O romance português atinge, com «Xerazade e Os Outros», de Fernanda Botelho, um nível universal. Segurança, lucidez e inteligência assistem a uma análise rigorosa de caracteres e conflitos, que a autora leva a pontos quase nunca atingidos, entre nós. Os homens e as mulheres que atravessam o seu livro, gente oriunda de meios diversos, vivem a angústia e as dúvidas de uma tempo conturbado, cujas raízes se prendem ao após-guerra de 1945. Fernanda Botelho organiza, em palco geometricamente equilibrado, um «jogo» terrível e revelador: o das relações humanas, que desmonta e desmistifica, de modo impiedoso. Onde começa e acaba a verdade de cada pessoa? Onde começa e acaba a liberdade de cada pessoa? Quando é que o encontro acontece para lá do preconceito, já em plena simplicidade e autenticidade? A técnica novelística de Fernanda Botelho deve considerar-se, ainda, corajosamente revolucionária e originalíssima. Em mais do que um plano, Fernanda Botelho abre novos caminhos ao romance português.
Maria Fernanda Botelho nasceu no Porto no dia 1 de Dezembro de 1926 e faleceu em Lisboa no dia 11 de Dezembro de 2007. Estudou Filologia Clássica nas Universidades de Coimbra e Lisboa. Foi, nos anos 50, uma das fundadora da revista Távola Redonda. Tornou-se conhecida como poetisa primeiro e como romancista depois. Ganhou vários prémios, entre os quais o Prémio Camilo Castelo Branco, o Prémio da Crítica e o Prémio Eça de Queirós.
In the statement of macro-structural dimensions that is the "title of the book," the traits of the fictional construction itself that develops in the work come together; they reveal the author's desire for poetic reflection; somehow, it becomes repetitive; it would suffice to consider how, in this title, references to the processes of enunciation present in previous titles echo: A Gata e a Fábula, among others.