No final do verão de 1990, Mar, com apenas seis anos, é enviada para o Romeirão, um internato Católico no Alentejo onde fica até aos 15 anos. Cresce no meio de regras e privações, castigos e fome, mas rodeada e protegida pela irmandade das outras raparigas, principalmente Anita e Amália, mas também de Eduardo, um dos rapazes da vila, com quem vai criar uma relação inesperada e viver as primeiras descobertas de amor.
Anos depois, ainda a lidar com o trauma do passado, com as drogas, a depressão e a solidão, é ao lado de Isabel, Alice e Luísa que aprende a viver uma nova vida sóbria e em paz.
Quando reencontra Eduardo, nenhum consegue resistir à ligação magnética, mas com ele voltam feridas antigas que a assombram desde a noite em fugiu do Romeirão
A pequena Mar que se transformou na Marisa das Argolas, a "vilã” de Raparigas como nós, regressa nesta ousada crítica ao patriarcado português.
Escrita com sagacidade e emoção, A devastação explora o poder das amizades femininas e captura as complexidades humanas e familiares, a eletricidade do primeiro amor e os segredos que nos enjaulam em locais amaldiçoados dentro de nós
Helena Magalhães nasceu em 1985 em Lisboa e tem-se dedicado ao jornalismo e à escrita. Começou pela imprensa feminina, passou para o digital e encontrou o seu lugar na literatura. Em 2017 lançou o seu primeiro livro, Diz-lhe Que Não, uma sátira às relações modernas que se tornou um fenómeno nas redes sociais. O seu objetivo de vida? Colocar a geração digital a ler mais. Criou um Book Gang no Instagram para incentivar os portugueses a voltarem a apaixonar-se pelos livros. Freelancer e storyteller, colabora para alguns jornais, cria histórias para marcas e empresas e escreve no seu blogue.
Não consigo sequer enumerar todas as formas em como vocês, leitores, mudaram a minha vida ao me permitirem escrever e continuar a desbravar no papel este mundo mágico das histórias.
A Helena adolescente que escrevia no seu quarto e passava os dias a ler jamais imaginou que um dia estaria aqui. A Devastação é uma crítica ao patriarcado português e fala sobre os danos que uma cultura misógina deixa numa leque de personagens femininas ao longo dos anos. Mas é também uma ode à força indomável das mulheres e a todas aquelas que, por traumas do passado, vivem enjauladas na sua devastação com medo de voar. Não importa as feridas que nos façam, novas asas irão crescer no lugar daquelas que nos foram arrancadas.
Obrigada por fazerem parte do meu caminho. Espero, de alguma forma, retribuir-vos com as minhas histórias.
“(…) olha para o mar, para as ondas, para o céu, para a areia, para as pessoas à tua volta, a vida pode ter momentos tristes, mas nunca deixa de nos surpreender. E Marisa compreendeu, por fim, que a vida às vezes devolvia para lhe perdoarmos o facto de nos ter roubado tanto. Chegara o momento. de se despedir dela e de a deixar partir.”
quando recebi este livro, ele vinha numa caixinha, rodeado de carinho e detalhes, com ele vinha um “aviso” que dizia “este livro pode provocar devastação”, isso aliado ao seu título já seria de esperar que este livro me ia destruir o coração…
ainda assim entrei nesta história de coração aberto, sem expectativas mas com uma curiosidade de descobrir cada segredo que ia encontrar. Mas nada me preparou para esta história, uma história tão tão tão bem escrita, que nos conta a vida da Mar(isa), a Marisa das argolas que tínhamos conhecido no livro “Raparigas como nós”.
Mar uma menina inocente que fica sozinha na vida, entregue a si mesma e “presa” num internato católico no Alentejo, essa prisão que inicialmente se torna o mais próximo que ela encontra de uma família, onde encontra uma irmã de coração, Anita, acaba por se tornar o sítio que a destrói, que a destrói até não sobrar nada de Mar.
é essa história que vamos acompanhando no livro, são as peças do puzzle que vamos encontrando e que nos revelam o segredo final, o segredo que nos destrói quase tanto como destruiu a Mar.
mas não de enganem porque esta história não é só sobre dor ou vingança, esta é a história de como a Mar transformou os seus demónios e se reinventou, se perdoou, perdoou os outros e seguiu em frente.
para mim esta história foi também uma lição, e ajudou-me a refletir no quão depressa nós julgamos os outros e as suas ações isoladas sem entendermos o seu fundo, a sua história, a sua vida. Foi isso que fiz no outro livro com a Mar, e ao ler a sua história sinto que levei com um balde de água fria.
Uma review há muito devida porque tive o privilégio de poder ler este livro ainda antes de ser publicado e assim acompanhar o seu surgimento.
Sou fã da Helena e sempre me encantou a forma como escreve e desenvolve uma trama que nos enrola de uma maneira que passamos páginas à velocidade da luz.
Esta história conseguiu um lugar especial no meu coração porque ele acelera logo que percebe que vai reencontrar personagens. Em A Devastação, reencontramos a Marisa do Raparigas Como Nós... e como se não bastasse "reencontrá-la" temos uma vilã que se torna personagem principal e por quem nos apaixonamos logo nos primeiros capítulos.
A segunda melhor coisa deste livro: a amizade. Ela é o tema central, o que move as personagens e o que nos comove. Questionei-me muitas vezes sobre o que faria se estivesse no lugar, na dor, no ódio que passa naquelas páginas... e como reagiria, se teria em mim a mesma nobreza.
Tal como é o dever das grandes histórias, também esta nos provoca e não nos deixa esquecê-la depois de a terminarmos.
encontrei um grande crescimento e evolução da autora Helena Magalhães. ainda que o início, para mim, não tenha sido fácil de entrar, com capítulos grandes e com diálogos dentro da própria narração, prometo que vale muito a pena o tempo dedicado a conhecer este livro.
achei genial a forma como a Helena conseguiu formar uma linha temporal de presente e futuro durante a narrativa, ou seja, estar a ler o aqui e o agora, mas incluir pequenos vislumbres do futuro daquela personagem.
foi-me difícil, inicialmente, desconstruir a personagem da Mar, para mim, ainda a residir no RCN, e agora aqui ter completo destaque, assim como o tom mais jovial do RCN e agora o tom mais maduro do Devastação.
mas não durou muito para ficar rendida à Mar e ao Eduardo e à Anita. realmente nunca podemos imaginar o que está por trás das máscaras que são usadas socialmente e diariamente, para esconder tantos medos e traumas e desilusões e perdas e porquês e divagações.
a Mar representa todas as pessoas que têm de sobreviver, que resistem ao abandono, que vivem terrores inimagináveis, que encontram o amor e a amizade e que o estimam dando a sua vida, dando o que de mais precioso têm. a Anita representa todas as pessoas incompreendidas pelos outros, que descobrem-se diferentes e que não têm quem as ajude a navegar, pelo contrário. as duas tornam-se inseparáveis assim que se conhecem e Mar sente um instinto de proteção inabalável por Anita.
para quem não leu 𝓇𝒶𝓅𝒶𝓇𝒾𝑔𝒶𝓈, deixo só a advertência de que 𝒹𝑒𝓋𝒶𝓈𝓉𝒶çã𝑜 tem algumas referências ao 𝓇𝒶𝓅𝒶𝓇𝒾𝑔𝒶𝓈 e começa com o maior spoiler do mesmo.
bravo Helena, muitos parabéns! 👏🏻 desejo o maior sucesso em tudo o que fizeres na tua vida e sabe que terás sempre o apoio desta amiga literária. obrigada, do fundo do coração, por ter sido uma das primeiras pessoas a ler este teu novo livro. é inevitável ler certas partes e não pensar em ti, estás ali presente, as tuas causas, as tuas lutas.
ainda que sejamos devastadas, que cresçam novas asas, no lugar das que foram cortadas. 💜
p.s: anda daí Mar, eu dou-te a mão, quero ser tua amiga.
Ai, este livro foi tão mau que nem sei como começar esta review.
Já li o “Rapariga como Nós” e o “Ferozes” e, depois de duas experiências medianas, no que toca à escrita da Helena, pensei em dar-lhe a terceira oportunidade.
Mas, foi a última. A “Devastação” é uma história demasiado previsível. Pelo menos para mim foi. Consegui adivinhar o final muito antes de lá chegar e isso, para mim, é um grande motivo para ser uma experiência de leitura menos boa.
Depois senti que estava a ler o “Memorial do Convento”. Este livro está bem recheado com uma escrita medíocre, demasiado complexa, sem pontuação, com parágrafos gigantes, capítulos intermináveis e frases tão longas que me vi obrigado a ler e reler até as perceber.
Como Copywriter, aprendi a máxima “escreve como falas”. E, essa máxima, também pode ser aplicável aos livros. Estamos em 2023, acho que ninguém quer ler frases com 20 linhas, cheias de palavrões enfiados forçadamente, para dar um ar erudito à autora. Isto, para não falar das bengalas que a autora utiliza vezes sem conta. Uma delas é “Ademais”. A outra é “f*der”. Não sei se foi propositado ou não, mas não há mais sinónimos?
Para piorar, a história é uma mixórdia de temáticas. Literalmente. A autora fala de 57 temas em trezentas e poucas páginas e não aprofunda nenhum: os abusos (álcool, sexo, drogas), o patriarcado, a insistência com a literatura no feminino, a falta de seriedade da igreja, o abandono, a sexualidade, o luto e o suicidio. Parece que pensou “Não vou escrever mais nenhum livro e, por isso, vou enfiar para aqui tudo o que conseguir e dar 4 linhas de destaque a cada um destes temas.”
A ação é demasiado lenta. Tão lenta. Engonha tal e qual uma novela da TVI. Sem acrescentar nada. Está cheio de parágrafos com informações que não interessam ao menino Jesus para, no fim, resolver escrever um final às três pancadas em 20 ou 30 páginas.
A única coisa bem conseguida, para mim, foi a alternância temporal entre cada capítulo. Nota-se que a história foi estruturada de forma a que a ação se desenrole de forma natural e correta.
Para finalizar, a cereja no topo do bolo, são alguns momentos de feminismo tóxico a que a Helena já nos tem habituado nos últimos anos. Vou deixar aqui duas:
1. “Duas décadas volvidas, ao abraçar o cargo de Ministra da Defesa, daria uma grande entrevista à revista em questão e de pé por trás do vidro, os braços cruzados no peito, os botões da camisa cara prestes a detonar, um Morgado praticamente careca e com uma barriga proeminente iria acenar para uma Luísa no auge da sua carreira e da sua beleza. E o universo, iria, afinal, equilibrar-se um pouquinho mais.”
Será que é mesmo preciso usar a beleza da personagem para a elevar? Isto não é um bocado anti-feminista? Como sempre, vemos a Helena a promover a superiorização de um género em detrimento de outro. O feminismo, a meu ver, promove a igualdade entre géneros. Queremos, incluindo eu, direitos iguais para homens e mulheres. Porque somos todos iguais. Não há géneros superiores. Por que não destacar os feitos profissionais da personagem em vez do aspeto físico de ambas as personagens?
2. “Depois de anos a viver rodeada de mulheres, Amália fora trabalhar com homens, e para homens, como sempre desejara (porque sabia que seria menos cansativo, menos dramas, menos lágrimas, menos batalhas emocionais) só para, agora, perceber que detestava tudo aquilo, estar rodeada de homens que a tratavam como se fosse estúpida só por não ter um badalo pendurado a abanar pelo corredor, logo ela que aprendera com as raparigas mais velhas a fazer o mesmo, era só abanar o corpo e dlim dlão, as portas abriam-se.”
Primeiro, esta frase está tão mal escrita, que até me envergonha. E, depois, não teria sido mais interessante dar outro ângulo à história? Se calhar, em vez da ladainha do costume do “vamos criticar, atacar e menosprezar os homens”, a autora podia ter optado por mostrar como Amália era ouvida pelos seus pares (que, por acaso, eram homens). A crítica seria feita de forma mais subtil e interessante sem as acusações cansadas que a autora usa.
Posto isto, não recomendo, de todo, este livro. Foi uma perda de tempo. Aliás, podia chamar-se “A Frustração”, de tão aborrecido que foi lê-lo.
Confesso que não sei bem como classificar este livro. Sendo o primeiro livro que leio desta autora, não tinha qualquer contexto sobre as personagens do livro nem sobre a escrita da Helena. Talvez por isso, custou-me muito entrar no livro e tive de insistir para o continuar a ler. A escrita, a meu ver, muitas vezes complexa demais sem necessidade e com capítulos muito longos, aliada à falta de empatia inicial para com as personagens, fez com que muitas vezes não me apetecesse pegar nele. No entanto, não sei se foi porque o livro efetivamente melhorou ou se eu me habituei à escrita, mas acabei por gostar do último terço do livro. Meia estrela a mais pelas mensagens importantes que a autora fez questão de passar com este livro.
Depois de Raparigas como Nós, a Marisa das Argolas surge-nos neste livro como protagonista. Com uma infância muito difícil, que deixa marcas, traumas e memórias, é ao lado da nossa querida Isabel* (aqui com um papel secundário) e da Alice que tenta sobreviver ao passado e viver uma nova vida mais calma e tranquila. Nós nunca sabemos de facto o quão difícil é a vida do próximo, é sempre muito mais fácil desprezar e desgostar, e quantas de nós julgaram a Marisa das Argolas depois de lermos o Raparigas Como Nós?!
Asseguro-vos de que vale mesmo a pena conhecer a fundo a vida da Marisa, a vida triste, difícil e sofrida da querida Marisa, sempre fechada, insegura, desconfiada, cheia de barreiras, desamparada, desnorteada e frágil.
Sobre solidão, silêncio, vergonha, culpa, sobre vontade de morrer, raiva, agonia, sobre DEVASTAÇÃO. Sobre amizade, sobre amigas verdadeiras. Sobre medo, sobre escolhas, sobre escolher ser feliz, sobre coincidências. Sobre amor, sobre paciência, aceitação e compreensão. E também sobre perdão, sobre seguir em frente, livre e leve.
Pode parecer fácil dizer, eu sei, mas a felicidade é tão simples, é preciso tão pouco para sermos felizes. É muito importante não guardar, falar, partilhar, ultrapassar (tentar!)
Está verdadeiramente bem escrito, é de uma evolução gigante da minha querida @helenaimagalhaes É uma escrita muito diferente dos livros anteriores, mais madura, mais complexa e mais sentida.
Adorei o livro! Adorei a Marisa ❤️ Terminei o livro verdadeiramente devastada. Não deixa de ser uma lição de vida para todos, a história da querida Marisa.
*A Isabel é a protagonista do livro 'Raparigas como Nós' também da Helena Magalhães. Os dois livros podem perfeitamente ser lidos em separado, são histórias diferentes apesar de partilharem algumas das personagens.
Lindo, lindo, lindo. Saber que este livro maravilhoso foi escrito por uma autora portuguesa deixa-me muito feliz. Foi tanta a emoção ao ler sobre a vida da Mãe e das outras órfãs. Recomendo muito.
Adorei a história, adorei o balanço entre as linhas temporais, adorei saber mais sobre a "Marisa das argolas". Há uma grande evolução na escrita da Helena e na sua estrutura literária.
Tive o enorme privilégio de ser das primeiras pessoas a ler o novo livro da Helena Magalhães! Primeiro de tudo, há que salientar que está super bem escrito, frases bem estruturadas, bons diálogos como tanto aprecio. Depois, temos um livro super bem estruturado, que nos proporciona uma leitura bastante fluída apesar de, ter sentido necessidade de parar duas vezes para recuperar do que acabara de ler. 🥹🥹 A história deste livro centra-se maioritariamente na vida (e que vida), da personagem Marisa do Rapariga como Nós, em dois períodos distintos da vida dela, a conturbada infância e a entrada na idade adulta. Não têm de ter lido o Raparigas para perceber a história mas se leram é muito giro reencontrar a Isabel, o Zeca, o Afonso e a Alice. É um livro sobre amor, perdão, aceitação, capacidade de reinvenção, escolhas diretas e indiretas que conduzem a um determinado lugar e sobretudo sobre amizade. E que bonitas e poderosas são as amizades nele descritas! 🥹
«Apesar destes desafios, foi um prazer reencontrar as personagens de “Raparigas Como Nós”. A revisita a essas histórias anteriores trouxe uma camada adicional à narrativa e permitiu-me reviver o universo já conhecido. Permitiu conhecer a pessoa por detrás da personagem da Marisa das Argolas. Mostra que as pessoas são muito mais do que aquilo que se vê na primeira camada, a Marisa é fruto daquilo que viveu na infância.»
Este livro fala da Mar. E fala da Marisa. A mesma pessoa, mas ao mesmo tempo, pessoas diferentes. Uma Mar que vê os seus pais como um pontinho verde no mapa. Uma Marisa devastada. Este livro fala de sobrevivência. Fala de amizade. Fala de amor. Fala de maldade. Fala de pessoas reais com problemas reais. Fala de proteção. Fala de abuso e fala de violência. Fala de abandono. Encontros e reencontros. Fala de Anita, incompreendida e com o peso de uma culpa que a transcende. Fala de Eduardo e de um amor de vida. Fala de máscaras para sobreviver neste mundo de cão. Fala de não podermos contar com ninguém para sobreviver! Fala de termos de fazer sacrifícios para termos o que comer. Ou o que consumir. Fala de nos darem a mão no momento em que precisamos!
Infelizmente não conhecia a escrita da Helena Magalhães. O que eu andava a perder! A Helena brinca com o tempo e brinca com as palavras. Faz-nos sentir o que as personagens estão a sentir! Faz-nos rir e faz-nos pensar. A Helena dedica tanto de si em tudo o que faz. Não só na escrita como também como faz chegar as coisas aos seus leitores.
Como tudo na vida, não é o livro para toda a gente. Confesso que me custou entrar na história. Capítulos consideravelmente longos e sem diálogos identificados. A maneira como a Helena brinca com as linhas temporais ‘obriga-nos’ a estar com atenção, temos de entrar na história!
Este livro devastou-me! Espero que vos devaste a vocês também.
Se Raparigas Como Nós foi um repescar das emoções da nossa adolescência e início da idade adulta, A Devastação leva-nos da infância ao momento em que percebemos que, foda-se, somos adultos! A escrita de Helena eleva-se a um nível grandioso, como se fosse um clássico, os parágrafos longos e os travessões desaparecidos, mas sem ser pretensiosa e aborrecida como alguns dos “grandes”. Uma voz feminina que retrata bem como é ser millennial e capaz de nos fazer suspirar com o drama da história. Um passo à frente do RcN, aguardo a sua próxima obra!
Comecei este livro sem grandes expectativas, quando percebi que a personagem era uma das personagens de um livro anterior… e eu nunca tinha lido nada da Helena Magalhães. Mas dei uma oportunidade, e ainda bem, porque acredito que até possa ser um complemento do outro, mas pode ler-se perfeitamente sem conhecimento prévio do livro anterior. Em capítulos que alternam entre duas linhas de tempo, de uma forma bem estruturada, a autora narra a história de Mar/Marisa. Mar, uma menina que foi abandonada pelos pais, que acabou num colégio interno e que a vida transformou em Marisa. Esta é uma história de abandono parental, de crescimento forçado, de perdas, mas também de amizades verdadeiras, de companheirismo e primeiros amores. Todos estes ingredientes se misturam e transformam Mar, a menina doce e sonhadora, em Marisa, a rapariga sofredora, presa a um passado e a um trauma que a mudou para sempre. É uma história que mostra que os traumas nos marcam de forma indelével, que a forma como vivemos a nossa infância terá repercussões no resto da vida. Acima de tudo, é uma história sobre a forma como queremos lidar com o passado “Sou o pássaro ou será que fui sempre eu a gaiola?“
Do ponto de vista da escrita, gostei da forma como a autora estrutura a narrativa, com uma escrita clara, objetiva e cuidada. Confesso que os diálogos dentro da narração, sem marcação, me fizeram confusão no início, mas depois habituei-me. A construção da personagem Mar/Marisa pareceu-me muito pensada e muito bem conseguida. Aspetos de que gostei menos: pareceu-me um pouco forçado o relato do encontro, anos depois, com Eduardo, o amor do passado, ainda que faça todo o sentido na história… além disto, li algumas situações que me pareceram quase “encaixadas” propositadamente, sem terem grande relevância na narrativa. Mas é um livro que recomendo!
Estava muito entusiasmada para este livro por ser de uma autora portuguesa que sigo, mas simplesmente não foi um livro para mim. O único motivo foi o facto de o livro ser demasiado descritivo para mim, com parágrafos muito grandes e pouquíssimo ou nenhum diálogo. :(
"Marisa levantou-se e olhou em volta, todas aquelas campas e lápides tristes, histórias inacabadas, vidas interrompidas, amores perdidos, famílias separadas. A única coisa que todos podíamos fazer, para continuar a viver dia após dia, era deixá-los partir, pior do que o medo da morte era nem sequer viver a vida." página 337
Helena Magalhães escreve de uma forma muito única, colocando-nos no meio do mundo que criou entre as suas frases compridas que refletem exatamente como pensamos, sem pausas excessivas ou metáforas complexas. Tendo uma escrita assim tão natural, é de esperar que o livro nos cative e que se torne difícil de pausar, mesmo quando se torna difícil de ler devido à complexidade da história. É um excelente livro sobre uma história triste, sobre uma rapariga de ninguém que aprende a viver de novo e que encontra a sua própria família nos amigos que estiveram sempre com ela.
"A única rebelião que possuímos é a nossa paz" página 314
4,5* Uma leitura dura, um verdadeiro murro no estômago. 1° livro que leio da autora e adorei mas já me disseram que Ferozes é melhor. Ficará para outra altura, agora preciso um livro mais soft. Helena Magalhães faz com este livro uma crítica ao patriarcado e ao peso que este tem na sociedade e às instituições religiosas promíscuas que tem sido frequentemente e infelizmente, notícia. Uma leitura que nos fala de abandono, de fome, maus tratos, drogas, abusos sexuais, pedofilia, suicido, crime e corrupção.
Obrigada Helena por este livro, que me fez a mim e a tantos outros conhecer finalmente a verdadeira Marisa. Somos tão rápidos a julgar os outros, mas todos nós temos um passado, somos feitos daquilo que nos aconteceu, e a Marisa não é excepção. Que livro maravilhoso, que bom conhecer a história de Marisa e perceber que depois de tudo ela finalmente conseguiu encontrar o seu caminho e ser feliz. “Cortar com essa antiga vida, ou cortar com a Marisa das argolas, fora provavelmente a dádiva que Simão lhe deixara, e ela via-o agora tão claramente que até ardia”.
este livro pode parecer difícil por não ter os travessões etc.. mas não deixam isso vos impensa de ler esta linda história. agora (não sei se fui a única mas fiquei com vontade de ser amiga destas raparigas) .