Coloniser l’espace. Repousser la mort et faire renaître les défunts. Créer le vivant. Mettre en place un réseau mondial. Libérer la puissance de l’esprit. Comprendre et contrôler les processus cosmiques. Manipuler les phénomènes atmosphériques. Sauver la terre. Ces projets, dont certains ont été réalisés et d’autres le seront peut- être bientôt, ont une histoire russe. Dans un mélange de recherche scientifique approfondie, de métaphysique pure et de mysticisme, le mouvement appelé cosmisme a modelé le siècle soviétique. Il est l’une des sources d’inspiration des transhumanistes californiens d’aujourd’hui. Le laboratoire secret de Google en reprend toutes les idées. Les cosmistes ont écrit notre futur.
Cet ouvrage se propose de tirer les fils de cette histoire, du milieu du 19e siècle à nos jours. Le premier cosmiste était un philosophe farfelu, Nicolas Fedorov, correspondant de Dostoïevski. Il avait le projet de ressusciter concrètement les morts. Certains de ses disciples, comme le grand rival bolchévique de Lénine Alexandre Bogdanov, étaient convaincus que la transfusion sanguine en était le moyen. Le corps de Lénine n’a-t-il pas été momifié à cette fin ? D’autres ont théorisé la conquête spatiale dès les années 1920, afin de peupler une terre devenue trop exigüe. Des savants soviétiques ont tenté de calculer l’effet du soleil sur la vie et l’histoire humaine. Ou, comme Guéorgui Vernadski, ont créé le concept de biosphère et de noosphère, ouvrant le champ d’une physique de la pensée. Délires poétiques ou carrément totalitaires, destinés à créer l’Homme nouveau ? Sans doute. Mais ces hommes ont donné naissance au programme spatial de l’Union soviétique, à ses progrès en cybernétique, à la fascination de ses services secrets pour la parapsychologie. Aujourd’hui Vladimir Poutine cite Vernadski. Le tout nouveau chef de l’administration présidentielle, Anton Vaïno, est le concepteur d’un nooscope, « réseau de scanners spatiaux » destinés à sonder la pensée humaine... Ce pan de la culture russe est soviétique, presque totalement inconnu en dehors de la Russie, paraîtra un peu fou à un esprit cartésien. Il est néanmoins très présent et explique de nombreux traits de la Russie actuelle, et même de sa politique. Depuis quelques décennies, le cosmisme a d’ailleurs une seconde patrie. La Silicon Valley a été massivement investie par des informaticiens et des savants d’origine russe, dont le plus célèbre est Sergueï Brin, cofondateur de Google, et qui rêve... de ce dont rêvaient les penseurs du cosmisme : transhumanisme, nouvelle manière de vivre et de se déplacer sur terre, conquête spatiale.
Les vies et les idées de ces savants géniaux et inquiétants dessinent notre futur. Racontons leur histoire, redécouvrons leurs textes (non traduits) et leurs projets. Afin de souligner le lien entre le passé et le présent, le livre comportera également des entretiens avec des personnalités — savants, ingénieurs, intellectuels — en Russie et en Californie. Finalement, nous essaierons de comprendre comment le rêve de progrès, que l’Europe a abandonné, est passé de l’Eurasie vers la Côte Ouest des États-Unis.
Michel Eltchaninoff, né le 19 mai 1969 à Paris, est un philosophe, journaliste et essayiste français. Après deux séjours professionnels en Russie (à l’ambassade de France à Moscou) et plusieurs années d'enseignement, à l'université (université de Dijon, université Paris 1 Panthéon-Sorbonne) et dans le secondaire (Vitry-sur-Seine), il est rédacteur en chef au mensuel Philosophie Magazine.
Michel Eltchaninoff - Lenin Walked on the Moon. The Mad History of Russian Cosmism Após a leitura do livro de Michel Eltchaninoff havia aspectos que me pareciam em falta. Por este motivo a presente recensão é um sublinhado dos aspectos do livro que me pareceram mais importantes, mas é também, e com algum peso, o resultado das minhas reflexões sobre os russos e o seu nacionalismo.
O cosmismo entre os russos, é um termo vago que entrou em voga nos finais do século XIX meados do século XX e que englobou conceitos que vão desde: um destino do homem orientado para o domínio do universo e a colonização do espaço sideral, a outros mais próximos da ecologia e do naturalismo. Para além destes aspectos, qualquer um deles podendo ser perspetivado como científico, ao termo cosmismo foi-lhe colado uma outra tendência em que ciência surge misturada com religião e misticismo. Desta miscelânea surgiram conceitos como o transumanismo – em que a morte deixava de ser uma inevitabilidade e era tida como uma fronteira que se ultrapassada permitiria ao homem aproximar-se de Deus. Deus que ao ter ressuscitado o Filho ao terceiro dia, teria dessa forma dado ao homem a indicação de que também ele poderia ultrapassar essa limitação - era nisso que os cosmistas acreditavam. É com esse objectivo que o embalsamento de Lenine deve ser perspectivado - como uma forma de vencer e ultrapassar a morte.
A mistura entre ciência e religião, tem na geografia russa e na sua religiosidade o cadinho que albergou e catalisou o entrosamento destas duas químicas, mas também reflete a forma como a ciência entrou no século XX. Eminentes físicos de então, como Lord Kelvin e outros, achavam que com a mecânica de Newton, o eletromagnetismo de Maxwell e as teorias evolucionistas de Darwin, o conhecimento científico nada mais tinha para oferecer do que particularidades muito pontuais. Ficava assim o devido espaço para a religião, cuja teologia ficava reservada para dar respostas onde se achava que a ciência não tinha capacidade para o efectuar. Este espaço ocupado pela religião foi progressivamente foi delapidando as certezas da ciência (veja-se a oposição do criacionismo dos EUA às conceções Darwinistas), muito impulsionada pelas igrejas da libertação, mas também por uma cultura de misticismo que nos nossos dias tem grande tradução nas tradições negacionistas. Para além destes, o cosmismo russo tem ainda ingredientes que por serem locais, só aí podem ser encontrados e são hoje causa da russofilia com que diariamente nos confrontamos. A Rússia sempre se mostrou como uma nação onde a religião ortodoxa e misticismo tinham muitas pontes entre si. Desta cultura de mistura sobressaiu uma aversão à cultura ocidental e aos conceitos deterministas, e de separação entre ciência e religião que esta carregava implicitamente. No mosteiro de Optina o “Starets” Ambrósio foi à época um dos expoentes russos da articulação entre Ortodoxia, misticismo e ciência. Desta mistura resultou uma “certa forma de ciência” em que o homem seria senhor do seu destino e por isso não tinha de se submeter às leis da física. O cosmismo russo surge assim como uma forma de ciência em que esta assenta no primado do homem e na submissão da ciência à sua vontade. Um outro factor que orientou esta deriva da ciência russa tem as suas raízes ancestrais na permeabilidade que a ortodoxia russa – mosteiro de Optina, em crenças medievais que iam desde a adivinhação e áuspices, à profissionalização da actividade de identificação de demónios e outros espíritos malignos. O mosteiro de Optina, enquanto expoente religioso da ortodoxia russa, foi destino de peregrinação de escritores como Lev Tolstoi e Fiodor Dostoyevsky que aí foram procurar inspiração espiritual. Foi neste mosteiro que Dostoyevsky encontra a sua vocação mística, e a crença que o levou a afirmar que entre Deus e ciência optaria sempre por Deus. Para Dostoyevsky religião, ciência e misticismo são formas equivalentes de descrever a realidade. Porém, se tivesse que de optar entre alguma destas visões, claramente optaria pela visão religiosa. Ao assumir esta posição Dostoyevsky abandonou a sua crença no ocidente, no progresso, na ciência, na educação, na justiça social, mas também na igualdade , no positivismo, no utilitarismo, no economismo e no darwinisno. Deixou de acreditar porque a ciência tornava-se cada vez mais determinista e por isso a antítese da liberdade individual. Rejeitava o primado da razão para abraçar a religião, e tinha prazer em se não submeter ao que parecia ser racional. Para Dostoiévski a liberdade do homem é o ponto de partida. Da combinação entre ciência e religiosidade e nas contradições inerentes a esta miscelânea surgiu a noção de Cosmismo. Uma noção que ainda nos nossos dias se funde e confunde com a de russofilia assumida propalada na praça pública tanto pela população como pela classe dirigente.
O Cosmismo russo, enquanto uma visão futurista de conquista do espaço, tem a sua origem física em Kaluga onde Konstantin Tsiolkovski no início do século XX foi precursor do Cosmismo russo e um visionário das viagens espaciais celebrado e reconhecido ainda nos dias de hoje. Neste movimento, anos mais tarde, encontramos um outro engenheiro, Evgueni Zamystin que na sua distopia NOS de 1920, onde retratava de forma crítica a sociedade e era soviética. Neste seu livro, este mundo distópico, autocrático, destituído de valores individuais era apresentado num futuro onde o destino do homem era dominado pelas viagens espaciais e a conquista do espaço. Há assim nos primórdios deste movimento com misto de ciência e misticismo, um desígnio colectivo que atribuía ao cidadão russo e soviético o papel vanguardista de uma ideologia revolucionária, mas também um tecnicismo coletivista e utópico não despiciente. E é por ter estas características que o cosmismo se acomodou tão bem ao regime dos bolcheviques. Mas o cosmismo russo não se limitou à visão da conquista do espaço pelo homem soviético. Ele também aspirava a controlar os destinos e limites do homem, e aqui leia-se ultrapassar a morte como seu limite biológico. Esta noção de imortalidade surgia no cosmismo, não só imbuída de conotação mística, mas também apoiada numa visão religiosa ortodoxa que via na ressurreição de Cristo, não uma expressão do divino, mas um caminho por onde o homem e a sua ciência deveriam evoluir. Surge assim o transumanismo de Nikolai Fiodorov, pai do movimento cosmista de finais do século XIX e que acreditava que pela ciência se poderia prolongar a vida e ressuscitar os mortos. Nikolai Fiodorov propunha que a religião ortodoxa devia ser uma religião viva e activa. E que em vez de ter o descanso no sábado e esperar pela ressurreição dos mortos deveria ter uma acção mais actuante no que a isto respeita. É o culto dos antepassados. Estas ideias tiveram seguidores. Homens como Anatóli Lunatcharski e Máximo Gorki (ambos propunham a construção de um novo Deus), conjuntamente com Alexander Bogdanov e Leonid Krasim, todos eles revolucionários bolcheviques que tentaram estabelecer pontes entre o materialismo científico e o conceito de luta de classes da teoria marxista. Com esta nova religião pretendiam que o homem não fosse um espectador passivo, mas sim um interveniente activo e por isso capaz de reinventar Deus. Desta mistura entre ciência, religião e misticismo resultou o cosmismo como forma de visão cósmica e divina dos destinos do homem. Destes quatro influentes marxistas, e muito em particular em resultado da acção do genial Leonid Krasin surgiu a ideia de “prolongar a vida” do grande líder Lenin, criando as condições para que, não apenas as suas memórias mas também o seu corpo se pudessem perpetuar no tempo. No cumprimento desta ideia surgiu a edificação de um mausoléu em plena praça vermelha, um local onde o corpo de Lenine seria exposto depois de embalsamado. A exposição permanente da obra e do corpo, não deve ser tida como uma metáfora mas antes como como uma prática do transumanismo e cosmismo russo, em que o Homem controla a morte e a sua finitude, permitindo que os nossos pais possam viver no meio de nós. Este grupo planeou a imortalização de Lenine, e com esta apresentaram o marxismo como uma nova religião para cuja liturgia a sociedade científica, política e população em geral estavam disponíveis.
A matéria podia à época ser decomposta em pequenas unidades indivisíveis e indestrutíveis – o átomo. E se a matéria conhecida representava apenas diferentes formas de organização dessas unidades, poder-se-ia pensar que na destruição da matéria era a forma de organização que era destruída e não as suas unidades individuais. Isto tornava possível, pelo menos teoricamente, reconstituir uma particular forma de organização com base nos mesmos elementos que a tinham constituído. Este era um tipo de raciocínio que exemplificava bem os fundamentos do cosmismo – uma mistura de ciência com religião, misticismo e fantasia. Este princípio era o fundamento do transumanismo, mas a obtenção da imortalidade através da ressurreição não era o único. Outros, tentaram algo de similar através de transfusões como forma de revitalizar o organismo e combater a sua finitude. As transfusões sanguíneas surgem assim como um conceito cosmista destinado a combater a morte, mas também também deve ser observado como um elemento marxista ao combater o individualismo e promover o coletivo. Bogdanov foi o precursor deste conceito como forma de perlongar a vida, tendo acabado contudo por sucumbir a uma doença do soro resultante das suas experiências. O transumanismo, a funcionar, iria seguramente aumentar o número de habitantes no planeta, para números que este não poderia suportar. Criava-se aqui um problema que só poderia ser resolvido com a colonização de outros planetas. O transumanismo e a visão cósmica surgem assim interligados.
Para os cosmistas, a história não é uma descrição figurativa do passado. O passado deve ser visto como um alicerce do nosso presente, mas também uma possibilidade de os nossos antepassados ressuscitarem e viverem em nós interagindo com a realidade. A mumificação de Lenine foi um exemplo da eliminação dessa fronteira entre a vida e a morte, outros houve como Máximo Gorki cujo nome foi mumificado em vida ao ser usado sempre que havia algo a inaugurar. No ocidente o período da renascença quebrou muitos dos limites entre o humano e o divino enquanto o movimento protestante libertou o homem da tradição. Na cultura ocidental estas condições que permitiriam à ciência ser determinista e evoluir com o conhecimento baseado na demonstração e na evidencia, mas também lhe permitiu que fosse expurgada de laços com a religião e o místico. Exatamente o oposto do proposto do que ocorreu na Rússia pela mão dos cosmistas que viam na actividade humana a possibilidade de se ultrapassar as leis da natureza. O enaltecer das capacidades humanas é fenómeno anterior ao comunismo e a sovietização. Mas sem dúvida que teve numa filosofia que via no Homem e no coletivo o conhecimento, a determinação e a força necessárias para subjugar a natureza. Eram “ideias” com interação que se alimentavam e potenciavam. É por exemplo neste ambiente que surgiram as experiências de Trofin Lysenko, um biólogo e agrónomo que pretendia através de uma suposta capacidade do ambiente modificar o registo genético, e assim, através de uma sequência de manipulação do ambiente controlar toda a cadeia de produção – Lysenkismo. Experiências com o cultivo de gramíneas em solos gelados, para obrigar a sua adaptação, ou outras em que se propunha que as plantas em cultura também agiriam de forma coletiva, de forma que as mais resistentes às condições atmosféricas e pragas, auxiliariam as mais susceptíveis, foram conceitos que caíram bem junto dos líderes marxistas, só que apenas resultaram em escassez alimentar e fome. Era para todos os efeitos uma interpretação da evolução muito na linha do passamento de Jean-Baptiste Lamarck. O Cosmismo Russo não se limitava aos conceitos de conquista espacial e possibilidade de vencer a morte. Outros surgiram e que devem ser assinalados, não apenas enquanto fantasia individual, mas porque se inseriram num delírio de grupo que se formava num superego colectivo cheio de falsas presunções (e falsas porque não permitem previsões) e misticismo. De entre estes destaca-se o “passionarismo” de Lev Gumilev, que o descreveu como uma força vital que emana do território, dos minerais, dos humanos e de todos os outros animais que habitam um território. É um conceito popular junto dos cosmistas russos, e que a par das dimensões geográficas do território fundamenta os sentimentos de superioridade dos russos em relação aos outros povos, nomeadamente os ocidentais. O cosmismo russo teve assim protagonistas cujo nome é importante reter. Tsiolkovski, engenheiro precursor dos foguetões e sector aeroespacial russo, Fiodorov que desenvolveu o conceito da possibilidade de contornar a finitude da vida e ressuscitar os mortos, Chizhevsky, físico responsável por conceitos de ligação entre a actividade solar e a forma como esta influência a biologia da terra. Hoje reconhecemos esta influência, aliás tão marcante que sem sol não haveria vida na terra, mas Chizhevsky deu a estes dados científicos uma conotação mística quando pretendeu ligar a heliobiilogia à energia cósmica e solar tudo comanda, até à revolução de outubro. Claro que estas observações a nós parecem saídas de um delírio, mas à altura, e ainda muito nos dias de hoje, era um delírio que tinha na promiscuidade entre ciência e política o fermento necessário à sua fertilização. Contudo, se por um lado este conceito heliobiologia se encontra ligado ao misticismo do passionarismo russo, ele pode também está ligado aos conceitos de biosfera e noosfera de Vernadski, Eduard Lê Roy, Pierre de Chardin e à consciência cósmica de David Bohm, um físico estadunidense e marxista que via na mecânica quântica e no seu princípio da incerteza uma manifestação da consciência do universo. O filme Solaris de Andrei Tarkovsky de 1972 ao transpor para o celuloide o conceito de noosfera patente na harmonia entre o interior humano e o universo é visto como inserido neste conceito de noosfera. As manifestações na área do conhecimento e da ciência não são provavelmente as suas influências mais marcantes. O cosmismo russo insere-se fortemente na órbita nacionalista e nas obras de Gioforov e Tsiolkovski, onde se assume como um delírio New Age, com laivos de ocultismo, religiosidade, anti-ocidentalismo. Não renega a lógica comunista, apoia o progresso social e técnico, é apoiado pelos próprios cosmonautas contemporâneos e crítica abertamente o ocidente laico e viscoso que tudo quer comprar com o seu dinheiro. No final da era soviética, o dogma soviético e o marxismo científico, destinados a vencer a morte e cosmos, e em que já poucos acreditavam, deram lugar a uma atmosfera de New Age, pseudocientífica surgiu assente no ocultismo e outras como alquimia, adivinhação, parapsicologia, astrologia, medicinas alternativas e hipnose, que foram e são a origem do negacionismo russo. É nesta linha que surgem teóricos como Alexander Dugin, cujo ódio à democracia liberal, ao ocidente e um não estranho alinhamento com extrema direita europeia (Julius Evola, René Guénon, Carl Schmitt), se manifesta uma aversão à modernidade assente no ocultismo e no esoterismo. Alexandre Dugin propôs a criação do partido nacional bolchevista, porque achava que por trás do bolchevismo estava um conceito cosmista profundamente arreigado ao povo russo. Uma noção de uma Rússia geograficamente euro-asiática, envolta num ambiente de extrema-direita, que substituiu a doutrina marxista e está subjacente ao projecto da “Nova Rússia” que fundamentou a invasão da Crimeia e a extensão da guerra ao Donbass e à Transnístria. Esta visão cosmista da sociedade não é de forma alguma um exclusivo dos russos. Em muitos sectores da sociedade americana pode ser observada. Desde os sectores de extrema-direita, aos radicais religiosos, aos negacionistas – muito semelhantes ao que observamos na Rússia e em sectores da Europa Ocidental, passando ainda pelos “gurus” de Silicon Valley onde temos “lunáticos” que sonham com a conquista do cosmos enquanto destroem o planeta, ou perseguem uma vitoria sobre a morte, criando empresas de criopreservação enquanto doenças como a malária e a tuberculose continuam a dizimar milhões. Enfim, o mundo está louco e este livro ajuda-nos a explicar porquê?
"L'homme s' efforcera de commander a ses propes sentiments, d'élever ses instincts a la hauteur du conscient et de les rendre transparent, de diriger sa volonté dans les tenébres de l' inconscient. Par là, il se haussera à un niveau plus élevé et créera un type biologique et social supérieur, un surhomme, si vous voulez" Leon Trotsky, Literature et revolution, 1923
Um livro que merece ser lido e nos contextualiza o desenvolvimento de uma teoria filosófica - o cosmismo - que terá implicações em muitos ramos da ciência, tendo influenciado o século XX soviético na política, ciência, religião, mas também na literatura e cinema. E que se propaga ao ocidente com outras motivações. A ler
Livre journalistique, de style reportage. Ne vous attendez donc pas à un traitement critique, mème pas à un exposé philosophique des théories cosmistes. Même sur le plan journalistique parfois trop basée sur des suppositions qui auraient pu être mieux recherchées. Lecture agréable et intéressant, mais de valeur nutritionnel limité.
A very interesting read to see how the search for eternal life, human enhancement, and space colonization can be justified by both communitarian and religious motives (in the case of Russian Cosmism) and individualistic and secular ones (in the case of American Transhumanism). Nonetheless, I wish that after presenting the historical context of both movements, the author would discuss more its implications in his own views. He does so very shortly in the conclusion, finishing with the quote “The cosmist and transhumanistic ideals promise an infinitely longer life. But not necessarily a livelier one.” I think this discussion is worth at least a whole chapter, moreover when the author is a philosopher.
Overall, an insightful account of the relationship between cosmism and transhumanism across time and space (pun intended).
Engaging but, unfortunately, shallow. While reading, you might get the impression that cosmism developed in isolation, untouched by social and political movements, only to be crushed by communism and Leninism. It’s not until the conclusion that the author finally addresses how the movement paved the way for ideas about “equal yet better” humans. The book lays out the what’s and who’s in chronological order, but it lacks depth in exploring the interconnections—the hows. How did the surrounding reality shape this way of thinking, and how did those ideas, in turn, influence the world around them?
Lenine foi à Lua: A história louca dos cosmistas e transumanistas russos, de Michel Eltchaninoff, é um convite fascinante a uma viagem por um dos mais extraordinários cruzamentos entre filosofia, ciência e misticismo. Logo nas primeiras páginas, percebemos que o autor explora a influência de Alexander Chizhevsky, que realizou investigações — heterodoxas e arrojadas — sobre a forma como os ciclos solares moldam o curso da história humana, sugerindo correlações entre períodos de grande actividade solar e grandes revoluções. Essa abordagem poética e histórico-científica abre espaço para compreender o cosmismo não apenas como uma filosofia, mas como uma pulsação cósmica palpável.
A partir daí, o texto leva-nos ao pensamento de Vladimir Vernadsky, figura central do movimento. Cientista de formação sólida, Vernadsky é considerado um dos fundadores da geoquímica e da biogeoquímica — disciplinas que, em conjunto, ajudaram a moldar a base da ecologia moderna. Foi ele quem desenvolveu o conceito de noosfera, o estágio evolutivo da Terra em que o pensamento humano se torna uma força transformadora tão poderosa quanto a própria vida, elevando a biosfera a um novo patamar de interdependência entre a humanidade e o planeta.
É precisamente neste campo que o cosmismo revela a sua fusão peculiar entre ciência e espiritualidade. Eltchaninoff alimenta esse imaginário ao explorar o legado intelectual que atravessa figuras literárias como Dostoiévski e Tolstói, ambos profundamente marcados pela religiosidade russa — nas experiências com o starets Ambrósio, no mosteiro de Optina, onde procuraram consolo espiritual e inspiração para as suas obras. Dostoiévski, após visitar o starets Ambrósio, regressou revigorado e pronto para concluir Os Irmãos Karamázov, tendo encontrado na figura do starets Zósima traços daquele que lhe dera alento. Tolstói, por sua vez, embora tenha também visitado Optina Pustyn, viveu encontros mais tensos, permeados pelo seu orgulho e por uma fé em permanente tensão com o ortodoxismo tradicional.
Estas experiências religiosas individuais servem ao autor para desenhar o quadro de um pensamento colectivo que, na Rússia, sempre oscilou entre o místico e o científico — o cosmismo. Este movimento filosófico imagina um papel activo do ser humano no cosmos: regular as leis da natureza, alcançar a imortalidade e colonizar o espaço.
Eltchaninoff evoca ainda Lev Gumilev, cuja obra teoriza a etnogénese e as forças que moldam os povos, partindo de uma visão não apenas histórica, mas também geográfica e bioambiental dos grupos étnicos — um olhar em que o colectivo emerge da interacção entre a biosfera e a espiritualidade humana. Figura tão admirada quanto polémica, Gumilev trouxe ao cosmismo uma dimensão geopolítica e civilizacional, concebendo o etnos e a sua dinâmica como pulsações colectivas com raízes profundas no espaço e na ecologia do homem.
Ao longo deste ensaio, Eltchaninoff entrelaça todas estas linhas de pensamento: a influência solar de Chizhevsky como metáfora dos ciclos humanos, a biociência ecológica de Vernadsky e a noosfera como horizonte de consciência global, a espiritualidade radical que atravessa Dostoiévski e Tolstói, e a visão orgânica e civilizacional de Gumilev. O resultado é uma narrativa filosófica e histórica que revela como o cosmismo traduziu os anseios russos por transcendência e domínio técnico do universo.
A escrita é envolvente e acessível, mantendo um tom reflexivo que estimula tanto o olhar crítico como a imaginação, ideal para leitores curiosos por ideias que cruzam filosofia, ciência, literatura e espiritualidade. Quem procura um mergulho sem formalismos académicos, mas ainda assim rico em conexões conceptuais, encontrará aqui um livro tão estimulante quanto singular.
Tras el fracaso de la revolución de 1905, una serie de intelectuales rusos llegaron a la conclusión de que lo que había fallado era la falta de un sistema de creencias que darle al siempre religioso y conservador pueblo ruso, ese puede ser considerado el nacimiento del cosmismo, que con el paso del tiempo evolucionó y se ramificó hasta abarcar otros muchos aspectos de la condición humana hasta precisamente desafiar y superar los límites que la naturaleza impone a estos mismos seres humanos como la mortalidad o los viajes espaciales. Después, otros movimientos culturales como el transhumanismo adoptaron ideas del cosmismo y las adaptaron y desarrollaron para intentar ir más alla de las utopías. El cosmismo es un Movimiento que no se puede encasillar tan fácilmente ya que va desde la religión más puramente tradicional hasta los movimientos "new age" o desde el cientifismo más árido hasta los límites de lo esotérico hasta llegar a encandilar una gran mayoría de los nuevos ricos de Silicon Valley, que han encontrado en este movimiento un cierto andamiaje para vender sus baratas utopías de capitalismo de derribo.
Curioso per quel che fa scoprire, noioso per com'è scritto.
Nikolaj Fëdorovič Fëdorov, bibliotecario e filosofo è stato l'inventore del movimento cosmista, cuoriosa filosofia nata a metà '800 con forti radici religiose e massima fiducia nel progresso scientifico. A tratti anche un po' troppa vista la convinzione di riportare in vita i morti e quindi raggiungere la vita eterna. Vita eterna che, secondo Fëdorov, si sarebbe tradotta in sovrappopolazione sulla Terra e da qui nella necessità di colonizzare lo spazio.
Il cosmismo ha influenzato il pensiero russo, la letteratura, la politica e il modo di pensare di un intero popolo fino ad arrivare nella miliardaria Silicon Valley, dove fra i tanti progetti ci sono quelli legati alla vita eterna e alla colonizzazione spaziale.
Ad oggi, il pensiero di Fëdorov, è senza dubbio quello di chi a metà '800 ci aveva visto molto molto lontano.
J'ai adoré le sujet très niché et qui correspond à plusieurs de mes intérêts. Aussi, le style d'écriture de l'auteur est limpide et accessible. Par contre, la conclusion m'a déçue. L'auteur y introduit une hypothèse peu étoffée sur l'importance du nationalisme et du rapport à la Terre pour établir des liens nourrissants dans le vivre ensemble et j'ai trouvé que c'était maladroit et peu convaincant.
Si, on retire les dernières 10 pages, j'aurais donné 5 étoiles!
"La disparatada historia de los cosmistas rusos", aunque un subtítulo igualmente aceptable podría ser "La movida rusa que te voy a explicar te va a flipar", aunque acepto el elegido.
Sin duda alguna, hay algo que al final te atrae del cosmismo; ya sea intentar averiguar de dónde salió todo ese pensamiento e ideas aparentemente locas, aunque no tan descabelladas si se tienen en cuenta las "aplicaciones" actuales... Quiero viajar a Kaluga.
Ce livre est absolument captivant. Ne connaissant pas grand chose au thème et à l'histoire russe, j'ai pu apprendre grâce à ce livre des tas de choses. Les concepts sont expliqués de manière accessible à tous.
Un livre assez dense mais passionnant sur le cosmisme. J'aurais juste bien aimé une liste des personnages historiques, parfois je m'emmêlais un peu les pinceaux entre les acteurs de ce mouvement. Cet ouvrage m'a littéralement donné des idées pour un roman uchronique (si si) et j'aimerais approfondir, alors si vous avez des recos de livres plus approfondis sur le sujet (je lis aussi en anglais et en espagnol) dites-moi en commentaire!