Para se entender toda essa violência urbana instalada no Rio de Janeiro, é necessário compreender como pensam e como agem os criminosos que impõem o terror na cidade. Abusado, livro-reportagem de Caco Barcellos, é uma verdadeira lição sobre a lógica, os meandros e o modus operandi das grandes corporações criminosas que comandam o tráfico de drogas e outras atividades criminosas no Estado. Através da história de Juliano VP (codinome de um conhecido traficante carioca) – sua infância, adolescência, entrada e ascensão no tráfico de drogas na favela Santa Marta (em Botafogo, bairro de classe média) -, temos um retrato histórico da ocupação do morro pelo Comando Vermelho, principal facção criminosa no Estado, e da implantação de sua cruel disciplina.
Cláudio Barcelos de Barcellos, mais conhecido como Caco Barcellos, é um dos maiores jornalistas investigativos da História do Brasil. Ccom décadas de trabalho sobre violência policial, é o autor de Rota 66: A polícia que mata, livro que documenta o assassinato de 4.200 pessoas, todas jovens e pobres, pela Polícia Militar de São Paulo. Caco já venceu duas vezes o Jabuti e recebeu dezenas de prêmios por reportagens especiais.
"- Normal, é que você acostumou com o outro lado - Caco Barcellos sobre ser ferido em um assalto. - É foda! Eu nunca tinha vivido isso do lado de vocês. É foda sê otário!" - Marcinho VP
Leitura interessante para entender um pouco melhor a cidade do Rio de Janeiro e o crime que nela atua. O livro é uma mistura; funciona como biografia da Favela Dona Marta, biografia do traficante Marcinho VP e alguns dos seus homens, e como reportagem sobre o funcionamento do tráfico.
Com linguagem romanceada, o jornalista mostra a realidade crua. Do aperto que passa a população moradora da favela. Da tentação que é o tráfico para o jovem em contrapartida a humilhação que a vida honesta o reserva. Além de mostrar a corrupção e crueldade da polícia.
A leitura também me levou a assistir o documentário "Notícias de uma guerra particular" que foi gravado na mesma comunidade e época em que se passa o livro.
Apenas algumas coisas me incomodaram no livro: O fato do autor utilizar a moeda dólar para descrever salários e valores do tráfico. Usando real e cruzeiro apenas em 3 capítulos.
E o fato do nome do traficante ter sido alterado para "Juliano VP", sem nenhuma explicação ou comentário. Essa alteração dificultou as pesquisas de registros de jornais da época.
Excelente livro, conta a história de Juliano VP(Marcinho VP) e por tabela explica todo o processo do tráfico de drogas e o crime organizado dos morros do Rio de Janeiro. 3 meses após a publicação desse livro Marcinho VP foi encontrado morto, asfixiado, em uma lixeira do presídio Bangu 3, Marcinho foi morto por membros do comando vermelho por ter falado demais ao jornalista Caco Barcelos na confecção deste livro. A revista isto É classificou o fato como "final previsível" em uma de suas reportagens.
É muitíssimo bem escrito e, mesmo sendo um livro-reportagem, ele não deixa em nenhum momento de ser interessante ou mesmo empolgante. Algumas tentativas de reprodução da forma de falar dos moradores do morro são um pouco forçadas, mas nada que realmente prejudique a leitura.
Eu achei a obra muito humana. Em nenhum momento “passa pano” para as ações criminosas das principais personagens do livro, mas também em nenhum momento a narrativa nos deixa esquecer que aquelas são pessoas com famílias, sonhos e necessidades, e quais são as condições sociais por trás do crime organizado.
O Brasil talvez fosse um lugar melhor se mais pessoas lessem e entendessem livros como esse.
A leitura desse livro me mostrou que, ao contrário do que eu pensava, o problema da segurança pública no Rio de Janeiro é tão antigo quanto sua desigualdade. Nesse momento, tenho dificuldade para aceitar que um jornalista sozinho (mesmo que esse jornalista seja Caco Barcellos) conseguiu fazer uma apuração tão detalhada e traçar uma narrativa tão instigante e com tanto sentido em pouco mais de 500 páginas. Apesar dos relatos violentos, esse é um livro que gostaria de indicar a todos, mas principalmente àqueles que, assim como eu, são jovens demais para ter acompanhado as manchetes policiais do fim da década de 1990 e do começo dos anos 2000.
Com um trabalho jornalístico incrível, Caco Barcellos conseguiu não apenas apresentar ao seu leitor o dia a dia das favelas cariocas dominadas pelo poder dos traficantes de drogas, mas também mostrar essa história a partir do ponto de vista dos moradores das favelas e dos próprios chefes do tráfico. É uma rotina em que a morte e a violência estão sempre presentes. É a rotina marcada pelo medo, pela incerteza e pela falta de oportunidades.
E toda essa temática é narrada seguindo a história de um personagem principal: Marcinho VP, chefe do Morro da Dona Marta. Sua infância, juventude e formação para ocupar o lugar de um dos criminosos mais conhecidos no Rio de Janeiro são o norte para a construção da obra. E ao mesmo tempo que apresenta as barbáries cometidas por um chefe de morro, Caco Barcellos também apresenta Marcinho VP – no livro é substituído pelo pseudônimo Juliano VP – como um ser humano, que também sente medo, tem dúvidas e que se preocupa com a qualidade de vida dos moradores da sua comunidade. É, sem dúvidas, uma vida de contrastes, que faz o leitor se questionar sobre aquela ideia de existir o lado do bem e o lado do mal.
Além disso, é importante ter em mente que, muito embora hoje a existência de excessos na atividade da polícia e o sofrimento vivido pela população das comunidades sejam questões muito debatidas, no ano de 2003, quando publicado o livro, esse tema ainda era um certo tabu. Ou seja, não bastasse a qualidade do trabalho jornalístico apresentado, o autor foi extremamente corajoso ao entrar nas favelas para conversar com os líderes do morro, em um cenário marcado pela violência, e conseguir divulgar essa realidade para toda a população.
A escrita é fácil e envolvente, conseguindo prender o leitor. O livro não é curto, com cerca de 600 páginas, e confesso que em alguns momentos a temática se torna um pouco repetitiva. Independentemente disso, é um livro essencial e muito atual, que revela cruamente a realidade nas favelas dominadas pelo crime, com uma forte crítica social.
FIiiiiiiinally finished this bitch. Really good, really in depth, a big eye opener, even if you take interest in crime and that sort of literature. But there is a big patch towards there end that is unbearable, big loss of pace, the writer starts putting himself into the story and kind of explaining how he came across the people and he whole process of writing the book, which is great but, not placed in the best part of the boook. Apart from that, astonishing read, some crazy shit happens and you have to constantly remind yourself - "Oh wait this is a true story, wow!". Recommend it. Kept reminding me of like an Arthurian kind of tales, the drama, the betrayals the sex, I think to a Brazilian culture, its pretty much that
Coincidência ou não, comecei à ler na mesma época em que a Policia Carioca, com o apoio das Forças Armadas Nacionais tomaram o poder no Complexo do Alemão.
A leitura fez com que ampliasse a minha percepção desta realidade - relativamente distante do meu quotidiano.
Com texto forte, é impossível não entender como as coisas estavam funcionando, e qual o papel dos governos no contexto...
Só não dei zero estrelas porque não consegui. É ruim.
O livro é fraquinho porque tenta se sustentar numa idéia mentirosa: os bandidos não têm culpa de ser como são, a culpa é das agruras que passaram na vida. A culpa é da polícia que os reprime. A culpa é do "sistema". A culpa, enfim, é de "tudo isso que está aí", seja lá o que "isso" for. A culpa nunca é do bandido que escolhe traficar ou matar.
É engraçado como pessoas na nossa vida, e acontecimentos nos levam a novas leituras e livros que nunca imaginei ler. Nesse ano, após a megaoperação no Rio de Janeiro, com mais de 100 mortos registrados, me dei conta de que eu precisava sair da minha ignorância e entender o que estava por trás dessa grande violência contra a população da periferia e favelas. Ler sobre a vida de pessoas que se foram por conta de caminhos que o sistema impõe a elas me fez perceber que o buraco é muito mais embaixo, a história ainda se repete nos dias atuais, viúvas dos homens mortos pelo crime e pela polícia, crianças órfãs, a injustiça, o silenciamento e a opressão a essa população. O sistema continua no topo, enquanto a vida de muitos é tirada, uma discussão muito complexa sem dúvidas.
Esse livro me fez perceber que eu adoro livros de jornalismo literário. O Caco te transporta para a favela santa Marta, através das descrições das ruas, das casas?
Foi interessante conhecer a dinâmica do tráfico no morro e perceber como alguns jovens veem essa ?profissão? como forma de melhorar a vida da família.
Muito triste perceber que o "Juliano VP" poderia ter sido um baita de um sociólogo, se não tivesse entrando no caminho do crime.
Terminei a leitura desse livro há algumas semanas, mas ando sem tempo para resenhar. Não é o melhor livro do ano, mas é sem dúvida muito bom e me permitiu conhecer facetas da realidade brasileira que só podia perceber por um viés. O autor não é condescendente, isso também é importante, ele tenta mostrar a realidade daquele que não têm nada ou quase nada a perder. Por vezes é assustador, principalmente sabendo que não é ficção.
A brutal realidade da política pública carioca para com o tráfico de drogas nas favelas. Caco fez um relato corajoso da violência perpetrada por criminosos e policiais. Nesses vinte anos desde o lançamento do livro pouco mudou no 'modus operandi' das autoridades, mas o tráfico perdeu espaço para as milícias e também a ela também se associou.
quando terminamos de assistir 'o jogo que mudou a história', meu pai foi até a estante, pegou esse livro, me entregou e disse: "lê, você vai gostar". e eu gostei mesmo.
Nem acredito que Caco Barcellos conseguiu um fazer um relato tão aprofundado de histórias tão intensas e complexas. Tira completamente o conceito de bandido ser vilão, mostra um senso de comunidade no morro e explora a falta de oportunidade de quem já nasceu num mundo sem muita saída a não ser o crime. Como Juliano (Marcinho) VP disse a todo momento: o lado certo da vida errada.