Um dos expoentes da nova geração de escritores brasileiros, Marcelino Freire se inspirou em clássicos brasileiros como Cruz e Sousa, Lima Barreto e Jorge de Lima para criar os contos deste livro. Apresentando uma releitura moderna do preconceito, CONTOS NEGREIROS esquadrinha, com ironia e bom humor, questões como o homossexualismo e o conflito de classes.
Tendo como inspiração autores clássicos brasileiros como Cruz e Sousa, Lima Barreto e Jorge de Lima, Marcelino faz uma releitura moderna do preconceito, mas não só mais o racial - nos quinze 'cantos' deste volume, ele também esquadrinha, com ironia e humor, questões como homossexualismo e conflito de classes.
Marcelino Freire nasceu em Sertânia, PE, em 1967. Viveu no Recife. Desde 1991 reside em São Paulo. É autor, entre outros, de Angu de Sangue (Ateliê Editorial), Amar É Crime (Edith), Rasif e Contos Negreiros (Record) - este último, vencedor do Prêmio Jabuti 2006, foi também publicado na Argentina em tradução feita por Lucía Tennina. É o criador e curador da Balada Literária, evento que acontece anualmente, desde 2006, no bairro paulistano da Vila Madalena. Nossos Ossos é seu primeiro romance.
Sem brincadeira nenhuma, eu não sei nem o que dizer disso aqui. Marcelino Freire é um dos melhores escritores brasileiros vivos, qualquer coisa que ele escreva corre o risco de ganhar prêmio e virar leitura obrigatória. Também é notável que a maior parte da obra de Marcelino esteja concentrada nos contos, e é importante dizer que Marcelino Freire escreve contos como se fosse o Bach compondo: beira ao sobrenatural. Aqui a escolha foi de escrever contos que, de alguma forma, se enquadrassem em um recorte racial. O domínio do oralismo, o ritmo das narrativas e a composição de personagens, tudo faz os contos de Marcelino parecerem músicas. O resultado é mais do que excelente, merece a atenção de qualquer leitor.
Não estou em condições emocionais e mentais para fazer uma resenha à altura do livro, mas deixo alguns comentários. Livrinho de se ler em uma sentada (eu literalmente comecei e terminei de ler no meu horário de almoço), mas que dá uma bofetada na cara atrás da outra. A cada conto (ou canto) eu quase caía da cadeira, fosse pela força das histórias, fosse pela poesia da forma literária, tão atual, tão bem modelada mas também tão tocante pela beleza, tão cativante pela sonoridade. É um livro pra se ler em uma hora e ficar voltando e relendo por uma vida inteira. É poesia porque você volta e relê e redescobre mil efeitos literários e outros significados surgem dali. Pequeno, mas gigante.
depois de uma deliciosa roda de conversa na fli-bh, adquiri um exemplar do próprio autor e devorei de uma vez só, apesar de cada conto ser um chacoalhão na minha branquitude privilegiada! uma vez que se ouve marcelino declamando seus contos, é impossível lê-los sem ouvir sua voz, até o sotaque tá lá, mas principalmente a emoção, o ritmo, aquela pulsação que te fisga e te deixa com a respiração suspensa lendo/ouvindo aqueles cantos desabafos até terminar estatelada no chão – ou sem chão. é pra ser assim mesmo, um incômodo inebriante. dica: cata aí no youtube entrevistas, depoimentos, marcelino lendo até bula de remédio (sim, tem!) e consuma sem moderação.
Contos Negreiros, de Marcelino Freire, é um livro que pulsa — e ouvir o autor lendo cada conto, com ritmo de canto e dor, transforma a experiência em algo ainda mais visceral. A oralidade é parte do corpo da obra, e no audiolivro isso ganha força: cada pausa, cada entonação, cada silêncio entre frases parece carregar séculos. A participação de Fabiana Cozza, que eu amo, só intensifica esse efeito: sua voz traz ancestralidade, lamento e beleza, como se os contos fossem também cantos de resistência.
Os textos são curtos, mas densos. Freire escreve com faca e afeto, misturando crítica social, ironia e poesia em doses precisas. São histórias que falam de racismo, desigualdade, violência, mas também de afeto, memória e sobrevivência. A linguagem é afiada, e o autor não alivia — ele provoca, incomoda, obriga a escuta.
Dei quatro estrelas porque, embora tenha gostado muito, alguns contos me atravessaram mais que outros. Há momentos em que a força do impacto se dilui um pouco, talvez por repetição de estrutura ou por uma quebra de ritmo. Mas isso não diminui o valor da obra: é um livro necessário, que grita e canta ao mesmo tempo, e que ganha uma camada extra de potência quando lido com o corpo e a voz do autor.
No fim, Contos Negreiros não é só leitura — é escuta, é presença, é memória viva. E ter lido acompanhando o audiolivro foi como estar em roda, ouvindo histórias que não podem mais ser caladas.
[audiolivro] Descobri o autor por acaso e fui direto assistir às várias entrevistas que ele deu.
Achei de uma brasilidade incrível, bem original, com uma escrita seca e cortada, mas também cheia de emoção. Esta foi a primeira obra que conheci dele. Certamente vou conhecer outras.
O audiolivro tem como narrador o próprio Marcelino que, aliás, é um mestre da oralidade. Aliando isto aos efeitos sonoros adicionados à narração, ficou perfeito!
Livro entrega o que promete: choque e repulsa, assim como é o proeconceito e desigualdade brasileira. O cotidiano que todos conhecemos, mas que pretendemos não ver. Marcelino Freire nos faz lembrar e sentir que, como brasileiros, não queremos. Por que a culpa é sempre do outro e nas palavras de Freire deixaram de ser invisíveis.
A experiência de ler CONTOS NEGREIROS é bem peculiar. O livro traz uma seleção de várias pequenas histórias diferentes entre si, porém todas com o tema sobre a vivência negra na nossa sociedade. Alguns dos capítulos tem o corpo como de um poema, outros de relato e alguns de memórias. Cada um deles aborda um tema especifico, mas que juntos, no final, se provam uma seleção de extremo valor.
As temáticas, na maioria das vezes, são fortes e abordam assuntos pertinentes e até mesmo tabus. Dentre os temas nós temos violência policial, preconceito racial, analfabetismo, pobreza, prostituição e também escravidão. De longe parece que esse último tema será o tópico principal em toda a leitura, mas o autor aqui traz a narrativa para os dias atuais, mostrando a herança dolorosa da escravidão e o ponto de vista dessas pessoas que sofreram tanto nesse período que é uma das maiores vergonhas da raça humana.
A leitura é ágil e com uma grande diversidade de vocabulário entre os seus diversos capítulos. Algumas palavras presentes no texto com certeza não são usadas com frequência no nosso dia-a-dia, mas dentro da leitura e em seu próprio contexto, seu uso é justificado e muito bem-vindo. Cada mini capitulo tem seu próprio início, meio e fim, e é difícil não se sentir tocado em um punhado deles. Os maiores tem menos de 10 páginas e os menores as vezes tem apenas duas, mas nada aqui é corrido, cada trama tem seu tempo respeitado e não parece que faltou algo. O livro tem menos de 130 páginas ao total, uma leitura extremamente rápida e enriquecedora, aquele tipo de texto que deveria fazer parte do currículo das escolas.
Como dito acima, os temas dos capítulos são os mais diversos e, acredite se quiser, o texto arruma até espaço para um pequeno humor ácido, muito bem inserido, exemplificando fortes críticas sociais. A vida da pessoa negra não se resume apenas à escravidão e o texto traz várias diversidade como o amor entre duas pessoas do mesmo sexo, sobre a paixão de criança por ídolos e também sobre sonhos. É uma narrativa que fala, sim, sobre coisas sérias como a violência, abuso sexual e discriminação, mas ainda sim, também sobre vidas diferentes, vivencias que a gente não vê com frequência em outros livros, filmes e séries. E são esses pequenos detalhes que deixam o livro mais completo e com mais substância.
CONTOS NEGREIROS não é um livro fácil de se ler, pois a realidade é dura, mas no meio dela, também existe vida, vida rica e diversa. A leitura é extremamente rápida e é possível ler ela todinha em poucas horas. Um livro que vale a pena ser descoberto.
Contos Negreiros é um livro pequeno e rápido de se ler.
No começo eu acreditava, julgando pela capa, que seriam contos relacionados ao período escravocrata. Na realidade, Contos negreiros é sobre as consequências da escravidão e da colonização nos dias atuais. Como o negro é visto pela sociedade e o que ele se torna por ter sido largado e esquecido na margem da sociedade. Exemplos: ser negro é sinônimo de ladrão, de ignorante, a solidão e a submissão de ser negro ou ser trocado, a valorização e endeusamento das pessoas brancas, o abuso das pessoas brancas.
É um ótimo livro para as pessoas perceberem os seus privilégios quando a cor da pele é o fator principal. Os contos são bem legais. Vale a pena conferir.
“A violência é o carrão passar em cima do pé da gente e fechar a janela de vidro fume e a gente nem ter a chance de ver a cara do palhaço de gravata para não perder a hora ele olha o tempo perdido no Rolex dourado.
Violência é a gente naquele sol e o cara dentro do ar-condicionado é uma duas três horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enviar o revólver na cara do cara plac.
Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chegar assim nervoso a ponto de bala cuspindo gritando que ele passe a carteira e passe o relógio enquanto as bocas buzinam desesperados.”
Do momento que peguei o livro, só consegui soltar ao finaliza-lo.
Sua escrita é bonita, poética, potente.
Cada conto traz uma urgência pelo próximo. Cada conto traz uma urgência pela realidade ali desenvolvida - seja um quê de respostas, euforia, revolta ou redenção. Contos que apesar de curtos contém uma imensidão de significados históricos, sociais e/ou morais. Sem arrodeios, Marcelino Freire escreve dando socos em nosso estômago.
As vezes fico pensando sobre o quão “traduzível” um livro brasileiro é, e esse aqui seria um dos impossíveis. Por temas, por expressões, por poesias, por referências e por cadências de leitura que parecem que são tão nossas que não é possível ninguém mais entender o que tá acontecendo.
Além disso, fiquei positivamente surpresa ao reconhecer o primeiro canto, Trabalhadores do Brasil, que foi interpretado na íntegra no álbum de Emicida, que traz muitos dos temas desse livro em forma de música.
Um chacoalhão a cada conto, às vezes até parava para respirar ao final do capítulo, de tão impactante e atual a mensagem por trás ou escancarada no texto. Fiz uma oficina com Marcelino Freire em 2020 e foi um encontro transformador para minha visão sobre literatura. A escrita de Marcelino é nua e crua, ao mesmo tempo que é cheia de nuances e duplos sentidos. A forma navega entre o conto e a poesia. Uma leitura rápida, instigante, provocativa, indispensável.
A prosa poética do Marcelino Freire retrata nesses micro-contos todo abandono e sofrimento dos excluídos do Brasil: negros, indígenas, homossexuais, travestis, crianças prostituídas... Um país que me mais de 500 anos sempre vê os mesmos vencedores sapeteando na cabeça dos mesmos vencidos.
apesar da fluidez com que a leitura ocorre devido a melodia, as rimas e o uso da oralidade, os contos tratam de temas muito pesados e densos, achei muito interessante a discussão de respeito e valor no conto Totonha mas o último conto Yamami achei que não ia conseguir terminar, eu sei que é uma crítica ao turismo sexual no brasil e a exploração infantil, mas ler as descrições foi muito difícil
Ouvi esta obra (no audible), porque a sobrinha do autor é uma grande amiga. O autor tem contos incômodos e bastante criativos, gosto que no final destaca a citação de Vinicius de Moraes, a poesia do Brasil é branca, mas seu coração é negro. Daquelas obras antiracistas escritas por brancos.
Reunião de contos que denunciam, com sutileza e profundidade, a estigmatização e o preconceito contra população preta, pobre e periférica no Brasil. Depois de tanto tempo, vez ou outra, encontro-me pensando em alguns deles.
Contos, cantos, mantos para se descobrir e imantar a alma de Pindorama, nas revoltas e nos batuques, Marcelino pega na mão e põe para rodar. Cada fragmento em um ritmo diferente, nessa cosmogonia bagunçada chamada Brasil. Ô sorte!
Leitura fluída e impactante. O livro retrata o cotidiano, o racismo e suas consequências. As situações que alguns fazem questão de não ver, esse livro faz sentir a flor da pele.
Que alegria descobrir Marcelino. Um brasileiro legítimo. Representante de um português que é nosso que é vivo. Textos que quem vive o Brasil. Só assim.