Em agosto de 2011, casado há 4 meses, o narrador de Divórcio encontra acidentalmente o diário da esposa em que, entre outras coisas, ela escreve: “O Ricardo é patético, qualquer criança teria vergonha de ter um pai desse. Casei com um homem que não viveu.”.
“Depois de quatro dias sem dormir, achei que tivesse morrido”, o narrador, Ricardo Lísias, desabafa. A partir de então, descreve o que chama de “seu desmoronamento” e a tentativa de compreender o que o levou ao ponto crítico. A literatura, e treinos de corrida cada vez mais intensos, servem para que alguma lucidez retorne a sua vida.
Mas nem sempre é possível explicar friamente o que ocorreu, dar ordem aos sentimentos conflitantes, à dor e à obsessão, ao desejo de esquecer. É isso o que torna Divórcio um romance sem paralelos. Num fluxo emocionante, numa reconstrução ficcional da memória, o autor ultrapassa os limites da autoficção e alcança um novo terreno, em que a literatura — a literatura combativa, desafiadora — tem a última palavra.
Ricardo Lísias nasceu em 1975, em São Paulo. Estreou na literatura em 1999 com o romance Cobertor de estrelas, traduzido para o espanhol e o galego. Publicou as novelas Capuz e Dos nervos. Lísias também é autor de Duas praças, Anna O. e outras novelas, finalista do Prêmio Jabuti de 2008, e do romance O livro dos mandarins, vencedor da Copa Brasileira de Literatura de 2011. Publicou os livros infantis Sai da frente, vaca brava e Greve contra a guerra. Graduado em letras pela Unicamp, é mestre em Teoria Literária pela mesma universidade e doutor em Literatura Brasileira pela USP. Em 2012 foi selecionado pela revista Granta como um dos vinte melhores jovens escritores brasileiros.
O livro peca mais por uma meta-literatura meio desajeitada (mesmo que provavelmente necessária) que pelo ar ressentido - muitas vezes raivoso - do narrador. O ressentimento existe, mas já dizia o outro que boa literatura não se faz com bons sentimentos. Certamente um dos melhores livros de 2013, embora a concorrência não faça disso exatamente um elogio. A coragem em defenestrar a classe midiática, principalmente na área cultural, é rara, uma vez que a boa relação (leia-se: bajulação) com a mídia é moeda de troca corrente dos autores que precisam, antes de tudo, vender seus livros. Vários trechos me lembraram do Marcelo Mirisola, outro campeão daquilo que andam chamando bizarramente de "auto-ficção", mas sem qualquer relação de influência: o que me parece é que os dois são melhores observadores da classe média (que inclui autores e jornalistas) que os demais colegas de geração.
Após terminar o livro, fiquei na dúvida se o autor/narrador/personagem principal é: A) idiota B) infantil C) moralista D) extremamente inteligente E) todas as respostas anteriores
O texto me prendeu, mas não por ser boa literatura. Talvez porque sou uma pessoa curiosa.
Não me interessei em ler um livro de um autor que eu desconhecia sobre como foi o processo de seu divórcio e como ele o superou. Foi o debate sobre até onde vão os limites da ficção que me chamou a atenção. "Divórcio" não é um livro sobre um relacionamento. É sobre verdade.
A ex-esposa de Ricardo Lísias, personagem-narrador, é uma jornalista cultural renomada. Frequenta rodas de intelectuais, artistas e jornalistas influentes. Em uma gaveta desprotegida, que guarda assuntos comuns ao casal como contas a pagar, deixa seu diário pessoal. Nele, relata seu verdadeiro desprezo pelo marido e situações de adultério. Ricardo lê esse diário apenas quatro meses após o casamento.
Os capítulos seguintes são um relato do sofrimento do narrador e das maneiras que ele encontrou para se recuperar. A destreza literária de Ricardo Lísias, autor, e a fragilidade modesta de Ricardo Lísias, personagem, já compensam a leitura. Mas o cerne da obra está além. "Divórcio" critica a maneira leviana com que o jornalismo brasileiro se publica, tão sedento por furos que valores como ética profissional e a confiabilidade de fontes são deixados de lado. E vai além.
"Divórcio" analisa comportamentos da elite brasileira tão eticamente duvidosos quanto. Em busca das motivações para a crueldade de sua ex-esposa e para que ele mesmo não a tenha percebido até então, Ricardo encontra toda uma classe social capaz de muita imundície por um apartamento próprio decorado com réplicas de designers famosos. Um seletíssimo grupo do qual ele próprio nunca quis participar. Ambições e clichês que seduzem e corrompem. “A Notre Dame é um patrimônio histórico da humanidade”.
Em uma rápida busca no Google, encontrei uma provável ex-esposa e um provável cineasta com quem ela teria traído Ricardo. O quanto tem de mera transcrição da realidade ou de completa ficção em "Divórcio" não importa. "Divórcio" é um romance. Dos bons.
Ricardo Lísias es un autor brasilero que se casó con una reconocida periodista de arte y entretenimiento de su país. Según ella, una de las mejores, si no es "la mejor". Desde ahí podemos ver el ego de este personaje. Cuatro meses después, Ricardo descubre el diario de su mujer, donde básicamente destruye a su esposo y lo llama de todas las maneras posibles, no entiende por qué se casó con el. Y, por supuesto, Lísias cae en una crisis profunda. Esta es la base de "Divorcio". Y el libro no es sobre el divorcio, es "(...) una novela sobre el amor y lo que las personas pueden hacer con él cuando están corroídas", en palabras del autor.
Este libro es un recuento de una vida que se ve atravesada por una relación tóxica. Las "banderas rojas" de las que tanto habla la gente abundaban desde el inicio, en el matrimonio de Lísias había bastantes momentos sorprendentes que aparecen en el libro, como lo que sucede en París, que es absolutamente increíble... Y sin embargo, ahí siguieron juntos. Uno no entiende por qué seguir insistiendo en continuar con gente de ese estilo, pero los seres humanos somos así...
La honestidad de Lísias es salvaje, sorprendente, dolorosa, incómoda... Pero absolutamente adecuada para lo que seguramente debe estar sintiendo. Los comentarios de su esposa, tomados del diario que encontró, son tan salvajes como las respuestas de él. Vivieron en una batalla constante de rencores ocultos y mentiras dolorosas que los destruían desde adentro. Es impresionante ver (o leer) cómo una persona puede resistir tanto en una relación, sin más razón aparente que evitar el largo y doloroso proceso de la separación... O quizás, la soledad, esa a la que tanto le temen muchos y muchas por ahí.
Al final, es mejor la soledad que vivir con una pareja así. Y no rescato a ninguno de los dos, ambos son personas difíciles, como CUALQUIER ser humano. El secreto, supongo, está en encontrar qué cosas uno decide soportar del otro. Pero ni aún así se asegura el éxito. Lísias escribe que cuando le preguntaron por qué escribía este libro, decís que era para dejar en claro que estaba todo antes sus ojos y no lo vio, o quizás para inventar que todo estaba antes sus ojos. ¿El amor nos vuelve ciegos? Bien lo dice Shakira también en su canción, una de tantas... Y ella fue víctima de su propia obra y fue engañada. ¿Cuál será la fórmula indicada, entonces? Es más, ¿hay una forma de caer como idiota en el amor?
Las anécdotas, historias y las acciones del narrador, tienden a repetirse. Y está bien, es más, lo reconoce el mismo autor: "Divorcio es un libro repetitivo. Ya escribí algunas veces que el hecho de concluir algo que tenía planeado me hace bien. Pero como mi cabeza se trastornó completamente, cada confirmación es una señal de esperanza". Esa es su forma de sanar, repetir en su mente las cosas y correr, correr, correr... Cada uno busca lo que le funcione para salir del dolor.
Y nunca deja de sorprender. El proceso del duelo incluye cuentos que escribí, horas de correr y correr, amenazas de periodistas más chismosos y tan tóxicos como su exmujer... Y tira para todos lados, es verdad, pero cada uno decide en qué convierte lo que lleva adentro. También habla de la sociedad brasileña y su hipocresía; del periodismo y la "rosca" que forma, donde se apoyan unos a otros hasta la muerte; del deporte como una cura para el dolor del alma; de cómo el dolor que deja una decepción es tan profundo que se siente como si se hubiera quedado sin piel, la carne al rojo vivo, aguantando dolor constantemente... Adele, Shakira y Taylor Swift convierten sus penas de amor en canciones, como muchos otros; algunos lo plasman en libros; otros pagan años de terapia... Es increíble todo el material que da un divorcio.
Yo, por mi parte, le creo a Lísias y estoy de su lado. Y me encantó el libro. Y quisiera más cosas de este autor traducidas al español. Espero que al escribir "Divorcio" se haya sentido mejor y continúe desafiando lo "políticamente correcto" a la hora de escribir.
P.D. La versión en español de Tusquets, traducida por Gonzalo Aguilar, necesita un corrector de estilo y una revisión de ortografía URGENTÍSIMO.
Pensamentos confusos de uma pessoa traída que resolveu afogar as mágoas no papel. Não gostei nem um pouco da narrativa, e as reflexões do autor não me acrescentaram muito. Só gostei mesmo do que ele fala sobre a capacidade transformadora da corrida.
Daria 1,5 estrelas, se fosse possível. Porém, de fato, ele não merece mais estrelinhas. Não, não!
Até achei bom o ponto de partida, e o divórcio ser, na verdade, um grande pano de fundo para a crítica necessária e contundente a nossa mídia e sua falta de comprometimento com os fatos e com a verdade, mas sim com os interesses de uma elite que domina esses meios de comunicação.
Mas não gostei porque achei que o autor se preocupou muito em se explicar: há um capítulo inteiro onde ele diz se tratar de uma ficção. O tempo todo também o autor fica se auto-promovendo falando dos seus livros... Um pouco tacanho. Em alguns momentos achei o discurso um pouco machista e vitimizante. Também achei que a personalidade do personagem principal mudou muito também, ao longo do livro (e não encarei essa grande mudança como simples crescimento ou superação dos fatos). Parece que algumas pontas ficaram pelo livro.
É o segundo livro do lísias que eu leio, e preferi o "céu dos suicidas".
Um romance desnecessário que mais parece picuinha de novela mexicana. Além disso, o autor tenta justificar a existência do livro a toda hora, como se não estivesse seguro da própria escrita ou mesmo da história, pois sabe que é uma história ruim e motivada por ódio e raiva. Não vale o tempo gasto para a leitura. Há muitos outros autores brasileiros da mesma geração mais relevantes e excepcionalmente melhores, com destaque para Daniel Galera, Antônio Xerxenesky e Vanessa Barbara.
Acho que essa foi a experiencia mais UNICA que tive até agora com literatura brasileira...Parece um livro de cronicas,mas tem uma penca de peculiaridades no desenvolvimento que quando amarrado pelos últimos cápitulos(principalmente o ultimo que é foda)tornam um livro notável. A melhor parte é o final, não pq tenha revelações ou um ponto de conflito muito imprevisto,mas pela maturidade e sutileza que o narrador teve para superar e finalizar sua desgraça.
Divorcio es una novela diferente. Anclada en la autoficción nos cuenta la historia del divorcio, luego de cuatro meses, de Ricardo Lísias y una popular periodista cultural. Ese divorcio lo lleva a Ricardo a prácticamente desaparecer, para renacer en, primero, el odio y el enojo y luego para volver a organizar su vida y convertirse en alguien nuevo. Con mucho análisis de escritur en el medio, es una historia de muerte y resurrección muy interesante.
4/4.5 por suerte lo retomé. me encanta el juego con la ficción, me deja pensando muchas contradicciones generadas en la lectura, desde sentires sobre los personajes; sobre lo que pienso de algunos temas hasta los límites de la ficción. buena lectura
o livro parte de um acontecimento conhecido e de âmbito privado (a separação de ricardo lísias após ter tomado conhecimento do diário feito por sua então esposa, no qual ela fazia apontamentos depreciativos sobre ele e sobre o casamento de ambos) para exercitar a passagem entre o universo ficcional e aquele que seria o da realidade.
nesse limite que se encontra apagado, personagens remetem a sujeitos que se encontram, de algum modo, fora do âmbito do livro. Todavia, à parte a premissa inicial, não temos nunca como saber se algo do que nos é narrado estaria além ou aquém do exercício literário. Isto é, só as personagens e suas narrativas nos restam.
é nesse movimento que a literatura nos é apresentada como o meio pelo qual autor e protagonista conseguem se recompor e fazer da experiência de separação não apenas um (re)começo, que se traduz na própria confecção do livro, mas também na positivação do distanciamento com aqueles que fazem da palavra meio para construir realidade: jornalistas e políticos.
que a narrativa a todo instante destaque a dimensão física da (re)construção de si (a pele, a corrida) nada mais é do que o acento que aponta para o limite, sempre indefinido, entre ficção e realidade. é nessa intervalo que se pode buscar, inclusive, os meios para se fazer da realidade algo que até então se mostraria impossível.
em outro momento, seria interessante investir na análise do que este livro de ricardo lísias comporta de aproximações com o livro de h. murakami, 'do que falo quando falo de corrida' e também do filme 'separação', de Asghar Farhadi.
A história começa super bem: o narrador acorda, se percebe sem pele, você imagina estar num episódio de Criminal Minds. Vc pensa: vai ser do caralho! Entretanto, a coisa fica confusa lá no meio. O narrador se confunde com autor ao contar todo o processo do divórcio - ele lê o diário da ex e fica muito puto com o que descobre. Talvez o que mais tenha me incomodado - e temo ser uma tendência na literatura brasileira contemporânea - é essa metaliteratura boba da escrita como tábua de salvação do sujeito. Ela até pode ser. Mas quando tu fica falando que há uma força que te leva a ser ficção, acho fraco. Isso já aconteceu no romance Uma duas, da Eliane Brum, o qual achei muito bom, tirando essas partes de reflexão senso comum do eu-ficção/eu-carteira de identidade.
Divórcio é um bom livro, vc ñ vai ter sensação de ter perdido seu tempo.