Neste volume inédito Italo Calvino percorre as fábulas africanas, os mimi sicilianos, as fábulas irlandesas, os contos dos Grimm, entre outros temas; são prólogos escritos em épocas diferentes, nascidos em ocasiões distintas, que, apesar disso, testemunham uma coerência ao longo do tempo e permitem reconstruir um itinerário, um mapa teórico, sobre o género literário que tanto interesse despertou sempre no famoso escritor.
Italo Calvino was born in Cuba and grew up in Italy. He was a journalist and writer of short stories and novels. His best known works include the Our Ancestors trilogy (1952-1959), the Cosmicomics collection of short stories (1965), and the novels Invisible Cities (1972) and If On a Winter's Night a Traveler (1979).
His style is not easy to classify; much of his writing has an air reminiscent to that of fantastical fairy tales (Our Ancestors, Cosmicomics), although sometimes his writing is more "realistic" and in the scenic mode of observation (Difficult Loves, for example). Some of his writing has been called postmodern, reflecting on literature and the act of reading, while some has been labeled magical realist, others fables, others simply "modern". He wrote: "My working method has more often than not involved the subtraction of weight. I have tried to remove weight, sometimes from people, sometimes from heavenly bodies, sometimes from cities; above all I have tried to remove weight from the structure of stories and from language."
A volte rileggo Calvino (qualsiasi cosa) solo per ricordarmi come si scrive dall'angolo specifico del trovare la propria voce autoriale. È inconfondibile. (Also, kill your heroes. Il suo limite nell'analisi è una scelta di comodo come quella di tutti gli altri. Di tutti i migliori. In questo volume si vede benissimo nell'acriticità sottintesa proprio durante le analisi profonde delle fiabe, sia nei confronti delle donne che di tutte le popolazioni non bianche).
Uma viagem, realmente, pelos contos italianos e traduzidos em Itália mas de uma forma mais "científica" do que estava à espera. Parece uma tese de mestrado, cheia de referências.
Sobre o conto de fadas reúne várias textos de Italo Calvino sobre o tema. O que tanto pode ser falado que ocupe um livro inteiro? Bem, desde derivações geográficas ou temporais, e famosos compiladores de contos (como os irmãos Grimm), nestes textos vai-se dando algumas luzes da extensa área dos contos.
No primeiro texto percebemos logo que o autor terá organizado uma extensa colectânea de contos italianos, recolhendo histórias ao longo das várias terras, e ajustando as várias versões do mesmo conto que encontrou para que o conto resultante fosse o mais representativo possível. Este texto será a introdução dessa mesma colectânea e no final fica a vontade de procurar o dito livro que conterá os contos - que pelo que pesquisei não se encontra publicado em português.
É constante a referência de Italo Calvino a uma contaminação constante das histórias, resultante das migrações existentes antes das recolhas. Por exemplo, em vários contos africanos aparecem elementos de mitologias europeias, mas como não houve um registo da história antes da contaminação, desconhece-se quando é que esses elementos terão sido incorporados.
Esta contaminação será um dos factores que dificulta ou, até, impossibilita, qualquer tentativa de definir um mapa temporal (evolutivo ou derivativo) entre os contos, ou de definir influências. Para demonstrar esta impossibilidade apresentam-se vários contos que alguns estudiosos tentaram definir como sendo versões originais, tendo sido prontamente refutados por existirem outros contos, de épocas anteriores, em locais distintos (por vezes noutros continentes) com elementos semelhantes.
É, também, esta contaminação que torna quase impossível definir uma origem geográfica do conto, até porque os elementos geográficos podem ir sofrendo alterações. Derivações ou fusões. Independentemente da forma como terão aparecido, os contos podem ser catalogados por tipos genéricos consoante elementos fundamentais como o aparecimento de criaturas mágicas, ou de figuras reais (que na prática podem corresponder ao senhor daquelas terras), ou expressando rivalidade entre terras (identificando as aldeias onde terão origem os avarentos ou os burros), entre outros.
Claro que é impossível falar de contos sem falar dos irmãos Grimm. Para além das várias referências ao tipo de trabalho que desenvolveram ao recolherem vários contos populares, existe um capítulo inteiro que lhes é dedicado, onde apresenta sucintamente a história dos irmãos, explicando as escolhas que fizeram aquando da colecta dos contos, escolhendo ou fundindo versões, ajustando e uniformizando o tom. Mas não se fala apenas dos irmãos Grimm - existe também um capítulo dedicado aos contos da carochinha de Perrault, bem como várias referências a outras compilações conhecidas.
Meio de transmissão de moralidade, história ou simplesmente costumes, os vários contos têm origem, para alguns estudiosos, num único. Desta forma, existe quem se dedica a analisar e a isolar os elementos para tentar reconstruir o conto universal que terá levado à origem dos restantes. Teoria interessante mas, a meu ver, demasiado simplista para conseguir explicar o grande conjunto de histórias a nível universal.
Para além da divisão em tipos e apesar dos elementos comuns que podem ser encontrados em contos de zonas bem distintas, existem áreas geográficas que possuem elementos constantes em todos os contos. É o caso dos contos mantuanos que se centram em trabalhos herculeanos de agricultores de grande astúcia e características excepcionais. Por outro lado, os contos irlandeses encontram-se carregados de figuras fantásticas, sereias, duendes, gigantes ou lebrecães, que misturam o paganismo celta com diabos e santos. De realçar, também, o papel elevado dos bardos dos vários contos - figuras que criando e fazendo conhecer histórias, podem imortalizar os seus benfeitores se estiverem de bom humor.
Ainda sobre os contos de fadas dedica-se um capítulo onde se destacam os elementos comuns de toda a humanidade. Serão contos que poderão ser regredidos à pré-história, evoluindo elementos de acordo com as mudanças de vida da humanidade ao longo de milénios.
De elevado interesse para quem gosta de contos, sejam populares, de fada ou da carochinha, peca apenas por não se encontrarem publicados em Portugal os livros dos quais aqui lemos as introduções, ou sobre os quais o autor faz referência. Após a explicação de Italo Calvino referindo como compilou os diferentes contos italianos, seria interessante ler esses mesmos contos com o enquadramento fornecido. Com uma bibliografia farta, é uma introdução formal ao tema, sem chegar a cair no tratado académico.
Trattandosi (perlopiù) di saggi introduttivi a una raccolta di fiabe, l'assenza dei testi narrativi cui si fa riferimento rende la lettura un po' monca. Ciò nonostante è un ottimo punto di partenza per chi volesse esplorare la saggistica sulla fiaba.
Sobre o Conto de Fadas (no original Sulla fiaba) é um ensaio de Italo Calvino publicado em 1988 e traduzido para o português em 2010. Preciso de começar por dizer, que se por um lado muito agradeço à Teorema pela edição deste livro, por outro lado deixa bastante a desejar em termos de tradução e revisão, o que roubou um pouco de magia à leitura.
Uma outra blogger perguntava-se, sobre este livro e os contos de fadas, "o que tanto pode ser falado que ocupe um livro inteiro?" Há tanto a ser falado, que muito ficou por dizer. Ao longo dos tempos e nos dias de hoje, académicos e apaixonados têm dedicado toda uma vida ao estudo dos contos de fadas, que ocupam tão grande lugar na História e nas culturas, e que têm tantas pluralidades de interpretação e de existência, que ainda muito mais há a desvendar sobre eles.
Este é um livro que só pode ser compreendido se o leitor tiver uma mínima noção das histórias dos contos de fadas mais populares, e preferencialmente, também do panorama dos contos de fadas pelo mundo. Há contos, ou melhor, variações de contos, ou ainda maneiras de os contar, que são típicas de determinadas regiões do mundo, se bem que muitas vezes tendo a mesma origem geográfica. Italo Calvino debruça-se sobre estas diferenças, particularmente sobre os contos de África, Irlanda, Alemanha e Itália. É interessante notar que não menciona de todo os contos orientais.
A parte chata do livro é que há capítulos inteiros dedicados apenas a determinados "autores"/colectores italianos que são relativamente desconhecidos. Quando se dedicou a este ensaio, Italo Calvino já tinha realizado uma antologia dos contos italianos, pelo que teria com certeza mais a dizer sobre eles. No entanto, para quem como eu estiver descontextualizado, estes capítulos em pormenor podem tornar-se aborrecidos (principalmente por se centrarem muito no colector, nas suas figuras de estilo e metodologias, e não no conteúdo dos contos).
Aproveitei para ir apontando os nomes das antologias e dos contos mencionados, para leituras futuras. Talvez, depois de os ler, faça sentido voltar a fazer uma leitura desta obra. Entretanto, não teria descoberto estes títulos sem ter lido o Sobre o Conto de Fadas, pelo que houve bom proveito!
Letto durante un periodo in cui mi sono interessato alla struttura e interpretazione delle fiabe. Una raccolta di saggi e interventi molto interessanti e lucidi, in linea con la capacità di analisi e di affabulazione del miglior Calvino. Consigliato solo a chi vuole approfondire questa specifica forma narrativa.