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O Apocalipse dos Trabalhadores

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Terceiro romance do premiado escritor português Valter Hugo Mãe pela Cosac Naify, O Apocalipse dos Trabalhadores conta a história de Maria da Graça e Quitéria, duas empregadas domésticas (ou “mulheres-a-dia”, como são chamadas em Portugal) que, apesar do trabalho duro e da rotina opressiva, mantêm as esperanças em uma vida melhor. O livro narra suas desventuras amorosas: Maria da Graça envolve-se com seu patrão, que considera o homem ideal; Quitéria, por sua vez, vive um romance com um jovem imigrante ucraniano.
Para incrementar o orçamento mensal, as duas fazem bicos como carpideiras, e passam madrugadas velando defuntos desconhecidos. Essa experiência entre mortos e a proximidade da finitude fazem com que tenham uma relação particular com a fé e a religião.

192 pages, Paperback

First published January 1, 2008

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About the author

Valter Hugo Mãe

68 books2,281 followers
valter hugo mãe é o nome artístico do escritor português Valter Hugo Lemos. Além de escritor é editor, artista plástico e cantor.
Nasceu em Saurimo, Angola em 1971. Passou a infância em Paços de Ferreira e, actualmente, vive em Vila do Conde.
É licenciado em Direito e pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea.
Vencedor do Prémio José Saramago no ano de 2007
É autor dos livros de poesia: Livro de Maldições (2006); O Resto da Minha Alegria Seguido de a Remoção das Almas e Útero (2003); A Cobrição das Filhas (2001); Estou Escondido na Cor Amarga do Fim da Tarde e Três Minutos Antes de a Maré Encher (2000); Egon Shiele Auto-Retrato de Dupla Encarnação, (Prémio de Poesia Almeida Garrett) e Entorno a Casa Sobre a Cabeça (1999); O Sol Pôs-se Calmo Sem Me Acordar (1997) e Silencioso Sorpo de Fuga (1996). Escreveu ainda o romance O Nosso Reino (2004).
Organizou as antologias: O Encantador de Palavras, poesia de Manoel de Barros; Série Poeta, em homenagem a Julio-Saúl Dias; Quem Quer Casar com a Poetisa, poesia de Adília Lopes; O Futuro em Anos Luz, por sugestão do Porto 2001; Desfocados pelo Vento, A Poesia dos Anos 80, Agora.

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5 stars
557 (25%)
4 stars
994 (45%)
3 stars
500 (23%)
2 stars
90 (4%)
1 star
21 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 175 reviews
Profile Image for Luís.
2,364 reviews1,343 followers
January 31, 2023
The title of the novel I read, O Apocalipse dos Trabalhadores, may suggest a politically engaged or pamphlet work. Even though politics is present in the most prosaic human manifestations, Far from it. The novel speaks of fucked-up beings who find themselves with their crumbs of love. It tells the story of Maria da Graça, a daily housekeeper - in Portugal, it says she is (Mulher-a-Dias) - who works at Mr. Ferreira's house, a lonely sixty-year-old. The relationship between the boss and the maid develops from the loving insufficiencies of each one. The husband of Maria da Graça, Augusto, is an absent man who travels all the time across the world's seas and always returns home empty-handed to show a little more of his contempt for his wife.
Profile Image for Aleksandra Pasek .
185 reviews290 followers
November 28, 2022
top 3 tego roku.
świetnie napisane i przetłumaczone. wchodzi się w tę gęstą narrację jak w masło, od pieszego zdania. mogłoby być topornie, ale nie jest. czuć warsztat autora i naprawdę duże umiejętności.
bohaterki żywe, jakbym słuchała ich rozmów, stojąc pod drzwiami. postaci nieprzerysowane, z krwi i kości.
historia niby bez znaczenia, których wiele i która właśnie dlatego trafia pod serce.
tego mi było trzeba - literatury, która mnie ciągnie za sobą i nie puszcza do ostatniej strony. teraz wciskam wszystkim dookoła. proszę to czytać. literatura portugalska kolejny raz mnie zachwyca.
Profile Image for Ana.
230 reviews91 followers
April 13, 2017
“o apocalipse dos trabalhadores” era único romance de VHM que me faltava ler e como, de um modo geral, gosto bastante da obra do autor tinha algumas expectativas em relação a este livro. Chegada ao fim, se tivesse que definir esta obra numa palavra, a única que me ocorre é, na verdade, uma não-palavra (aquela que uma figura pública recentemente decidiu introduzir no nosso léxico): “inconseguimento”.

A acção, que decorre no interior transmontano, concretamente em Bragança, e se desenvolve em torno de três personagens (Maria da Graça e a sua amiga Quitéria, empregadas domésticas de profissão e carpideiras nas horas livres, e Andryi, um imigrante ucraniano em Portugal), pretende retratar a realidade das classes trabalhadoras mais desfavorecidas num contexto de precariedade. Todos procuram o seu “paraíso”, o que para Maria da Graça significa poder morrer de amor, para Quitéria viver o amor com um homem mais jovem e para Andryi ter uma vida digna no país da revolução das flores. Portugal aparece retratado na forma de um cãozinho (precisamente de nome portugal) que nos é descrito como um “rectângulo castanho, pulguento e imprestável.”

As ideias subjacentes a este romance e algumas alegorias utilizadas parecem, assim, interessantes e prometedoras, mas a concretização (a meu ver) falha redondamente. Não há vislumbre de um fio condutor, a narrativa é desarticulada e a escrita muito palavrosa e rebuscada. O que lhe sobra em retórica falta-lhe em coerência, o que acaba por tornar a leitura algo fastidiosa. Também as personagens me parecem insuficientes de credibilidade, como se o autor navegasse num universo que não lhe é totalmente familiar (Maria da Graça a referir-se à neoblanc como uma “lixívia gourmet” é qualquer coisa!). Na verdade fiquei com a sensação de ter lido um rascunho; um conjunto de ideias, eventos e diálogos atirados para o papel exactamente pela mesma ordem com que se formaram na mente do autor, que ao invés de aprimorar a narrativa pela via da arrumação, preferiu atafulhá-la de ornamentos retóricos.

Tenho consciência de que a minha opinião não está de acordo com a maioria das críticas nem com as classificações aqui no Goodreads, mas não consigo dar-lhe mais do que umas modestas 2*.


Profile Image for Ana.
746 reviews115 followers
June 12, 2018
Agora que terminei o meu segundo livro do vhm acho que posso, com propriedade, declarar-me fã. Apesar de ter gostado mais d'A Máquina de Fazer Espanhóis, este livro tem as mesmas características gerais que me fizeram gostar do primeiro: uma escrita aparentemente simples e que, embora às vezes crua, é sempre bonita, às vezes mesmo poética; um enredo que parte de situações do quotidiano que, à partida, não têm nada de especial, mas que lá pelo meio incluem acontecimentos menos "normais", que sem chegarem a poder considerar-se fantasia, adicionam interesse à história, e uma vontade de não parar de ler até o livro chegar ao fim. Como da outra vez, foi com pena que fui vendo as páginas passar e o fim chegar tão depressa.
Profile Image for Maria Isaac.
Author 5 books510 followers
May 25, 2022
VHM é o grande responsável por não conseguir dar 5* a este livro.
Apesar de continuar apaixonada pela sua escrita é impossível não comparar a experiência de leitura dos seus vários livros e não consigo igualar este com o Filho de Mil Homens, menos ainda com A Máquina de Fazer Espanhóis... este último que se mantem como um dos livros meus livros favoritos.
Sempre um prazer ler VHM :)
Profile Image for Natalia.
76 reviews39 followers
November 15, 2022
4.5
Mniej niż 200 stron, a jest w niej wszystko, czego szukam w literaturze. Porywające, performatywne pisanie o oswajaniu rzeczywistości.
Profile Image for Strona 17.
24 reviews43 followers
January 5, 2023
4,5/5

W posłowiu autorstwa Weroniki Murek przeczytamy:
„W wywiadzie przeprowadzonym przez Jordiego Corminasa i Juliána dla „Revista de Letras” mãe, zapytany o to, dlaczego na swoich bohaterów wybiera tych, którzy są niezauważeni, odpowiedział: „wszyscy ich potrzebujemy i nikt się z nimi nie liczy, bo nikt nie chce wykonywać ich pracy. Robotnicy – to nie jest seksowny temat. Nie są seksownymi bohaterami. Seksowne jest posiadanie pieniędzy, a nie opowiadanie o tym, w jaki sposób się je zarabia. Przeciętny mieszkaniec Unii Europejskiej nie potrafi pracować fizycznie”


I oto mãe stworzył Marię da Graçę i Quitérię. Bohaterki literackie bardzo krwiste, temperamentne, zahartowane. Ale i zaharowane, zmęczone, pracujące, by przeżyć. Szukające bliskości, a jednocześnie samotne, uwięzione w relacjach, w których trwają.

Świetna jest ta forma strumienia słów i myśli, którą stworzył mãe (i którą przełożył dla nas Michał Lipszyc), a w której Maria da Graça i Quitéria są momentami cyniczne, sprośne, wylewają sobie wzajemnie na głowę kubeł wody. Nic tu nie jest jednoznaczne i nawet po lekturze, trudno to sobie wszystko w głowie poukładać. Tym bardziej warto. No i wielki plus dla Ossolineum za dodatkową wartość w postaci brawurowego posłowia Weroniki Murek.
Profile Image for Sergio.
254 reviews2 followers
January 8, 2022
Este livro não me fisgou como os outros de Valter Hugo Mae. Muito bem escrito, uma história original, um bom ritmo mas... mas..., faltou aquilo, sabe aquilo? Que toca, que é uma coisa errada mas que dá o sabor? O cheiro? Que não encaixa e te deixa frente à um indizível, que quando você diz escapa...
Profile Image for Natalia.
214 reviews41 followers
March 12, 2023
Surowo i gęsto, jednocześnie dzicz i pustynia literacka w słowie i w formie (w pozytywnych tych słów znaczeniach!). Bohaterowie, z którymi się nie zaprzyjaźnisz, ale im współczujesz. Trochę ich osądzasz, ponieważ jesteś białą Europejką z kraju wysoko rozwiniętego, ale twoja (głównie wyobrażona i nadana przez ciebie samą) wyższość nie wystarcza by nie czuć ucisku w żołądku przez większość lektury. Wątek Ukrainy też uderza zbyt blisko.
Profile Image for Ricardo Lourenço.
Author 4 books34 followers
August 10, 2010
“Interessa-me que seja a força da frase, a capacidade expressiva do texto a seduzir o leitor para as palavras mais importantes, como se as palavras, sozinhas, se constituíssem como heroínas de um jogo exclusivamente delas, vencendo umas sobre as outras pela sua natureza significativa - inclusive no encontro das convicções de cada leitor - ou simplesmente harmonizando-se e defendendo-se em conjunto, como apaixonadas umas pelas outras.”

VHM, em entrevista para a Os Meus Livros

O aspecto mais característico na escrita de Valter é, definitivamente, a ausência de maiúsculas aliada à redução do uso de pontuação ao mínimo, procurando, segundo o autor, criar uma aceleração na leitura. A repercussão ao nível da velocidade de leitura é discutível, mas o choque inicial ultrapassa-se após um breve período de habituação que, consequentemente, nos permite desfrutar da sua fluidez.

“para um homem, achava, as coisas estavam feitas de modo diferente. os empregos são melhores, as liberdades melhores, e até a consciência distinguia uns de outras. para as mulheres, uma devassidão era já um perigo de grande luxo. se alguém o descobrisse, não arranjaria a maria da graça mais chão para esfregar.”

Depois de o remorso de baltazar serapião, pelo qual recebeu o Prémio Literário José Saramago da Fundação Círculo de Leitores, Valter apresenta-nos uma história que se foca em temas tão actuais como a precariedade do trabalho, o preconceito para com os imigrantes em Portugal e as desigualdades entre homens e mulheres, que apesar de se terem vindo a atenuar, continuam ainda a assolar a nossa sociedade. Dentro desta realidade, as suas personagens debatem-se entre a subsistência e a busca da felicidade, que no contexto do romance, é alcançada através das relações afectuosas que estas estabelecem.

“olha, sabes que hoje em dia se armazena informação que nunca, em toda a eternidade, vai voltar a ser consultada. quê. ando com isso na cabeça. tu andas é com o maldito na cabeça, não pensas noutra coisa. é que com isto da informática tudo se regista, do mais importante ao mais insignificante. desde as coisas do estado até à rotina dos adolescentes. e muito do que se regista não será mais consultado, porque não haverá ninguém com interesse ou sequer com tempo para o fazer. que angústia. é como haver muita gente a querer deixar uma marca para o futuro e o futuro estar sobrelotado.”

Entre o humor inteligente e a criatividade presentes ao longo do texto, torna-se interessante verificar como as ideias mais profundas nascem das trivialidades do quotidiano, que povoam os diálogos entre Maria da Graça e Quitéria. É na simplicidade e despudor dessas conversas que nos vamos familiarizando com os seus amores controversos, assim como se torna visível o quanto a sua vida é condicionada pelas dificuldades financeiras, uma vida em que o seu bem-estar não aumenta proporcionalmente à sua carga laboral.

“era, na realidade, como um leão de fantasia que, subitamente, podia ganhar a vida e, obviamente, trazer no estômago toda a grande fome ucraniana. o medo, permanentemente, era quase palpável. um amor cheio de medo e palpável. a cada segundo passível de acabar, o amor, o medo seria para sempre.”

Paralelamente à história das duas mulheres-a-dias, acompanha-mos a vida de Andriy, um jovem imigrante ucraniano, tal como o enfraquecimento físico e psicológico que afecta o seu povo desde a Grande Fome da Ucrânia, numa evidente denúncia à xenofobia em Portugal. Trata-se, portanto, de uma manifestação do espírito igualitário de Valter Hugo Mãe, que desta forma explora uma temática bastante menosprezada no panorama literário português.

Em suma, o apocalipse dos trabalhadores, como retrato da situação de algumas das classes sociais mais desfavorecidas, desperta-nos do egoísmo inerente ao ser humano, colocando nas nossas mãos a responsabilidade por criar uma sociedade onde impere o respeito mútuo e não a indiferença.

“o mealheiro ficou sobre o frigorífico da casa dos pais e, mesmo na ausência do andriy, a ekaterina punha-lhe umas moedas pequenas, muito esporadicamente, porque lhe fazia crer que assim tomava conta do filho. Quando ela não o fazia, fazia-o sasha, também um pouco às escondidas, a pensar na moeda que ali caía como algo que caísse no colo de andriy, um abraço, um beijo, uma saudade forte que não os poderia abandonar. olhavam um para o outro, quando se deflagravam naquele gesto tolo, e sentavam-se juntos nos bancos mais ao pé da janela. podia chorar brevemente, umas lágrimas de tristeza que quase seriam impossíveis de conter, e depois sonhavam acordados com portugal.”
Profile Image for Natacha Martins.
308 reviews34 followers
September 1, 2015
Maria da Graça é uma mulher nos seus quarentas, casada com o único pescador de Bragança, cidade sem mar, pelo que o marido passa a maior parte do ano fora, embarcado. É uma mulher frustrada, confusa, trabalhadora e sem nunca ter conhecido o amor, nem do marido nem de ninguém, vive na ilusão de que o que sente pelo patrão é amor. No entanto, não deixa de o odiar. O patrão é um homem mais velho e culto que se acha no direito de a "atacar" sempre que quer e pode. O Sr. Ferreira parece ter o necessário para ser feliz mas vive ele próprio com os seus fantasmas que o impedem de olhar a vida de frente. Maria da Graça vive atormentada por esta relação e todas as noites sonha que está às portas do céu, onde vai parar depois de o patrão a ter morto e onde São Pedro lhe recusa a entrada, noite após noite.
Maria da Graça aparece-nos como uma mulher inteligente e dividida. Dividida entre o que gostaria de ser o que lhe permitem ser. Dividida entre o amor e o ódio pelo patrão. Dividida entre o desespero e a esperança de dias melhores. Dividida entre as lágrimas e a gargalhada.
Quitéria é a melhor amiga, e vizinha, de Maria da Graça. É uma mulher livre, despreocupada e de certa forma feliz. Não é casada e tem uma verdadeira obsessão por homens mais novos. Não procura o amor, apenas a satisfação sexual. Sem saber como vê-se enamorada de Andryi, um dos seus jovens amantes, imigrante ucraniano, trabalhador da construção civil, com uma história familiar difícil. Quitéria surge aqui como a protectora de Maria da Graça e também de Andryi. É efectivamente uma mulher de bem com a vida, despudorada e imensamente bem disposta. Segue à risca o ditado "se vida te dá limões faz limonada".
Andryi é um jovem de vinte e tal anos, que veio para Portugal, como tantos dos seus compatriotas à procura de uma vida melhor. Deixa na Ucrânia os pais e vive em Portugal angustiado com o destino dos dois. Sem se conseguir adaptar ao nosso país e a nós, vive calado, fechado sobre si mesmo. Tenta ser um robot, uma máquina de trabalho que nada sente e nada vê. Quer apenas ganhar dinheiro para enviar aos pais. Com Quitéria inicia uma relação, ao princípio meramente física, depois desconfiada e magoada, que acaba por se transformar numa espécie de amor. Encontra em Quitéria compreensão e alguma da ternura deixada na Ucrânia.

Há qualquer coisa que me incomoda neste livro e não consigo dizer o quê. Não senti grande empatia com as personagens, nem com os seus problemas. Não achei credíveis as vidas de Maria da Graça e Quitéria, talvez porque não as consegui encaixar nas vidas das empregadas domésticas que conheço, que também nada têm a ver com os estereótipos que muitas vezes lhes estão associados. Consigo identificar-me com o tema, com a vida dura e sem grande perspectiva que muitas destas mulheres têm, uma vida de trabalho fisicamente desgastante e pouco valorizado.
Acho interessante e valorizo a escolha dos protagonistas improváveis, mulheres a dias e imigrantes do leste, não sei é se valter hugo mãe os terá conseguido caracterizar da melhor forma. Neste sentido o livro acabou por não estar à altura do que esperava, porque uma das características mais interessantes de valter hugo mãe é a capacidade que tem de encarnar as vivências das suas personagens, como se tivesse efectivamente passado pelas mesmas experiências, e transmitir na escrita todas as emoções e sensações vividas.

Embora esteja longe de ser um livro mau, não foi, para mim, uma leitura marcante. Esperava mais, ou diferente, de valter hugo mãe e é por ser de valter hugo mãe que o recomendo sem reservas.

Boas leituras!
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews85 followers
November 26, 2014
"larga-me o andriy, mulher, mas aos outros cinco marmanjos dá-lhes forte, que hão-de ser bonitos e espertos o suficiente para te tirarem a estupidez do corpo.
a maria da graça vira aquela frase da quitéria. vira-a perfeitamente, como ela estando deitada sobre uma cama e os cinco homens loiros, de pele clara, mexendo-se em seu redor como se a exorcizassem. agarrou de novo na vassoura e foi juntar trabalho ao canto da sala incapaz de impedir um arrepio leve no púbis, uma pequena electricidade que faiscava tão ligeiramente em direcção ao sexo, entrando pelo sexo e acordando-o maliciosamente. o cabo da vassoura pareceu endurecer e ela pensou que as coisas desobedeciam à educação que tanto apregoara para que se pudesse impressionar deus. varreu quase corada, ansiosa, excitada como não se sentia havia bom tempo. na verdade, secretamente, percebera que lhe faltava o sexo, que quereria e até precisaria de sexo, talvez metendo-se na casa dos seis homens com a firmeza de quem esperava que ao menos um fosse macho com ela, sem rodeios, a obrigá-la a assumir-se como fêmea e nenhuma negativa. a estupidez, se era aquilo, saía-lhe do corpo rapidamente, pensava, e havia de voltar à esperteza de outros dias."

"o apocalipse dos trabalhadores" - Valter Hugo Mãe
Profile Image for Ema.
810 reviews83 followers
March 19, 2019
3,5*

Gostei bastante da escrita do autor e da história que ele escolheu para estas personagens tristes e algo vazias, melancólicas de pobreza, cheias de dor e sofrimento. Para mim é já uma vitória ter conseguido ler um livro deste autor, depois do trauma que A Desumanização me deixou (tentei lê-lo três vezes, sem sucesso). E gostei da história, mas pelo meio da leitura, senti-me desconectada com as mulheres, e mesmo o ucraniano emigrante me pareceu perdido dentro da história, por isso não posso dizer que adorei o livro. Não é uma obra fácil pelos temas, o começo é duro, cru, extremamente triste, ao falar sobre duas mulheres perdidas no mundo e nelas mesmas, com relações disfuncionais, sem amor, apesar de elas acharem que sentem amor. O fim também é difícil, evitável como em tantas vidas reais, mas inevitável individualmente... Não sei bem o que estou para aqui a escrever e acho que é esta a sensação com que fiquei no livro todo, porque este é triste e não se chega a nenhum bom porto, quase não há esperança nem um pingo de felicidade. Tem nele presente uma saudade e uma melancolia, uma tristeza rural tipicamente portuguesas... Gostei bastante de algumas passagens do livro e da perspectiva que o autor coloca, tanto da história como da vida real, que tal como no livro, muitas vezes não é fácil nem feliz.
Profile Image for Krysia o książkach.
918 reviews654 followers
December 30, 2022
Po pierwsze ta książka okazała się być czymś totalnie innym niż się spodziewałam. To nie jest nonfiction. Jeśli bym miała porównać do czegoś to przypomina mi "Stregę" pod względem klimatu czy odczuć towarzyszących lekturze.

Znak szczególny, brak wielkich liter, sam autor wspomina, że im nie ufa, bo człowiek nie myśli wielkimi literami.
Historia spisana w stylu strumienia świadomości, gdzie splątane są wypowiedzi narratora i postaci, wrzucone w jedno koryto mrocznej, szybkiej rzeki, gdzie wszystko wydaje się pozbawioną tchu opowieścią. Atmosfera mroczna, gęsta, momentami zapiera dech w piersiach, momentami odrzuca, momentami jest bardzo dziwacznie, onirycznie. Część rzeczy dzieje się w śnie. Bardzo dużo seksu i fizyczności ale raczej rozpaczliwej, gorzkiej, niechętnej krzywdy niż aktu miłości.

Interesująca, zaskakująca, chociaż wymagająca. Pomimo niecałych dwustu stron czytałam ją kilka dni i towarzyszyła temu cała gama emocji. Tak naprawdę dopiero ostatnie zdania robią wrażenie i wtedy dopiero ta historia osiąga swoje momentum.

Polecam nie pomijać posłowia, jest naprawdę wartościowe i rzuca nieco światła na sprawę.
Profile Image for Silvéria.
498 reviews237 followers
July 23, 2018
3,5*
Se tivesse lido este livro sem saber quem era o autor, apostaria que era do valter hugo mãe.
Num estilo só dele, às vezes parece mesmo que escreve apenas para ele próprio!
Profile Image for Monika.
771 reviews81 followers
June 25, 2023
Pierwsza rzeczą, którą zauważa się czytając tę książkę, to brak dużych liter. To spowodowało, że było mi trudno się początkowo wgryźć w jej treść. Jednak gdzieś przed połową załapałam rytm i wyczułam się w fabułę i ten potoczysty język.
Autor jest Portugalczykiem i pisze też o Portugalii. Mamy tu Marię i jej męża Augusta, Quiterię i jej kochanka z Ukrainy- Andrija. Obie kobiety to sprzątaczki około czterdziestki, które zarabiają tak mało, że nie są w stanie niczego zaoszczędzić. Nie mają umów o pracę, a pracodawcy nierzadko wykorzystują je seksualnie. No właśnie- ostrzeżenie: mamy tu gwałt, samobójstwo, śmierć dziecka. Bo to jest bardzo smutna książka, choć bywa miejscami śmieszna, to przesycona jest smutkiem i poczuciem dojmującej samotności, a także bezradności. Braku kontroli nad swoim życiem.
Są momenty w których patos i powaga są przełamywane potocznym językiem. Są miejsca w których proza życia i dojmujący smutek są przełamywane przez piękne metafory i błyskotliwe spostrzeżenia.
Dziwna to książka, ale według mnie warta uwagi.
Profile Image for Ruben Nunes.
67 reviews5 followers
January 17, 2022
Mais um excelente livro de Valter Hugo Mãe!
Uma história aparentemente simples, mas que explora um dos temas, ou sentimentos, mais complexos inerentes ao Ser Humano... O Amor.
Aqui explorado de forma um pouco peculiar, mas que, ao mesmo tempo, não deixa de retratar aspectos tão típicos e tradicionais do nosso povo português, em que, por vezes, parece que estamos perante personagens tipo caricatura, estereotipadas. Contudo isso não faz delas personagens monótonas ou vazias de personalidade, antes pelo contrário. Faz - nos aproximar delas, sentir que as conhecemos, mesmo que "de vista".
Ao longo do livro os diversos temas vão sendo tratados, ou retratados, numa mistura de humor com uma boa dose de seriedade e emoção. Um balanço perfeito, sobretudo para quem gosta da forma sublime como o autor consegue exprimir-se, e dotar de sentimento as palavras e acontecimentos que, podendo ser banais, deixam de o ser, e ganham uma dimensão imensa.
Excelente primeira leitura deste ano.
Profile Image for Lethycia Dias.
Author 6 books42 followers
January 23, 2022
Comprei este livro há alguns anos, quando ouvia falar bastante deste autor português com sobrenome inusitado e livros com títulos ainda mais inusitados. Na época, li "A desumanização"; deixei "O apocalipse" para depois, depois e depois, até achar que tinha chegado a hora de ler.
Nesta novela, acompanhamos Maria da Graça e Quitéria, duas diaristas na cidade de Bragança, em Portugal, e Andryi, um imigrante ucraniano em busca de trabalho. Maria da Graça trabalha para um homem com quem tem uma estranha relação que alterna entre abuso sexual, paternalismo e afeto; enquanto Quitéria se relaciona com Andryi, que enfrenta um silêncio imposto pelo pouco conhecimento do idioma português.
A proposta, aparentemente, era nos inserir no cotidiano de pessoas cujos trabalhos consomem suas vidas. Pessoas que se anulam em trabalhos braçais e pouco qualificados a ponto de estarem à beira de um constante apocalipse. A meu ver, não foi bem executada; poderia ter sido se acompanhássemos mais o dia-a-dia de Andryi, que aparece mais em companhia de Quitéria do que sozinho ou com outros imigrantes do norte da Europa. É verdade que Maria da Graça e Quitéria têm trabalhos pouco valorizados que as tornam quase "coisas" de seus patrões; mas não vi essa questão tão presente na história.
As duas alternam entre seus empregos, o serviço doméstico das próprias casas e o "freela" como carpideiras, chorando a morte de pessoas que não conhecem e que não têm ninguém próximo para estar em seus velórios. E passam os dias conversando sobre esse cotidiano que é sempre igual, alterado apenas pela morte do patrão de Maria da Graça e pela volta do marido dela, que é marinheiro e passa meses no mar.
A prosa é bonita, mas não foi suficiente para que eu criasse algum tipo de conexão com essas personagens. Os trechos a respeito do pai de Andriy, que sofre com uma mania de perseguição e um medo constante de ser capturado e morto, também não ajudam. Fiz uma leitura bastante lenta e com pouca imersão.
A edição da Cosac Naify é como a linguagem utilizada: bonita, porém pouco funcional. A diagramação deixou o texto afastado das margens internas e muito próximo das externas, de forma que, segurando o livro físico, os dedos sempre tampam parte do texto.
Profile Image for Pedro Pacifico Book.ster.
391 reviews5,379 followers
March 11, 2020
No início, o leitor pode sentir certa dificuldade e estranhar o estilo de escrita de Valter Hugo Mãe, marcado pela ausência de letras maiúsculas, travessões e por uma pontuação fora do comum. No entanto, depois que se adapta ao estilo de escrita, não tem como não se encantar pela poesia característica dos livros do autor. Em O apocalipse dos trabalhadores, o leitor é mergulhado na vida de Maria da Graça e Quitéria, duas empregadas domésticas que sofrem com uma rotina repetitiva, opressiva e pouco - para não dizer nada - prazerosa. Para conseguir juntar um pouco mais dinheiro, as duas amigas ainda fazem uns bicos como carpideiras, participando de velórios, em que choram pela morte de desconhecidos. Os diálogos entre as personagens, que muitas vezes acabam em discussões, são muito bem construídos e, na minha opinião, o ponto alto da obra. Apesar das diferenças de suas ideias, Maria da Graça e Quitéria têm um forte traço em comum: nunca deixaram de sonhar com uma vida melhor e com a busca da felicidade! E é assim, com essa esperança de dias novos, que as duas vivem ou, na verdade, lutam para sobreviver. Uma narrativa sofrida e impactante, que ainda aborda em diversos momentos o tema da morte, nos fazendo refletir sobre a efemeridade da vida.

Nota: 10/10

Leia mais resenhas em https://www.instagram.com/book.ster
Profile Image for Carolina.
151 reviews80 followers
January 15, 2025
Cativante desde as primeiras linhas.
Além de muito ternurento, este livro contém uma crítica social bastante forte a um país retrógrado e sem condições para os seus trabalhadores, e menos ainda para os imigrantes que nele procuram uma oportunidade para uma vida melhor. Explora também as relações afectivas e a sua complexidade.
O Apocalipse dos trabalhadores abre-nos a janela para a vida de três personagens cuja precariedade laboral se coaduna com um sentimento de vazio existencial. O trabalho rege a vida destas personagens, não só porque a sua sobrevivência depende diretamente dele (a principal razão!), mas mais ainda por lhes proporcionar o estabelecimento e fortificação de relações afectivas com os outros. O amor paira como a derradeira hipótese de libertação de uma vida tão plena de sofrimento; o preenchimento desse vazio constante é a verdadeira âncora que salva cada um deles da deriva. A morte, por outro lado, espreita como um escape fácil, mas nem por isso menos viável. Os constantes lembretes da mortalidade funcionam como alertas urgentes para estas personagens de que apenas elas são responsáveis por tomar as rédeas das suas vidas e conferir-lhes significado. Em última instância, a lição principal prende-se com priorizar as relações afectivas que nos trazem felicidade em vez dos vínculos laborais que nos permitem subsistir à custa do nosso ânimo.
Profile Image for Kinga Pańczyszyn-Liśkiewicz.
24 reviews
May 28, 2023
Książka gęsta i szorstka jak koci język, bo przez szorstkość przedziera się czułość. Ale to nie jest czułość, która każe autorowi tworzyć bohaterów przypominających figury woskowe, świątobliwych w swym trudnym losie, budzących tylko współczucie. Bohaterowie apokalipsy to postaci z krwi i kości, uwięzione w ciasnym świecie, szybko i płytko oddychający, bo na oddech pełną piersią po prostu nie ma w nim miejsca. I ten brak miejsca czujemy we własnej krwi i we własnych kościach.
Profile Image for Rita.
111 reviews7 followers
June 8, 2023
4,5 🌟
"amo sim, amo muito, mas não adianta nada ficar a amar os mortos porque não se podem atirar para cima de nós e nem sequer podem latir. é importante que continuemos. é uma mulher muito forte. como supera as coisas. trabalho, quando tiver vontade de chorar faço de conta que as feridas que tenho nas mãos se abriram e me queimam. é mais fácil admitir as dores do corpo que as da cabeça ou do coração. pois a mim muito me surpreende quando diz que ele não a amava, porque as mulheres não se deixam levar muito tempo por um homem que não as quer. pense lá melhor, eu sou só uma mulher-a-dias, não tenho cultura para lhe ensinar coisas tão importantes, pense duas vezes se quer que eu lhe responda."

Começo a precisar de toda uma preparação psicológica para os livros de Valter Hugo Mãe. O apego que se cria com as suas personagens tão bem criadas e desenvolvidas faz com que sinta que estou a despedir-me de novos amigos de cada vez que termino um livro seu.
Brilhantemente escrito, como de costume, toca assuntos tão dolorosos como o luto e a pobreza, e as âncoras que encontramos nos amigos que ajudam a trazer alguma alegria aos dias monótonos e trabalhosos de uma classe baixa sempre sacrificada e esquecida.
Profile Image for Maria Janeiro.
46 reviews
February 6, 2021
Numa espécie de poesia escrita em prosa, este livro narra as vidas de várias personagens pertencentes a uma classe operária de um bairro social de Bragança - uma empregada doméstica, uma carpideira e vários emigrantes de leste que vieram para Portugal e acabaram a trabalhar na construção. Com um sentimento de estar a ler um livro escrito para si mesmo, Valter Hugo Mãe transmite, com a sua escrita fantástica, uma narrativa diferente do que estamos habituados e que nos enriquece. Recomendo, claro :)
Profile Image for Carla.
183 reviews25 followers
June 24, 2014
É o terceiro livro que li do escritor Valter Hugo Mãe, mas contrariamente aos outros dois de que gostei muito ("a máquina de fazer espanhóis" e "A Desumanização"), este não o apreciei particularmente, porque deixou-me uma sensação de vazio e porque o final, no que concerne ao suicídio por amor de uma das personagens, além de triste, não me pareceu coerente com a história da mesma.

Este livro traça-nos a vida de duas mulheres economicamente, socialmente e culturalmente desfavorecidas, a Maria da Graça, mulher-a-dias (empregada doméstica), e a Quitéria (carpideira), ambas amigas e vizinhas, residentes num prédio de habitação social em Bragança. A primeira casada com um pescador de quem não gosta e que vai tentando envenenar com lixívia que coloca na sopa, apesar de não o querer matar, a outra que tem diversos casos amorosos com imigrantes de leste, a maioria pedreiros da construção civil que a desprezam, mas de quem ela também não gosta.

Sucede que, a Maria da Graça apaixona-se pelo seu patrão, um idoso abastado e culto, que lhe dá a conhecer a música de Mozart, mas que a força a ter relações sexuais de que ela sente culpa e mau estar, provocando-lhe pesadelos com a sua entrada no paraíso de quem é afastada por São Pedro. Com o suicídio do Sr. Ferreira, o seu patrão, que acaba por lhe deixar a sua casa como herança, a Maria da Graça sente-se cada vez mais triste, e vai percorrendo um caminho que a leva também ao suicídio como forma de encontrar o seu amor, ou seja, o próprio Senhor Ferreira depois de morto.

A Quitéria acaba por se enamorar de Andriy, um imigrante ucraniano muito mais novo do que ela, que também se apaixona por esta, sendo que, apesar das dificuldades económicas, aquela ajuda-o e vai com ele à Ucrânia à procura dos seus pais desaparecidos.

O autor aborda também os temas das diferenças culturais e linguísticas entre os imigrantes de leste e os portugueses,dos seus problemas de integração na cidade de Bragança e da dificuldade dos portugueses em aceitarem a presença dos primeiros no nosso país.

É um livre particularmente triste, parecendo-me que as relações estabelecidas entre as personagens principais, os dois "casais", são inverosímeis, além de seguirem um percurso incoerente e contraditório.

Parecem ser histórias sem sentido.
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