Entre o thriller e a narrativa hardcore, Café Kanimambo , segundo romance de Fernando Ribeiro, é a confirmação do autor como uma das vozes mais acutilantes e provocadoras da nova ficção nacional, num livro perturbante que não deixará ninguém indiferente . Num verão de que não há memória na Lagoa de Albufeira, Vítor Batista (ex-futebolista caído em desgraça e alcoólico), o Doutor Paulo (um deputado da nação que tenta esconder um segredo obscuro), o Senhor Braz (que podia ser feliz, mas não consegue) e o Raça (um operador de máquinas com um sonho simples), quatro homens com pouco em comum, veem-se, contra todas as expectativas, subitamente envolvidos numa espiral de sexo, vergonha, castigo, justiça popular, crimes sexuais, homens e demónios.
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Fernando Miguel Santos Ribeiro nasceu em 26 de Agosto de 1974. É vocalista, letrista e alma da banda portuguesa de heavy metal e metal gótico Moonspell, sendo também escritor e tradutor. Cursou Filosofia na Faculdade de Letras de Lisboa e tem tido diversas experiências no mundo literário: traduziu para a língua portuguesa Eu Sou a Lenda (I am Legend) de Richard Matheson; publicou um livro de contos, Senhora Vingança; e colaborou na edição e tradução dos dois primeiros volumes a obra integral de H.P. Lovecraft, autor de ficção de terror. Em 2009 fez parte do projeto musical Amália Hoje, que juntamente com Sónia Tavares, Paulo Praça e Nuno Melo, regressou a alguns dos clássicos mais emblemáticos de Amália Rodrigues. Vive em Lisboa e toca por todo o mundo com os Moonspell, estando neste momento a realizar a digressão do último álbum da banda, Extinct (2015). Publicou três livros de poesia, Como Escavar um Abismo (2001), As Feridas Essenciais (2004), e o Diálogo de Vultos (2007). Purgatorial é o seu quarto livro de poesia, que, além dos originais reagrupa a sua poesia completa.
Não é o primeiro livro de Fernando Ribeiro mas é o primeiro que leio. A escrita é escorreita e boa, a linguagem brejeira num pequeno livro carregado de suspense e tensão para um tema negro. Infame. Os demonios que acompanham algumas personalidades. Uns visíveis e outros ocultos. Acutilante e perverso por focar os malefícios, sem deixar de ser lúcido ainda que ficcional. Num país a sério havia justiça. Num país a sério sabíamos que o mal não é ficção. Nem foi... E sabemos como devia acabar. Sem os demónios à solta. Original. Mistisco. Ou realismo mágico. O que sei é que inquieta. Marca.
Segundo a sinopse, este livro “é a confirmação do autor como uma das vozes mais acutilantes e provocadoras da nova ficção nacional, num livro perturbante que não deixará ninguém indiferente.” Apesar de ser um livro com poucas páginas, não é uma leitura fácil. A escrita do autor é “acutilante e provocadora”, sem dúvida. Muito irónica, muito direta - sem o ser, de facto, em muitas situações – e muito explícita. Muitas personagens, todas muito peculiares, e uma narrativa que se vai construindo em dois planos diferentes, o que me aguçou a curiosidade: como é que estas personagens acabam por se misturar? Escrito de forma cuidada, numa espécie de “thriller e narrativa hardcore”, este livro acaba por nos prender porque queremos saber de que forma acaba. Com um ritmo lento, no início, senti que fui sendo guiada para situações que logo me fizeram pensar num caso real, ocorrido no nosso país. E apesar de ter encontrado tantas semelhanças (nomes, situações, profissões, locais e etc.), não há qualquer referência concreta ao caso – cá está a capacidade criativa do autor. Levou-me até lá, fez-me recordar pormenores, obrigou-me a recordar o que aconteceu. Porque há casos que não podem ser esquecidos. Gostei especialmente dos últimos capítulos… O penúltimo começa com “Num país como deve ser, num país a sério, as coisas teriam acontecido assim…” E o último, começa com “Foi antes assim…” Ainda que não defenda a justiça popular, a forma como este livro termina deixou-me a pensar: no caso real, no verdadeiro, na situação abjeta que aconteceu no nosso país, ficamos pelo penúltimo capítulo. Infelizmente, em muitas situações, o nosso país ainda não é “um país como deve ser”. Ao menos este livro aviva as memórias… E no fim, a música. Acontece-me muito associar livros a músicas e ao pesquisar Kanimambo surgiu-me uma música que não conhecia. Coincidência, a livro termina com essa música. “Kanimambo” é uma expressão usada para agradecer. Obrigada, Fernando Ribeiro, por não deixar esta história cair no esquecimento.
Este foi um livro que me surpreendeu. Pela história em si e também pela dureza das palavras bem escritas.
Com personagens bastante sui generis, a trama deste livro é passada maioritariamente na Lagoa de Albufeira, com ligações entre Lisboa e Setúbal. Com capítulos pequenos e com pouco mais de cem páginas, o livro lê-se num ápice numa tarde de férias ou fim de semana porque a história prende bastante, saltitando entre esses personagens tão crus e reais.
Dr. Paulo, deputado, e o Sr Braz, dono de uma loja de brinquedos, amigos que escondem um segredo sujo e indecoroso, o Raça, operador/condutor de máquinas de limpeza nas praias e Vitor Batista, ex-futebolista e alcoólico. Estes quatro homens são os protagonistas de uma história triste, bastante suja e demonstrativa do que pode ser o comportamento humano e que, infelizmente, tem parecenças com muitas que verdadeiramente se passam nos nossos dias. Suspense q.b. para um tema pesado, duro.
Gostei do final, do facto do autor ter relatado aquilo que poderia ter acontecido num mundo melhor e do que realmente ocorreu. Original.
Tenho o livro de estreia de Fernando Ribeiro, vocalista do grupo Moonspell, (Bairro sem Saída) por ler e vou tentar lê-lo brevemente porque fiquei curiosa em saber se o registo da escrita sofreu alterações ou se já era o mesmo.
4,5 - um livro muito estranho, com algumas passagens quiçá duvidosas, no entanto provavelmente um dos meus favoritos (não me peçam para explicar, nem eu entendo)
Uma leitura dura, necessária e impossível de ignorar. Este livro surpreendeu-me pela frontalidade com que expõe o lado mais sombrio da nossa sociedade, sem filtros, sem floreados, sem tentar suavizar o que é desconfortável. Fernando Ribeiro cria personagens imperfeitas, reais e profundamente humanas, e coloca-as num enredo que nos obriga a encarar temas que continuam alarmantemente atuais. É um romance perturbador, mas importante. Daqueles que nos deixam a pensar muito depois de fechar o livro. Gostei imenso e recomendo a quem procura uma narrativa intensa, crua e socialmente relevante.
Livro que é uma critica social a um povo de brandos costumes, que deixa andar, não luta, não exige, e à classe política e amigos que acham que estão acima da lei, e podem fazer o que quiserem e comprarem quem quiserem.
Faz lembrar uma história bem real que se passou cá, talvez seja a forma de o autor não deixar que caia no esquecimento.
Acabei agora de ler e ainda estou abananada. Este vai ser um livro para reler e mais de uma vez. Escrita excelente, poderosa crítica social, o Sr. Fernando Ribeiro que já conheço dos Moonspell (uma das minhas bandas favoritas) está de parabéns. Bravo!
De leitura obrigatória, viajando para um país não tão distante no tempo e de uma forma neo realista, o autor chapa nos na cara a falácia de um Portugal moderno
overall é um bom livro, mas a escrita em tom de fala para mim torna-se um pouco cansativo e confuso (que tenho a atenção de um amendoim). Tem um bom plot, mas penso que demora demasiado a evoluir para o tamanho do livro.
Confesso que me interessei pelas obras do Fernando por ser fã dele como músico, nos Moonspell e noutros projectos. Esta foi a minha primeira escolha para ler na praia este verão e ainda bem que o fiz, pois valeu bem a pena. Assim que li a sinopse, remeteu-me para lugares e personagens que me recordam a minha infância e adolescência, pois os verões dessa época foram passados na Lagoa de Albufeira e o Batista era presença assídua por lá. A história é muito interessante e a forma com consegue juntar personagens que aparentemente nada teriam a ver umas com as outras, creio que buscando inspiração num caso policial bem conhecido da nossa praça, bem como para situações sempre actuais de corrupção, tráfico de crianças e afins fazem desta obra um regalo para quem lê, num registo hardcore que não podia ser de outra forma.