Do alto de um outeiro, à sombra da figueira em que Judas se enforcou, São José contempla toda uma vida - a sua, que hoje chega ao fim. É ali que ele irá morrer, naquele pedaço de chão árido, de onde se avista Jerusalém. Faltam-lhe as forças, pesam-lhe os anos, os remorsos, a dúvida. E a raiva também, pois, apesar de ter cumprido os preceitos da Lei, foi-lhe negada a paz de espírito. Assim entendeu o Criador, que tomou como Sua a mulher que lhe estava prometida, e nela plantou a semente de um filho bastardo - Jesus. José não compreende esse Deus, que põe e dispõe dos homens, esse Criador que não respeita a obra criada, que nega o livre arbítrio, que envia o filho à terra e o deixa morrer na cruz, como um ladrão. Por isso hoje, entre o nascer e o pôr do sol, o carpinteiro vai armar-se de razões e julgar quem de tudo deveria ser juiz. Em Nome do Pai é uma extraordinária obra de ficção, que ilumina uma das personagens menos conhecidas da Bíblia. O pai de Jesus, que nas sagradas escrituras pouco passa de uma nota de rodapé, tem agora uma história, um passado. E um corpo de chocante carnalidade, atormentado pelo desejo, por uma mente demasiado lúcida para aceitar como boas as palavras do Senhor. Nuno Lobo Antunes molda o romance com o desvelo de um artesão, esculpe cuidadosamente cada frase, reconstitui com rigor a vida nos tempos de Jesus - cria, ele próprio, uma obra de arte.
Nasceu em Lisboa a 10 de Maio 1954. Em 1977, licenciou-se em Medicina, pela Faculdade de Medicina de Lisboa. Foi Assistente Hospitalar de Pediatria e Coordenador da Unidade de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Foi Membro da Comissão de Neurologia do “Children Oncology Group”. Foi consultor de Neurologia Pediátrica para o Departamento de Neurologia e Pediatria do Memorial Hospital for Cancer and Allied Diseases e para o Presbyterian Hospital em Nova Iorque. Foi ainda Professor Auxiliar de Neurologia e Pediatria na Cornell University Joan & Sanford I. Weill Medical College É actualmente Director Médico e Coordenador das áreas de Neurodesenvolvimento e Neurologia do CADIn, Consultor de Neuropediatria do Serviço de Pediatria Hospital Fernando da Fonseca e Consultor de Neurologia Pediátrica do IPO, em Lisboa. Membro da American Academy of Neurology, da Child Neurology Society, da Children Cancer Group Tri-State Pediatric Neurology Society, da Society for Neurooncology, da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de Neurologia e da Academia Ibero-Americana de Neurologia Pediátrica.
Quando escolhi ler este livro, vários factores estiveram subjacentes... O reconhecido sucesso dos anteriores livros do autor (embora não sejam romances), o nunca ter lido nada dele e a sinopse. Mais que a sinopse talvez o conceito "inovador" que está por detrás. Refiro-me ao ter pegado na história de José, pai de Jesus, desde o nascimento do primeiro até à morte do segundo, e ter escrito um romance. E, francamente, nunca supus que fosse tão bom...
De uma forma soberba e irrepreensível, Nuno Lobo Antunes escreve um livro que, apesar de não se ler de um só fôlego, tem uma escrita absolutamente genial/sedutora/... Rica em metáforas que, várias vezes, me fizeram reler passagens que me marcaram profundamente. Não tanto pelo conteúdo em si mas pela forma como são apresentadas. Se não soubesse nunca diria que era um primeiro romance.
Julgo que é uma obra que pode originar opiniões antagónicas, tendo em conta o seu estilo. Mais que isso até o próprio conteúdo. A quem pouco ou nada a religião diz aconselho a ler o livro de forma isenta, desempoeirada, esquecendo o cerne do mesmo. Para aqueles que se interessam por estes temas julgo que o "saldo" final será de um superar de expectativas, como foi o meu caso. Em ambos os casos penso que será denominador comum o reconhecimento da mestria como Nuno Lobo Antunes tece a trama. Mesmo sendo apreciadora entre o equilíbrio entre discursos directo e indirecto, numa narrativa, achei que a predominância do segundo, na sua quase totalidade, é uma mais valia. Diria até que, em caso contrário, o livro não tivesse o mesmo valor.
Único ponto negativo: o recurso excessivo à expressão "De pronto". Fora isso, gostei imenso e recomendo em absoluto. A crentes e não crentes...
"Quem escreve lembra-me o afogado que desesperado esbraceja para vir à tona. O escritor é isso que faz dentro de si, por uma razão qualquer, escasseia o ar. Então, ofegante arruma o pensamento de acordo com o que as palavras lhe permitem, e assim respira e alivia a sua angústia."
Nuno Lobo Antunes homem de ciência. Em forma de ficção tenta escurtinar a mente de um homem humilde, com questões, à época romana e de previsão da vinda de um Messias. Um tempo em que o homem e pai deveria ser mentor da Lei imposta, inquestionável. Estava à frente do seu tempo, porque a toda a reflexão, um ponto de interrogação colocava. E após saber da gravidez de Maria, maior foi a sua reflexão e questionamento. É esta versão ficcional de homem terreno que NLA, que a mim me parece utilizar a sua experiência para revelar, ficcionalmente, a mente psicológica, a reflexão e os pensamentos de José, o carpinteiro, esquecido a determinada altura no tempo bíblico.
"Eu penso que os homens confundem a Vida com a experiência que dela têm. Os peixes vivem no mar, mas se a cada um perguntássemos o que é o oceano, todos dariam respostas diferentes, dependendo da segurança que nas águas sentem, e o que aí lhes sucedeu. Nós somos peixes num mar sem água."
Dos melhores livros que li até hoje. A forma encantadora que conta a história de uma personagem que tão pouca importância lhe é dada, José, pai de um menino que é dele e cuja história acreditou por amor a uma mulher
"A minha mae achava-o um pouco louco e evitava-o, porque as mulheres, por nunca terem sido criancas, nao conseguem entender que os homens se unem pela alegria da infancia que neles permanece."
Tive este livro tanto tempo em cima da minha mesa de cabeceira e hoje em dia apetece-me esbofetear-me por não tê-lo lido mais cedo. Nuno Lobo Antunes foi daqueles autores que me caiu nas boas graças logo depois dos primeiros parágrafos, pela calma sabedoria como nos conduz pelo trajecto de uma vida supostamente conhecida, mas que afinal não o é.
Contado na primeira pessoa, José - o pai terreno de Jesus - dá-nos a sua visão de homem, uma visão à qual normalmente não temos acesso, já que normalmente pouco se fala dele. Aqui, é-nos apresentado como um homem em toda a acepção da palavra - é alguém que pensa por si próprio, que sente, que não aceita tudo como garantido, que se revolta, que deseja. Em suma, um personagem completo e autêntico que assume o devido protagonismo.
Confesso que receei que o autor se perdesse pelo meio, com as outras histórias que se cruzam com a dele mas felizmente não aconteceu. Aqui, Maria assume um papel que pouco deixa perceber o seu verdadeiro carácter e o próprio Jesus aparece sem qualquer tipo de protagonismo. Ambos nos são dados como dois dos causadores do sofrimento de José e da sua partida em busca da sabedoria.
Talvez tenha achado o final algo precipitado. Senti que ali ficou qualquer coisa em falta. Algo por dizer ou por contar. Mas no geral adorei!
Uma dissertação pseudo intelectual sobre a vida de José, pai de Jesus.
Tudo são contradições neste escrito, não entendo se raiva se maldade se só vontade de ser comentado, acho que o autor não tinha necessidade, mas enfim.
Vou deixar só uma amostra do disparate. O autor apresenta os 12 discipulos de Jesus, como uns pobres coitados, uns ignorantes indiciando que foi provavlemente por causa disso que seguiram Jesus. Assim era a gente daquele tempo com ofícios, como pescador. Mas depois, em contraponto, desenvolve um "tratado filosófico" sobre todos os fantásticos pensamentos de José, que afinal não era mais que um simples carpinteiro, outro simples ofício. E culmina com a suprema "informação" de que, afinal, todos os ensinamentos de Jesus ao Mundo não eram mais do que todos os ensinamentos que ele José, um simples carpinteiro, transmitiu a Jesus durante a sua educação.
Claro que o autor sabe escrever e assim a forma tenta dar valor ao conteúdo. Mas, não obrigado.
Um amor louco. Um homem dilacerado pela dúvida, pelo desejo e pelo ciúme. Mulher sua que semente de outro carregou, mesmo sendo Deus quem lha plantou. Gostei do facto de ter sido abordada a vida e a mente - ainda que fictícia em parte - de uma das personagens da história de Jesus acerca da qual pouco se sabia. Gostei de sabê-lo duvidoso, questionador, ainda que tudo isso o transtornasse sobremaneira. Adiei bastante a leitura deste livro, mas estou contente por o ter lido agora: fi-lo no momento certo. Na íntegra, é uma obra maravilhosa por ser inédita, que mais parece poesia feita prosa. Está também carregada de citações lindíssimas, o que muito lhe acrescenta. Deixo-vos uma: "Não é verdade que se viva uma vez, porque, ao amar, voltamos de novo ao princípio." Recomendo!
como me disse uma das minhas cúmplices dos livros é um livro de poesia em forma de prosa...um verdadeiro deleite.. a estória de José,o carpinteiro,o homem que não foi mais do que um mero figurante,na vida do homem mais importante da religião católica,Jesus. a sua vida desde a nascença até ao fatídico dia em que se casa com Maria,a escolhida de Deus,a quem aceitou,mesmo estando grávida de um filho que não era dele. o ciúme,a dúvida,a descrença que tomou parte dele,mas tudo muito bem narrado pelo autor.