Quando o médico português Rodrigo Lopes chega a Londres, logo após a ascensão ao trono da nova rainha de Inglaterra, estava longe de imaginar que o seu destino se cruzaria com o da poderosa Isabel I. Filha de Henrique VIII e da controversa Ana Bolena, a jovem princesa foi obrigada a percorrer um longo e árduo caminho até ao trono de Inglaterra.
Com a morte de D. Sebastião em Alcácer Quibir e o trono português a ser ocupado por Espanha, os olhos do mundo voltam-se para Portugal. E quem melhor do que Rodrigo Lopes para levar à rainha e aos seus conselheiros privados informações sobre o reino onde tudo se joga. Entre os dois nasce uma enorme cumplicidade, mas cedo o médico judeu se vê envolvido nas teias do poder, da traição e da ambição, e nem a rainha o conseguirá salvar de um destino trágico.
A jornalista Isabel Machado, no seu romance de estreia, leva-nos até à luxuosa corte de Isabel I. A rainha astuta que casou com o seu reino e que muitos garantem que morreu virgem. Sem marido, nem descendência, marcou para sempre a História de Inglaterra ao impor uma Igreja Anglicana moderada e ao conseguir um longo período de paz e prosperidade económica, abrindo o país às artes e ao mundo. Isabel soltou o seu último suspiro aos 69 anos de idade. Melancólica e saudosa de todos os que partiram antes dela. No pensamento, Robert Dudley o homem que amou durante toda a vida…
ISABEL MACHADO nasceu em Lisboa e é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Nos anos 80 venceu o primeiro prémio nacional de um concurso europeu de dissertação, promovido pela Alliance Française de Paris e, em 2003, foi-lhe atribuído um prémio de jornalismo da fundação Roche e da Liga Portuguesa Contra o Cancro, por uma reportagem publicada na revista LuxWoman sobre cancro infantil. Fez trabalhos de tradução e de interpretação simultânea, lecionou Português e Francês no ensino básico e Português como língua estrangeira. Durante 11 anos foi pivot e jornalista da Televisão de Macau, colaborando regularmente com publicações locais. Em Portugal, foi pivot do Canal Parlamento desde 2003 até Janeiro de 2011.
Ninguém diria (para uns) ou claro está (para outros) que é da primeira Isabel de Inglaterra que vos falo. Quem diria que a desconsiderada filha de Ana Bolena e Henrique VIII iria ascender ao trono, preservar a sua independência e ainda contratar um médico português😉. A alternativa ao celibato seria um casamento por conveniência — uma daquelas alianças políticas com cada um a falar a sua língua e a acumular amantes. Ligações perigosas susceptíveis de descambar em envenenamentos ou cabeças decepadas. Enfim!… Barbaridades que já lá vão (espero 😜)…
Isabel I além de governar a solo, fê-lo sabiamente. Acresce dizer que foi um imenso prazer conhecer esta ilustre personagem e o seu médico português 😊
Filha de Henrique VIII e de Ana Bolena, Isabel teve uma infância muito atribulada, vivendo sempre no limbo face aos constantes boatos de traições aos reis que lhe antecederam. Quando nasceu, Isabel ocupava a primeira posição na sucessão ao trono, no entanto acaba por cair em desgraça quando a sua mãe é acusada de adultério e condenada à morte por decapitação. Isabel, na altura quase a fazer 3 anos de idade, é declarada ilegítima e perde o título de princesa. Após a morte do seu pai, Isabel passa a viver com Catherine Parr e o marido, Tomás Seymour. Catherine Parr foi a última esposa de Henrique VIII e nutria por Isabel verdadeira afeição. Pouco meses após a morte do rei, Catherine desposa Tomás Seymour de Sudeley, indo viver para a zona de Chelsea. Essa convivência ainda hoje levanta várias conjecturas, pois sabe-se que Seymour se dava a certas liberdades com a jovem Isabel sem que esta, aparentemente, lhe agradasse. O certo é que Catherine acaba por descobrir essas folias e toma o partido do marido, expulsando Isabel em Maio de 1548. Desse envolvimento, que hoje em dia seria tido como pedofilia e que se julga tinha como intenção de Seymour a ascensão dele próprio ao trono de Inglaterra, Isabel tem um primeiro e horrível contacto com os tramas da corte e conhece ou toma contacto com as teias conspirativas, as intrigas palacianas que irão acompanhá-la durante toda a sua vida. Até subir ao trono, Isabel irá passar por outros tumultos e desgostos. No entanto, em Janeiro de 1559 é coroada Rainha de Inglaterra, iniciando-se um reinado de 44 anos, conhecido por período isabelino e marcado por acontecimentos vitais para a História da Europa e da própria Inglaterra. Obviamente que esta exposição é muitíssima diminuta, não só da vida de Isabel, como do seu reinado. A importância do reinado de Isabel foi fundamental para o poderio da Inglaterra. É um período riquíssimo, cheio de acontecimentos e de personagens que, ainda hoje, são falados e estudados. Em todo o caso o que aqui é importante é analisar o livro de Isabel Machado. Confesso que até conhecia muitos acontecimentos e factos do reinado de Isabel I, no entanto desconhecia a atribulada juventude de Isabel e a forma como sobe e, principalmente, como conduziu o seu reinado e o seu legado, e isso foi algo que me surpreendeu. Surpreendeu-me também, pela positiva, a qualidade e a forma límpida como a autora conseguiu narrar toda uma vida, porque é precisamente isso que a autora faz: conta toda a vida de Isabel, desde o seu nascimento até à sua morte. Pelo meio, que não é pouco, consegue a magia de colocar e dar substância a vários importantes personagens que povoaram a vida de Isabel, com especial incidência para o médico português, D. Rodrigo Lopes, que virá a ser médico pessoal da rainha durante décadas. Não é possível, numa mera opinião, expressar toda a densidade e excelência da obra de Isabel Machado. Não vou referir que é uma obra imaculada. Para mim o maior defeito é a falta de descrições das principais batalhas que ocorreram em todo aquele tempo. No entanto isso é algo que muito aprecio nos romances históricos e este versa essencialmente sobre figuras, destacando-se a de Isabel e de Rodrigo. Pessoalmente também me maçou a insistente discussão à volta do casamento da rainha e da necessidade de deixar sucessão. A partir do momento em que Isabel sobe ao trono, a principal discussão entre os seus ministros e conselheiros é o seu casamento que Isabel conduziu de uma forma estratégica até ao final da sua vida. Em todo o caso achei algo maçuda essa insistência, pois passam-se páginas atrás de páginas com essa discussão, parecendo que mais nada de interessante se passa no reino. Também não apreciei o tom algo piegas com que a autora descreve os encontros amorosos entre a rainha e o seu protegido. Percebo da necessidade de dar um tom mais apimentado e romântico ao livro, até por se tratar de ficção baseada em factos verídicos, no entanto e também face à fama de Isabel que ficou conhecida como a “rainha Virgem”, chegou a ser irritante esse tom meloso com que os encontros são descritos. No entanto a autora realiza um enorme trabalho. Consegue abordar a época e situar muito bem os acontecimentos que marcaram aquela época. O problema de Portugal e do vazio que fica quando D. Sebastião perece em Alcacer Quibir. A invasão em 1589 de Filipe II a fim de reclamar o trono e da revolta de D. António, prior do Crato, que Isabel irá conhecer muito bem, a fim de reclamar o trono de Portugal. A União Ibérica que daí ocorre e que será o único entrave ao estabelecimento da Inglaterra enquanto maior potência mundial. Um sem número de acontecimentos que a autora coloca e situa de uma forma excelente, mas que, por vezes, torna o livro maçudo e denso. Um livro que me deu imenso prazer ler. Não diria que se lê de uma forma compulsiva, mas que merece ser lido com calma e cuidado. Um livro que merece algumas análises à medida que a leitura vai decorrendo, pois e como antes referi, há acontecimentos, sobretudo os bélicos, que são mencionados, mas que são pouquíssimo descritos e, pessoalmente, tive a necessidade de perceber da sua importância e impacto que tiveram. Nota final para D. Rodrigo Lopes, médico português que debanda para Inglaterra com a esperança de encontrar um país mais tolerante com a sua religião. Com a ajuda da comunidade portuguesa, aí se fixa, chegando, pela sua fama de bom médico, ao posto de médico pessoal da rainha e seu confidente. Rodrigo Lopes existiu e teve, de facto, um papel preponderante na vida de Isabel I, estando também envolvido na política externa, nomeadamente no problema da invasão de Portugal. Este é um personagem que a História de Portugal esqueceu ou que nem sequer chegou a considerar. Em todo o caso a autora empreendeu uma brilhante investigação e descobriu importantes informações sobre essa figura e o seu trabalho na corte. A partir daí, a autora, explana uma figura muito interessante que vem abrilhantar ainda mais esta obra.
Este livro, sobre Isabel I, é uma das mais impressionantes histórias do séc. XVI. A fantástica história de superação da rainha que casou com o seu povo, apesar da eterna paixão por Robert Dudley. História também da Inglaterra do séc. XVI: o fim do reinado de Henrique VIII; Eduardo VI e a consolidação do Anglicanismo; Maria, a Sangrenta, e a oposição entre o Anglicanismo e Catolicismo; o reinado de Isabel I; a afirmação definitiva da Igreja Anglicana; e as guerras com Espanha. Magnífico livro para românticos e amantes da história.