Quando recuperava a alegria, Glória ficava íntima. E descobria - desde toda a sua vida, o medo, o sentimento de culpa não a preservavam, antes a endureciam. Mas estar alegre era possuir intimidade, seu corpo não era mais feito de partes, mas uma só coisa harmoniosa, ajustada, digna de amor e amar, fazer os outros felizes.
Adélia Luzia Prado Freitas, is a Brazilian writer and poet. Started writing at the age of 40 which is relatively late in life for a poet. Although much of her outlook is religious, deeply Catholic, her works are often about the body. Adélia Prado's poems were translated into English by Ellen Watson and published in a book entitled, The Alphabet in the Park. (Wesleyan University Press, 1990).
quanto mais me passa o tempo, mais me convenço de que preciso de uma coisa maior, uma crença elevada. em cacos para um vitral, adélia prado espalha pequenas doses desse amor denso pelo sagrado, uma sensação que define a possibilidade de alegria e que fez eu me sentir próximo de algo maior enquanto lia. nos fragmentos de vida de glória - que eu imagino que tenham muitos toques de adélia, mesmo sem conhecê-la - sua aversão ao envelhecimento se reúne com uma criancice invejosa.
para mim, é tão gratificante perceber as coisas pequenas, porque elas costumam me escapar e isso me faz pensar que estou ficando insensível, mas lendo, me senti próximo desse diminuto incontornável e essencial para a vida. nos estilhaços, o amor fica na coisa pequena, na risada de um menino, na benevolência do marido ou na matraca de uma senhorinha, é na prosa retalhada do cotidiano que adélia constrói um retrato de sua condição como mulher no mundo.
no olhar de cima para os outros, como quando vê um morador de rua e remete a um nojo da infância ou na negação de amparo a uma mulher, o julgamento daqueles que considera menores está sempre negociando com os dogmas de sua fé, e é aí que glória reproduz o que está tão cristalizado na sua classe social: um racismo que incomoda e diminui o peso da sua poesia incipiente.
A prosa da autora não traz lá muita novidade: um tanto afetada, carrega o texto de trejeitos de uma fala que se quer prosaica e regional, com um número de "espantos" menor em relação aos poemas, mas também exibindo com galhardia um tipo de realidade brasileira que presta homenagem inconsciente ao sebastianismo.