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A casa do Rio Vermelho

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O improviso, a sinceridade e o desprezo pelo tempo cronológico são elementos cruciais da escrita de Zélia Gattai. Não é fácil impor uma ordem ao mundo. Tudo o que resta ao escritor é sobrevoar as palavras, conservar-se aberto e disponível para as surpresas da vida e da linguagem.
Se escrever é lembrar, escrever é também aceitar a embriaguez das pequenas recordações. Nada melhor, nesse caso, do que narrar a história de uma casa. No bairro do Rio Vermelho, nos anos 1960, Zélia Gattai e Jorge Amado compraram uma bela casa, situada no topo de uma ladeira, que entraria para a história da literatura. Casa sempre pronta a acolher os amigos, a abrigar festas e a estimular o jogo das ideias.
Já na porta de entrada, talhada pelo artista baiano Calasans Neto, a figura sensual de Tereza Batista anuncia o acesso a um território regido pela alegria e pela invenção, que não se deixa abalar nem por um infarto de Jorge nem por uma difícil visita de despedida de Pablo Neruda. Casa que é aberta, com delicadeza e timidez, também para o leitor. "Para quem não conhece os detalhes, peço licença para contar novamente", Zélia escreve, com a gentileza de uma amável anfitriã.
Em A casa do Rio Vermelho, Zélia continua a narrar a saga de sua vida - que se mistura não só com a do marido Jorge Amado, mas com a aventura de toda uma geração de artistas. Sua grande proeza é fazer da literatura não só registro de emoções e de acontecimentos, mas uma maneira de se apropriar do mundo.

301 pages, Paperback

First published January 1, 1999

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About the author

Zélia Gattai

27 books31 followers
Zélia Gattai Amado (São Paulo, 2 de julho de 1916 — Salvador, 17 de maio de 2008) foi uma escritora, fotógrafa e memorialista (como ela mesma preferia denominarse) brasileira, tendo também sido expoente da militância política nacional durante quase toda a sua longa vida, da qual partilhou cinquenta e seis anos casada com o também escritor Jorge Amado, até a morte deste.
Filha dos imigrantes italianos Angelina e Ernesto Gattai, é a caçula de cinco irmãos. Nasceu e morou durante toda a infância na Alameda Santos, 8, Consolação, em São Paulo.
Zélia participava, com a família, do movimento político-operário anarquista que tinha lugar entre os imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, no início do século XX. Aos vinte anos, casou-se com Aldo Veiga. Deste casamento, que durou oito anos, teve um filho, Luís Carlos, nascido na cidade de São Paulo, em 1942. Leitora entusiasta de Jorge Amado, Zélia Gattai o conheceu em 1945, quando trabalharam juntos no movimento pela anistia dos presos políticos. A união do casal deu-se poucos meses depois. A partir de então, Zélia Gattai trabalhou ao lado do marido, passando a limpo, à máquina, seus originais e o auxiliando no processo de revisão.
Em 1946, com a eleição de Jorge Amado para a Câmara Federal, o casal mudou-se para o Rio de Janeiro, onde nasceu o filho João Jorge, em 1947. Um ano depois, com o Partido Comunista declarado ilegal, Jorge Amado perdeu o mandato, e a família teve que se exilar.
Viveram em Paris por três anos, período em que Zélia Gattai fez os cursos de civilização francesa, fonética e língua francesa na Sorbonne. De 1950 a 1952 a família viveu na Checoslováquia, onde nasceu a filha Paloma. Foi neste tempo de exílio que Zélia Gattai começou a fazer fotografias, tornando-se responsável pelo registro, em imagens, de cada um dos momentos importantes da vida do escritor baiano.
Em 1963 mudou-se com a família para a casa do Rio Vermelho, em Salvador, na Bahia, onde tinha um laboratório e se dedicava à fotografia, tendo lançado a fotobiografia de Jorge Amado intitulada Reportagem incompleta.Aos 63 anos de idade, começou a escrever suas memórias. O livro de estreia, Anarquistas, graças a Deus, ao completar vinte anos da primeira edição, já contava mais de duzentos mil exemplares vendidos no Brasil. Sua obra é composta de nove livros de memórias, três livros infantis, uma fotobiografia e um romance. Alguns de seus livros foram traduzidos para o francês, o italiano, o espanhol, o alemão e o russo.
Anarquistas, graças a Deus foi adaptado para minissérie pela Rede Globo e Um chapéu para viagem foi adaptado para o teatro. Baiana por merecimento, Zélia Gattai recebeu em 1984 o título de Cidadã da Cidade do Salvador.
Na França, recebeu o título de Cidadã de Honra da comuna de Mirabeau (1985) e a Comenda des Arts et des Lettres, do governo francês (1998). Recebeu ainda, no grau de comendadora, as ordens do Mérito da Bahia (1994) e do Infante Dom Henrique (Portugal, 1986).
A prefeitura de Taperoá, no estado da Bahia, homenageou Zélia Gattai dando o nome da escritora à sua Fundação de Cultura e Turismo, em 2001.
Em 2001 foi eleita para a Academia Brasileira de Letras, para a cadeira 23, anteriormente ocupada por Jorge Amado, que teve Machado de Assis como primeiro ocupante e José de Alencar como patrono. No mesmo ano, foi eleita para a Academia de Letras da Bahia e para a Academia Ilheense de Letras. Em 2002, tomou posse nas três. É mãe de Luís Carlos, Paloma e João Jorge. É amiga de personalidades e gente simples. No lançamento do livro 'Jorge Amado: um baiano romântico e sensual, em 2002, em uma livraria de Salvador, estavam pessoas como Antonio Carlos Magalhães, Sossó, Calasans Neto, Auta Rosa, Bruna Lima, Antonio Imbassahy e James Amado, entre outros.
Ao lançar seu primeiro livro, Anarquistas graças a Deus, Zélia Gattai recebeu o Prêmio Paulista de Revelação Literária de 1979. No ano seguinte, recebeu o Prêmio da Associação de Imprensa, o Prêmio McKeen e o Troféu Dante Aligh

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Displaying 1 - 10 of 10 reviews
Profile Image for Paula Mota.
1,666 reviews563 followers
Read
September 30, 2022
#emsetembrolemosBrasil

Correndo o risco de ser indelicada e injusta, já que esta autora parece ser muito estimada, não simpatizei com Zélia Gattai nem como pessoa nem como escritora. Não basta alguém passar as suas memórias para o papel de forma aleatória, sem outra cronologia além do que vem à memória e fazer listas absurdas das pessoas com quem privou para ser escritora, e ninguém melhor que Jorge Amado para explanar o meu comentário.

Jorge me chamou: ‘Cadê você? Senta aqui’. Sentei a seu lado, esperando a sentença. ‘Gostei do que você escreveu’, foi dizendo, ‘gostei da simplicidade da escrita. (...) Agora, uma coisa importante: não tente fazer literatura, nem procure palavras difíceis, você não é literata.’

Em “A Casa do Rio Vermelho”, esta autora brasileira não se limita a falar da reconstrução e da mudança para a Rua das Alagoinhas em Salvador da Bahia, com o marido, os dois filhos e a sogra. Conta todas as peripécias com a criadagem, com a vizinhança, com o candomblé, com os amigos, as constantes festas e repastos na sua casa e nas dos outros, e inclui também verdadeiras listagens das pessoas que conheceu ou recebeu na sua casa, umas mais famosas do que outras.

Antes de nos despedirmos ela [Mãe Senhora] quis notícias de seu Paulo e de dona Simone. Referia-se a Jean-Paul Sartre e a Simone de Beauvoir que a haviam visitado em 1959. Na ocasião ela jogara os búzios para ambos e a resposta fora: ‘Seu Paulo é filho de Oxóssi, como Jorge, e dona Simone é filha de Oxum, como Zélia. Pensámos que o casal fosse rir, como nós rimos, mas qual! Mostraram-se intrigados com o que viram e ouviram.

As partes mais divertidas são sem dúvida as que se referem a Jorge Amado, aos seus livros e adaptações cinematográficas, à sua entrega ao acto de escrita.

Diariamente, à hora certa, parava em nossa porta um grande ônibus cheio de turistas. (...) A guia da excursão fazia todo mundo saltar do ônibus e de microfone em punho, sapecava seu discursinho decorado: ‘Esta é a residência do escritor Jorge Amado.’ (...) Eles rodeavam a casa e chamavam ‘Jorge Amado! Jorge Amado, saia um pouquinho!’

E também ao seu amor por cães e gatos.

A gatinha chegou à Bahia já batizada: se chamaria Dona Flor. Dona Flor crescia cada vez mais linda, Jorge encantado com ela, até que um belo dia a flagramos cruzando Gabriela. Dona Flor não era apenas macho, revelava-se um garanhão de primeira. Achamos a maior graça nesse engano de sexo, mas os empregados não gostaram da brincadeira (...) e trataram de mudar-lhe o nome. (...) Passaram então a chamá-lo de Dom Floro.

Jorge Amado também não fica muito bem na fotografia que são estas memórias, a meu ver, devido a um episódio em particular, o do funeral da mãe de Zélia, a que não pôde comparecer porque estava a terminar um livro. Acho que não sou muito moralista nem exigente ao achar que quando morre a mãe da mulher que se dedica a ti há décadas, a cuidar da tua casa e dos teus filhos, que abdica de trabalhar para poder rodar na tua órbita, para te acompanhar em viagens e para passar os teus textos à máquina, o mínimo que podes fazer por ela é desceres do teu pedestal de grande vulto das letras e acompanhá-la num momento de luto. Nada que incomode Zélia, aparentemente, que lhe fica muito grata quando passam uma temporada numa universidade dos EUA, sem empregada - o horor -, e ele a ajuda generosamente despejando o lixo e pondo a mesa.
Inúmeras são as viagens - que até a mim me cansam - de Zélia e Jorge pelo mundo inteiro, mas são as suas estadias em Portugal as mais interessantes pela fácil identificação de nomes e lugares.

Nessa noite da inauguração da Semana da Bahia, com as autoridades portuguesas, a direção do Casino e os artistas brasileiros esperávamos a chegada do presidente da República para dar início à inauguração. Dário Castro Alves, embaixador do Brasil (...) não conseguia esconder sua tensão, rosto transtornado... (...) Sua mulher, a escritora Dinah Silveira de Queiroz, estava agonizando, no Brasil, onde se encontrava em tratamento. Ele só esperava que o presidente Eanes inaugurasse a exposição, para sair direto para aeroporto. (...) Dona Manuela (...) discretamente falou em particular ao marido, e foi assim que o presidente Eanes inaugurou em seguida a Semana da Bahia no Estoril. Dário conseguiu tomar o avião e chegar ao Brasil a tempo de assistir aos funerais da sua amada Dinah.
Profile Image for Marcia.
48 reviews5 followers
March 4, 2020
Foi um prazer passear pela vida privada de Zélia e Jorge. Saber dos seus amigos, das viagens, da compra da casa do Rio Vermelho.

Zélia, que mulher incrível que você foi! Ou, como diria Zuca: DONA ZÉLIA É TÃO INTERESSANTE!
Profile Image for André Souto.
21 reviews
March 30, 2025
Adiei a leitura de "A Casa do Rio Vermelho" o quanto pude, pela certeza de que choraria no metrô o quanto conseguisse. E chorei - feio.

Mais um livro de memórias magistral da Zélia; espontânea, esperançosa, espirituosa. Travessa. O fato de escrever sem notas faz sentir como se estivesse escutando-a contar alegremente suas histórias de vida, sentado no banco de azulejos à sombra da mangueira. O fato de não estar mais conosco, faz sentir como se estivesse lembrando deste descontraído momento de prosa. A dor e a delícia da saudade.

Da publicação do livro, Jorge viveria mais dois anos. Zélia mesma, mais nove. E ao contar da beleza de toda a vida que viveram juntos nos 21 anos residindo na Casa do Rio Vermelho, talvez a mais dolorosa das reflexões seja sobre ver seus amigos, alegres e aventureiras pessoas, companheiros de todas as suas histórias e cada, um, a seu modo, autores da casa em que se mora, partirem um a um. A tristeza de sentir seu tempo chegar, junto da satisfação ao contemplar o belo jardim de plantas raras que durarão muito além de si.

Ao ir a Salvador, deve-se ler dois livros antes. "Bahia de Todos os Santos", para que Jorge lhe apresente a cidade de alta a baixa. E "A Casa do Rio Vermelho", para que sinta ao entrar neste obrigatório ponto turístico todo o peso dos que por ali passaram - um dia lar e hospedagem para o que de melhor existiu da cultura baiana e brasileira.
Profile Image for Vivian Marques.
321 reviews7 followers
Read
December 1, 2023
Olha, eu queria mais detalhes sobre a casa, não me importei tanto c as viagens mas q casal que viveu ein, impressionante

Agora, dona zelia c podia ter deixado aquele capítulo de Boston de fora ein dona zeliaaaaaaa
Profile Image for Fernando Augusto.
7 reviews
January 28, 2016
Livro com passagens bem interessantes. Muito bom lê-lo logo após ter visitado a casa da rua Alagoinhas, que hoje é um museu áudio-visual muito legal lá em Salvador.
Profile Image for mariana rocha.
13 reviews
January 10, 2021
Os livros memórias de Zélia Gattai são como um abraço, especialmente em momentos tão difíceis.
Profile Image for Juliana Valois.
11 reviews
October 4, 2025
sempre fui um tanto obcecada com os livros de jorge amado e com a história íntima dele com a bahia. a casa do rio vermelho também não fica por trás: em todas as vezes que fui a salvador, estive nela. um centro de energia boa, com significados por toda a parte, e um deleite pra quem tem uma admiração imensa pela bahia e por literatura.

animada pra ler zélia e saber um pouco mais sobre esse casal que tanto amava, acho que, agora, chegando ao final, fiquei um pouco decepcionada (risos).

o livro é super bem escrito, adorei que as memórias são narradas sem ordem cronológica e nesse formato de conversa com o(a) leitor(a). mas sem querer ser a chata, ou já sendo: é muito name dropping! zélia faz questão de citar todas as pessoas sempre, um traço bem interessante da elite acadêmica brasileira, devo dizer (rs). não importa a história, importa quem estava/ quem contou a história

amei a escrita de zélia, mas não simpatizei muito com ela enquanto pessoa, uma pena. talvez o livro tenha envelhecido mal, mas alguns dos discursos dela me deixaram com muito nojinho (um tanto classistas, um tanto machistas.. enfim)

além da relação dela com jorge, que enfim entendi melhor (depois de admirar tanto os dois pelas idas na casa do rio vermelho): jorge não era só um marido, era o ídolo dela, e ela vivia em função desse ídolo. corro o risco de estar sendo injusta, mas é essa a impressão que o livro deixa.

não abandonei, porque ainda sim é gostoso de ler e tem muitas passagens muito divertidas (amei as viagens!), mas não sei se volto a ler zélia, pelo menos por um bom tempo..
142 reviews1 follower
October 4, 2025
Esse é um relato de uma outra época. É preciso manter isso em mente ao ler essas memórias de Zélia Gattai, e, principalmente para mulheres feministas, é um exercício difícil. Ver como tudo girava em torno dos homens mesmo nos meios intelectuais de esquerda, é algo que não queremos aceitar. Embora Zélia fosse feliz em uma vida confortável e instigante, com um casamento de muito amor e companheirismo, o quanto ela orbitava em torno de Jorge Amado, em um sistema fortemente patriarcal, não é algo agradável de se ler. O livro também se alonga demais em muitos relatos sobre muitos amigos, listas de nomes, etc. Por outro lado, é também uma viagem no tempo e na intimidade do casal e do seu extenso círculo social, que não deixa de ser interessante.
Profile Image for Lu Iza.
4 reviews
July 3, 2022
Que delícia é passar um tempinho com a Zélia Gattai!
Profile Image for clara sampaio.
101 reviews20 followers
February 4, 2025
sentar com minhas avós domingo, depois do almoço, e ouvir histórias e revirar álbuns de fotografia 🤍 obrigada, Zélia, por momento que pouco tive
Displaying 1 - 10 of 10 reviews

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