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A Portuguesa e Outras Novelas

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Colectânea inédita em Portugal.


As novelas reunidas em Uniões (1911) e Três Mulheres (1924) são duplamente importantes no percurso literário de Musil.

Por um lado, prossegue-se nelas o diálogo com Nietzsche, na medida em que aí se apresentam, sob a forma de parábolas, destinos que se centram numa «naturalidade da vida» que a memória dos homens na Europa do século XX parecia já ter esquecido. Por outro, estas novelas, que revolucionam a própria forma, são escritas sob o signo de um novo modo de pensar ede construir narrativas poéticas guiadas pela recusa de um pensamento mecanicista e causal, insuficiente para explicar a vida humana, e em particular as pulsões de figuras de mulheres divididas entre a alma e o instinto, personagens dominadas pelo acaso e o imprevisto. Em todas as histórias transparece a grande estranheza que domina as relações entre os sexos, que a arte narrativa de Musil explora nas suas tensões mais profundas. É esta decisão, arriscada, de explorar as possibilidades literárias de novas formas de sentir, pensar e agir em personagens femininas complexas que confere a estas novelas, escritas em épocas diferentes, a sua unidade e a sua singularidade.

232 pages, Paperback

Published September 1, 2008

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About the author

Robert Musil

308 books1,376 followers
Austrian writer.

He graduated military boarding school at Eisenstadt (1892-1894) and then Hranice, in that time also known as Mährisch Weißkirchen, (1894-1897). These school experiences are reflected in his first novel, The Confusions of Young Törless.

He served in the army during The First World War. When Austria became a part of the Third Reich in 1938, Musil left for exile in Switzerland, where he died of a stroke on April 15, 1942. Musil collapsed in the middle of his gymnastic exercises and is rumoured to have died with an expression of ironic amusement on his face. He was 61 years old.

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Displaying 1 - 3 of 3 reviews
Profile Image for Ana Carvalheira.
253 reviews68 followers
November 17, 2016
Se este livro tivesse sido o primeiro que li de Robert Musil, provavelmente não quereria explorar mais nenhum título da sua relativamente parcimoniosa bibliografia. Tive a felicidade de iniciar a abordagem à obra do autor austríaco com o notável “As Perturbações do Pupilo Torless” que, tenha ou não um cariz biográfico, remete para um tema que me é caro: a alma e as suas contradições, os seus constrangimentos, assim como o seu enriquecimento e evolução. Depois parti para a aventura - não consigo encontrar outro substantivo que sugira uma vontade de continuidade mas com alguns receios, creio que fundados - de “Um Homem sem Qualidades”, I volume, gostei mas não me satisfez, preencheu-me pouco, tanto que o volume II foi abandonado a partir da página 50 e hoje decora a estante (não significa que não o vá buscar, num desses dias de mais absoluto tédio literário).

Mas “A Portuguesa e Outras Novelas” levou-me ao limite! Foi com enorme e talvez inusitado esforço que concluí a leitura dessas cinco pequenas novelas que enformam a obra – inusitado porque, se calhar, deveria tê-lo abandonado logo ao primeiro bocejo. Como pessoa otimista que sou, achando que, de repente, algo ressuscitaria o meu interesse, morto logo depois da primeira novela, decidi não abandonar a leitura, dar um pouco mais de espaço, de corda, quem sabe se tudo isto não dá uma reviravolta fascinante tornando a obscuridade e a opacidade narrativas em algo estimulante, naquilo que todos gostamos de encontrar: algo com que nos possamos identificar! Crente … A leitura continuava pesarosa, arredia aos pontos comuns mas eu, qual baluarte na defesa de Musil, continuava indefetível … Asneira, perda de tempo, que me perdoem os meus amigos para quem Musil é o supra sumo da literatura do século XX! Muita abstração, muitos recursos literários utilizados, parábolas, metáforas, comparações que me fizeram perder, constantemente, o fio à meada. Nem a intensa concentração que coloquei na leitura não me fez dispersar.

E, tentando encontrar uma explicação que, ou redimisse a minha má escolha, ou me fizesse entender porque este livro prometia que “estas novelas que revolucionam a própria forma, são escritas sob o signo de um novo modo de pensar e de construir narrativas poéticas guiadas pela recusa de um pensamento mecanicista e causal, insuficiente para explicar a vida humana (hummmm, já aqui deveria ter desconfiado), e em particular as pulsões de figuras de mulheres divididas entre a alma e o instinto, personagens dominadas pelo acaso e pelo imprevisto” (face a isto, quem não quereria apoderar-se de algo assim? Seríamos bastante insensíveis se não fossemos logo querer absorver essas reflexões). E então percebi que, se calhar, os sentimentos como o amor, as relações entre os sexos, as expectativas românticas, o que se espera do outro ser não são valores universais. Quando um escritor nos fala ao coração, com quem nos identificamos, quando lemos algo e soltamos a exclamação: “É mesmo isso!”, estamos a subjetivar algo. E acho que só poderemos entender estas novelas de Musil dentro deste enquadramento: os sentimentos e as suas consequências não são, não podem, não devem ser elementos uníssonos, uniformes sem que deles constem as nossas apropriações a realidades ímpares e, muitas vezes, incompreensíveis como o próprio ser humano.

Foi assim que entendi a confusão e a conflitualidade de uma sensibilidade única, a de Robert Musil se calhar, diametralmente, oposta à nossa, a do ser comum, com as suas expectativas e frustrações e porque não podemos ler, claramente, a alma de todos. Só por isso, avalio com 3*, desculpem mas, ainda assim, não poderia dar mais pois nada me trouxe de substantivo, a mim, o que não significa que se passe o mesmo com outros leitores.

Profile Image for Graciosa Reis.
537 reviews52 followers
Read
April 16, 2023
Este livro divide-se em duas partes: a primeira, Três Mulheres - Novelas e a segunda, Uniões – Duas Narrativas.
Numa escrita irrepreensível e ensaística, Musil tece reflexões sobre o comportamento e os sentimentos das protagonistas de cada história.

“E enquanto ela se retraía como uma película, sentindo nas pontas dos dedos a angústia silenciosa de pensar em si e as suas sensações se lhe colavam como pequenos grãos e as emoções escorriam como areia (…) o passado surgiu-lhe então, repentinamente, como expressão inacabada de algo ainda para acontecer.” (p. 143)

De forma minuciosa, vamos conhecendo as dúvidas existenciais e, por vezes complexas, das personagens femininas. Estas dúvidas dissecadas, questionadas até à exaustão provocam algum desconforto no leitor porque este participa na mediação constante entre o sentimento e a razão; conhece os seus pensamentos, as emoções, as ideias, as motivações; especula e julga as decisões tomadas.
“Para uma busca indefinida, a alma é qualquer coisa deste género. Durante toda a sua vida obscura, Verónica sentira receio de um amor e nostalgia de um outro; em sonhos, as coisas são por vezes idênticas ao que ela desejaria”. (p. 218)

Musil é exímio na interpretação do comportamento humano. Ele interliga o presente e o passado, a realidade e o sonho; ele invoca os traumas psicológicos da infância, de algumas personagens, e fá-los reviver na vida adulta; ele retrata o desassossego constante.
Musil não poupa o leitor, pelo contrário, embrenha-o nas narrativas, incomoda-o, instiga-o à reflexão.

(…) Havia nela um ligeiro desassossego, uma nostalgia quase malsã de uma tensão extremada, o pressentimento de uma derradeira agudização. E, às vezes, parecia destinada a um mal de amor desconhecido.” (p.140)
Profile Image for Laura Silva.
27 reviews8 followers
January 12, 2019
Este foi o primeiro livro de Musil que li.
Comprei-o há uma mão cheia de anos quando vaguear por livrarias ou feiras literárias era algo que fazia com frequência. Nessa altura escolhi "A portuguesa e outras novelas" ao invés d' "O Homem sem Qualidades" porque queria começar por algo mais ligeiro... Durante anos este livro andou a ganhar pó numa estante e este ano resolvi pegar nele, com a esperança de que com o aumentar da idade se tornasse nalgo ainda mais apetecível de ler...

Ledo engano! Estas 230 páginas não foram assim tão aprazíveis, com a excepção dos contos "Grigia" e "A Portuguesa"que fazem parte de "Três Mulheres - Novelas". Estes contos são escritos sem rodeios, há uma descrição clara que nos faz viver os cenários, bem como uma certa aura de mistério, em volta do destino dos personagens, que nos permite criar uma maior envolvência.

Os restantes contos, parte de "Uniões - Duas Narrativas" bem como "Tonka" (que faz parte de "Três Mulheres - Novelas" ), com tanta descrição e pudor, naturalmente associado à época em que foram escritos, acabam por se tornar aborrecidos e um pouco confusos... Confusos porque muitas vezes o meu pensamento divagou enquanto os lia.

Apesar de ter sido em parte uma leitura um pouco tortuosa, é bastante interessante observar como é que o autor arranjou forma de falar de assuntos que há 100 anos não andavam lado a lado com os bons costumes.
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