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Debaixo de Algum Céu

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Num prédio encostado à praia, homens, mulheres e crianças - vizinhos que se cruzam mas se desconhecem - andam à procura do que lhes falta: um pouco de paz, de música, de calor, de um deus que lhes sirva. Todas as janelas estão viradas para dentro e até o vento parece soprar em quem lá vive. Há uma viúva sozinha com um gato, um homem que se esconde a inventar futuros, o bebé que testa os pais desavindos, o reformado que constrói loucuras na cave, uma família quase quase normal, um padre com uma doença de fé, o apartamento vazio cheio dos que o deixaram. O elevador sobe cansado, a menina chora e os canos estrebucham. É esse o som dos dias, porque não há maneira de o medo se fazer ouvir.
A semana em que decorre esta história é bruscamente interrompida por uma tempestade que deixa o prédio sem luz e suspende as vidas das personagens - como uma bolha no tempo que permite pensar, rever o passado, perdoar, reagir, ser também mais vizinho. Entre o fim de um ano e o começo de outro, tudo pode realmente acontecer - e, pelo meio, nasce Cristo e salva-se um homem.
Embora numa cidade de província, e à beira-mar, este prédio fica mesmo ao virar da esquina, talvez o habitemos e não o saibamos.
Com imagens de extraordinário fulgor a que o autor nos habituou com o seu primeiro romance, Debaixo de Algum Céu retrata de forma límpida e comovente o purgatório que é a vida dos homens e a busca que cada um empreende pela redenção.

199 pages, Paperback

First published March 1, 2013

14 people are currently reading
434 people want to read

About the author

Nuno Camarneiro

16 books187 followers
Nuno Camarneiro nasceu em 1977. Natural da Figueira da Foz, licenciou-se em Engenharia Física pela Universidade de Coimbra, onde se dedicou à investigação durante alguns anos.

Foi membro do GEFAC (Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra) e do grupo musical Diabo a Sete, tendo ainda integrado a companhia teatral Bonifrates. Trabalhou no CERN (Organização Europeia para a Investigação Nuclear) em Genebra e concluiu o doutoramento em Ciência Aplicada ao Património Cultural em Florença.

Em 2010 regressou a Portugal, sendo actualmente investigador na Universidade de Aveiro e professor do curso de Restauro na Universidade Portucalense do Porto. Começou por se dedicar à micronarrativa, tendo alguns dos seus contos sido publicados em colectâneas e revistas. “No Meu Peito não Cabem Pássaros” é a sua estreia no romance.

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Community Reviews

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11 (1%)
Displaying 1 - 30 of 94 reviews
Profile Image for Luís.
2,373 reviews1,370 followers
May 1, 2024
This is a "must-read" book. It does not use puns but encourages attentive, reflective reading that does not leave the reader indifferent. I highly recommend it.
It is the kind of book you like to read in a cozy corner during the summer holidays!
Profile Image for Ana.
754 reviews174 followers
August 25, 2018
Passou uma semana desde que terminei esta obra e aconteceu aquilo que eu temia – já não mora em mim nada ou quase nada da sua leitura.
Debaixo de algum céu, galardoado com o prémio Leya de 2012, tem uma premissa que me cativou e me fez querer entrar nela o mais rápido possível (lá estou eu a contrariar-me… manias de leituras cronológicas e querer ler uma obra o mais depressa que pudesse… enfim…). A correspondente sinopse informa o leitor de que a ação se desenrolará durante uma semana, que nesse período de tempo iremos entrar num prédio encostado à praia e nos apartamentos que o compõem e que uma tempestade, que deixa o prédio sem luz, irá quebrar a rotina dos seus habitantes e suspender as suas vidas. Ora, se juntarmos a estes ingredientes suculentos (prémio Leya e sinopse empolgante) um terceiro tão ou mais entusiasmante – saber que do outro lado do computador estarias tu, Paula, a ler a obra ao mesmo tempo que eu – é perfeitamente compreensível que as minhas expectativas estivessem lá bem no alto, mesmo que uma vozinha maléfica (consequência de algumas opiniões que já havia lido algures e que não eram muito favoráveis) me sussurrasse que haveria que refrear essa excitação…
A primeira coisa que salta à vista na obra é o seu preâmbulo que me conquistou plenamente (não só a mim como também a quem me ofereceu a obra, já que muitas das suas frases estão sublinhadas). A escrita do autor é deliciosamente poética e introspetiva e obrigou-me a elevar ainda mais as já referidas expectativas. Como tal, é normal que não me tenha refreado quando passei para os capítulos – divididos nos oito dias em que se desenrola a ação – e que estivesse com todos os meus sentidos em alerta, absorvendo tudo sobre as personagens, sobre o narrador e acenando de satisfação quando estava perante mais exemplos da qualidade da escrita do autor.
O livro não é longo, tem apenas 200 páginas e tanto eu como a Paula o lemos em pouco tempo. Mesmo assim, conseguimos trocar bastantes impressões e todas elas apontavam para conclusões semelhantes e que agora partilho convosco – não foi uma leitura que nos tenha preenchido e que tenha correspondido às expectativas (pelo menos às minhas). Continuo a afirmar que o estilo e a escrita do autor são muito bons, com traços de poesia e densidade que me agradam sobremaneira. Porém, acho (e creio que a Paula também) que Nuno Camarneiro divagou e filosofou em demasia e que pôs a narrativa “ao serviço” desses pensamentos, dessa filosofia, dando, dessa forma, oportunidades reduzidas para as personagens brilharem e ocuparem o espaço que têm que ocupar numa trama, seja ela de que género for.

A opinião completa aqui - http://osabordosmeuslivros.blogspot.c...
Profile Image for David Pimenta.
374 reviews19 followers
June 30, 2013
Há qualquer coisa no livro do Nuno Camarneiro que me encantou profundamente. Acabei de o ler em Paris, com uma vista para o Torre Eiffel e fiz uma vénia interior à humanidade dentro desta obra. Em "Debaixo de algum céu" assistimos à vida de algumas personagens que vivem num prédio pertence uma praia, num lugar não especificado pelo autor e que não interessa ao leitor. É dada a conhecer as mulheres do prédio, cada uma da sua idade: a que acabou de casar e tem uma filha, ainda bebé; a idosa, envolvida numa solidão extrema; a dona de casa, com uma vida pacata e com dois filhos e a jovem, de 15 anos e com tanto para viver. Ao lado das mulheres encontram-se sempre os homens ao lado delas, cada um com as suas vitórias e os seus medos.

A história é extremamente realista. Acompanham-se unicamente alguns dias da vida de todas as personagens: chega-se a apanhar o Natal e o Ano Novo mas é como se visualizássemos a vida inteira. Há um envolvimento incaracterístico com todas as personagens, e não é qualquer escritor que o consegue fazer. Não sei se o livro do Nuno Camarneiro seria o melhor de entre todos os que concorreram ao prémio Leya do ano passado mas que é um bom exemplo de ficção portuguesa lá isso é. Um outro destaque a uma personagem do livro é ao padre Daniel. Que humano e que divino! (Quando escrever num computador melhoro, com o iPad não dá jeito).
Profile Image for Rita.
906 reviews185 followers
January 13, 2022
Este livro fez-me lembrar d’Os 9 círculos do inferno, da Divina Comédia de Dante Alighieri.

Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles - são estas as palavras que me ocorrem quando preciso definir este livro.

8 dias, 7 inquilinos! Parece pouco mas foi mais do que suficiente nos apresentar uma visão da nossa sociedade, estilo de vida, relacionamentos ou falta deles, sonhos e pesadelos, receios, esperanças e apreensões, crenças e ambições, enfim a humanidade está muito bem representada naquele prédio à beira-mar plantado.
Gostei da forma de escrever (a parte mais religiosa cansou-me um pouco), é uma prosa com jeito de poesia, com momentos profundos e que nos fazem pensar um pouco na nossa própria existência.
Profile Image for Ema.
815 reviews82 followers
July 20, 2018
Fiquei divida praticamente o livro todo entre passagens bastantes interessantes e bonitas e passagens cheias de teorias e filosofias, numa escrita poética que não me disse nada. Passei a gostar mais da leitura a partir do último terço do livro, talvez por já conhecer melhor as personagens e o estilo narrativo. Porém, o facto de ter levado muito tempo a entrar na história, fez com que, no final, já não me lembrasse das reflexões feitas no início e senti que perdi uma boa parte do que o autor queria transmitir. Em relação à premissa, gostei bastante porque há algo de fascinante nos prédios, abarcam muitas famílias, todas diferentes, com indivíduos muito distintos, de variadas idades e com histórias diferentes. O facto de haver sempre algo a acontecer no apartamento do lado, enquanto estamos ou sossegados na nossa rotina ou stressados com algum problema, significa que a vida está sempre a decorrer e que somos apenas uma peça no imenso lego que é o mundo. Fez-me lembrar o Claraboia do Saramago e uma série de televisão portuguesa Aqui Não Há Quem Viva (embora esta seja de comédia). Ao longo do livro vamos então acompanhando essas vidas e no final, todas elas mudaram de alguma forma, umas transformaram-se, outras aprenderam a conviver com as dúvidas existenciais, outras cresceram, mas em todas algo se acrescentou, e também se perdeu, porque nem sempre é tudo rosas.

"O amor não é fácil em nenhuma idade e dói tanto ceder-lhe como fugir-lhe."
Profile Image for Rosa Ramôa.
1,570 reviews85 followers
September 29, 2014
"Não é o sentido da vida que me preocupa, mas o meu sentido na vida.”
― Nuno Camarneiro, Debaixo de Algum Céu


Um prédio!
Mesmo ao virar da esquina...
O prédio onde todos vivemos!
Sobre a luta e a labuta da vida...
Debaixo do purgatório e do inferno!
E o que é que nos faz falta?
Encantada com a leitura e com a pergunta...
Este livro é humano.
De todos nós!
As personagens são pessoas reais...
Como nós!
Desencontros e gente...
À procura de paz e calor!
Amor!!!
Sobre portas,janelas e gavetas da alma.
Loucuras.Doenças.Fé.Medo.Tempestade.
Vidas!
Vitórias e medos.
Pensar e reagir.
Rever o passado...Perdoar?
Ser sempre mais!
Humanos e divinos!
Alto nível de encantamento...
Pormenores.Lágrimas.Dores.Retratos.
Desespero e Redenção!
Urgente e vivificante!
Profile Image for Rita Moura de Oliveira.
415 reviews34 followers
May 9, 2018
Não gostei à primeira, e a meio também ainda não estava rendida. Mas de repente fez-se um clique e este Debaixo de algum céu, vencedor do Prémio Leya 2012, prendeu-me até ao fim. Nesse momento, voltei atrás, reli diversas passagens e tudo passou a fazer sentido.

À partida, a fórmula não parece nova, a história dos habitantes de um edifício de três andares à beira-mar plantado: um jovem solitário criador de personagens para um programa informático; um velho sonhador que vai construindo uma geringonça com objetos que recolhe do lixo dos outros; um jovem casal com uma bebé choramingona; uma viúva que vive com um gato; um casal que vive com os filhos adolescentes e pré-adolescentes; um padre cheio de dúvidas sobre si próprio e sobre Deus; e um apartamento vazio que mais à frente no livro perceberemos porquê.

A ação é contada por um narrador externo e de vez em quando a voz passa para alguns dos habitantes. Decorre em 8 dias, de 24 de dezembro a 1 de janeiro, e a mudança de ano acaba por trazer também grandes mudanças aos moradores do prédio e às relações entre eles. Neste livro há solidão, há traição, há desespero; mas também há redenção, paixão e aproximação.

Se puderem leiam-no e se, como eu, não se agarrarem à primeira, insistam porque acaba por valer a pena.
Profile Image for Inês Montenegro.
Author 49 books147 followers
Read
November 8, 2021
"Não há um enredo único que seja espinha dorsal desta história. Como indicado na sinopse, a premissa é a de se debruçar um pouco sobre cada um dos moradores do prédio, salteando constantemente entre uns e outros. O facto de se tratarem de trops de personagens bastante utilizadas e, dentro da bolha do romance, diferirem bem entre si leva a que esta constante mudança de foco narrativo não se torne confusa, sendo fácil ao leitor acompanhar as mudanças e novas situações. Poderemos resumir o enredo como sendo o acompanhamento do mundano de um grupo de vizinhos, durante o período compreendido entre o Natal e o Ano Novo, com foco no seu psicológico." (...)

Opinião completa em: https://booktalesblog.wordpress.com/2...
Profile Image for Marco.
588 reviews45 followers
October 4, 2018
«O problema é desenhar a vida em forma de montanha, dar um cume à vida e querer atingi-lo como se o seu sentido dependesse desse ato. O sentido da vida, a existir, há de ser como o sentido de uma montanha, e não muda por lhe chegarmos ao topo ou nos perdermos pelas encostas.»

Um prédio qualquer situado à frente de um mar qualquer. 8 dias, os últimos do ano e o primeiro do novo. E os seus 7 inquilinos, que são vizinhos, mas que poderiam muito bem passar por desconhecidos; e que se cruzam todos os dias, contudo tanta mágoa se mantém velada nestas 7 vidas. Durante a leitura, vão sentir que também vocês fazem parte do prédio.
É tudo o que há para saber acerca deste livro antes de ser lido. Foi o primeiro que li de Nuno Camarneiro, mas certamente não será o último.
Profile Image for Sónia.
595 reviews55 followers
May 25, 2014
Escrever é um Dom, que não está ao alcance de todos. Nuno Camarneiro tem-no, seguramente.

Não é fácil escrever, de forma tão bela e cuidada, sobre factos que, infelizmente, vão sendo cada mais regulares na nossa sociedade. Falo de coisas como a descrença e a insatisfação. O viver na rotina, qual autómato transposto para os humanos.

Uma obra que resulta não só do tal Dom que atrás referi, mas também duma capacidade de observação única.

A ler, definitivamente. Um autor a seguir, sem sombra de dúvida.
Profile Image for Sofia.
1,035 reviews129 followers
October 7, 2013
"Somos todos uns sentimentais e por isso demoramos no que nos dói. Temos o choro fácil que dá ou não dá em lágrimas, guardadas as dores cheias de pormenor enquanto as felicidades ficam por ali, confusas, com algumas caras, alguns sons, incertas e vagas. Lembramos os sapatos que calçávamos quando alguém morreu, a hora da notícia, o programa que passava nesse instante e até as vergonhas que pensámos. Folheemos as páginas do riso e pouco encontraremos, algumas frases, momentos caricatos, elementos de uma paisagem. Pouco e mal contado, estávamos distraídos, demasiado ocupados na felicidade para lhe fazermos o retrato. Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de mágoas que não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos doem, e doem sempre. Descuramos o arquivo do bem que apesar de tudo nos vai acontecendo, somos tolos de lágrimas."

"- Os homens são crianças também, menina, passam a vida à procura sem saber o que lhes falta. Correm as mulheres olhando para elas e mexendo-lhes o corpo, depois fartam-se e viram-se para outra. São poucos os que adivinham que o que lhes falta está metido dentro do que não sabem ver. Soubessem eles quantas mulheres dormem dentro de cada uma, menina, mas não sabem."

"Margarida aproxima-se de Constança e segura-lhe as mãos. Não se apoquente, menina, a vida de um casal é muito difícil, mas a solidão é bem pior, a solidão é uma noite muito longa e luz que já não volta. Olhe que sofrer é como respirar, se estivermos sempre a pensar nisso parece que não há mais nada, mas se nos esquecermos a vida segue sem darmos por ela. Ainda mais nós, que somos mulheres, ó menina, a dor é pão que nós comemos."
Profile Image for Nuno R..
Author 6 books71 followers
October 23, 2018
Uma escrita muito fluída, por vezes com a mesma poesia da simplicidade que se encontra em Valter Hugo Mãe. Uma história bem construída, personagens desenhadas com pinceladas fortes e discretas. Um autor a que vou regressar.
Profile Image for Cristina Torrão.
Author 9 books24 followers
August 3, 2014
É curioso que, numa altura em que os livros de contos quase desapareceram, o vencedor do Prémio LeYa seja, pelo segundo ano consecutivo, autor de um romance que parece composto por vários contos, ligados por um denominador comum. Em O teu rosto será o último, o denominador comum era uma família; em Debaixo de algum céu, é um prédio onde as personagens habitam.

Li, noutras opiniões, que o início do romance causa alguma estranheza, devido à quantidade de personagens, mas que, depois de o leitor se habituar, vai gostando cada vez mais. Comigo aconteceu um pouco o contrário: achei interessante saber de várias vidas, logo nas primeiras páginas, mas confesso que me cansou a técnica de andar sempre a saltar de uns apartamentos para os outros. Bem, eu sou suspeita, prefiro uma obra que se dedique, com profundidade, a uma, duas, ou no máximo, três personagens (excluindo as secundárias). Mas parece que a diversidade de personagens está na moda, como se os escritores tivessem de provar que são capazes de lidar com uma data delas ao mesmo tempo.

Não deixa de ser, contudo, interessante obter um retrato de um prédio e dos seus habitantes, vidas melancólicas e marcadas pela rotina, como tantas outras. Dão-se tragédias, mas, para alguns, há um final que se pode apelidar de feliz. Por outro lado, soube-me a pouco, há vidas que mereciam mais desenvolvimento.

O grande trunfo de Nuno Camarneiro é, sem dúvida, a linguagem poética. Mas senti falta de uma certa ironia, por um lado, e de mais secura, por outro. Certos "murros no estômago" parecem ser amortecidos por uma almofada de poesia. As figuras de estilo e as técnicas narrativas repetem-se, tornando a escrita um pouco previsível e monótona.

No seu conjunto, um romance bem à portuguesa: poético, triste e monótono...
Profile Image for Susana.
136 reviews
September 1, 2014
O livro está muito bem escrito, nada a apontar aí. Lê-se muito bem, tem muitas pérolas daquelas que nos fazem repensar as coisas e que dão boas citações, e também oferece o que é prometido - uma semana na vida dos habitantes de um prédio à beira-mar.
Mas, apesar de tudo isso, não fiquei encantada com a leitura e não consigo identificar o problema...
Será o narrador demasiado interveniente, sempre a filosofar sobre tudo e sobre nada, que não deixa o enredo fluir e não nos deixa aproximar o suficiente para nos envolvermos com as várias personagens?
Ou será o esquema da narrativa, dividida em 8 dias e que em cada dia salta constantemente de personagem para personagem para acompanharmos a vida de cada uma, nem que seja só para dizer que está a almoçar ou a ver televisão?
Ou será simplesmente por ter lido antes o "No meu peito não cabem pássaros"? Ao comparar os dois sinto que este, apesar de igualmente bem escrito, é mais banal, com um propósito menos ousado e menos ambicioso.

Em relação ao prémio Leya, só li um dos outros finalistas -"Os olhos de Tirésias"- e posso dizer que me encantou mais, sobretudo pela história, mas percebo que a escrita deste é de outro nível e talvez isso seja mais importante para o júri.

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Este livro foi o escolhido para a primeira tertúlia do Clube Literário de Gaia, em Janeiro de 2014, onde foi discutido com o autor.
Podem ler as minhas impressões sobre essa sessão aqui.
81 reviews5 followers
May 13, 2013
Um livro de alma negra vestido de capa branca! "Eu sou o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim. A quem tiver sede, eu darei de graça da fonte da água viva". Um prédio, 8 dias, 7(8) apartamentos, gente que vive em solidão e fuga. Esperança alguma, desesperança bastante. Ciclos, vontades que se transformam na linha do tempo. Tempo que tudo devora e o amor como elemento que permite a redenção. Urgência. Este livro é feito de inquietações. A estrutura da narrativa, apesar de facilitar bastante a leitura, foi o que menos me convenceu: é um projecto de engenharia com direito a memória descritiva ( preâmbulo - desnecessário fora de um contexto de concurso literário). Aparte isso, o Camarneiro tem uma capacidade de entendimento e de escrita das ansiedades humanas, que por vezes me dei a pensar: este gajo plagiou isto de algum lado... este gajo é demasiado novo para já ter ido tão profundo na negritude da alma humana... este tipo só pode estar a falar de uma dor impessoal, decalcada algures de um livro sofrido... Confesso: a dúvida ainda me assalta! Espero com ansiedade o próximo livro! Resumindo: O Camarneiro ganhou um leitor. Espero que o próximo romance tenha mais fluidez na estrutura, seja menos matemático e menos compartimentado na forma.Livro quatro estrelas e meia.
Profile Image for Kelle.
86 reviews
August 28, 2013
"Debaixo de Algum Céu" deu a conhecer ao mundo literário o autor Nuno Camarneiro depois de lhe ser atribuído o Prémio Leya 2012 por esta obra tão bem escrita.
Neste livro fala-se do Homem em geral, da sua vida rotineira, das inspirações, dos objectivos, das frustrações.
A história passa-se em apenas uma semana, a semana que inclui o Natal e o Ano Novo, e nessa semana a vida daquelas pessoas que moram naquele prédio à beira mar é descortinada de uma forma tão real que nos apercebemos que todos nós temos um bocadinho de alguma daquelas pessoas, um história cheia de encontros e desencontros fruto de uma tempestade que deixa o prédio às escuras. Naquele prédio vive um jovem padre numa crise de Fé, uma viúva com o seu gato, dois casais de média idade com filhos, um jovem solitário e um reformado misterioso. Ainda que um dos apartamentos esteja vago, também ele tem uma história com gente dentro. Nos dias em que li este livro, quase me senti parte daquele prédio.
De uma escrita mais fácil que o livro anterior Nuno continua a escrever frases que chegam a ser poéticas, frases com sentimento dentro que facilmente convidam à reflexão.
Profile Image for susanprosa.
176 reviews6 followers
December 30, 2015
Não consegui parar de ler.
Viciante e realista. De algum modo todos nós temos uma parte de um dos inquilinos daquele prédio.
Recomendo.

""Somos todos uns sentimentais e por isso demoramos no que nos dói.
Temos o choro fácil que dá ou não dá em lágrimas, guardamos as dores cheias de pormenor enquanto as felicidades ficam por ali, confusas, com algumas caras, alguns sons, incertas e vagas. Lembramos os sapatos que calçávamos quando alguém morreu, a hora da notícia, o programa que passava nesse instante e até as vergonhas que pensámos. Folheemos as páginas do riso e pouco encontraremos, algumas frases, momentos caricatos, elementos de uma paisagem. Pouco e mal contado, estavamos distraídos, demasiado ocupados na felicidade para lhe fazermos o retrato.
Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de mágoas que não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos doem, e doem sempre. Descuramos o arquivo do bem que apesar de tudo nos vai acontecendo, somos tolos de lágrimas. " in Página 75
Profile Image for Cristina.
10 reviews
July 12, 2013
Não sou de escrever opiniões sobre os livros que leio (apesar de em tempos ter tentado manter um blog para o efeito), mas a leitura de «Debaixo de Algum Céu» foi uma experiência de tal modo marcante que não pude deixá-la passar em branco.

Pode parecer estranho, mas ao ler este livro tive por vezes a sensação de não estar a ler, mas sim a ouvir música. As palavras pareciam transformar-se em notas musicais que compunham uma melodia bela e pungente, daquelas que fazem vibrar cada célula do nosso ser e nos fazem mergulhar naquele tipo de emoção que só é possível sentir-se quando estamos perante a beleza no seu estado mais puro. Do tipo de beleza que nos faz sentir pequeninos perante tamanha grandeza. Não dá para escrever sobre ele - este é um livro para ser sentido; analisá-lo seria um pouco como tentar analisar um pôr do Sol.

As cinco estrelinhas que o Goodreads permite são demasiado poucas para classificar este livro - merece uma galáxia inteirinha.
Profile Image for Joana Martins.
112 reviews15 followers
August 22, 2014
Relembra-nos de como tudo o que nos separa pode ser um intervalo de cimento e tijolos, mas que o que nos afasta é bem mais pesado. Nos prédios onde vivemos as portas escondem vidas e frustrações, vozes, sonhos, particularidades dos desejos de cada um. E todos erramos, só que poucos o admitimos, sequer para nós mesmos.
No entanto, acho que este livro perde demasiado tempo à procura de todo o negativo que guardamos e que se esquece de contar que por detrás dessas portas também há bons amores e até bons vizinhos.
É um livro demasiado cinzento, que se passa em 8dias que tinham tudo para procurar o bom de cada um: do natal ao ano novo. Não sei como se tornou algo assim em tão curtas páginas, que no entanto estão carregadas de frases que realmente apetece ponderar... Ou então sou mesmo eu que (ainda?) sou muito optimista sobre o ser humano.
Profile Image for Ana.
27 reviews
June 17, 2013
Pessoalmente não fiquei fã. Gostei muito da forma como estava escrito mas não fiquei fã da história, do enredo. Não me liguei com as personagens e achei tudo muito previsivel.

Também achei que a sinopse me induziu um pouco em erro, não sendo exatamente aquilo que o livro promete ser.

Pelo que leio dos restantes comentários apercebo-me que a maior parte das pessoas gostou o que me leva a crer que ou não atingi o propósito da história, ou que não o li na altura certa, ou que simplesmente não é o meu tipo de livro.
Profile Image for Pedro Martins.
27 reviews
June 8, 2013
o amor não é fácil em nenhuma idade e dói tanto ceder-lhe como fugir-lhe. narrativa fluída, descrição que não maça, personagens que cativam, um segundo significado em tudo, quando o gato é mais do que um gato, um desenho na parede é uma afirmação de vitória e o tornar-se homem, quando se descobre tudo de novo ao descer-se ao fundo. "it's only falling in love because you hit the ground". uma leitura fácil que começa lenta, desenvolve-se ainda mais lenta e acaba tão lentamente quanto bem.
Profile Image for Filipa.
352 reviews32 followers
February 7, 2014
Um olhar fascinante sobre a vida interior de um grupo de pessoas que partilham um prédio frente ao mar. Surpreendentemente muitos deles não olham para o mar, mas permitem-nos, guiados pelo narrador, um olhar para o seu interior.
Livro bonito, carregado de interessantes palavras, que nos arrastam para a teia daquelas vidas.
Profile Image for Adriano Godinho.
67 reviews6 followers
April 29, 2015
obscuro, melancólico. uma fotografia a um grupo de pessoas. momento esporádico da vida de alguns. Este livro não revoluciona nem muda muito em mim, mas é de facto um interessante olhar transmitido por uma bela pena. vou procurar mais livros do autor e recomendar este livro.
Profile Image for Tatiana Pereira.
14 reviews15 followers
Read
May 21, 2015
Uma reflexão interessante sobre um prédio em que qualquer um de nós pode ser inquilino. Um livro com uma frescura diferente.
Profile Image for Mara Quinta.
96 reviews7 followers
December 30, 2015
Que livro maravilhoso para acabar o ano.

"O amor não é fácil em nenhuma idade e dói tanto ceder-lhe como fugir-lhe. Mas o amor é o que há, e eu estou velho para morrer sozinho."
Profile Image for Inês.
473 reviews26 followers
September 14, 2018
A escrita é absolutamente maravilhosa
Profile Image for Joana Neto.
9 reviews6 followers
September 2, 2013
“Uma história são pessoas num lugar por algum tempo. As margens da página, como o silêncio, estabelecem limites certos para que um conto não se confunda com o que não lhe pertence. Pode contar-se uma história enchendo-se uma caixa vazia ou desenhando-se paredes à volta de gente.”

“... e alguns homens estranhos, apaixonados pelo mar ou desiludidos do resto.”

“No prédio, pessoas em cima umas das outras, divididas por tijolos e cimento, apartadas em apartamentos, para que não caiam e se baralhem as vidas de cima com as debaixo. Pessoas arrumadas como histórias em estantes; só que não é assim, quase nunca é assim.”

“A história é também muito que não vai contado, porque é fácil contar o que acontece, mas faltam palavras para o resto.”

“A paróquia é pequena mas devota, como são quase todas as terras onde os homens morrem só de ganhar a vida.”

“Do sangue para fora é quase tudo uma questão de serviço, pessoas que dão para mais tarde poderem cobrar.”

“Os mistérios crescem-me na pele como musgo pelas casas velhas, já nem eu sei o que é meu e o que trago agarrado.”

“Às vezes o padre falava de pecados e ficávamos todos cheios de tesão com a ideia disso.”

“A ideia de pecado mata mais do que todas as bombas, o dever e a culpa são morte antes da morte.”

“O último olhar de um corpo que sai de uma casa: como pareço, como estão os meus cabelos, como estão as minhas ideias, a camisa para dentro, os dentes para dentro, os meus excessos trilhados na compostura.”

“Daniel repete os versículos deitado na cama, à espera de que das palavras venha uma resposta. Mas palavras repetidas podem tornar-se música e trazer com elas o que não se quer e se teme. O ritmo desperta partes do corpo, seduzindo-as, acrescentando-lhes vontade e desejo.”

“Mas as ideias, como um cão, às vezes correm por onde querem e levam-nos atrás porque também nós lhes pertencemos.”

“Assegurar-se de que o mundo novo não funcione pela mesma razão que o velho não funcionou, porque há homens que não cabem onde os querem meter.”

“Nenhum mundo pode ser perfeito se não tiver lugar para homens imperfeitos. No limite, talvez o único sistema possível seja o que parta de uma humanidade toda imperfeita em todas as coisas, a excentricidade como premissa.”

“Preciso de um dicionário de mim, o que digo quando digo? Quem me pode compilar o vocabulário? Os significados de tanto e tão torto, a minha etimologia os tempos em que me conjugo, os gerúndios imensos e infinitos desta vida, dormindo, acordando, cuidando, comendo, sorrindo, dizendo que sim, limpando, beijando, dormindo, dormindo.”

“..., e ficava calada em branco porque me diziam que o importante era uma vida tranquila.”

“Deus é bom mas liga pouco a pormenores.”

“O cone de luz anda à volta como se limpasse a noite de demónios, seis segundos a ir e voltar. Cada farol tem um ritmo e um tempo certo de escuridão, em cada terra de mar são diferentes os diabos porque se ajustam aos faróis e fazem o que podem no breu que lhes é deixado. Em todas as terras dançam as bruxas àvolta, em avanços e recuos que mais se conhecem do que se vêem, dançam na noite e nas cabeças, dançam à música rara de cada homem, com os pés nos sonhos de cada homem.”

“Somos todos uns sentimentais e por isso demoramos no que nos dói. Temos o choro fácil que dá ou não dá em lágrimas, guardamos as dores cheias de pormenor enquanto as felicidades ficam por ali, confusas, com algumas caras, alguns sons, incertas e vagas. Lembramos os sapatos de calçávamos quando alguém morreu, a hora da notícia, o programa que passava nesse instante e até as vergonha que pensámos. Folheemos as páginas do riso e pouco encontraremos, algumas frases, momentos caricatos, elementos de uma paisagem. Pouco e mal contado, estávamos distraídos, demasiado ocupados na felicidade para lhe fazermos o retrato.”

“..., temos arcas cheias de mágoas que não esquecemos e que abrimos a todo o momento para ver se ainda nos doem, e doem sempre.”

“Alguns segundos de uma irmã, um nome terno que há muito tempo só chama saudades.”

“Para Moço, as religiões seriam perfeitas se pudessem dispensar os deuses, se os homens se despissem na rua sem precisarem de olhar para cima, rindo orgulhosos por seres donos da loucura e de palavras raras.”

“Faltam ainda muitos outros na ideia de Moço, mas não tem pressa, as memórias fazem-se de tempo.”

“Tenho uma fome grande e antiga de qualquer coisa que não se pode comer nem tocar. Uma ânsia imensa e permanente que me vigia o sono e me custa entender.”

“A sede é uma pressa que não admite passado, por isso esperamos água do céu. Um homem sedento não sabe onde tem os pés.”

“Talvez amemos só pelo que o amor nos traz, ou pelo que podemos ser quando alguém nos ama.”

“O caralho é que és, o caralho é que amei. Quis prazes, como tu quiseste, serenidade, certeza, posse.”

“..., as sombras dançam-lhes nos rostos com as chamas, alternam-se as feições e vêem-se jovens ou velhos, simpáticos ou tenebrosos, nos caprichos da luz.”

“Tens medo da trovoada? Olha que eu sou já velho e também tenho, quando o céu rebenta a gente encolhe-se, é assim para toda a gente.”

“Um eco que é o som depois do som, quando já tudo se calou mas as almas ainda cantam. As almas são de difíceis silêncios.”

“O tempo é uma merda porque corre sem mim mas eu estou sempre nele, e isso é uma merda.”

“Viver mais vezes connosco, só comigo, sem ter quem me esperasse, quem me empurasse, sem as vontades estrangeiras do tempo de outra gente.”

“Demasiado inteligentes para fazerem apenas o que lhes mandam, suficientemente cínicos para não proporem alternativas.”

“São precisos homens que tragam poemas nos bolsos e músicas nos lábios, que interrompam a luta para beber chá e cortejar as senhoras, que fujam das certezas como um louco da realidade. Só homens incertos podem manter um mundo que se esquiva de qualquer sentido, não é na lógica que superamos os animais, mas tão-só nas diferentes modalidade de loucura.”

“- Os homens são crianças também, menina, passam a vida à procura sem saber o que lhes falta. Correm as mulheres olhando para elas e mexendo-lhes no corpo, depois fartam-se e viram-se para outra. São poucos os que adivinham que o que lhes falta está metido dentro do que não sabem ver. Soubessem eles quantas mulheres dormem dentro de cada uma, menina, mas não sabem.”

“O quinto e último desenho, que Frederico termina agora, são os barulhos que ouve quando está sozinho. Chorar é preto, pés a andar é azul, a música de outras pessoas é verde, pancadas na parede é vermelho, gemidos e a palavra «Beatriz» são amarelo e cor-de-laranja.”

“..., mas não se esqueça de que a política é efémera, enquanto a lealdade, ou falta dela, nunca se esquecem.”

“Eis a liberdade que tanta falta te faz, tão importante quando a imaginas e tão triste quando finalmente a consegues.”

“As palavras que não se dizem estão cheias do que não se mostra.”

“Só o presente é lugar, e fica aqui, no ponto exacto em que as memórias se sublimam em desejos.”

“Os cães da praia medem os homens pelas sombras que deitam, e notam que a sombra de um homem só em parte se deve ao seu tamanho.”

“Também eles causam comoção, o velho ateu e a viúva do protestante, duas heresias de braço dado.”

“Há depois quem viva para os outros, e são os que morrem melhor, porque a vida que têm não é já sua mas foi espalhada por quem dela se valeu.”

“Adriano tem inveja daquele homem, porque soube morrer ainda com vida, antes que tudo se estragasse.”
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April 23, 2021
A voz do narrador alternada com cada uma das personagens que são o principal neste céu, nesta praia, neste prédio com e sem luz. As suas fraquezas, os seus deslizes, as virtudes, todos eles somos nós, nos prédios que habitamos. Todos eles avançam para um fim e para um recomeço - o ano que se segue. Termina com o meu favorito, Marco Moço, homem do mar que ainda sabe o que é o amor.
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