteirista de telenovelas. Também trabalhou para a Editora Abril, colaborando com textos para a revista Capricho por seis anos. Foi um dos 16 participantes do projeto Amores Expressos, passando um mês em Xangai para escrever um romance. Atualmente é cronista d’ O Estado de São Paulo e mantém um blog no site do jornal. Obras: Adulterado (Moderna), Pernas da tia Corália (Objetiva), Estive pensando, (Marco Zero Editora), O inferno atrás da pia (Objetiva), Douglas e outras histórias (Azougue Editorial), Merreca christmas (Matrix Editora) e Meio intelectual, meio de esquerda
Sofri o livro todo. Duas angústias a consumir-me o peito: a necessidade premente de reler «Ai de ti, Copacabana», de Rubem Braga, mas, pior, muito pior, Antonio ou Gregório? Pois é, começam a ser descaradas estas minhas paixões platónicas por cronistas brasileiros inteligentes e com sentido de humor. Nesta fase, já o meu namorado está resignado, exigindo apenas que assim se mantenham: platónicas. Disse-lhe que podia ser pior: «a mulher do Prata apaixonou-se pelo Keith Richards»; não pareceu ajudar. Mas, caramba, como resistir ao autor de crónicas capazes de nos arrancarem gargalhadas mesmo que estejamos dentro do autocarro que eventualmente nos levará ao trabalho, numa segunda-feira de manhã chuvosa, e que enfrenta um trânsito caótico? Se isto não gera amor, não sei o que poderá fazê-lo. Foram belas horas, não só em transportes públicos - entenda-se -, mas à lareira e em finais de dias, entre risos, acenos de comunhão e experiências de vida partilhadas. Partilhadas por mim, claro está, o Antonio continuou na vida dele, insensível aos meus amores. No final, quase em lágrimas, confessei baixinho: perdão, Gregório, pendi para o Antonio.
Antonio Prata é considerado o melhor cronista brasileiro da actualidade, sendo o Brasil um país de longa tradição de notáveis cronistas, como Rubem Braga e Nelson Rodrigues. Julgo que em Portugal, o último cronista de sucesso foi o Miguel Esteves Cardoso, que entretanto perdeu completamente a inspiração. Antonio Prata entrega-se, sempre com recurso ao sentido de humor, a comentar costumes da sociedade brasileira intercaladas com crónicas em que relata de forma genérica alguns acontecimentos da sua vida privada de homem brasileiro trintão. Actualmente, Antonio Prata escreve crónicas para a Folha de São Paulo, jornal onde também é cronista o português João Pereira Coutinho - leiam as crónicas dele na Folha, pois valem a pena e são muitas distintas das crónicas de análise à política portuguesa que escreve para as publicações nacionais (outrora no Correio da Manhã, agora na Sábado, julgo). Considerei algumas crónicas “bem sacadas”, outras nem tanto. Deixo uma amostra do que considerei o melhor desta selecção de crónicas do Antonio Prata.
“Eu sou meio intelectual, meio de esquerda, por isso freqüento bares meio ruins. Não sei se você sabe, mas nós, meio intelectuais, meio de esquerda, nos julgamos a vanguarda do proletariado, há mais de cento e cinqüenta anos. (...) No bar ruim que ando freqüentando ultimamente o proletariado atende por Betão – é o garçom, que cumprimento com um tapinha nas costas, acreditando resolver aí quinhentos anos de história. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos ficar “amigos” do garçom, com quem falamos sobre futebol enquanto nossos amigos não chegam para falarmos de literatura. – Ô Betão, traz mais uma pra a gente – eu digo, com os cotovelos apoiados na mesa bamba de lata, e me sinto parte dessa coisa linda que é o Brasil. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos fazer parte dessa coisa linda que é o Brasil, por isso vamos a bares ruins, que têm mais a cara do Brasil que os bares bons, onde se serve petit gâteau e não tem frango à passarinho ou carne-de-sol com macaxeira, que são os pratos tradicionais da nossa cozinha. Se bem que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, quando convidamos uma moça para sair pela primeira vez, atacamos mais de petit gâteau do que de frango à passarinho, porque a gente gosta do Brasil e tal, mas na hora do vamos ver uma europazinha bem que ajuda. Nós, meio intelectuais, meio de esquerda, gostamos do Brasil, mas muito bem diagramado. Não é qualquer Brasil. Assim como não é qualquer bar ruim. Tem que ser um bar ruim autêntico, um boteco, com mesa de lata, copo americano e, se tiver porção de carne-de-sol, uma lágrima imediatamente desponta em nossos olhos, meio de canto, meio escondida. Quando um de nós, meio intelectual, meio de esquerda, descobre um novo bar ruim que nenhum outro meio intelectuais, meio de esquerda, freqüenta, não nos contemos: ligamos pra turma inteira de meio intelectuais, meio de esquerda e decretamos que aquele lá é o nosso novo bar ruim. O problema é que aos poucos o bar ruim vai se tornando cult, vai sendo freqüentado por vários meio intelectuais, meio de esquerda e universitárias mais ou menos gostosas. Até que uma hora sai na Vejinha como ponto freqüentado por artistas, cineastas e universitários e, um belo dia, a gente chega no bar ruim e tá cheio de gente que não é nem meio intelectual nem meio de esquerda e foi lá para ver se tem mesmo artistas, cineastas e, principalmente, universitárias mais ou menos gostosas. Aí a gente diz: eu gostava disso aqui antes, quando só vinha a minha turma de meio intelectuais, meio de esquerda, as universitárias mais ou menos gostosas e uns velhos bêbados que jogavam dominó. Porque nós, meio intelectuais, meio de esquerda, adoramos dizer que freqüentávamos o bar antes de ele ficar famoso, íamos a tal praia antes de ela encher de gente, ouvíamos a banda antes de tocar na MTV. Nós gostamos dos pobres que estavam na praia antes, uns pobres que sabem subir em coqueiro e usam sandália de couro, isso a gente acha lindo, mas a gente detesta os pobres que chegam depois, de Chevette e chinelo Rider. Esse pobre não, a gente gosta do pobre autêntico, do Brasil autêntico. E a gente abomina a Vejinha, abomina mesmo, acima de tudo. Os donos dos bares ruins que a gente freqüenta se dividem em dois tipos: os que entendem a gente e os que não entendem. Os que entendem percebem qual é a nossa, mantêm o bar autenticamente ruim, chamam uns primos do cunhado para tocar samba de roda toda sexta-feira, introduzem bolinho de bacalhau no cardápio e aumentam cinqüenta por cento o preço de tudo. (Eles sacam que nós, meio intelectuais, meio de esquerda, somos meio bem de vida e nos dispomos a pagar caro por aquilo que tem cara de barato). Os donos que não entendem qual é a nossa, diante da invasão, trocam as mesas de lata por umas de fórmica imitando mármore, azulejam a parede e põem um som estéreo tocando reggae. Aí eles se dão mal, porque a gente odeia isso, a gente gosta, como já disse algumas vezes, é daquela coisa autêntica, tão Brasil, tão raiz. Não pense que é fácil ser meio intelectual, meio de esquerda em nosso país. A cada dia está mais difícil encontrar bares ruins do jeito que a gente gosta, os pobres estão todos de chinelos Rider e a Vejinha sempre alerta, pronta para encher nossos bares ruins de gente jovem e bonita e a difundir o petit gâteau pelos quatro cantos do globo. Para desespero dos meio intelectuais, meio de esquerda que, como eu, por questões ideológicas, preferem frango à passarinho e carne-de-sol com macaxeira (que é a mesma coisa que mandioca, mas é como se diz lá no Nordeste, e nós, meio intelectuais, meio de esquerda, achamos que o Nordeste é muito mais autêntico que o Sudeste e preferimos esse termo, macaxeira, que é bem mais assim Câmara Cascudo, saca?). – Ô Betão, vê uma cachaça aqui pra mim. De Salinas quais que tem?” Crónica Bar ruim é lindo, bicho! publicada no Estadão em 26 de dezembro de 2008
“A gente não tem como saber se vai dar certo. Talvez, lá adiante, haja uma mesa num restaurante, onde você mexerá o suco com o canudo, enquanto eu quebro uns palitos sobre o prato — pequenas atividades às quais nos dedicaremos com inútil afinco, adiando o momento de dizer o que deve ser dito. Talvez, lá adiante: mas entre o silêncio que pode estar nos esperando então e o presente — você acabou de sair da minha casa, seu cheiro ainda surge vez ou outra pelo quarto –, quem sabe não seremos felizes? Entre a concretude do beijo de cinco minutos atrás e a premonição do canudo girando no copo pode caber uma vida inteira. Ou duas. Passos improvisados de tango e risadas, no corredor do meu apartamento. Uma festa cheia de amigos queridos, celebrando alguma coisa que não saberemos direito o que é, mas que deve ser celebrada. Abraços, borrachudos, a primeira visão de seu necessaire (para que tanto creme, meu Deus?!), respirações ofegantes, camarões, cafunés, banhos de mar – você me agarrando com as pernas e tapando o nariz, enquanto subimos e descemos com as ondas — mãos dadas no cinema, uma poltrona verde e gorda comprada num antiquário, um tatu bola na grama de um sítio, algumas cidades domesticadas sob nossos pés, postais pregados com tachinhas no mural da cozinha e garrafas vazias num canto da área de serviço. Então, numa manhã, enquanto leio o jornal, te verei escovando os dentes e andando pela casa, dessa maneira aplicada e displicente que você tem de escovar os dentes e andar ao mesmo tempo e saberei, com a grandiosa certeza que surge das pequenas descobertas, que sou feliz. Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. Ou não? Tudo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos. Se tivermos cuidado e sorte – sobretudo, talvez, sorte — quem sabe, dê certo? Não é fácil. Tampouco impossível. E se existe essa centelha quase palpável, essa esperança intensa que chamamos de amor, então não há nada mais sensato a fazer do que soltarmos as mãos dos trapézios, perdermos a frágil segurança de nossas solidões e nos enlaçarmos em pleno ar. Talvez nos esborrachemos. Talvez saiamos voando. Não temos como saber se vai dar certo — o verdadeiro encontro só se dá ao tirarmos os pés do chão –, mas a vida não tem nenhum sentido se não for para dar o salto.” Crónica O Salto publicado no Estadão em 23 de dezembro de 2008
Caos e Celulose Estou feliz e satisfeito. Se não tivesse que revistar esta crônica, até abriria uma cerveja: acabei de eliminar o último montinho da casa, o maior, que me acompanhava há mais de um ano. Não sei se voc~e, disciplinado leitor, também sofre desse mal – o montinho -, mas a minha vida é uma inútil e eterna guerra contra eles. Não faço ideia de como nascem. Um livro caído no canto? Uma conta de luz deixada ao lado do sofá? Algumas folhas impressas esquecidas em cima do som? Sei é que estou andando pela casa numa tarde qualquer e meus olhos tropeçam na pequena Quéops doméstica, feita de manuscritos inacabados e livros não lidos, cartas abertas e fechadas, CDs sem caixa e caixas sem CDs, contas, revistas, folhetos imobiliários, post-its ancestrais e outras milongas mais, a desafiar a simetria que eu, com inquebrantável otimismo, desejava para minha sala, para minha vida. Depois do susto – mas como? Ontem mesmo não estava aí! – vem um sispiro resignado – pois é, agora está – e vou tratar de outros assuntos. Por que não vou lá e simplesmente arrumo a bagunça? Ah, proativo leitor, logo se vê que não entende nada de montinhos. Desfazê-los é perigoso como desarmar uma bomba. Ou você vai até o fim da empreitada, ou acabará dividindo-os vários montinhozinhos temáticos – aqui as cartas, aqui os livros, aqui revistas: pode parecer um avanço, mas você estará apenas criando as bases do que, em poucas semanas, terá se transformando numa intransponível cordilheira de bagunça. E por que você não iria até o fim na empreitada? Ah, ingênuo leitor, você realmente não sabe nada, nada, de montinhos. Acocorar-se diante das camadas sedimentares do passado é repensar a própria vida. Jogo fora essas revistas ou compro uma estante? Essas contas... Não seria o caso de botar no débito automático? Olha só, aquele conto do Costázar. Se eu fizesse um mestrado, quem sabe? Um mestrado fora do país? Aonde? «Ligar urgente para Clélia – 87-98786754.» Quem é Clélia? Oito sete é prefizo de que estado? Será que eu liguei para a Clélia? São tantas as indagações surgidas dos montinhos que tenho medo de, no meio da arrumação, resolver passar seis meses na ìndia, decidir que minha verdadeira vocação é a odontologia ou desejar coisa muito pior, tipo tatuar uma tribal na panturrilha. Esta tarde, no entanto, apesar de todas as dificuldades, me atirei à tarefa com fúria e galhardia, até que, às 18:34 do dia 11 de fevereiro do ano da graça de 2004, desbaratei a última barricada de caos e celulose. Estou contente. A vida até parece simples e boa. Mens sana en domus sano. Sento-me no sofá, observo a luz do sol atravessar a sala e sinto o sangue correr em minhas veias. Montinhos, nunca mais!, digo. Jogo a crônica de lado, em cima do som e vou abrir uma cerveja. (pág 71-72)
“Quando o brasileiro diz 'tô chegando!', em quanto tempo, exatamente, o brasileiro chega? Numa demonstração de abertura e inequívoca coragem, Fritz pediu uma feijoada. Eu comentei que, aparentemente, ele não estava tendo dificuldades de adaptação. O alemão disse que não. Por conta do seu trabalho --instala e conserta máquinas de tomografia computadorizada--, viajava o mundo todo. A única coisa que lhe incomodava, no Brasil, era nunca saber quando as pessoas chegariam aos encontros. O problema era menos o atraso, confessou, do que nossa dificuldade em admiti-lo: "O pessoa manda mensagem, diz tô chegando!', eu levanta do minha cadeirrra e olha prrro porrrta da restaurrrante, mas pessoa chega só quarrrenta minutos depois". Então me fez a pergunta que só poderia vir de um compatriota de Emanuel Kant: "Quando a brrrasileirrro diz tô chegando!', em quanto tempo brrrrasileirrro chega?". Pensei em mentir, em dizer que uns atrasam, mas outros aparecem rapidinho. Achei, porém, que em nome de nossa dignidade --ali, naquela mesa, eu era a "pátria de ponteiros"-- o melhor seria falar a verdade: "Fritz, é assim: quando o brasileiro diz tô chegando!' é porque, na real, ele tá saindo". Tentei atenuar o assombro do alemão: veja, não é exatamente mentira, afinal, ao pôr o pé pra fora de casa dá-se início ao processo de chegada, assim como ao sair do útero se começa a caminhar para a cova. É só uma questão de perspectiva. "Mas e quando o pessoa diz tô saindo!'?" Expliquei que as declarações do brasileiro, no que tange ao atraso, estão sempre uma etapa à frente da realidade --são uma manifestação do seu desejo. Se a pessoa diz que está chegando, é porque tá saindo, e se diz que tá saindo, é porque ainda precisa tomar banho, tirar a roupa da máquina e botar comida pro cachorro. Fritz ficou pensativo. Uma morena entrou no bar e percebi certa reverberação nos hormônios teutões. Era a chance de mudar de assunto, mas eu havia sido mordido pela mosca da sinceridade e resolvi ir até o fim: revelei que, além do "tô chegando!" e do "tô saindo!", ele teria de aprender a lidar com "chego em 15!" e "cinco minutinhos!". "Chego em 15!" é sinônimo de "tô chegando!": quer dizer que o patrício está saindo. Quinze minutos é o tempo mágico que o brasileiro acredita gastar em qualquer percurso --a despeito da experiência, da Sulamérica trânsito e do Waze. Da Mooca pra USP? "Chego em 15!" De Santo Amaro pra Cantareira? "Quinze!" Mais uma vez, não é propriamente mentira. Se pegássemos todos os faróis abertos e todos os carros saíssem da nossa frente, em tese, vai que...? Já o "cinco minutinhos!" é um pouco mais vago. Pode significar tanto que o brasileiro está a cem metros do destino quanto a 27 quilômetros. Às vezes, cinco minutinhos demoram muito mais do que quinze, mais do que uma hora: há casos, até, menos raros do que se imagina, em que a pessoa a cinco minutinhos jamais aparece. Fritz ficou olhando o chope, contemplativo, imaginando, talvez, na espuma branca, a tomografia multicolor desses cérebros tropicais. Senti que, agora sim, era o momento de mudar de assunto, de mostrar ressonâncias, digamos, mais magnéticas do nosso país. Chamei o garçom. "Chefe, a gente pediu uma feijoada, já faz um tempinho..." "Tá chegando, amigo, tá chegando!"” Crónica A Pátria de Ponteiros publicada em 23 de fevereiro de 2014
Se ficaram com interesse nas crónicas e querem ler uma recessão a sério, recomendo esta do Nuno Costa Santos. Pode ser vista aqui uma entrevista do autor a Jô Soares.
Esta edição portuguesa de Meio intelectual, meio de esquerda reúne crónicas do autor e guionista brasileiro desde 2003 até 2016, por isso deu-me sempre a impressão de que, desde a primeira até à última, estava a acompanhar um amigo que ia crescendo, amadurecendo e evoluindo na sua vida pessoal e profissional - e escrevendo sobre isso. Ao contrário do que o título possa indicar, raras são as crónicas de cariz político, preteridas ao futebol (do qual eu percebo muito), amor, filhos e reflexões várias, mais ou menos disparatadas.
Se pensarmos que, em 2003, António Prata tinha vinte e poucos anos, alguém que os tenha ao ler estas crónicas poder-se-á deparar com uma máquina do tempo, em que o futuro se apresenta com a sucessão de eventos (viajar juntos pela primeira vez vs. o casamento; o início duma carreira vs. a sua consolidação), problemas (como usar a palavra "tomate" vs. mãozadas de cocó de bebé) e preocupações (bares ruins vs. recibos e contabilistas) de quem vai registando pequenos apontamentos da sua vida durante mais duma década.
(...)
À semelhança do que acontece com a maioria das colectâneas de crónicas, prefiro ir lendo poucas de cada vez, daí ter nomeado Meio intelectual, meio de esquerda como leitura de cabeceira. Antes de dormir, para acalmar a cabeça dos ecrãs, da rotina e do entusiasmo do dia, bastam alguns minutos e páginas. Crónicas de duas ou três são ideais, por não serem demasiado exigentes, nem desinteressantes, enquanto a variedade de temas nos entretém e embala para um sono mais descansado (idealmente!).
Em suma, Meio intelectual, meio de esquerda não é o melhor livro de crónicas de sempre, não é o mais perspicaz ou criativo, mas presta-se a um óptimo trabalho de entretenimento!
Leitura leve, descontraída. E o Antônio Prata sabe como poucos fazer um humor inteligente e divertido. Muito bom o livro!! Recomendo a crônica "Bar ruim é lindo, bicho", que é sensacional.
Crônicas perspicazes, divertidas e que fazem do livro uma ótima companhia. Como sempre misturando humor inteligente, nossas mazelas, paixões e fases da vida. Me identifiquei com algumas, ri de outras.
“Perdizes”, aquele bairro de casinhas geminadas que foram dando origem a crateras e tapumes e que ao virar a esquina nos perguntamos: Ué, cadê o quarteirão que estava aqui?!
“Bar ruim é lindo, bicho”, que crônica! Aos frequentadores, sentirão a mesma sensação de intimidade e frescor, após o expediente que só a 600ml suada de um bar caído pode proporcionar.
Meu terceiro livro do Prata. Talvez seja por isso que a avaliacao seja um pouco inferior. Verdade que esse livro nao tem uma tematica que direciona os textos, o que tira um pouco da qualidade geral, mas ainda assim o estilo de escrever é mantido e muito agradavel, alem de algumas cronicas primorosas. Falar sobre tudo nao é uma tarefa fácil e esse mérito é que me fez gostar tanto dos livros do Prata.
Bom livro de crónicas, de um autor brasileiro que desconhecia em absoluto até agora.
Os temas são universais, a escrita é repleta de humor mas, o que mais sobressai, é mesmo o lado humano.
‘Plano’, ‘Vespertina Tropical’, ‘Dormir é para fracos’ e ‘Bar ruim é lindo, bicho’ são algumas das que mais gostei.
‘’1. Antes de ter filhos, eu era um vagabundo que ficava reclamando, sem razão, de não ter tempo pra nada. 2. Depois de ter filhos, eu sou um pobre-diabo que fica reclamando, com razão, de não ter tempo pra nada. (Se hoje me dessem três meses com o tempo livre que eu tinha há dois anos, eu conseguia aprender esperanto, escrever Anna Karenina e treinar pro Ironman)
Daqueles livros-surpresa! Não conhecia o autor enquanto escritor de crónica literária, apenas de alguns intervenções públicas. Por isso, ao adquirir o livro havia zero expectativas e nada para superar.
Ora, a verdade é que me pareceu encontrar o verdadeiro conceito de crónica. Foi tudo encaixado no sítio certo. Os temas mais quotidianos e “sensaborões” que há - até mesmo a falta de tema; a sagacidade do olhar e o excelente observador que o escritor se nos revela. O toque de absurdo e o humor incrível foi um dos pontos-chave do livro.
É impressionante a cultura e a riqueza da crónica, a boa escrita de português, a cadência da leitura que nos faz crer estarmos num café com um amigo a ouvir as suas histórias ou opiniões ou desabafos. Além de que o desfecho da grande maioria das crónicas é particularmente brilhante.
Para o meu interesse, senti alguma falta de uma ou outra crónica literária menos pessoal e mais comprometida política ou socialmente.
O meu segundo livro de crónicas e já me despertou o gostinho. Recomendo vivamente.
Fazia tempo que eu não ria lendo um livro. O Antonio Prata tem um humor muito atual, simples e direto. As crônicas são despretensiosas - e acho que foi exatamente por isso que me ganharam desde o começo: nem sempre tem que ser difícil ou ter mil significados por trás de um texto. É um recorte muito claro sobre o cotidiano da classe média paulistana - e sei que me incluo nessa galera "meio intelectual, meio de esquerda" que ele descreve com destreza na "Bar ruim é lindo, bicho"; daí a graça. Não tem nada de crítica social, é meio "na bolha", mesmo. Levando isso em consideração, é ótimo!
Boa seleção de crônicas. Me senti um pouquinho intelectual e de esquerda tb. Algumas crônicas fazem rir, outras trazem o sorriso da ironia contida nelas. Minhas favoritas: "senta, ô careca!", "a barriga do Ronaldo ", "marretadas","PC", "tem visto o pessoal?", "o leito no pleito", "brilhante do Togo", "os novos bares velhos", "time IS honey", "choque de civilizações ", "aí: chuveirao", "déficit público", "diga trinta e três" .
Eu leio cronicas do Antonio Prata faz muitos anos, desde que ele ainda escrevia em revistas. O livro eu comprei em uma feira de livros da Universidade em 2017 ou 2018 e não sei quando comecei a ler mas foi o meu "livro de mochila", aquele que carreguei na mala para cima para baixo, durante muitos meses e depois de parar de levar mochila, ele foi deixado de lado e só terminei ele agora. Tem cronicas incríveis, das que fazem pensar, rir e poderar a existencia do universo e tudo ao nosso redor. Tem algumas que não sei o que estavam fazendo lá porém. De qualquer maneira, continua sendo atualmente meu cronista favorito.
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4,5* Este livrinho de crónicas foi o meu primeiro contacto com a escrita de Antonio Prata, autor brasileiro da minha geração - além de cronista, é também guionista - que andava curiosa por descobrir. E que delícia de crónicas - recomendo muito! A sua inteligência e humor andam sempre lado a lado, qual Tico e Teco saltitantes, nestes textos que são pequenos bombons com recheio de surpresa e sagaz inventividade. De devorar e salivar por mais. Como a edição portuguesa (pela Tinta-da-china) continua esgotada, encontrei esta edição da Todavia na Livraria da Travessa, que em boa hora chegou a Lisboa para encurtar a distância até aos escaparates do lado de lá do Atlântico.
Comecei a ler o Antonio Prata na minha adolescência, quando ele escrevia Crônicas para a ‘Capricho’. Foi uma delícia retomar o contato com as reflexões dele. Parecia que estava conversando com um velho amigo sobre a passagem misteriosa do tempo e as experiências humanas. Muito humanas. E tem sempre aquela sensação que repousa - flanando, talvez! - entre a nostalgia e a gargalhada incessante. Obrigada pela companhia e pela amizade da tua mente tão prosaica quanto generosa, Antonio.
Não tenho o hábito de ler livros de crônicas, mas adorei esta leitura! Divertido e dinâmico, muitas vezes era inevitável não soltar uma risada enquanto lia as crônicas de Prata no caos cotidiano do metrô de São Paulo. Mas nem só de risadas se faz um livro, esta obra traz boas reflexões também (daquelas que ocupam a nossa mente e nos levam para longe da Terra...). Super recomendo a leitura!!!
Espetacular miscelânea de crônicas do grande Antonio Prata. Para aqueles que querem dar boas risadas recomendo este livro como leitura aleatória para ser feita em paralelo com outras leituras. Recomendação especial para a crônica Classe Media! Sensacional!
Muito bom, mas senti falta de uma temática, como em Nu, de botas e trinta e poucos. De toda forma, excelentes crônicas. Com ênfase em time is honey, na qual ele descreve a sua visão sobre o bolo, o ato de fazê-lo e sua expressão, que eu compreendo com todo meu ser.
Nesta coletânea de crônicas é possível viajar na contemporaneidade de Antonio, para compreender certos dilemas cotidianos de um paulista ávido por questionamentos, tanto geracionais, como nas relações sociais que enfrenta. Algumas crônicas geniais, outras muito boas.
Atualidade, sarcasmo, humor e vida prática. Tudo junto, bem envolvido durante cerca de 250 páginas, resulta num conjunto de crónicas hilariantes. Mais um conjunto de crónicas excelente para ler nas pequenas pausas do dia a dia.
Como alguém pode expressar tão bem as angústias e percepções cotidianas? Acho que eu nunca tinha chorado de rir lendo um livro. A cada 2 páginas uma gargalhada. Antonio Prata <3
Divertido, fácil de ler, muito bem escrito. Achei muito interessante perceber os pontos comuns entre as comunidades portuguesa e brasileira nesta aldeia global.