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Um prefácio para Olívia Guerra

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Maristela tinha apenas oito anos quando presenciou a própria mãe, a então desconhecida poeta Olívia Guerra, saltar da varanda do apartamento onde moravam. O tempo passou e hoje Olívia é celebrada veementemente. Seus livros inspiram teses acadêmicas, seu rosto ilustra canecas, seus versos estampam camisetas. Herdeira do espólio literário da mãe, Maristela vive dessa comoção, que desperta nela os sentimentos mais duros e angustiantes.

Assim, quando um editor a convida a escrever um prefácio para uma coletânea inédita de poemas de Olívia, ela aceita, mas recusa-se a entregar um texto com mais de cem páginas, o prefácio de Maristela revela outra face da poeta tão admirada. Em linhas repletas de amargura, vamos aos poucos descobrindo uma mãe que não se encontrava no papel de esposa e cuidadora, muito menos se adequava ao mundo racional, mas que tentava. E uma filha para sempre traumatizada, incapaz de amar e sedenta por amor.

"Neste livro visceral, Liana Ferraz fala sobre perdas, silêncio. Ela sabe a que veio. É impossível parar de ler até a última página, e mais impossível ainda a história não ecoar dentro. Definitivamente, a escrita de Liana é um acontecimento para a literatura brasileira contemporânea."VANESSA PASSOS, escritora e professora de escrita criativa

"Liana dança até com as mais cortantes das palavras. Escreve como quem declama. Ao contrário de sua personagem, não tem medo de expor a pele às lâminas. Faz poesia em várias vozes de algo tão duro quanto perder a mãe e vê-la virar produto."TATIANA VASCONCELLOS, jornalista

COM PREFÁCIO DE ANDRÉA DEL FUEGO 

165 pages, Kindle Edition

Published July 11, 2023

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About the author

Liana Ferraz

7 books12 followers

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2 (<1%)
Displaying 1 - 30 of 63 reviews
Profile Image for Helena.
243 reviews624 followers
August 1, 2025
tem suas questoes e ficou um pouco repetitivo em algumas partes mas nao ligo. mudou a química do meu cerebro.
Profile Image for Marta Fonseca.
24 reviews5 followers
November 1, 2023
Que livro! Que. Livro. !.
Li em um dia, queria ter lido em dez, mas não pude parar. Não pude deixar de amar a dor de Maristela, de querer entendê-la, de querer abraçá-la. Não sei ainda onde guardar os sentimentos que surgiram ao longo da leitura. Comecei achando a escrita pretensiosa e terminei achando um livro magnífico. Achei que já tivesse lido o melhor livro do meu ano, mas esse é absolutamente um livro genial. Um review completamente emocionado, porque ainda me faltam palavras para organizar o que senti com essa escrita. Espero que não esteja sozinha nos sentimentos que esse livro me despertou, espero que mais gente esteja lendo e amando o soco no estômago dessas palavras.
Profile Image for Aline Tolotti.
10 reviews
April 30, 2025
Liana, de novo, me arrebatou.

poeta que faz romance
tem todo meu coração.
10 reviews
April 15, 2024
Uma jóia preciosa! Escrita belíssima e apaixonante!
Profile Image for Alan Henrique.
131 reviews2 followers
Read
January 20, 2025
"Gostaria de conseguir, com as palavras, recriar, inteira, minha mãe. Para que soubessem o que perdi. O que só eu perdi. Só eu perdi minha mãe. Meu irmão perdeu a dele, que era outra. A minha, a que me chamava de menininha dos olhos de mar, só eu perdi." (p. 176)

parece que tenho tanto pra falar sobre esse livro, só não sei se consigo.
Profile Image for Renan Medeiros.
19 reviews2 followers
January 25, 2024
Daqueles livros que você fica triste quando acaba. Pela escrita brilhante que a Liana traduz um assunto tão sensível como a perda, em poesia tão tocante.

Sem dúvidas, um dos grandes livros que li.
Profile Image for Rapha Lins.
Author 1 book3 followers
April 13, 2025
Meu livro favorito do ano até agora, facilmente um favorito pra vida, desses que a gente não consegue esquecer.

Ainda tem muita coisa que eu tô processando, ele deixa um gostinho que fica depois de acabar. Uma frase que se repete na mente, uma cena impossível de esquecer...

É desses livros que leem você e não o contrário, pelo menos foi o que aconteceu comigo e que disse muito, mesmo nas menores frases. Engraçado que um livro com Guerra no título esteja lutando do início ao fim, causando impacto na gente em golpes curtos e precisos. E o sobrenome é intencional, uma herança que atravessa toda a história.

Senti muitos temas. É um livro sobre ser mulher, sobre as dores das quais não falamos e os outros assumem, é sobre ser artista e ser público, sobre o direito que as pessoas sentem que têm sobre as histórias das mulheres e preferir seus mistérios mortos do que suas vidas, sobre luto e suas inúmeras facetas que não cabem em poesia.

Eu poderia falar por horas (vou falar, no clube do livro) mas por aqui vou parar porque o livro basta.
Profile Image for Eduardo Leite.
Author 2 books64 followers
April 19, 2025
A dor de uma filha que teve que viver a vida inteira à sombra de sua mãe poeta, a quem ama e odeia profundamente quase que na mesma medida e escreve como se fosse ela mesma a poeta e repetisse os caminhos da mãe. Que livro!
20 reviews
May 17, 2025
Muito bom! Comecei e terminei em um dia. Prosa poética. Escrita terapêutica. Não da para parar. Imagino uma psicóloga lendo isso. Um prefácio que é um pedido de ajuda ao mundo. Que dor difícil de curar. Que mistura de sentimentos.
Profile Image for Renata Visani.
95 reviews2 followers
February 3, 2025
“quem diz, evoca. quem diz, movimenta dentro, fora, vibra. dizer é acontecer. escrever é registrar. dizer é presente. escrever é passado. os vivos falam. os mortos escrevem.”
Profile Image for Andrea Nunes.
78 reviews3 followers
December 13, 2024
Baita livro. Daqueles que a gente lê sem fôlego. Mas baita livro triste também.
Profile Image for Amanda Antunes .
32 reviews
March 3, 2024
Liana é cirúrgica em construir uma personagem ausente e uma voz passiva da mãe que impregna todo o livro. É muito sagaz em controlar o tempo narrativo, em sufocar a vida da filha coadjuvante da própria vida e em causar um profundo vazio ao leitor que pensa numa vida tão incompatível com uma personalidade própria.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Profile Image for Manu Gaion.
101 reviews2 followers
September 14, 2024
O clube de livro Amora é uma iniciativa que tem como objetivo mensal indicar uma escritora contemporânea, a fim de dar voz aquelas mulheres que foram silenciadas por tantos anos. Ganhei a assinatura de Natal, e tendo lido o primeiro livro recebido, fico feliz em afirmar que esse foi de longe o melhor presente que eu já ganhei.

Quais são os ruídos da ausência? O que se escuta quando gritamos o nome da pessoa amada e não ouvimos a resposta? Essas são as dúvidas que ecoam na mente de Maristela, uma mulher que agora adulta, é desafiada a enfrentar fantasmas antigos uma vez que é convidada a escrever um prefácio para um livro de poemas da falecida mãe. Olívia Guerra, uma poetisa que cometeu suicidio na frente da filha que na época tinha apenas oito anos, saltou da janela de sua casa com as páginas de seus livros debaixo dos braços. Esse livro não apenas fala do suicidio e da depressão feminina, mas fala também sobre como um ato pode marcar a vida de várias pessoas por tempo indefinido.

Faz algum tempo que surgiu uma tendência na literatura brasileira contemporânea, na qual popularizou a escrita da prosa em forma de poesia. Tenho a teoria que isso começou com o escritos de Aline Bei. Esse livro não foge da tendência: há várias frases de impacto, o espaço das folhas é reestruturado para incorporar diálogos, além de possuir diferentes formas de escrita,como a poesia, cartas de sua mãe, e alguns diários. A escolha do texto é uma metalinguagem ao próprio conteúdo da obra: sobre a incapacidade de captar postumamente a essência das pessoas (na verdade, a incapacidade de conhecer as pessoas por completo). Por isso há tantas formas de escrita: para tentar mostrar por diferentes ópticas a vivências de duas mulheres que após uma separação permanecem conectadas.

Uma coisa que eu admiro profundamente é quando uma autora consegue abordar diferentes assuntos com poucas páginas, de maneira natural. Esse livro, como dito no prefácio escrito por Andrea Del Fuego, é uma boneca russa, com camadas que vão se mostrando com o passar da leitura. O que começa como uma simples tragedia, vira uma história sobre amor, amizade, luto e reinvenção.

O amor é profundamente atrelado ao medo e a vulnerabilidade, e a perda daquele que devia ter nos provido o amor primordial faz com que crianças se vejam indignas de amor. Mari passa a vida guardando um pouquinho dela para ela mesma, de tal forma que o que encanta as pessoas a sua volta é justamente a incapacidade de qualquer um penetrar na fortaleza que ela criou para si mesma. Creio que é por isso que as relações para a protagonista são tão complicadas: porque ela sempre se esconde, restando para as pessoas que a amam apenas a imagem que elas tem dela.
(…)
A necessidade de manter a memória da mãe viva como uma chama é uma súplica, um tentativa de manter viva a menina inocente que um dia foi. Sempre que algo acaba com a imagem da mãe acontece, Maristela se sente particularmente afetada. Talvez seja por isso que a relação dela com seu irmão seja tão difícil:pois ele constantemente tira a mãe do pedestal que ela criou para a matriarca.

Apesar do livro de ser sobre Maristela, vemos que é quase inevitável esquecer a presença de Olívia em cada uma das páginas. Ela serve como um exemplo de uma mãe que com muito esforço tentava deixar um pouco de ilusão para sua filha.
Olívia Guerra é a face de muitas mães aqui do Brasil. Após ter uma relação cheia de repressão com a mãe, acidentalmente engravida no ensino médio. Vive com olhares de julgamento ao seu entorno, e acaba por entrar em um casamento frustrado com o primeiro namorado (o qual ela afirma inúmeras vezes que nem sabe que ama). A sua identidade passa a ser atrelada a sua casa e seu casamento, já que a gravidez impediu que ela fosse qualquer coisa fora das possibilidades que a sociedade impôs a ela. Frustração e negação são coisas completamente intrínsecas ao seu discurso.

A invisibilidade do trabalho doméstico também é abordada nesse livro. Enquanto o marido é visto quase como um herói por levantar da cama e trabalhar, Olívia é vista com ódio pelo seu filho e sua mãe já que “apenas faz o mínimo”. É quase que uma mostra escancarada daquela frase que Silvia Frederici já disse anos atrás “o que eles chamam de amor, nos chamamos de trabalho não pago”.

A depressão é descrita com uma dor visceral. Constantemente Olívia é obrigada se reinventar e esconder toda sua bagunça para dar o mínimo de dignidade para seus filhos. Me corta o coração as passagens que dizem que ela “tentava esconder sua tristeza até as 5 da tarde”. Os poemas são uma tentativa de sair da prisão que é sua cabeça.

Sendo esse prefácio um grito,só tenho a agradecer a Amora livros e Liana por terem escrito tudo que uma mulher é e tenta ser todos os dias. Com uma crueza seca, Liana mostra que é uma autora diferenciada e veio para ficar no cenário brasileiro.
Livrasso. Favoritado.
Profile Image for Dulcinea Silva.
169 reviews
April 27, 2025
Há livros que não se leem: atravessam-se. Um Prefácio para Olívia Guerra é desses. Um livro breve, de poucas páginas e muitas ausências, escrito por Liana Ferraz como quem tateia no escuro as palavras certas, e sabe, desde o início, que elas não virão inteiras.


A história não é nada simples, mas mundana. Maristela viu a mãe cometer suicídio, a poeta Olívia Guerra, que ficou famosa após esse ato. Agora a filha vive dos direitos da poesia da mãe e tenta entender esse vazio deixado quando precisa fazer um prefácio para uma nova antologia dos poemas da mãe. 


Olívia Guerra, a poeta  não é apenas um nome, um corpo, uma história. Ela é a imagem difusa do que poderia ter sido. A cada página, o que se conta é menos a trajetória de uma personagem do que a construção de um vazio. Um espaço cavado entre gerações, entre pertencimentos falhos, entre tentativas de existir que não chegam a se concluir.


Liana Ferraz escreve sem pressa e sem a ilusão de uma resposta. Sua narrativa caminha pelas bordas, roçando os assuntos mais do que entrando neles, como se qualquer gesto mais direto pudesse quebrar a delicadeza frágil da memória. Ao longo da leitura, é impossível não sentir que estamos lidando com uma escritora que confia no que não é dito: no silêncio entre as frases, no que ressoa depois que a página vira.


O título já anuncia o gesto: um prefácio. Não o livro inteiro, mas uma promessa, talvez. Ou um pedaço de alguma coisa que nunca chegará a se concretizar. E, nesse sentido, Mari, se transforma em muitas: ela é a filha, a neta, a mulher que busca um lugar no mundo e, ao mesmo tempo, a sombra de todas as palavras que ficaram presas no tempo.


O mais surpreendente é que, apesar da delicadeza do estilo, Um Prefácio para Olívia Guerra não é um livro leve. Cada frase carrega o peso do que não foi possível. A família que não oferece abrigo, o sobrenome herdado como uma marca, os amores que se anunciam como salvação e terminam em mais desamparo. Não há espaço para redenções fáceis aqui e a recusa em entregar soluções é, talvez, o maior gesto de honestidade da autora.


Liana Ferraz constrói sua narrativa como quem monta um álbum de fotografias sem legenda. O leitor é convidado a preencher as lacunas, a adivinhar os gestos congelados nas imagens. E, ao fazer isso, se vê, inevitavelmente, refletido nas dores e hesitações de Olívia.


A estrutura do livro fragmentada, quase epistolar, contribui para essa atmosfera rarefeita. Não se trata de uma história que avança, mas de uma que se espirala sobre si mesma, voltando sempre aos mesmos pontos com pequenas variações, como quem tenta compreender, pela repetição, aquilo que o tempo se recusa a explicar.


O mais bonito, e, talvez, o mais doloroso de Um Prefácio para Olívia Guerra é a maneira como a linguagem espelha o próprio conteúdo. A escrita de Liana Ferraz é econômica, mas não fria. Cada palavra parece escolhida com uma precisão amorosa, como quem sabe que o excesso pode trair aquilo que realmente importa. Não há desperdício. Não há adorno.

Há só o necessário, e ainda assim, mesmo com tão pouco, a autora consegue criar uma atmosfera que pesa no peito.


Essa contenção literária é, por si só, uma decisão estética e política.

Ferraz parece se insurgir contra o romance tradicional, contra a narrativa redonda que oferece arco dramático, resolução e sentido. Em vez disso, ela escreve a favor da falha, da hesitação, daquilo que não se completa, como se dissesse que há mais verdade naquilo que fracassa do que naquilo que se fecha perfeitamente.


Ao falar de identidade, a autora não procura as grandes definições; ela caminha pelo território dos pequenos gestos, das memórias partidas, das heranças silenciosas. E é nesse movimento que a figura de Olívia Guerra ganha espessura: porque ela não é heroína nem vítima. Ela é, como todos nós, uma tentativa.


A questão familiar também é tratada com uma delicadeza feroz. As relações entre mães e filhas, avós e netas, são mostradas não como lugares de acolhimento automático, mas como campos de batalha emocional. A família, nesse livro, não é um refúgio: é uma herança difícil de carregar, uma promessa de pertencimento que se frustra.


E talvez seja justamente nesse aspecto que Um Prefácio para Olívia Guerra dialogue com tantas outras histórias reais porque quantas vezes o que herdamos não são afetos, mas feridas?


A viagem da personagem, física e simbólica, nunca se completa de verdade. A sensação é de que Mari caminha em círculos, tentando entender a origem de sua inquietação, tentando montar um quebra-cabeça cujas peças nunca foram entregues por inteiro. E nós, leitores, caminhamos junto, cientes de que o percurso importa mais que a chegada.


Porque, no fundo, sabemos que não haverá chegada. Como a própria Mari intui em vários momentos, há histórias que nascem fadadas a serem apenas prefácios. Começos interrompidos. Tentativas que nunca se transformam em narrativa plena.


Talvez o que mais fique, depois da última página, seja essa sensação de suspensão: um livro que não termina, mas permanece pairando sobre nós, como um céu nublado que ameaça chover e nunca chove. A força de Um Prefácio para Olívia Guerra está exatamente aí: no que falta. No que escapa.


É um livro que se recusa a oferecer a catarse, o alívio, a explicação.

Liana Ferraz parece confiar no leitor — confiar que ele saberá se mover nesse terreno movediço, feito de entrelinhas e ausências.


Poucos romances têm a coragem de trabalhar com o que não se pode mostrar. De aceitar que há histórias que não se resolvem, dores que não se explicam, amores que não se salvam.

Este livro sabe, e diz, sem dizer, que há vidas que são só isso: uma sucessão de prefácios, de pequenos ensaios para algo que nunca se realiza por completo.


Há quem possa achar, num primeiro olhar, que se trata de uma história pequena, "mínima". Mas Um Prefácio para Olívia Guerra é, na verdade, um mergulho no que existe de mais vasto: a tentativa humana, incessante, de encontrar sentido nas ruínas.


Ao fechar o livro, fica uma espécie de reverberação. Não uma resposta.Não um aprendizado emoldurado e bonito para ser levado para casa. Somente a constatação agridoce de que há perguntas que merecem ficar abertas.

De que alguns nomes, algumas histórias, algumas ausências continuarão nos acompanhando, silenciosamente, como sombras gentis.


Um Prefácio para Olívia Guerra é um livro para quem já entendeu que viver é, muitas vezes, caminhar sobre o que não se diz. E que amar, pertencer, herdar tudo isso são formas imperfeitas de continuar tentando, mesmo sem garantias.


Um Prefácio para Olívia Guerra de Liana Ferraz. Rio de Janeiro: Harper Collins, 2023. 192p. Leitura de Abril 2025 para o Clube Severina.


Nota do Skoob: 4,4

Minha nota: 4,5
Profile Image for Paula.
50 reviews4 followers
March 16, 2024
Consigo ver por que este livro se tornou instantaneamente uma sensação no Brasil: a fascinante história da filha de uma poeta que se suicida na sua frente. Adulta, esta filha convive com o sucesso póstumo da sua mãe, os holofotes sempre sobre “a filha de Olívia Guerra” e sobre os poemas, bilhetes e entradas de diário que a poeta escreveu sobre a vida que a desmonta e sobre a maternagem para que se sente inadequada.

Esta é uma história de múltiplos lutos: os vividos a pulso e os vividos por escolha, os vividos em público e aqueles privados, os lutos sobre a pessoa que morre e daquela que sobrevive, sobre a pessoa que não está mais no futuro, sobre a distância entre quem somos e quem poderíamos ter sido “se”.

Mesmo com uma proposta tão poderosa, a narrativa não me fisgou. Tive um incômodo durante toda a leitura, fiquei me perguntando por que a filha de Olívia Guerra se colocava neste lugar de escrever o prefácio para uma nova edição de um dos livros da mãe, de autorizar a produção de merchandising, de dar entrevistas, comparecer a eventos. É um movimento natural que a gente corra na direção daquilo que mais queremos fugir, mas a ausência de um desfecho para este movimento criou em mim um sentimento de frustração ao virar a última página e uma antipatia pela protagonista que talvez fale mais sobre mim do que sobre ela.

A história que eu realmente queria ter lido era - pasme - a de Olívia Guerra. E não pelos olhos da sua filha nem pela sua própria obra.
Profile Image for Isabela Tiemi.
7 reviews1 follower
May 10, 2024
Lindo e triste, na mesma proporção. Por diversas vezes parei para rever os trechos e marcar alguns. Muita sensibilidade nessa escrita. Não canso de recomendar
Profile Image for Isis Machado.
61 reviews1 follower
March 21, 2025
Gosto muito de livros viscerais e esse é um grito.

Nenhuma relação mãe e filha é simples, isso é um fato. Mas adicione a isso uma depressão profunda, a melancolia dos dias, o desespero de querer ser e não conseguir. A partida de Olívia deixou para Maristela a dureza do chão da queda e da realidade. Uma criança que precisou crescer em segundos para lidar com o peso de não ter mais a mãe e em seu futuro precisar lidar com ela todos os dias, como vitrine.
O ódio de Mari é também a mola propulsora do seu presente, suas ausências constroem todo dia a presença de seu rancor pela morte da mãe, mas também os vazios de sua realidade, sua vida vivida em função de reparar uma perda que ela sabe que não tem desfecho. A convivência diária com a morte fez Maristela ser siamesa do abandono, não há outra forma de se relacionar que não seja através da perda, do medo de não ter, sempre na beira do abismo.

Os diários de Olívia, pra mim, são uma parte especial do livro. Susan Sontag disse que nossos diários são feitos para que outras pessoas leiam e vejam nossos sentimentos sem filtros ou lentes sociais, são sentimentos crus inalterados e cada página escrita por Olívia me traz exatamente isso. Seus desabafos sobre a maternidade confrontada com a realidade que exige mais do que ela pode dar são aterradores. E para Maristela, entrar em contato com essas palavras é desesperador, porque aquela que escreve não é sua mãe, é a mulher.

O final do livro, em contrapartida de seu recheio, traz uma luz, uma esperança pra essa filha que esteve tanto tempo presa abismo da morte e agora pode aguardar a surpresa de uma vida.
Profile Image for Laura Cociuffo.
32 reviews5 followers
October 15, 2023
dos livros mais lindos que li em 2023

"Quando você tem oito anos e tem a mãe que eu tive, o mundo é um compilado de algumas coisas: a casa gostosinha, a amiga, a cama fresca, a conversa da escola, o pijama de fadas, a pipoca, o filme permitido, o presente que alguém compra… Quantas dessas coisas, tendo a mãe que eu tive, não eram obras, direta ou indiretamente, das mãos da minha mãe? Quando ela morreu, não sabiam nem o que me dar de presente. Porque todas as pessoas passaram minha vida inteira perguntando a ela o que eu gostaria de ganhar. E começaram a me perguntar o que eu queria. Eu não tive mais surpresa. O que eu queria de presente, o que queria comer, qual roupa eu gostava. Minha mãe gostava de me ler em segredo e de inventar recheios novos para as panquecas. Chegava com vestidos lindos que eu jamais pensaria em vestir e que viravam meus preferidos. Decidia o livro que a gente ia ler e o filme que a gente ia ver, arriscando criar em mim novos mundos. Como alguém cresce sem ter quem invente o que ainda não se sabe? Sem ter quem arrisque presentes incríveis que ainda não se conhece? Sem ter quem amplie o diâmetro da vida, traçando as surpresas, os novos mapas, abrindo espaço, estendendo a mão?"
27 reviews2 followers
June 19, 2024
é um livro lindo. me senti muito bem e feliz após terminá-lo, porque definitivamente vale a pena. dá pra saber que ele tem alma.

obs.: faz bem fazer o exercício de humanizar nossos autores preferidos. eles sempre serão pessoas, afinal.

“15/04/1989 (diário de mamãe): nunca usei drogas nem me apaixonei porque sei que seria fatal pra mim. amar eu consigo. desde que não me tire o chão. tenho sentido o vazio na boca. gostaria de me apaixonar e não ter medo. de entender o que cantam as canções ou por que as cantoras abrem os braços e inundam os olhos. tenho sentido vontade de ter alguém que seja imprescindível. alguém que tenha um cheiro irresistível. (…) pessoas apaixonadas não escrevem, estão doentes, precisam de seus antídotos e se ocupam disso. tudo o que me desperta paixão deve ter sido feito por pessoas que não sabem o que é isso, mas imaginam. a imagem mais desoladora sobre a guerra jamais poderá ser feita por quem se ocupa em lutá-la. ainda assim, estará ali toda a dor. como se fosse. percorro o corpo imaginando. DIANTE DA CARNE, ESTAGNO. imaginar é meu sacerdócio, meu vício, meu descontrole. odeio ser poeta e abdicar de meu corpo. preciso fazer arroz agora.”
Profile Image for Bia Assad.
131 reviews77 followers
February 27, 2024
Imaginem uma escritora que ficou conhecida após sua morte. Esta é a Olívia Guerra.
Ela tem uma filha, Maristela Guerra, conhecida pela sua mãe.

Conforme envelhecendo, Maristela entra num questionamento interno se deve escrever ou não, como sua mãe. Sua vontade é de ser mãe, é de tentar sobreviver a vida que ficou após a mãe se jogar do nono andar na sua frente, mas é difícil: todo mundo é obcecado pela Olívia, ao ponto que as pessoas fazem de tudo para encontrar Maristela só porquê se parecem.

O livro é rápido, muito poético. Amora fez uma excelente escolha de livro, pois trata da "raiva-e-angustia-feminina" que vem tanto sendo abordada ultimamente. Entrou nos meus favoritos com o final de tirar o fôlego! Cada capítulo, uma revelação sobre Maristela, que se tornou muito mais interessante do que a Olívia (eu quase chegava a passar os poemas dela e dava preferência aos diários). Recomendo a leitura aos que amaram "Não fossem as sílabadas do sábado" da Mariana Salomão.
Profile Image for Júlia Rodrigues.
37 reviews
January 26, 2024
História interessante, bom enredo, mas uma narradora não crível porque diz que não quer escrever, repele o convite, mas segue fazendo. Não consegui acreditar na forma como ela descreve os próprios sentimentos por isso.

É difícil seguir lendo um narrador que a gente não confia, mas eu quis a história.

No mais, achei interessante a forma experimental de intercalar os textos - prefácio, diários, poemas, comunicação para o editor. Algo na prosa poética me deu a mesma sensação de quando, há sei lá quantos anos, li Caio F. pela primeira vez.
Profile Image for Renata Lutz.
34 reviews
February 19, 2024
A história da morte trágica da mãe por suicídio narrada pela filha. Todos os desdobramentos desse ato trágico se refletem na vida dessa menina, que se torna uma mulher para quem a morte é onipresente, que convive com a angústia dessa dor inimaginável. Apesar do tema, que poderia tornar a leitura pesada, é um livro bonito, que nos faz mergulhar em reflexões sobre a vida e a morte, com trechos do diário dessa mãe, desnudando as fragilidades humanas, que podem ser fatais para algumas pessoas, ou para tantas. Um livro para ser relido.
Profile Image for Ana Nehan.
368 reviews32 followers
January 15, 2025
Prefácio nos revela Maristela, uma mulher que, ainda criança, viu sua mãe, Olívia Guerra, se jogar da varanda do apartamento. Depois de morta Olívia alcança o status de escritora aclamada e Maristela é obrigada a navegar pelo seu luto enquanto lida com a idolatria que rodeia sua mãe. Liana já tinha me conquistado com sua poesia em Sede de me beber inteira e aqui seu talento nos trouxe um romance lindo e sensível. Recomendo sem ressalvas, leiam os dois.

"Espero que a sua lucidez não a impeça de ser feliz. Entre a coerência e a felicidade, escolha a felicidade".
Profile Image for julia.
5 reviews
April 26, 2025
seis estrelas, se fosse possível

não lembro a última vez que um livro me tocou tanto. é como estar no chão e assistir à distância os fragmentos de vida na varanda. maristela parece rasgar o peito, mas na verdade o sutura. o rasgo já era muito grande, o fechamento é infinito, essa escrita parece a junção das agulhas e linhas pro ofício. chorei bastante, rabisquei o livro, marquei quase todas as páginas. virou dos meus preferidos. infinitos obrigadas a Liana, que permite que leiamos ela viva.

💿 elis, elis regina (1972)
(em especial "20 anos blue")
Profile Image for Muriel Toloto Payne.
3 reviews1 follower
April 4, 2025
O suicídio é um tipo de assassinato que, ironicamente, deixa em todos os que ficam um profundo sentimento de homicídio culposo. Nas brechas entre a dor e as culpas nascem vazios que nos afastam do amor, da amizade, da família e de nós mesmos, lacunas que interrompem o fluxo natural da vida por tempo ilimitado. Talvez para sempre.
Esse livro é um grito, que vive preso na garganta de tantas pessoas por aí.
This entire review has been hidden because of spoilers.
Displaying 1 - 30 of 63 reviews

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