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A Correspondência de Fradique Mendes

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[A Correspondência de Fradique Mendes é uma o]bra póstuma de Eça de Queirós, apresentada como a recolha da correspondência desse «homem distinto, poeta, viajante, filósofo nas horas vagas, diletante e voluptuoso» que foi Fradique Mendes e que, segundo o narrador/compilador, teria passado no mundo «sem deixar outros vestígios da formidável atividade do seu ser pensante além daqueles que por longos anos espalhou, à maneira do sábio antigo, em conversas com que se deleitava, à tarde, sob os plátanos do seu jardim, ou em cartas, que eram ainda conversas naturais com os amigos, de que as ondas o separavam...». Em carta de 1885 a Oliveira Martins, Eça refere-se ao projeto como «uma série de cartas sobre toda a sorte de assuntos, desde a imortalidade da alma até ao preço do carvão», acrescentando, em carta ao mesmo de três anos depois, tratar-se, de facto, de uma «novela - novela de feitio especial, didática e não dramática, mas enfim novela com uma narração, uma ação, episódios, uns curtos de diálogo e até paisagens». Entre os destinatários das cartas, contam-se personagens fictícias, como Madame Jouarre, a madrinha de Fradique, e personalidades reais, como Oliveira Martins, Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.

Fradique Mendes, aquele que observava decotes, que estudou Direito nas cervejarias que cercam a Sorbonne, que lutou heroicamente com Garibaldi, que arrebatava corações, mentes e corpos das senhoras e senhoritas puritanas, é o personagem mais fascinante de Eça de Queirós - o que não é pouco, numa obra de personagens deslumbrantes. Apesar de ver a vida como uma «escura debandada para a morte», Fradique acreditava que era possível debandar com arte, graça, estilo e, acima de tudo, bom- humor.

Em A Correspondência de Fradique Mendes, Eça de Queirós cria uma das suas personagens mais cosmopolitas, que exprime as ideias e também as ilusões da vanguarda cultural portuguesa da época.

A Correspondência de Fradique Mendes é dividida em duas partes: «Memórias e notas» e «As cartas». Na primeira, o autor traça um saboroso perfil biográfico de Fradique. Nesta obra de humor clássico e refinado emerge um Fradique de caráter enigmático, aristocrata, poliglota e intelectual, símbolo de uma geração de pensadores da qual o próprio Eça participou. Já «As cartas», publicadas inicialmente no jornal Repórter de Lisboa e na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, são um retrato notável da época. Discutem desde grandes questões da humanidade até detalhes pessoais.

238 pages, Paperback

First published January 1, 1900

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About the author

Eça de Queirós

361 books1,180 followers
José Maria Eça de Queirós was a novelist committed to social reform who introduced naturalism and realism to Portugal. He is often considered to be the greatest Portuguese novelist, certainly the leading 19th-century Portuguese novelist whose fame was international. The son of a prominent magistrate, Eça de Queiroz spent his early years with relatives and was sent to boarding school at the age of five. After receiving his degree in law in 1866 from the University of Coimbra, where he read widely French, he settled in Lisbon. There his father, who had since married Eça de Queiroz' mother, made up for past neglect by helping the young man make a start in the legal profession. Eça de Queiroz' real interest lay in literature, however, and soon his short stories - ironic, fantastic, macabre, and often gratuitously shocking - and essays on a wide variety of subjects began to appear in the "Gazeta de Portugal". By 1871 he had become closely associated with a group of rebellious Portuguese intellectuals committed to social and artistic reform and known as the Generation of '70. Eça de Queiroz gave one of a series of lectures sponsored by the group in which he denounced contemporary Portuguese literature as unoriginal and hypocritical. He served as consul, first in Havana (1872-74), then in England, UK - in Newcastle upon Tyne (1874-79) and in Bristol (1879-88). During this time he wrote the novels for which he is best remembered, attempting to bring about social reform in Portugal through literature by exposing what he held to be the evils and the absurdities of the traditional order. His first novel, "O crime do Padre Amaro" (1875; "The Sin of Father Amaro", 1962), describes the destructive effects of celibacy on a priest of weak character and the dangers of fanaticism in a provincial Portuguese town. A biting satire on the romantic ideal of passion and its tragic consequences appears in his next novel, "O Primo Basílio" (1878; "Cousin Bazilio", 1953). Caustic satire characterizes the novel that is generally considered Eça de Queiroz' masterpiece, "Os Maias (1888; "The Maias", 1965), a detailed depiction of upper middle-class and aristocratic Portuguese society. His last novels are sentimental, unlike his earlier work. "A Cidade e as Serras" (1901; "The City and the Mountains", 1955) extols the beauty of the Portuguese countryside and the joys of rural life. Eça de Queiroz was appointed consul in Paris in 1888, where he served until his death. Of his posthumously published works, "Contos" (1902) is a collection of short stories, and "Últimas Páginas" (1912) includes saints' legends. Translations of his works persisted into the second half of the 20th century.

Source: http://www.imdb.com/name/nm0211055/bio

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Displaying 1 - 25 of 25 reviews
Profile Image for Ana.
748 reviews113 followers
April 6, 2018
Gostei de reler este livro, em primeiro lugar porque não me lembro nada de o ter lido a primeira vez - provavelmente porque quase todos os livros do Eça que li, foi na adolescência, a seguir a ter descoberto Os Maias (em que, felizmente, e graças à minha mãe, peguei antes de ter sido obrigada a lê-los na escola). Em segundo lugar, lidos a seguir ao Nação Crioula, fizeram-me apreciar melhor o talento do escritor angolano.

E embora não tenha gostado igualmente de todo o livro, houve duas cartas que valeram por todas as restantes: a carta ao Sr. E. Mollinet, na qual Fradique responde à pergunta do diretor da Revista de Biografia e de História, que pretende saber quem foi um certo Pacheco, “cuja morte está sendo tão vasta e amargamente carpida nos jornais de Portugal”. Ao responder, Fradique faz uma hilariante crítica ao político sem qualquer mérito que vai trepando na hierarquia e criando à sua volta uma aura sem qualquer fundamento, mas que a muitos ofusca e a quase todos convence. Podíamos facilmente trocar o nome do Pacheco por uns quantos que têm passado pelos nossos governos e poucas mais alterações seria necessário fazer.

A segunda carta que me encantou, também pela ironia e atualidade, foi a que Fradique escreveu ao seu amigo Bento de S., que se prepara para fundar um jornal. Ficam uns excertos, que dizem muito mais do que qualquer resumo que eu possa fazer:

“Meu caro Bento, A tua ideia de fundar um jornal é daninha e execrável. (…) Não penses que, moralista amargo, exagero, como qualquer S. João Crisóstomo. Considera antes como foi incontestávelmente a Imprensa, que, com a sua maneira superficial, leviana e atabalhoada de tudo afirmar, de tudo julgar, mais enraizou no nosso tempo o funesto hábito dos juízos ligeiros. (…) Com excepção de alguns filósofos escravizados pelo método, e de alguns devotos roídos pelo escrúpulo, todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluidas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou – apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. (…) Por um gesto julgamos um carácter; por um carácter avaliamos um povo. (…)”
“E quem nos tem enraizado estes hábitos de desoladora leviandade? O jornal (...)”

“Este é o primeiro pecado, bem negro. Considera agora outro, mais negro. Pelo jornal, e pela reportagem que será a sua função e a sua força, tu desenvolverás, no teu tempo e na tua terra, todos os males da vaidade! (…) nunca a vaidade foi, como no nosso danado século XIX, o motor ofegante do pensamento e da conduta. Nestes estados de civilização, ruidosos e ocos, tudo deriva da vaidade, tudo tende à vaidade. E a forma nova da vaidade para o civilizado consiste em ter o seu rico nome impresso no jornal, a sua rica pessoa comentada no jornal!”

Se Eça fosse vivo, não teria mãos a medir com o que a televisão e as redes sociais lhe ofereceriam, em matéria de inspiração!
Profile Image for David.
1,684 reviews
October 29, 2021
We all love the adventurer.

Someone swarthy, handsome, and rugged. Someone who travels to exotic places, takes part exciting and romantic archeological digs, enjoys the good life, well-read, knows his politics and the social mores of people’s around the world. And of course, they should have a knack for being a ladies’ man.

You know what I am talking about. Just as there was a French Chateaubriand or an English Brummell, Portugal needs Fradique Mendes. At least Eça de Queirós thought so.

In this short novela, our narrator exudes all the charms of this man he first met in 1867. He published poetry under the name Lapidárias, inspired by Baudelaire and Mallarme. C’est três chic! He took part in exotic digs in the heart of ancient Egypt at Thebes, oh so magnifique! Dressed in scarlet, he aided Garibaldi in Sicily. How romantic! He murmured things in Greek, sweeter than Hesiod. So talented! He ate rare delicacies in Cairo, how grande!

A wise man. Learned. What more can one ask? Oddly for a 19th century man to have never published. After his death, our author helped publish sixteen letters that expound his talents written to a variety of people. Brilliant treatises on all sort of things. I quite liked the one on art. The only odd thing was they were not dated. Hmm.

So it came more of a surprise to me that Eça made up this character. I was hoodwinked. Well, I’ll be…

Indiana Jones anyone?

Definitely a 3.5
Profile Image for Sara Jesus.
1,675 reviews123 followers
October 26, 2019
Mais uma obra grandiosa de Eça que retrata a sua época e nos apresenta uma figura extraordinária muito culta, e versátil em todos os seus assuntos. Eça tal como nas suas grandes obras faz referencia a cultura de vanguarda da sua época (a francesa e a inglesa), dando mais destaque a francesa e os escritores Baudelaire e Victor Hugo.
Dividi-se em duas partes este clássico: na primeira parte o narrador conta como conheceu o Fradique Mendes e as viagens que este faz pelo Ocidente e o Oriente e a segunda parte corresponde as cartas de Mendes a vàrias pessoas importantes da sua vida na qual se incluem as personalidades reais de Guerra Junqueiro e Ramalho Ortigão.
Profile Image for Lucas.
26 reviews2 followers
February 5, 2023
et allez encore une lecture pour le mémoire, chiant tbh
848 reviews
May 13, 2022
Fui reler Fradique Mendes, de que me lembrava muito mal, por ser ele uma criação inteiramente literária de Eça de Queirós, tal como Pessoa criou heterónimos. Mas não lemos a produção de Fradique, pois nada publicou em vida, e o que escreveu, foi guardado num baú (como a arca de Pessoa), e estava à guarda de uma amiga muito ciosa.
O que faz o nosso narrador é contar a sua admiração por Fradique, homem rico e cosmopolita, que se correspondeu com personalidades reais (Antero, Ramalho Ortigão, Carlos Mayer, Oliveira Martins...), e que era, para eles, o epítome do homem sábio do século XIX. Homem sábio, mas diletante, como Carlos da Maia. Assim, o texto seria o prefácio à correspondência de uma personalidade criada por Eça, mas que encontramos noutras personagens suas, e, quem sabe, até em si próprio... Mas que não é uma outra faceta do escritor Eça, talvez um seu alter ego.
Profile Image for João Miguel Passarudo.
29 reviews
September 4, 2023
"Um homem só deve falar, com impecável segurança e pureza, a língua da sua terra: - todas as outras deve falar mal, orgulhosamente mal [...]. Além disso, o propósito de pronunciar com perfeição línguas estrangeiras constitui uma lamentável sabujice para com o estrangeiro. "

Precioso
Profile Image for Virgilio Machado.
235 reviews16 followers
February 7, 2012
A modernidade e o estilo de A Correspondência de Fradique Mendes são um marco da literatura portuguesa. Eça de Queirós criou um personagem fascinante, deu-lhe uma pátria, uma família, gostos, profissão e estilo próprio para criar uma voz diferente da sua – que fizesse um juízo sobre o mundo e sobre a sociedade portuguesa.

http://www.lpm-editores.com.br/site/d...

O romance A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, aborda o contexto de Portugal. [...] Tal como descreve Eça, Fradique era um aventureiro, atormentado diante das injustiças sociais e da decadência da sociedade lusitana causada pelas constantes transformações sociais, políticas e económicas. Fradique foi um veemente crítico da sociedade lusitana, que não se deixou abater pela força das formas totalitárias, um incansável reconstrutor de um Portugal novo. Esse ser que Eça disse ter feito com pedaços de seus amigos é um ser plasmado com os anseios e ideais de uma geração de escritores que representava a vanguarda intelectual portuguesa do final do século XIX. [...] Expressão de uma incontida admiração pela figura do gentleman, personificação simbólica de uma elite intelectual que se opunha à vulgaridade e à chateza de um país em declínio, Eça, através de Fradique, tornou evidente também essa oposição pela sátira e pela critica: às liturgias que atravancavam e contrariavam o puro espírito com que as religiões se deveriam exprimir, à vacuidade de certos políticos do parlamento (carta ao Sr. Mollinet, onde retracta Pacheco), a um certo tipo de capitalistas (carta a Mme de Jouarre, onde retracta o Comendador Pinho) e ainda à classe eclesiástica portuguesa, inteiramente vinculada e dependente do estado, personificada genericamente no «horrendo» Padre Salgueiro - carta a Mme de Jouarre. Fradique Mendes é uma personagem realista de Eça de Queirós que, descontente com a decadência de Portugal nas três últimas décadas do século XIX, saiu em incursão pelo mundo em busca não só do seu próprio reconhecimento como, também, da sua própria nação. Era, acima de tudo, um nacionalista que não suportava ver a sua pátria relegada a um limbo sem precedente. Diante de tal situação, Fradique voltou-se para o Portugal das grandes navegações com o objetivo de resgatar as raízes nacionais autênticas. Fradique, então, retomou o passado distante na expectativa de recuperar a verdadeira identidade portuguesa que outrora impulsionou outras civilizações a conquistar o mundo e a colonizar outras nações. [...] Através de Fradique, Eça exprimiu também um amargo ceticismo perante angústias sociais para as quais não encontrou remédio.

Iara Regina Franco Rodrigues e Onofre de Freitas

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lin...
Profile Image for Nights *Words à la Carte*.
71 reviews34 followers
October 12, 2019
Nesta obra, o Eça de Queiroz ficcionista e o cronista juntam-se para nos apresentar Carlos de Fradique Mendes, homem culto, poeta, viajado, bem relacionado e com um gosto ímpares. Um indivíduo que apenas existe nas páginas do autor, mas que se nos mostra como se de alguém de carne e osso se tratasse.

Fradique Mendes é o espelho da sua época feito gente. Este livro tem duas partes, a primeira em que o próprio Eça, por si, nos conta como conhecer Fradique Mendes, pedaços de encontros e conversas com esta personagem interessante. Na segunda parte, deixa-nos ler algumas cartas que compõem a sua correspondência, algumas trocadas ora outras personagens inventadas, ora com personagens da nossa História.

Com a sua eloquência e sarcasmo, Fradique Mendes traça, pelas mãos de Eça, as ideias e os costumes do tempo destes dois homens, entre momentos de erudição e situações mundanas. No entanto, por vezes, somos assaltados pelo pensamento de que o Fradique Mendes que Eça conhece não é necessariamente o mesmo que se revela na sua correspondência... como todos nós.

Mais uma vez é, sem dúvida, extremamente actual, como Eça de Queiroz sempre é e, talvez, sempre será.
Profile Image for Enrique Vallés.
23 reviews
June 22, 2020
Este es el primer libro que leo de Eça de Quierós y ha sido una grata sorpresa. No las tenía todas conmigo al empezar el libro, pero es un libro que va de menos a más. El libro no cuenta una historia, o mejor dicho no tiene ninguna trama, sino como una "biografía" o conjunto de recuerdos y cartas de un personaje ficticio. El libro está dividido en 2 partes: en la primera Eça de Queirós nos narra sus encuentros con este personaje y una segunda parte con las cartas que envió a sus amigos.
El libro está escrito magistralmente, pura magia de palabras. Pero cuando estás disfrutando de la literatura en mayúsculas, aparecen las cartas y aquí es donde está la pura magia. En algunas te ríes de sus peroratas, en otras ves pensamientos muy excéntricos para la época (s. XIX), y en otros son tan actuales a nuestra época e incluso vaticinaron el desastre que provocaría el antisemitismo en Europa (la carta a Bento de S. no tiene desperdicio alguno).
Una joya y un clásico de la literatura
Profile Image for tiago..
464 reviews135 followers
August 14, 2024
Este Fradique Mendes pode chegar a ser irritante. Poder-se-ia imaginar que é uma fantasia de Eça de Queiroz, a fantasia do homem perfeito, talvez mesmo (quem sabe) um esboço de quem ele desejaria vir a ser. E como todo o homem sem defeitos acaba por ser pouco realista, não tarda o leitor em inventar alguns: saiu-nos o homem pedante, convencido, diletante (por muito que nos jurem que não o é!), cheio de baboseiras que são aplaudidas como brilhantismos. É o que dá, construir um homem perfeito: como semelhantes utopias não existem, acaba sempre por ser uma proposta mais ou menos falhada.

Mas isto não quer dizer que só de pontos negativos é feito o livro; entre as baboseiras, este ficcional Fradique Mendes chega a escrever páginas de grande beleza, ou pelo menos de grande interesse. Ocorre-me a série de cartas a Clara, que retratam a ascensão e queda de uma história de amor à oitocentos; ou ainda uma carta em que rebate os críticos de um misterioso E, autor de livros intitulados AmaroAmaro. Por estas cartas, mais que Fradique, vislumbra-se o próprio Eça, que fala pela boca do seu alter ego, e que se revela muito menos perfeito e muitíssimo mais interessante que a fantasia que sonhou.

Estas cartas são ainda, como todas as obras de Eça, preciosas enquanto janelas para um tempo já passado. E o mais curioso é que o que essas janelas parecem indicar é que pouco mais que a forma das coisas parece ter mudado nos mais de cem anos que me separam do nosso compadre Fradique Mendes. Veja-se esta passagem, que podia ter sido escrita ontem:
Em todos os séculos decerto se improvisaram estouvadamente opiniões (...); mas nunca, como no nosso século apressado, essa improvisação impudente se tornou a operação natural do entendimento. Com excepção de alguns filósofos escravizados pelo Método, e de alguns devotos
roídos pelo Escrúpulo, todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluídas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, atulhado de ideias novas, que o amor de extensos anos fortemente encadeou — apenas nos basta folhear aqui e além uma página, através do fumo escurecedor do charuto. (...) Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda. E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter: por um carácter avaliamos um povo.

Pois é, Eça poderia ter vivido na idade das redes sociais; pouco ou nada parece ter mudado. Falta saber se por isso deveríamos concluir que há-de acabar tudo bem, ou se - deus nos livre! - esta nossa humanidade não se emenda mesmo.
Profile Image for Inês.
214 reviews
August 12, 2023
Fradique nunca datava as suas cartas: e, se elas vinham de moradas familiares aos seus amigos notava meramente o nome do mês. Existem assim cartas inumeráveis com esta resumida indicação - Paris, Julho; Lisboa, Fevereiro... Frequentemente, também, restituía aos meses as alcunhas naturalistas do calendário republicano - Paris, Floreal; Londres, Nivose. Quando se dirigia a mulheres, substituía ainda o nome do mês pelo da flor que melhor o simboliza; e possuo ainda cartas com esta bucólica data - Florença primeiras violetas (o que indica fins de Fevereiro); Londres, chegada dos Crisântemos (o que indica começos de Setembro). Uma carta de Lisboa oferece mesmo esta data atroz - Lisboa, primeiros fluxos da verborreia parlamentar! (Isto denuncia um Janeiro triste, com lama, tipóias no Largo de S. Bento, e bacharéis em cima bolsando, por entre injúrias, fezes de velhos compêndios).
117 reviews
December 13, 2023
"Mas de nenhum destes modos te sei amar, tão fraco ou inábil é o meu coração, de modo que, por o meu amor não ser perfeito, tenho de me contentar com que seja eterno."

Ter de ler as obras de Eça por obrigação (thanks a lot uni) definitivamente estragou a minha experiência de leitura. Quem sabe um dia lhes dê uma nova oportunidade.

2.5 stars.
Profile Image for Daniel.
175 reviews
February 18, 2024
Logorreia de pesares mil, logras não encontrar tua contemporânea fatuidade. GARBO IDÍLICO.
Profile Image for Mauro.
293 reviews24 followers
December 12, 2012
Não há tanta e tão clara oposição entre o Fradique Mendes da primeira parte do livro (em que ele é personagem) e o da segunda parte (que contém as cartas que ele escreveu). Diz o professor que apresenta o livro que essa antinomia é a graça do livro - que o Fradique das cartas é vil e pequeno, em comparação com o da narrativa inicial, cultíssimo e inatingível.

Claro que há uma diferença entre um e outro - especialmente no que diz respeito ao que é mais íntimo, ao relacionamento com as mulheres (tema em que a primeira parte, a rigor, mal toca). Mas a segunda parte apenas aproxima o leitor do Fradique da primeira, não o destrói.

Lembra muito o poema em linha reta, do Fernando Pessoa: arre, estou farto de semideuses!
É isso que mostra a segunda parte: de perto, não somos semideuses, nem os melhores de nós - coisa que o realismo francês, que tanto mesmerizou Eça de Queiroz, faz reverberar no melancólico estilo lusitano, tão dado à reconhecer antes as decepções que as vitórias; a registrar mais a decadência que o apogeu.

O que há de graça no livro - muita graça há, como na descrição do "imenso talento do Pacheco", que sempre lhe serviu para cargos públicos, mas nunca despontou - é uma graça resignada e mordaz, que mostra um certo desassossego, uma certa desesperança, tão antiga quanto moderna; tão lusitana quanto universal.
Profile Image for Rita Neves.
14 reviews8 followers
Read
October 24, 2018
"Só portanto me resta ser, através das ideias e dos factos, um homem que passa, infinitamente curioso e atento. A egoísta ocupação do meu espírito hoje, caro historiador, consiste em me acercar de uma ideia ou de um facto, deslizar suavemente para dentro, percorrê-lo miudamente, explorar-lhe o inédito, gozar todas as surpresas e emoções intelectuais que ele possa dar, recolher com cuidado o ensino ou a parcela de verdade que exista nos seus refolhos - e sair, passar a outro facto ou outra ideia, com vagar e com paz, como se percorresse uma a uma as cidades de um país de arte e luxo."
Profile Image for Hibiscus.
339 reviews
July 13, 2025
Half the book is an introduction to the letters. A long doxology of how cool and flawless Fradique was.
By the time I started the letters I already hated him )

It's diverse essays on the society and religion of XIX c. Portugal.
Profile Image for Rodolfo Borges.
252 reviews3 followers
August 9, 2013
O livro não é ruim, mas monótono em boa parte. As três estrelas são em respeito ao resto da obra de Eça.
Profile Image for Dymbula.
1,056 reviews38 followers
December 26, 2019
Střídavě oblačno, realita, i fikce, mystifikace...
Displaying 1 - 25 of 25 reviews

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