António ficou fixado na fotografia que acabava de revelar. António de Oliveira Salazar cumprimentava um grupo de enfermeiras de partida para Angola.
Todas sorriem do alto das suas fardas e do seu dever patriótico, mas há uma de rosto fechado, que olha, olhos nos olhos, o ditador, numa postura tensa e de desafio. Quem seria esta mulher de boina verde que fechava o sorriso a Salazar?
António é incumbido pelo presidente do Conselho de partir para a colónia portuguesa para se inteirar da situação real do país, em tempos de guerra. A desculpa é que iria fazer a reportagem fotográfica da digressão de José Oliveira, o grande cantor nacional, que tinha como objetivo animar as tropas portuguesas. Na comitiva segue também Cardoso Aranha, um agente da PIDE, que só conhece a força das suas mãos.
É em Angola que António se cruza com o rosto da fotografia e descobre Catarina, uma jovem de boas famílias, que decidiu rasgar os planos que outros fizeram por ela e embarcar como enfermeira paraquedista para Angola. Aqui descobre uma realidade que não estava à espera. Só o amor a consegue salvar e fazer voltar a acreditar.
Júlio Magalhães regressa à escrita de romance, com uma extraordinária história de amor e coragem passada em 1965, um ano que marcou a viragem no curso da guerra colonial. Faltariam 9 anos para o fim do regime e para que o país voltasse a acreditar.
Júlio Magalhães é o director de informação da TVI.
Nascido no Porto a 7 de Fevereiro de 1963, foi para Angola com sete meses, tendo vivido um ano em Luanda e doze em Sá da Bandeira (Lubango). Em 1975 regressou para Portugal, mais precisamente, para a cidade do Porto.
Aos dezasseis anos, iniciou a sua carreira como colaborador de O Comércio do Porto na área do desporto. Dois anos mais tarde integrava os quadros do mesmo jornal. Trabalhou ainda no jornal Europeu, no semanário O Liberal, na Rádio Nova e, em 1990, estreou-se na RTP onde, para além de jornalista e repórter, apresentou o programa da manhã e o Jornal da Tarde.
Este livro marca o regresso do autor ao mundo da escrita, e que bem que ele fez em retomar!
Sobre o livro, é importante mencionar que é uma obra ficcionada que terá sido inspirada em alguns cenários e factos verídicos das história do nosso país na época do Estado Novo, nomeadamente no inicio da década de 60 com os conflitos da guerra do Ultramar.
Adorei a nota final onde o autor menciona que este livro é uma "homenagem a todos os que com coragem e sacrifício, nos dois lados do conflito, participaram numa guerra sem sentido." Gostei desta nota e do facto do autor nos dar um pouco o ponto de vista do "outro" lado do conflito, mostrando que eram pessoas a lutar pela sua terra e pelo que acreditavam que eram os seus valores.
A escrita do autor é fenomenal, apresenta-nos um livro com múltiplos pontos de vista, fazendo o leitor viajar e perceber algumas das coisas que se passavam na época. A escrita é tão envolvente que houve um momento que eu simplesmente não consegui largar o livro sem antes o acabar. Personagens muito bem desenvolvidas com muita humanização!
Este livro tem um palco central no corpo de Enfermeiras Paraquedistas, ou seja, Enfermeiras de profissão que se voluntariaram a entrar nas forças armadas para assim servir o nosso pais e ajudar quem por lá lutava. Temos então a nossa personagem principal Catarina, uma mulher que vai muito além das espectativas de uma jovem de boas famílias em pleno Estado Novo, onde opera "Deus, Pátria, Família". Deus não é muito mencionado pela nossa Catarina, Pátria altamente criticada, e os valores da sua família repudiados... Nem parece uma portuguesa, e foram estas as suas peculiaridades e a sua forma de luta que fizeram com que eu gostasse dela!
Depois temos um outro ponto de vista, que eu achei tremendamente interessante, António, o fotografo do Conselho de Portugal. Que é incumbido numa missão secreta de ir para Angola e ser um pouco dos olhos de Salazar, mas a viagem fugiu um pouco ao que se espectava.
Ainda temos um ponto de vista de um agente da PIDE, Cardoso Aranha, e foram as passagens que mais me repudiaram... Sinceramente o escritor fez mesmo um bom trabalho a fazer me detestar uma personagem.
José Oliveira, o cantor sensação na época... bem esse personagem credo! Mas o seu papel é muito importante em toda a trama do livro e acho que ele representa muito bem o homem misógeno dos anos 60 do nosso portugalinho...Simplesmente asqueroso.
Em resumo, um excelente livro que aborda uma época da ditadura do nosso país numa abordagem muito completa.
Um romance ambientado entre Portugal e África, no auge da guerra colonial. Tem alguns momentos mais lentos e aborrecidos e até confusos devido aos personagens militares serem em grande número, mas no geral é uma história que nos incita a ler mais para saber o desfecho de alguns personagens mais marcantes!
Foi a minha estreia com a escrita e com os livros do Júlio Magalhães, e foi também a minha estreia nos romances históricos sobre a guerra colonial.
Existe aqui uma panóplia de personagens muito interessantes e diferentes umas das outras, que nos vão acompanhar durante uma viagem a Angola para conhecermos realmente como era a situação e o modo de vida das pessoas que dia a dia combatiam nesta guerra.
A escrita do Júlio Magalhães na minha opinião é uma escrita de sentimentos, algo que aprecio muito, o que a torna fenomenal. É também riquíssima em diálogos, com informações históricas importantes e relevantes da época, o que nos permite aprender um bocadinho sobre esta guerra em cada página.
Como sempre, o Juca não desilude. Adoro ler livros sobre esta época. Muita coisa era escondida do povo, o que acontecia nas colónias, agora ex-colónias, era subtilmente mascarado, e censurado, o povo só sabia o que Eles queriam que se soubesse. Ainda bem que saimos dessa repressão, e que agora sabemos de tudo mal acontece, há sempre alguém com um telemóvel na mão, o que nem sempre é bom.☺️ O romance entre a Catrina e o António foi muito bonito, o rapto deles, o que aconteceu ao cantor José Oliveira, gostei imenso de todo o enredo e da forma como foi escrito. Recomendo muito😉
A história é passada na época do Estado Novo, no início da década de 60 com os conflitos da guerra do Ultramar. Catarina, a personagem principal, é enfermeira paraquedista e é oriunda de boas famílias. Vai para Angola contra a vontade dos pais, para ajudar os feridos de guerra e é la que conhece e se apaixona por António. António, é fotógrafo de Salazar e é enviado para Angola para relatar a Salazar o que se passa por lá. É um bom livro que relata bem a época da ditadura do nosso país.
Gostei bastante do livro! Dá para perceber muito do conflito metrópole e colónia e as diferenças que existiam. Mergulhamos em Angola dos anos 60 e foi a parte que mais gostei. Acho que se perde um pouco na parte final mas no combo geral gostei e é uma leitura fácil e rápida! Bom livro para uma semana de férias.
3,5* O regresso de autor de que gosto muito, mas o mesmo cenário de livros anteriores, voltando o autor a recordar-nos temas intensos como a Luanda dos anos sessenta e o quotidiano.