A fuga instintiva da solidão por meio de rituais impostos pela sociedade e assumidos pelos homens de forma inconsciente, é o ponto de convergência destes trinta contos reunidos pelo autor curitibano em seu segundo livro.
Dalton Jérson Trevisan was a Brazilian author of short stories. He was described as an "acclaimed short-story chronicler of lower-class mores and popular dramas." Trevisan won the 2012 Prémio Camões, the leading Portuguese-language author prize, valued at €100,000.
Brazilian short story writer Dalton Trevison, born 1925
Cemitério de Elefantes (The Elephant's Graveyard) is yet another short story collection where author Dalton Trevisan examines the nasty side of life in and around his home turf of Curitiba, Brazil, a city six hours drive south from São Paulo.
Here's my compressed retelling of two of the many tales:
HOG-KILLING DAY A humdinger featuring a husband and wife at war. This time it's seventy-year-old Onofre, a man completely without morals, a man who would “spend every day drunk and after drinking he would settle down to beating his wife.” His wife, Sofia, flees yet again to her daughter’s house. Onofre sends word he needs her to come home to take care of a hog he has decided to butcher.
Sofia does come back home (a tad gullible, I reckon). Between taking swigs from his bottle, Onofre starts beating her with his bare fists. Onofre then decides to inflict serious damage: he grabs his whip. Sofia runs outside and finally realizes the hog Onofre decided to butcher is none other than herself.
Since Onofre can’t find his wife inside the house at the moment, he takes a break, walks outside and sits on a bench in the yard. He belts down a few more swigs from his bottle, stands up and starts cracking his whip again.
At this point daughter Natalia arrives on the scene. “What’s going on, Papa?” Onofre replies, “That old woman stole my shotgun and ran away.” At this juncture, Sofia rises up from behind the garden wall. “I didn’t run away. Here I am."
Onofre stomps back and forth across the yard cracking his whip until, suddenly, there's a blast from the shotgun. The old man falls to the ground and calls out: “Help me, old woman. I’m dying. I’ve been shot.”
Dalton Trevisan concludes his story thusly: "His eyes bulging, he stretched out on the ground. He asked for a drink of water. Sofia brought the jug. He was silent, the bottle in one hand and the whip in the other, quite still, so that he heard the chirping of the sparrows as they predicted rain."
THE RIVERBANK One Saturday afternoon Abílio parks his wagon by the riverbank. A houseraft is on the other side of the narrow river. Abílio jumps down from the seat where his two sons remain sitting. Abílio leans against a wagon wheel and rolls a cigarette. In the distance Abílio recognizes his friend Nicolau in his houseraft and shouts out, "How are things, old friend?" Nicolau says "fine" and when Nicolau gets on land, tightens his face and asks for the settlement of a bill. Abílio replies, "I've owed you a lot more before," and offers Nicolau all the money he has. Nicolau refuses since three full days of work are owed. Abílio tells him, "I never broke an obligation and I've always been straight." Nicolau answers, "But this time you didn't come through." Abílio takes all the coins from his pocket, stretches out his hand and repeats he's giving him all the money he has. But Nicolau doesn't accept the money; it is not enough. Pale with fury, Abílio shouts, "You're a regular Polack!" Nicolau, the stronger man, grabs Abílio by the shirt, pulls him over to the wagon. Abílio's sons shriek. Abílio pulls his knife from his belt, puts it into Nicolau's chest and says, "You're a dead man." Nicolau, bloody and weak, flees. Nicolau runs, stumbling, pursued by his friend who catches up to him and stabs him again, this time in the arm. Nicolau stumbles on and catches stab number three in front of his own houseraft. Nicolau's wife appears at the window and screams, "My God, a man's getting knifed!" Hands clutching the wall, Nicolau begs, "Abílio, don't kill me just like that." Stab number four catches Nicolau in the back. Leaning on the wall, Nicolau drags himself to the gate. Without the strength to go up the steps to the door, Nicolau falls in a pool of blood. Abílio wipes the knife on a board before putting it away. He goes to the riverbank and leaps into Nicolau's houseraft. Crossing the river, Abílio stops rowing for an instant, cups his hands and shouts to Nicolau to take his two sons and wagon back home.
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Note: For readers of English, these two and other stories from The Elephant's Graveyard can be found in Dalton Trevison's The Vampire of Curitiba published by Alfred Knoff and translated from the Portuguese by the great Gregory Rabassa.
Esta manhã acordei e pensei que respirava e o corpo não me doía (a alma um pouco) que a Estrela não se apagou e o Planeta não se desintegrou
E pensei em Dalton… Há quatro anos, quando era “Vampiro”, gostei muito dele. Agora, no “Cemitério”, não consigo querer-lhe. Muitos contos - 30 em 100 páginas – insípidos e monótonos. E eu necessito de magia e emoção; não me basta o corpo sereno, o Sol a brilhar, a Terra em movimento…
Cemitério de Elefantes - one of the short stories that gave the name to the book's title
The characters in the story "Elephant Cemetery" show drunks living on the banks of the river, who are content with leftovers from the market, living in the mangroves with scavengers, without complaining, sleeping under the roots. They are in the mud, literally and metaphorically, and they will never get out. There they live, they will die and will buried by their drunken companions; or not, they may stay and, more likely, be half-buried in the mud of the mangrove.
Como a outros portugueses, tenho a certeza, como aos japoneses em relação ao judo, por exemplo, guardei durante algum tempo a ilusão de que por termos inventado a língua (vá, eu sei que a língua nem se inventa nem tem, propriamente, inventores, mas vocês percebem o que eu quero dizer) tivéssemos um certo avanço face aos locais de disseminação. Autores como Guimarães Rosa e Raduan Nassar vieram trazer-me a humildadezinha necessária e o espanto alegre por ver a transformação de festa e à-vontade que fizeram com a língua onde cresci. O meu Brasil é esse, das invenções vocabulares, desse vazar da rua para dentro da literatura, do fluxo da cosnciência a quebrar a gramática. O meu Brasil é, em parte, o de Trevisan nos diálogos, na ausência de pó e de literatice e vénias protocolares, na economia de meios, num certo acerto entre palavra e situação. Não é porém o desse espalhafato violência-sexo, que rouba honestidade em troca de efeito e mascara em tom comercial o que podia ser mergulho mais fundo na experiência humana. Este Brasil de tripas ao sol e perversidade amestrada, que é também o de Trevisan, Sant'Anna, Rubem da Fonseca, não é bem o que me interessa. E uma nota final: o barato às vezes sai caro e não são tão poucas as ocasiões em que a redução de referências, noutros momentos tão eficaz, quebra a compreensão do texto.
Atenção para o que Dalton escreve, mas principalmente para o que está oculto na supressão de um verbo, na composição de um silêncio. Os contos são curtos e carregados de imagens, sentidos e cotidianos marginalizados, muitas vezes com maior assimilação hoje do que no tempo em que a obra foi escrita.
Estranho. Pequenos contos de 2, 3 ou 4 páginas. Linguagem sintética, sem verbos muitas vezes. Como diz o próprio autor, quer escrever prosa como os japoneses escrevem haikais. E resultado não é entusiasmante. Talvez o conjunto da obra justifique o prémio Camões porque, por esta amostra, não sei não...
não rolou, há aqui alguns contos dos quais gosto muito. por mais que não ache que todo livro de contos precise ser pensado como tal, aqui faltou um fio que conduzisse a tudo, talvez a concisão fosse esse fio, mas ao meu ver a concisão é a principal falha de muitos contos. o que gostei me mostra que há algo que eu esperar encontrar na literatura do Dalton Trevisan.
Gostei bastanta escrita do autor, no sentido de inovação, estética, concisão. é uma escrita muito diferente e me deu vontade de conhecer mais da obra dele, porém os contos curtos demais e muitos que a história não ficou comigo, em sua maioria imemoráveis.
Dalton Trevisan, mestre da narrativa curta apresenta em O Cemitério de Elefantes (1964) uma coletânea de contos que explora os dramas cotidianos com uma intensidade visceral em comparação asua linguagem seca, precisa e curta. Aqui Trevisan desenha um retrato cru e melancólico das relações humanas.
No universo de Dalton Trevisan, o grotesco é cotidiano, o amor é uma doença de pele, e o sexo, quase sempre, uma violência mal disfarçada. Cemitério de Elefantes, lançado em 2003, reúne contos curtos que escavam os bastidores da vida com bisturi e nenhuma anestesia. Um livro silencioso, feroz e nu. Um cemitério não só de elefantes, mas de ilusões.
Aqui, não há espaço para heroísmo. Há velhos solitários, adolescentes grávidas, donas de casa amargas e bêbados de bar. Todos à deriva, presos em suas próprias armadilhas. Se há uma linha condutora, é a certeza de que o ridículo ronda cada gesto, cada lembrança, cada desejo mal resolvido. Dalton não escreve para agradar. Escreve para ferir e, curiosamente, é nessa ferida que mora sua beleza.
Quase todos os contos se passam em Curitiba, mas não uma Curitiba reconhecível em cartões-postais. A cidade aqui é sombra, é cortina de pensão, é trilho de bonde, é hospital úmido. É mais psíquica do que geográfica. Ela abriga gente que não se encaixa, que não brilha, que não vence.
Essa cidade serve de espelho para os personagens: todos parecem encurralados, presos numa rotina opaca e sem horizontes. O que Trevisan constrói não é uma crítica social explícita, mas um retrato silencioso da decadência moral e afetiva de um país que esfarela por dentro.
Apesar da força e originalidade de sua voz, Cemitério de Elefantes também revela os limites do universo trevisaniano. Os temas se repetem: velhice, desejo, traição, morte. Os cenários também. E, se por um lado isso constrói coerência estética, por outro pode gerar certa fadiga. A leitura em sequência pode parecer circular, com contos que ecoam uns nos outros sem oferecer grandes variações.
Tenho andado pensando se ainda gosto de contos, porque não me encantou aqui as histórias. São boas, só não entraram em mim, mas acho que é exatamente o que o autor quer, perturbar com a precisão reta de suas histórias realmente perturbadoras.
Cemitério de Elefantes é um livro curto, mas denso. Incômodo, mas necessário. Um espelho torto da nossa humanidade mais crua, aquela que vive longe dos discursos e perto dos instintos. Ao fim da leitura, resta a sensação de ter passado por um corredor escuro onde cada porta revela uma fração daquilo que preferimos esconder.
Cemitério de Elefantes de Dalton Trevisan. São Paulo: Editora Record, 2024. 112 p. Leitura de Janeiro 2025.
Vi a sinopse alguns anos atrás e curti demais, por isso logo corri atrás e comprei o livro para mim, sendo ele fininho e barato. Só que por causa de preguiça e afins, acabei deixando para ler agora.
O livro tem uma cara muito regional e os contos, mesmo sem ligação alguma, remetem a fatos de um triste cotidiano. Acho que cada conto poderia aparecer nesses programas da tarde que só falam de crimes. Mesmo os contos não retratando apenas crimes, sempre tem uma áurea pesada que, de certa forma, não gostei.
Em cada página, vemos escrito a violência contra a mulher, hipocrisia, problemas com bebida, desejos nunca realizados, ciúme, choque entre gerações e outros.
Devo dizer que mesmo não se tornando um dos meus favoritos, o autor foi muito corajoso em mostrar tanta realidade de forma nua e crua. Não há final feliz ou uma forma melhor de ser mostrado. É a verdade sem máscara, sem romantização. Não me arrependo de ler esse livro, pois abre um pouco os olhos e sai daquele grupo de livros que sempre fecham seus olhos e te desligam do mundo.
Acho que esse contos não vieram para te fazer uma pessoa melhor ou fazer ficar triste. É mais um retrato do antigo/novo cotidiano. Coisas que acontecem e aconteceram e ninguém comenta. Aquelas coisas que temos vergonha de ter visto ou ouvido.
Como já disse, não me arrependo de ter lido, mas não leria de novo. Nem recomendo para adolescentes. Acredito que quem deve ler esse livro deve ter uma mente já amadurecida, para poder entender o que o autor quer passar (teve alguns contos que confesso, até eu fiquei meio interrogativa). Outra coisa: esses contos devem ser degustados. Você não pode tentar passar os olhos e achar que não entendeu por que a leitura é sem noção. É um livro para ser vivenciado e sentido.
Esta obra traz contos passados nas ruas de Curitiba, por onde andam, ou se arrastam, os elefantes do mercado de peixe, Dinorá, a moça do prazer, a gorda Carlota e sua filha Lili, Dorinha fraca do coração.
Excelentes contos, inquietantes. Infelizmente, apesar de ter sido galardoado com o Prémio Camões 2012, Dalton Trevisan só tem este livro editado em Portugal. Merecia mais.