Em romance sensível, Olívia Pilar narra as lutas e as paixões de uma jovem negra em busca de um lugar no mundo
Lina tem quase tudo na vida. Estuda em uma das melhores universidades do país, mora em um bairro de classe média alta de Belo Horizonte e está sempre se divertindo com os amigos. Nos planos, faltam apenas o apoio dos pais para a carreira de ilustradora e o dinheiro para um sonhado curso de desenho no Chile.
Quando consegue uma vaga de estágio, ela acredita que está tudo resolvido. Apesar de não gostar de Administração, o projeto sobre inclusão e diversidade parece interessante. Mas Lina logo recebe olhares estranhos e tarefas que colocam sua capacidade em xeque. E talvez isso tenha a ver com a cor de sua pele.
Então seu caminho cruza com o de Elza, uma estudante do curso de Letras que traz em seus versos a importância da luta por uma sociedade mais justa.
À medida que se aproximam, Lina se dá conta de que o mundo a enxerga de uma forma que ela não imaginava, e precisa buscar em seu lado artístico a força para construir sua identidade. Juntas, Lina e Elza vão confrontar seus medos, suas inseguranças e viver uma história de amor inesquecível.
Um traço até você é uma narrativa arrebatadora e sensível sobre autodescoberta, os desafios da vida adulta e o que significa ser jovem, negra e audaciosa em um mundo que deslegitima seu direito de ocupar todos os espaços.
Olívia Pilar é mineira de BH, escritora, mestra e doutoranda em Comunicação Social pela UFMG. Busca trazer representatividade para suas histórias, que têm protagonistas negras e garotas que gostam de garotas.
Publicou, de forma independente, cinco contos pela Amazon: “Entre estantes”, “Tempo ao tempo”, “Dia de domingo”, “Pétala” e “Quando o sol voltar”; participou de quatro coletâneas também publicadas na Amazon e das antologias Todo mundo tem uma primeira vez (Plataforma21, 2019), De repente adolescente (Seguinte, 2021) e Sobre amor e estrelas (e a cabeça nas nuvens) (Rocco, 2022)
*Essa resenha pode conter spoilers de "Um traço até você"
É raro encontrar um romance tão bem desenvolvido quanto esse! Esperava apenas uma história leve e gostosa, e apesar de ser isso também, o livro entra em discussões complexas sobre negritude, comunidade e saúde mental. Me surpreendeu positivamente.
Com uma narração marcante, Olívia Pilar apresenta a história de Lina. Ela sonha em se profissionalizar como ilustradora e, enquanto batalha para juntar dinheiro o suficiente para fazer um curso no Chile, encontra Elza, uma poeta encantadora. Juntas, as duas refletem sobre o que é ser um jovem negro no Brasil de hoje, as dificuldades de existir em um lugar que deslegitima suas vivências e as formas de lidar com sonhos para o futuro.
Gostei muito da protagonista. Ela está aprendendo um bocado de coisa: a ilustrar, a usar sua própria voz contra injustiça, a se posicionar quando confrontada pelos pais, a enxergar que ser garota negra de classe média-alta não exclui o racismo da vida, a pedir ajuda... Lina é bem complexa e honesta com o leitor. Por ser narrado em primeira pessoa, entendemos como a cabeça dela funciona e quais medos a impedem de seguir com seus sonhos.
Os demais personagens também ganham um bom espaço: - Elza, a crush, que escreve poemas, entende a importância de lutas sociais, está mais ligada com movimentos de resistência e tem uma família acolhedora de mulheres negras com nomes inspirados em grandes artistas; - Amanda, a melhor amiga, que está sempre ao lado de Lina, mas cuja amizade entra em descompasso quando Lina começa a perceber que há coisas que talvez Amanda não consiga entender, em especial quando algo específico acontece; - Tim, o melhor amigo de Elza, também parceiro de todos os momentos; - o pai e mãe de Lina, que tentaram a todo custo proteger a filha do mundo racista e as violências que ela poderia sofrer; - Antônio, irmão de Lina, que ama vídeo game, é bastante apegado à irmã e também está tentando entender seu lugar enquanto um menino negro.
Enquanto Lina batalha pelo seu sonho de trabalhar com ilustração — essa, aliás, é a única crítica que tenho ao romance: gostaria que a conexão de Lina com a arte fosse melhor trabalhada, que conhecêssemos melhor quem a inspira e o que a move —, ela lida com microagressões racistas constantes no estágio. A princípio, ela não percebe que pode ser racismo, e quando aprende, fica numa corda bamba. O que fazer agora, se ela precisa do dinheiro do estágio, mas é constantemente violentada verbalmente nele?
Uma coisa que ameeeei foi como os conflitos foram resolvidos. Sabe aquelas conversas mega honestas que tiram nosso sono e atacam nossa ansiedade? Todos os personagens têm um pouco delas. Achei corajoso, bonito. Reconhecer os limites da outra pessoa, bem como os momentos que, sem saber, ultrapassamos esses limites é um trabalho bem difícil. É um livro escrito por alguém que já fez muita terapia e sabe da importância da saúde mental para que a vida siga.
Também gostei muito da defesa da comunidade e rede de apoio. Ninguém consegue fazer nada sozinho! É importante termos com quem contar na vida. Desabafar, conversar e pedir ajuda às pessoas em que confiamos é essencial para seguirmos firmes com nossos objetivos. E mais especificamente nesse caso, enquanto uma garota negra que frequenta ambientes onde as pessoas são majoritariamente brancas, é ainda mais importante se conectar com outras pessoas negras que possam compartilhar vivências e servir de apoio. Quando nos juntamos a pessoas que têm as mesmas dores que nós, percebemos que não estamos sós.
Ah, e claro: o romance! Adorei que ele acontece desde o comecinho (elas não ficam enrolando até a última página, ufa), e também amei que é um relacionamento que vem para ensinar muita coisa para as duas. Acho que uma boa relação é feita disso, de duas pessoas que ajudam uma a outra a crescer, que se admiram e que se inspiram.
Indico demais!
This entire review has been hidden because of spoilers.
Esse é meu primeiro contato com a escrita da Olívia Pilar e gostei muito! Ela domina bem os temas, e os desenvolve de forma adequada pra um jovem adulto, e antes que a galera que não gosta de jovem adulto torça o nariz, eu sou adulta e o livro me agradou também. A Olívia não trabalha com os temas em tom "palestrinha", mas também não faz isso de forma rasa.
Gostei tambem que o livro não é só um romance, mas sobre duas mulheres pretas tentando encontrar seu lugar no mundo, e reconstruir a visão do mundo, no caso da Lina. Tanto a Lina quanto a Elza tem problemas que vão além da raça, como a auto confiança, e ser capaz de verbalizar e se abrir pra outras pessoas, também.
Algumas soluções são meio rápidas, mas acho que isso se deve ao ritmo do livro, tive impressão de que o tempo entre algumas cenas foi mais curto do que o texto me informava, e a Elza e a Lina se apaixonam rápido demais. Entendo que a escolha do romance ser mais rápido é pra ter espaço de desenvolver as outras tramas, e essa escolha da Olívia leva ela a explorar melhor as consequências desse encontro, mas eu pessoalmente gosto de romances mais lentos. Como isso é opinião pessoal, não afeta a minha nota, mas quem não curte "insta-love", como pessoa que curte um "slow burn", vale a pena dar uma chance a "Um Traço até Você".
Pelo estilo da Olivia Pilar ser bem acessível, recomendo muito esse livro para adolescentes a partir dos 14-16 anos. Jovens pretas vão encontrar vivências refletidas e encontrar apoio, as brancas vão entender melhor o que se passa com as amigas pretas, e espero que tentem ser melhores. Acho que a grande lição, inclusive, é essa: não conseguimos mudar sozinhos.
editado pra adicionar que: lembrei que achei as descrições de roupa num tom meio de influenciador de moda, não pareceu natural, mas considerando que antes a Olivia só escrevia conto, pode ser algo que não era habitual pra ela, e isso total pode melhorar no futuro.
Como leitora da Olívia há anos de seus contos, é uma imensa satisfação poder finalmente ler seu primeiro romance! E a Olívia entregou tudo e muito mais. As protagonistas, Lina e Elza são um casal que se conhece, se aproxima, se ama, aprende e cresce junto, bem como eu gosto e acredito que deve ser. As duas também tem interesses ligados à arte, Lina com ilustração e Elza na poesia e eu amei como isso foi incorporado no livro em si, com poemas da Elza e partes do livro ilustradas, deu um toque todo especial à história. É uma história que tem romance, mas é muito mais que isso, é sobre a vivência de mulheres negras no meio acadêmico e no mundo afora, sobre família e amizades, sobre ir atrás do que quer e estar com quem gosta. Devorei esse livro em poucos dias, porque a escrita da Olívia é leve e faz com que a gente fique querendo mais dessa sensação gostosa que é ler uma história dela, sem deixar de pontuar pautas importantíssimas como racismo na academia e em diversos outros momentos. É muito bom ver como a Lina cresceu e se desenvolveu do começo ao fim do livro e ver como a relação dela com a Elza floresceu também e eu amei acompanhar as duas, fiquei encantada em especial com a Elza e sua poesia potente.
Olívia Pilar sempre surpreende com suas histórias, é uma surpresa boa que acolhe todo mundo.
Esse livro é sensível, divertido e carrega assuntos muito importantes, a escrita é super fluída e muito bem executada. Os personagens são cativantes e roubam seu coração até mesmo quando são um pouco misteriosos e não revelam tudo possível.
Nessa história temos o despertar racial da Lina, um romance sáfico fofo, famílias seguras e doidas a seu modo e muito sobre resistência. Existe entre as cenas sobre racismo o desconforto necessário para entender o peso de tantas ações violentas e conversas que demonstram as lutas de cada dia, mesmo que nada aconteça do dia para a noite.
Esse livro é o tipo contemporâneo que eu gosto, textos sobre pertencimento e a criação de uma família que escolhe a gente e a gente escolhe de volta.
"Me pergunto se é o nosso talento que é questionável ou se o mundo fez a gente achar que não somos suficientes."
...
Um adendo (contém spoiler) • achei que a Lina ia falar da desgraçada da Fátima pra Karina tava maluca no aguardo
Esse não foi o meu primeiro contato com a escrita da Olívia Pilar, e exatamente por isso, eu fiquei tão feliz quando soube do anúncio desse livro. Ela foi o meu primeiro contato com histórias sáficas protagonizadas por mulheres pretas e eu sempre fui muito apaixonada por suas personagens. Eu as encontrei em um momento de autodescoberta, tanto sobre a minha negritude, quanto a respeito da minha sexualidade, então posso afirmar com todas as letras que elas fizeram parte de um ponto de virada na minha vida.
Com “Um Traço Até Você” a experiência foi diferente. Não no sentimento de me sentir vista e compreendida, mas por agora estar mais velha e poder olhar para a história entendendo todas suas nuances e camadas. A escrita da Olívia me deixa encantada, porque ela escreve de uma forma simples sentimentos que são tão complexos e complicados de se entender. Eu amei poder acompanhar o desenvolvimento da Lina, a forma como todas as situações foram resolvidas. Os laços familiares e a forma como as temáticas foram abordadas.
O relacionamento que a Lina e a Elza construíram é lindo, saudável e leve. Eu amei ver como as duas foram se transformando ao longo da história, inspiradas uma pela outra, mas ainda assim em seus próprios termos. Eu espero que esse seja o primeiro romance de muitos da Olívia Pilar. Eu já me peguei indicando a história para pelo menos duas pessoas, e com certeza esse livro e esses personagens vão ficar no meu coração por muito tempo.
Esperei um ano para ter esse livro em mãos por ter lido todos os contos da Olívia Pilar e este ser o primeiro livro dela. Posso afirmar que a sua escrita está fluída e incrivel como sempre, o que me fez terminar o livro em questão de poucas horas, entretanto, o livro não foi como eu esperava. O livro é sobre a auto descoberta de Lina como uma mulher negra, apesar de sempre ter gostado da forma que a Olivia aborda isso em seus contos, neste livro especificamente, eu sentia uma perspectiva completamente americanizada sobre o que é racismo e me lembrando muito o livro “O ódio que você semeia” e também a série “Dear White People” em cenas específicas, que eu acredito que tenha sido uma inspiração para a história, porém, a forma que o racismo brasileiro funciona é diferente do americano e causou um estranhamento muito grande. Além disso, todos os conflitos também eram motivados por racismo, parecia a única coisa que movimentava a história e eu meio que esperava outros dilemas que ajudassem principalmente na construção da personalidade das meninas. Acredito que o livro pode ser importante para as gerações mais novas e para meninas que estão no seu processo, como a Lina estava, mas esse livro infelizmente não foi para mim, entretanto, estarei aguardando pelas outras histórias da Olívia Pilar.
Conheci a escrita da Olivia em “Formas reais de amar” lá por 2021 e gostei muito da sua maneira de criar romances. Agora em 2025 decidi ler um livro só dela e escrita ela não decepcionou.
Eu adoro a forma como a Olivia escreve sobre assuntos sérios de forma fácil de ler e adorei conhecer Helena e Elza.
Conhecer elas foi um deleite porém nem sempre as motivações da protagonista ressoaram tanto em mim, uma garota privilegiada que nem se dá conta do seu privilégio em sua forma total, se recusar a usufruir desse privilégio acabou não me soando muito real. Mas o desejo de independência e a admiração pela vivência que Elza trás são energizantes.
Uma das coisas que fica evidente, ainda mais no final do livro, é como o diálogo é importante e necessário em qualquer tipo de relacionamento. Seja para relatar uma insatisfação, insegurança ou até mesmo felicidade.
Lina e Elza aprenderam muito uma com a outra durante a narrativa, o que fez que essas reflexões fossem repassadas para familiares, amigos e até colegas de trabalho. A reflexão sobre o que quer para seu futuro é extremamente necessária, pois ajuda a internalizar o que te faz bem, para que o desenvolvimento seja cada vez melhor.
gosto de romances que o foco não é o romance e sim outras coisas que fazem parte do desenvolvimento do casal e dos personagens. o livro é fluido, com uma escrita muito legal e assuntos importantes. eu adorei o final, e meio que queria ser adotado pela família da elza. é um livro bom, e é bem nítida a evolução dos contos que li da autora pra esse romance
a nota poderia ser maior mas algumas coisas me incomodaram e senti que algumas soluções foram rápidas e simples demais. mas no geral vale a leitura
É um livro mtt bem escrito que foca bastante na luta do movimento negro no Brasil, traz o romance das personagens mas ele não chega a ser o único foco do livro, tem toda uma questão da personagem principal se entendendo como mulher negra e entendendo o papel que era esperado dela dentro da sociedade. É um livro mtt bom pra entender melhor essa luta e como o racismo afeta de diversas formas as pessoas na sociedade. Só achei o final meio corrido com os acontecimentos, acredito que daria pra fazer mais alguns capítulos, mas mesmo assim amei cada segundo.
Terminei de ler o livro “Um traço até você” com gostinho de quero mais! Me apaixonei pela Lina e pela Elza, pelas famílias delas e pela forma de escrever da Olívia (que fez me sentir parte da história). Uma história de empoderamento e auto conhecimento, que traz a realidade de pessoas pretas em diversas classes sociais e suas lutas. Chorei, sorri e vibrei com essa linda história de amor! Obrigada, Olívia, pela escrita e por ampliar meus horizontes.
Esse foi meu primeiro sáfico brasileiro e eu simplesmente amei. Esse livro me trouxe muitas lembranças e reflexões sobre eu mesma de experiências parecidas nos círculos de amizade, na faculdade e uma tremenda semelhança vom as micro violências sofridas no estágio... a descoberta pra vida e um mundo novo. Elza e Lina me fizeram mergulhar nessa história e eu acabei terminando essa leitura com um quê de saudade e um gostinho de quero mais.
Ler Olivia Pilar é me preparar para algo que sei que vai surpreender positivamente, ainda sem saber como isso será feito. UTAV tem personagens cativantes, inteligentes e um romance delicado como todas as obras da autora. Terminei o livro com vontade de largar tudo e voltar a pintar, reaprender a escrever e até reviver memórias. [pretendo falar mais sobre ele depois]
Olívia sempre traz letramento racial em seus contos e não foi diferente com o seu livro. É um romance onde a relação das personagens entre si vai se aflorando na medida em que as personagens individualmente vão se conhecendo e encontrando seu lugar no mundo também, pautando situações importantes relevantes à sociedade. Gosto muito da escrita da Olivia e fiquei muito feliz com esse livro!!
0Um livro forte, de uma potência e verdades não ditas todos os dias e algumas vezes velada. Me apaixonei, chorei. Lina e Elza são apaixonantes e o quanto Lina é ensinada e abre seu mundo e passa a enxergar tudo de outra forma é desafiador. Obrigada a família de Elza por existir.