A 'Nova Era' da qual Fritjof Capra se tornou festejado porta-voz e a 'Revolução Cultural' de Antonio Gramsci têm algo em comum - ambas pretendem introduzir no espírito humano modificações vastas, profundas e irreversíveis. Ambas convocam à ruptura com o passado, e propõem à humanidade um novo céu e uma nova terra. A primeira vem alcançando imensa repercussão nos círculos científicos e empresariais brasileiros. A segunda, sem fazer tanto barulho, exerce há três décadas uma influência marcante no curso da vida política e cultural neste país. Nenhuma das duas foi jamais submetida ao mais breve exame crítico. Aceitas por mera simpatia à primeira vista, penetram, propagam-se, ganham poder sobre as consciências, tornam-se forças decisivas na condução da vida de milhões de pessoas que jamais ouviram falar delas, mas que padecem os efeitos do seu impacto cultural. Para os adeptos e propagadores conscientes das duas novas propostas, nada mais reconfortante do que a passividade atônita com que o público letrado brasileiro tudo recebe, tudo admite, tudo absorve e copia, com aquele talento para a imitação maquinal que compensa a falta de verdadeira inteligência.
Olavo de Carvalho, nascido em Campinas, Estado de São Paulo, em 29 de abril de 1947, tem sido saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros. Homens de orientações intelectuais tão diferentes quanto Jorge Amado, Arnaldo Jabor, Ciro Gomes, Roberto Campos, J. O. de Meira Penna, Bruno Tolentino, Herberto Sales, Josué Montello e o ex-presidente da República José Sarney já expressaram sua admiração pela sua pessoa e pelo seu trabalho.
A tônica de sua obra é a defesa da interioridade humana contra a tirania da autoridade coletiva, sobretudo quando escorada numa ideologia "científica". Para Olavo de Carvalho, existe um vínculo indissolúvel entre a objetividade do conhecimento e a autonomia da consciência individual, vínculo este que se perde de vista quando o critério de validade do saber é reduzido a um formulário impessoal e uniforme para uso da classe acadêmica. Acreditando que o mais sólido abrigo da consciência individual contra a alienação e a coisificação se encontra nas antigas tradições espirituais — taoísmo, judaísmo, cristianismo, islamismo —, Olavo de Carvalho procura dar uma nova interpretação aos símbolos e ritos dessas tradições, fazendo deles as matrizes de uma estratégia filosófica e científica para a resolução de problemas da cultura atual. Um exemplo dessa estratégia é seu breve ensaio Os Gêneros Literários: Seus Fundamentos Metafísicos, onde se utiliza do simbolismo dos tempos verbais nas línguas sacras (árabe, hebraico, sânscrito e grego) para refundamentar as distinções entre os gêneros literários. Outro exemplo é sua reinterpretação dos escritos lógicos de Aristóteles, onde descobre, entre a Poética, a Retórica, a Dialética e a Lógica, princípios comuns que subentendem uma ciência unificada do discurso na qual se encontram respostas a muitas questões atualíssimas de interdisciplinariedade (Uma Filosofia Aristotélica da Cultura — Introdução à Teoria dos Quatro Discursos). Na mesma linha está o ensaio Símbolos e Mitos no Filme "O Silêncio dos Inocentes" ("análise fascinante e — ouso dizer — definitiva", segundo afirma no prefácio o prof. José Carlos Monteiro, da Escola de Cinema da Universidade Federal do Rio de Janeiro) que aplica a uma disciplina tão moderna como a crítica de cinema os critérios da antiga hermenêutica simbólica. Sua obra publicada até o momento culmina em O Jardim das Aflições (1995), onde alguns símbolos primordiais como o Leviatã e o Beemoth bíblicos, a cruz, o khien e o khouen da tradição chinesa, etc., servem de moldes estruturais para uma filosofia da História, que, partindo de um evento aparentemente menor e tomando-o como ocasião para mostrar os elos entre o pequeno e o grande, vai se alargando em giros concêntricos até abarcar o horizonte inteiro da cultura Ocidental. A sutileza da construção faz de O Jardim das Aflições também uma obra de arte.
É grande a dificuldade de transpor para outra língua os textos de Olavo de Carvalho, onde a profundidade dos temas, a lógica implacável das demonstrações e a amplitude das referências culturais se aliam a um estilo dos mais singulares, que introduz na ensaística erudita o uso da linguagem popular — incluindo muitos jogos de palavras do dia-a-dia brasileiro, de grande comicidade, praticamente intraduzíveis, bem como súbitas mudanças de tom onde as expressões do sermo vulgaris, entremeadas à linguagem filosófica mais técnica e rigorosa, adquirem conotações imprevistas e de uma profundidade surpreendente.
A obra de Olavo de Carvalho tem ainda uma vertente polêmica, onde, com eloqüência contundente e temível senso de humor, ele põe a nu os falsos prestígios acadêmicos e as falácias do discurso intelectual vigente. Seu livro O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras (1996) granjeou para ele bom número de desafetos nos meios letrados, mas também uma multid
"Mudar o curso da história está além das minhas pretensões: elas se resumem, no momento, em tentar enxergá-lo. E notem que, no meio da cegueira geral, isso já é muito para um pobre observador humano."
Essa foi a primeira obra que li de Olavo de Carvalho e digo, sem pestanejar, que todo brasileiro que deseja entender o que se passa, hoje, no cenário nacional, também deveria lê-la. Se fosse um livro escrito nos dias correntes, eu apenas congratularia o autor por condensar, numa obra, tudo aquilo que o senso comum (não no sentido gramsciano) nos permite compreender; no entanto, o livro tem o mérito indelével de ter sido escrito em 1994, quase 10 anos antes, portanto, dos acontecimentos que previra. Olavo de Carvalho anteviu, com precisão nanométrica, a ascensão do PT ao poder em 2003, com a eleição de Lula, e toda a mudança que se faria perceber na cultura, educação e política nos anos seguintes.
O livro (4ª edição de 2016) é dividido em quatro partes. A primeira trata da "Nova Era" proclamada por Fritjof Capra, e que Olavo parece não levar muito a sério, porque se limita a comentá-la apenas nesse capítulo. A "Nova Era" seria o momento em que o mundo passará por mudanças como: a mudança no padrão de consumo de combustíveis fósseis; o fim do patriarcado; e a substituição do paradigma científico por outro de base holística. A ênfase da análise recai sobre a última mudança: da crença de que o método científico seria a única abordagem válida de conhecimento.
Na segunda parte, Olavo de Carvalho aborda a filosofia (que ele desdenha como não-filosofia, mas uma estratégia de ação psicológica) de Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista italiano (1921). Gramsci teria se impressionado com a violência das guerras que o governo revolucionário na Rússia teve de empreender para submeter o comunismo às massas, apegadas aos valores e praxes da velha cultura. A resistência do povo russo, conservador e religioso, teria colocado em risco a estabilidade do governo soviético por quase uma década. Para contornar tal dificuldade, Gramsci concebeu um modelo para amestrar o povo para o socialismo antes de fazer a revolução. "Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista, enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. Assim, quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com maior naturalidade." Gramsci faz uma interessante distinção entre o "poder" (ou "controle) e "hegemonia"; o primeiro seria o domínio sobre o aparelho do Estado, enquanto o segundo seria o domínio psicológico sobre a multidão. Enquanto a revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia, o gramscismo pregava a conquista da hegemonia, de forma imperceptível, para depois se chegar ao poder. A luta pela hegemonia se daria naquilo que Gramsci chama de "senso comum", que é um "aglomerado de hábitos e expectativas, conscientes ou semiconscientes na maior parte, que governam o dia-a-dia das pessoas". Gramsci estaria menos interessado na persuasão racional do que na influência psicológica, agir sobre a imaginação e o sentimento, daí a ênfase da educação primária. O combate pela hegemonia necessita de uma miríade de canais de atuação informais e, aparentemente, desligados da política, uma vez que a infusão de novos valores deve ocorrer de maneira inconsciente. Para isso, é essencial a atuação de jornalistas, cineastas, músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros familiares. Para Gramsci, os valores burgueses não devem ser combatidos no campo aberto, mas no "terreno discreto do senso comum". Ainda de acordo com ele, a atividade intelectual não deveria mais buscar o conhecimento objetivo, mas a mera adequação das ideias a um determinado estado da luta social, o que ele vem chamar de "historicismo absoluto". Toda teoria deveria expressar um momento histórico e, mais particularmente, as aspirações da massa revolucionária. Outro elemento importante na teoria de Gramsci é o partido, que ele também chama de "intelectual coletivo", em que o estatuto de intelectual seria conseguido não pela penosa aquisição de conhecimentos e, sim, pelo contágio passivo de crenças, vocabulário comum e cacoetes distintivos. Se o leitor não vê qualquer semelhança com a intelligentsia brasileira hodierna, ele provavelmente passou os últimos 20 anos em estado análogo ao de comatose.
A terceira parte é constituída por uma série de textos publicados em periódicos ao longo da década de 90 em diante em que Olavo de Carvalho se utiliza de exemplos do cotidiano nacional para "colocar a teoria em prática". É impressionante, ao mesmo tempo que assustador, em como suas análises são precisas. Qualquer um sabe que, até há pouco tempo, não existiam partidos de direita no Brasil; o que havia eram partidos "à direita da esquerda" (mas, ainda assim, de esquerda). O próprio Lula, em 2010, se gabava de o PT estar disputando uma eleição apenas com partidos de esquerda. Olavo também comenta sobre um movimento iniciado na década de 90 chamado de "Movimento pela Ética na Política", que ele via como nada menos como uma tentativa deliberada de politização da ética. Ele lembra que, no ordenamento jurídico soviético, o crime de homicídio era punido com até 10 anos de prisão, enquanto que o crime contra a Administração Pública sujeitava o condenado à morte. Haveria, aí, uma sutil corrupção dos valores morais da sociedade (e do senso comum), quando a vida vale menos que um bem material, substanciado na figura do Estado. A luta de classes seria transformada em critério supremo da moral: de um lado, jornalistas promovem ataques a criminosos de colarinho branco, enquanto "intelectuais" de esquerda lutam para que chefes do crime organizado e afins sejam tratados como "lideranças populares" e vítimas da sociedade burguesa. Atenua-se a gravidade dos crimes contra a pessoa quando cometidas pelas classes mais baixas e enfatizam os crimes contra o patrimônio quando cometidos pela classe dominante. Olavo ainda chama a atenção para aqueles que não acreditam que o Brasil possa vir a se tornar um país comunista e lembra o leitor que o próprio comunismo já chegara a conclusão, ainda na década de 70, de que a total estatização dos meios de produção não funciona e que seria necessário fazer arranjos, como na China de Deng Xiaoping. A esquerda continuaria se aproveitando do crescimento capitalista de forma parasitária, enquanto consolida sua hegemonia em todos os campos da sociedade. Ora, qualquer pessoa que já passou por uma universidade pública no Brasil é capaz de constatar essa dominação dos meios nos quais, teoricamente, se produz conhecimento.
Na quarta e última parte, que provavelmente não está presente nas edições anteriores a 2016, Olavo de Carvalho é entrevistado por Silvio Grimaldo sobre o atual estado de coisas no Brasil, duas décadas depois da publicação do livro. Dentre as constatações do autor, a esquerda teria perdido todos os seus intelectuais (Otto Maria Carpeaux, Leandro Konder, Ênio Silveira e Emir Sader) e, os que hoje ainda existem, estão todos decadentes. Por isso, o atual modus operandi da esquerda consistiria em fechar o debate em torno de si mesma (qualquer debate sociológico em universidades públicas no Brasil parece uma troca de gracejos entre esquerda e esquerda) e evitar confrontos ideológicos; essa decadência teria levado ao fim da Revolução Cultural no Brasil. Outro fenômeno analisado, como consequência do anterior, é a "lumpenização" da esquerda. A faixa social defendida por esses partidos, e em nome dos quais ela fala, compõe-se de bandidos, prostitutas, traficantes, viciados, etc. "A tendência é cada vez mais a classe média imitar os hábitos do lumpen, se vestir como lumpen, falar como lumpen, etc. Marx estava muito certo quando dizia que o lumpen não era uma força revolucionária, mas certamente é uma força de decomposição. E o que se observa no Brasil é o fenômeno da decomposição: financeira, administrativa, moral, cultural etc. O Brasil é um país que está se desfazendo diante de nós. A corrupção galopante que ninguém consegue deter, a magnífica compra de consciências com a qual se transforma o Supremo Tribunal Federal num escritório do partido, são apenas sintomas da decomposição moral." E conclui: "No Brasil, ainda virá a liberação das drogas, a liberação da pedofilia, a adoção de novos modelos de família com a concomitante dissolução do núcleo familiar. Isso ainda vai muito fundo. O impulso caótico do brasileiro não está satisfeito."
Para concluir, faço apenas uma ressalva. Na página 160, em "Da Fantasia Deprimente à Realidade Temível", Olavo de Carvalho diz que "Nos cinquenta anos que antecederam a revolução comunista, a economia russa foi a que mais cresceu na Europa, deixando longe a Inglaterra e Alemanha que então pareciam ser as encarnações mesmas do progresso e das luzes, e só encontrando rival do outro lado do Oceano, nos Estados Unidos da América". As fontes que consultei são unânimes em constatar que os países que mais cresciam à época eram o Império Alemão, Império Britânico e Estados Unidos da América. O Império Russo aparece em sexto lugar no ranking PIB per capita de acordo com o Maddison Project da Universidade de Groningen. No entanto, é apenas uma observação tangencial e não prejudica a tese, a qual o autor subscreve, do escritor Hugo von Hofmannsthal, de que "nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro em sua literatura", em referência (feita por Olavo) à renovação da literatura russa na segunda metade do século XIX e as modernizações promovidas pelo czar Alexandre II na economia russa na mesma época.
No Brasil dos últimos dois ou três anos assistimos, entre atônitos e surpresos, ao levante antipetista da população. Massas gigantescas de pessoas comuns, estudantes, donas de casa, trabalhadores, empresários, artistas, etc. foram às ruas, em uníssono, clamar contra o Partido dos Trabalhadores.
Blogueiros, jornalistas e outros agitadores participaram ativamente do processo de incensar a massa, mobilizando-a contra a tragédia que o comunopetista impunha — e ainda impõe — ao país.
Mas grandes movimentações como as ocorridas nesse período não se fazem sem um demorado tempo de preparação discreta, de amadurecimento dos elementos. É como num processo alquímico — antes do surgimento da nova forma faz-se necessária a etapa prévia de dissolução da forma anterior, de rearranjo das substâncias.
Vendo a situação desde a superfície dos acontecimentos, pode-se ficar com a impressão de que o movimento antipetista é fruto da atuação desses agitadores. No entanto, o observador atento sabe, mais do que ninguém, que as ondas que quebram na arrebentação são obra, remota e distante, das potentes correntes marinhas que, atuando nas profundezas do oceano, escapam ao olhar indiscreto do desavisado.
O antipetismo furibundo das massas tem sua origem real — e remota — neste “A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra e Antonio Gramsci”, do Prof. Olavo de Carvalho.
Foi o Prof. Olavo de Carvalho — e mais ninguém — que preparou a tomada de consciência das massas. Foi ele que desferiu o primeiro golpe, que soou o primeiro sinal de alerta sobre o viria a ser comunopetismo, e como ele, chegado ao governo, já tendo dominado os principais canais de circulação de idéias e expressão de opiniões, submeteria o país ao um regime de horrores sem paralelo na história nacional.
Mais do que isso: o Prof. Olavo, não só desferiu o primeiro golpe, como desferiu o mais potente. Em “A Nova Era…” temos a crítica mais devastadora ao comunopetismo, pois ela não se limita a restrições pontuais ao programa do regime — como é o costumeiro entre os opinadores midiáticos —, mas ataca sua base mesma, sua estratégia, escancarando à luz do dia o gramscismo.
Como mostra o Prof. Olavo, o gramscismo implica numa radical transformação da sociedade antes mesmo da tomada do governo pelo partido. Ao invés de apostar numa ascensão violenta ao poder, no coup d’état, Antonio Gramsci defende um meio mais astuto, mais cínico — e por isso mesmo mais virulento — de tomada de poder. Impor o socialismo à força é inútil, perda de tempo. O decisivo é fazer com que as massas se convertam ao socialismo se nem mesmo se darem conta do fato.
O gramscismo não é uma doutrina, um conjunto coerente de afirmações sobre a realidade do mundo. É uma técnica de manipulação psicológica com vistas à mudança de hábitos. Porque, de fato, o que importa não é o que as pessoas pensam, o que elas acham; o relevante é como elas reagem, como elas agem. O Prof. Olavo mesmo explica: “a característica mais terrível do gramscismo é que ele não é uma doutrinação, não é uma pregação, ele é uma preparação de reações mais ou menos automáticas e inconscientes, por meio da imitação (…)”[edição eletrônica posição 3304 de 3591.].
O terrível da estratégia gramsciniana não se resume, no entanto, ao seu aspecto de técnica de manipulação. Outro aspecto nefasto diz respeito ao paulatino e constante processo de consolidação da hegemonia. Hegemonia aqui significa que a circulação de idéias — toda ela — será , direta ou indiretamente, controlada em favor dos objetivos do partido. Indústria editorial, mídia, universidades, igrejas, centros comunitários — todos os setores da sociedade nos quais, de uma forma ou de outra, exista comunicação, troca de idéias, deverão ser controlados de modo a servir à conquista da hegemonia. Alcançada esta o resultado é que não existirá idéia, conceito, símbolo que não tenha seu conteúdo original transmutado — mantendo-se sua forma originária — para um simpático aos propósitos da classe revolucionária. Aqui o Prof. Olavo de Carvalho dá como exemplo o caso da chamada “sociedade civil”. Nominalmente, sociedade civil significa a organização dos cidadãos que pretendem, pela força do número, ter voz e participar de maneira mais ativa nas decisões governamentais. Mas o processo de construção da hegemonia, apesar de manter a expressão intacta, altera, discretamente, o seu sentido profundo. Sociedade civil, na vulgata de Antonio Gramsci, significa todo o conjunto de organizações — ongs, fundações, diretórios acadêmicos, etc. — que funcionam como satélites do partido. Dar “voz” à sociedade civil, como orgulhosamente pretendem os idiotas úteis, é entregar cada vez maiores parcelas do poder a essas entidades, fortalecendo ilimitadamente o partido.
No Brasil, esse processo em específico tornou-se política oficial na época do governo FHC. As leis nº 9637, de 1999, e 9.790, de 1998, institucionalizaram no Brasil as figuras das organizações da sociedade civil de interesse público e das organizações sociais. Isso significa, na prática, que, desde então, a sociedade civil gramsciniana recebe verbas oficiais do governo — e tudo isso ao abrigo da lei. Tal realidade não passa nem de longe pela cabeça dos idiotas úteis.
Mais uma vez, foi o Prof. Olavo de Carvalho que quebrou o manto hegemônico da esquerda no Brasil. Quantas vezes não foi acusado de lunático, de “teórico da conspiração”, de extremista, etc? Clamava sozinho no deserto da hegemonia, pagando o preço pela sua coragem e desassombro em termos de empregos perdidos, humilhações de toda sorte, desrespeitos à intimidade de sua família e, last but not least, ameaças de morte. Ele mesmo relata no livro:
"Pouparei aos leitores o relato dos constrangimentos, ameaças e boicotes que tenho sofrido em resposta à minha simples iniciativa de analisar e mostrar à plena luz do dia a marcha de uma revolução que desejaria poder continuar florescendo à sombra protetora do implícito, do nebuloso e do não declarado[posição 2066 de 3591.]. (…) Quando eu publiquei este, e depois o Jardim das Aflições, não havia uma voz discordante em todo o panorama nacional. O que eu dizia era tão estranho que ninguém sabia o que fazer com aquilo. Tudo parecia apenas a opinião exótica de um maluco" [posição 3293 de 3591.].
Se, hoje, blogueiros, jornalistas, youtubers e outros tais podem, do alto de seus teclados, e sem grande riscos às suas posses e vidas, vociferar contra o comunopetismo, mostrando toda a feiúra do bicho, é porque o Prof. Olavo de Carvalho, colocando o pescoço a prêmio, e sem a esperança de obter qualquer benefício por isso, quebrou a hegemonia, mostrando a realidade do que acontecia no Brasil e abrindo espaço, na base dos socos e pontapés, para outras idéias que não aquelas de matiz socialista.
É o Prof. Olavo de Carvalho o único responsável pelo despertar da consciência antiesquerdista no Brasil — todos os demais que vieram depois são, direta ou indiretamente, mal ou bem intencionados, aproveitadores dos trabalhos e esforços desse intelectual que, compreendendo a natureza de seu próprio poder, sabe que não pode intervir no andamento presente dos acontecimentos, mas apenas lançar sementes; sementes estas que, no devido tempo, e com a graça de Deus, hão de germinar — como já germinaram algumas.
O Prof. Olavo de Carvalho, mais do que qualquer outra coisa, é a prova viva, retumbante, do poder da consciência individual; de que ela pode, sozinha, enfrentar com sucesso todos os coletivismos, todas as forças impessoais, desde que esteja disposta a pagar o preço que for em nome da verdade, em nome de ser o porta-voz do Espírito Santo neste baixo mundo.
Em 1994, quando FHC se preparava para se tornar presidente, Olavo rompia com o otimismo da época denunciando dois movimentos que tomavam conta da cultura brasileira, a nova era e a revolução gramsciana. O livro é uma descrição das bases destes dois movimentos e uma análise de porque eles se tornaram dominantes no Brasil e como se completavam. Enquanto a Nova Era contribuía para esvaziar o sentido espiritual do brasileiro, o marxismo cultura preenchia o vazio deixado pela dissolução do cristianismo. Olavo também explora as semelhanças entre os dois movimentos. A edição de 2014 apresenta vários ensaios do autor publicado durantes a era petista, mostrando como o PT é um partido gramsciano por essência e com um caráter profético apontando tudo que iria acontecer na própria corrupção que se instalou no país. Um livro de idéias que mostra o que estava por trás da cultura brasileira que levaria Lula ao poder e que o daria sustentação ao longo de seu governo.
Acabo de ler a 4ª edição e a conclusão é clara: ensino e espancamento num 2 em 1 que iniciou essa trilogia que trata, com costumaz delicadeza e estilo miscigenado, sobre certa – assim chamada – intelligentsia brasileira; a que nasceu após os anos de chumbo, a mesma que está hoje nas redomas de seu ninho, encapsulada no chumbo do pensamento burro. Que alquimia e qual pressão são necessárias para transmutá-la? Não sei, mas OdeC joga lenha na fornalha. Só não joga as vítimas porque se não.. pegaria mal.
Primeira vítima, a cabra profeta: Vamos resumir de verdade: após lerem esse capítulo é simplesmente impossível dar qualquer seriedade ao Fritjof Capra. Ele foi revistado, escalpelado e, após tudo, teve seus pobres restos vilipêndiados. Foi desse tamanho o massacre. Digamos que o ponto de mutação foi de vivo para morto, ainda que eu imagine-o como uma daquelas crianças que nunca souberam jogar vivo ou morto, fazendo sempre o contrário do que o mestre mandava. Se o mestre é o fato histórico e documental, Capra ainda não aprendeu a jogar.
Segunda vítima, o judeu desgarrado: Santantoin-Gramsci. Aqui o labor foi mais descritivo, lançando luz sobre as malícias e artimanhas de todo um esquema e maquinação capaz de elevar qualquer movimento revolucionário da mera formação de quadrilha para vigilantes da moral e do tão esperado paraíso terrestre; onde tudo se torna instrumento para o controle exercido pelo "coletivo orgânico". E muitas faíscas sobram para o PT.
Em seguida, esse capítulo: AS ESQUERDAS E O CRIME ORGANIZADO. E aqueles vigilantes da moral e da ordem (futura) são pegos de calças na mão.
E finalmente uma sequência de textos correlatos com o intuito de te mostrar que, olha, eu avisei há vinte anos.
Abrir os olhos, pensar sobre o que se despeja na mídia e principalmente nos chamados "centros de formação": Escolas, faculdades e universidades. Atenção a verdade de outros para que não se tornem nossas verdades impostas.
Vale a pena escrever um livro respondendo a Fritjov Capra? Qual é a influência desse indivíduo? Eu, pelo menos, nunca ouvi falar dele. Talvez ele tenha tido alguma fama em 1994, ano em que o texto foi redigido. Eu não vivi nessa época para verificar, mas posso apenas duvidar de sua importância em ambientes "formais"(da academia).
Não posso dizer que discordo muito do Olavo na sua crítica a Capra, é um pensamento realmente bizarro. Minhas divergências nessa seção são apenas em algumas de suas leituras quanto a ideias chinesas(que muitos chamam de filosofia chinesa, na prática de um anatopismo) e as suas concepções gerais quanto a asiáticos, reminiscente de orientalistas antigos(que são de fato fonte de Olavo).
Um pouco menos que metade do livro se trata de críticas a Capra. O resto se trata do pensamento de Antonio Gramsci; uma síntese entre os pontos em comum entre Capra e Gramsci; críticas ao pensamento comunista, em alguns momentos quase que em um sentido macarthista, em outros com base na principal tese de Olavo, da impossibilidade de reflexão de uma coletividade abstrata, só existindo a inteligência na autoconsciência individual. A partir daí Olavo passa a escrever sobre o PT, que ele afirma ser um partido gramsciano, mesmo no caso daqueles que não sabem disso(a onipresença e inconsciência da ideologia são os principais elementos constitutivos do gramscianismo). A última parte se trata das organizações criminosas do Rio de Janeiro e sua relação com as guerrilhas comunistas, sendo esta a melhor parte do livro.
No geral os conteúdos são pouco interessantes. Dizer que as afirmações de Capra são idiotas é óbvio, e no caso do gramscianismo ele é pouco persuasivo. Olavo faz muitas afirmações grandiosas, com poucas evidências.
O livro é, na prática, como aquele tipo de texto que inunda os jornais acadêmicos: As Origens do x, Genealogia do x, Paradigmas do x, etc... realizado de maneira porca.
Decidi ler esse livro porque aparentemente ele faz parte de uma "trilogia"(composta de 4 livros) que é, junto com o livro sobre Aristóteles, central para entender o pensamento de Olavo de Carvalho. Ao fim deste, que é o primeiro da trilogia, não é claro qual é o ponto a que Olavo quer chegar e como este livro(que fala mais de Capra, um maluco, do que de qualquer outra coisa) se conectará aos demais.
Veredicto: 2 estrelas, pois é gramaticamente bem escrito, fácil de ler e em vários momentos me arrancou boas risadas(principalmente nas partes de Capra e quando hipotetiza sobre como as organizações criminosas aprenderam táticas de guerrilha). Pelo conteúdo seria 1 estrela.
Olavo de Carvalho abre esse pequeno livro, início de uma trilogia, com um prefácio crítico à baixeza da cultura brasileira na década de 90 (não que hoje seja diferente).
Já começa derrapando no prefácio ao se arriscar em assuntos de economia, como controle de preços, taxas de juros, sonegação de impostos. Pode fazer sentido suas críticas no âmbito da moralidade aplicada ao senso comum, mas já está colocado pelo autor de forma objetivamente errada.
Não conhecia nada sobre a "Nova Era" de Capra, onde Olavo resume alguns pontos e pensamentos ao entrar num breve histórico do mecanicismo, darwinismo social e cientificismo, aparentemente defendidos por Capra.
Na segunda parte Olavo foca no gramscianismo, seu histórico mundial e influências no atrasado pensamento brasileiro, com incentivo junto às ideias de Marcuse a repugnâncias como o banditismo. Gramsci está disseminado no país, inconscientemente, ainda que quase ninguém saiba do que se trata.
Acertadamente é lembrado como foi introduzido um padrão moral soviético, onde um crime de homicídio levava a 10 anos de prisão enquanto que um ato de improbidade administrativa era condenado com pena de morte. Novamente fala bem quando diz que a campanha de ética na política na verdade não moralizará a política, mas sim politizará a ética, serva de algo imoral.
Ambos Capra e Gramsci relativizam a verdade e a falsidade, são ideias que se baseiam na confusão e ambiguidade.
Explana as táticas de guerrilha aprendidas pelo Comando Vermelho na Ilha Grande, e as conexões políticas da facção criminosa comum com a facção criminosa política.
O livro, escrito na década de 90, traz a ideia do PT como o partido que supostamente combate a corrupção, algo risível nos dias de hoje, e Olavo ainda diz que Lula é uma pessoa decente e que votaria nele novamente caso o partido abrisse mão do marxismo e do clandestinismo. Obviamente ele estava errado aqui.
Termina muito bem colocando o indivíduo acima das ideologias e das coletividades.
Um panorama simples, porém muito preciso, de duas vertentes intelectivas que inundaram o Brasil contemporâneo. O problema destas duas forças que assolam o Brasil - felizmente, cada um dia um pouco menos - é sua obnubilação por de trás de uma faxada de organicidade. Olavo explica, de maneira acessível, a mecânica destes dois vírus e sua tremenda influência no dia-a-dia da mente de todo o brasileiro.
"Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um Estado comunista enquanto vivendo num quadro externo capitalista. Assim, quando viesse o comunismo, as resistências possíveis já estariam neutralizadas de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior naturalidade."
"O gramscismo conta menos com a adesão formal de militantes do que com a propagação epidêmica de um novo "senso comum". Sua facilidade de arregimentar colaboradores mais ou menos inconscientes é, por isso, simplesmente prodigiosa."
"Com o senso da eternidade e da universalidade, vai embora também o senso da verdade, a capacidade humana de distinguir o verdadeiro do falso, substituída por um sentimento coletivo de "adequação" ao "nosso tempo."
Very interesting read and a good introduction to the author. This is the first book from a trilogy. The author analysis in two essays Capra's Nova Era and Gramsci's ideas focus mainly its influence in Brazil cultural and political. He also explains how Gramsci influenced the Brazilian left party to make a silent revolution in the last decades without use terms like revolution or communism; he also explains a little of how the scissors strategy from Lênin works perfectly in Brazil parliament and elections. In some texts, the author talks a bit of Frankfurt school but the main focus of the book is Gramsci.
Leitura obrigatória! Neste excelente livro, Olavo mostra como surgiu o marxismo cultural no Brasil. Leitura indispensável para se entender o porque da política e da cultura brasileira estar em decadência.
Olavo de Carvalho detalha as "filosofias" de Fritjof Capra e Antonio Gramsci e explica porque a de Capra não se aplica à vida real e como a de Gramsci está tão inserida na nossa cultura a ponto de não a percebermos.
Un libro en el que da gusto aprender. No obstante, cuando lo que se aprende está dentro de una columna periodística lo esencial es solo soporte de lo contingente.
Livro muito bom para entender porque o Brasil é o que é hoje. Antonio Gramsci tem enorme influência sobre a mentalidade de esquerda no Brasil, o que claramente está encaminhando nosso país para o comunismo. Ao invés de tomar o poder através da revolução, a principal ideia de Gramsci é primeiro moldar os hábitos e ideais da população para depois então chegar automaticamente ao poder, sem a necessidade de revolução. Exatamente o que estamos vendo acontecer no Brasil.
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