Enquanto aguarda um voo, Natalia encontra o médico de cuidados paliativos que atendeu seu pai Artur. A conversa desperta nela toda a experiência da perda, ainda próxima e repleta de cicatrizes. E é a memória dos meses e dias finais do pai da narradora que compõe a base deste romance de extraordinária beleza, uma indagação cortante sobre família, lembrança, judaísmo, vida e morte. Artur era médico, então a notícia de que o câncer havia retornado vem seguida da certeza da finitude — não há meias-palavras ou possibilidade de esperança. Assim, a morte vira um assunto de família, e acompanhamos não apenas o declínio físico de Artur, mas seus efeitos na vida dos filhos, da esposa e dos netos, narrados com rara delicadeza. Conforme a doença avança, cada momento ganha contornos a última viagem, a última gargalhada, a última ida ao teatro. Se o fim é inevitável, à narradora cabe reconstruir todo esse caminho que, embora dramático, vem carregado de ternura. Em meio à tristeza, a autora traz à luz os pequenos gestos, os acontecimentos insignificantes que, vistos pela lente do tempo, formam um retrato belo e doloroso da relação de uma filha com o pai. Natalia Timerman segue, à sua maneira, a trilha de autores como Karl Ove Knausgård e Annie Ernaux ao criar um poderoso retrato do luto e do amor.
Natalia Timerman nasceu em 1981 em São Paulo, onde mora. Médica psiquiatra pela Unifesp, psicoterapeuta, mestre em psicologia clínica pela USP, cursa atualmente o núcleo de ficção da pós-graduação em formação de escritores do Instituto Vera Cruz. Trabalha como psiquiatra no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário desde 2012. Desterros é seu livro de estreia.
3,5* Gostei. As Pequenas Chances é uma ode ao amor da autora pelo seu pai, é o reviver da dor dilacerante de se saber que aquela pessoa tão querida vai morrer daí a nada, talvez semanas, dias, horas apenas. A espera de quem está em cuidados paliativos, da sua família e amigos é tremenda, é a definição do horror que não se deseja a ninguém. Natalia Timerman descreve isso muito bem, com emoção e discernimento misturados. É tocante.
3.5/5 As duas primeiras partes do livro são brilhantes. No entanto, achei a terceira parte completamente desajustada do resto e muito menos interessante.
“Apesar de ter apreciado bastante a forma como Natalia Timerman encadeou os episódios que escolheu narrar, para mim o livro vale ainda mais pela escrita, pelo equilíbrio entre a emoção e um certo desprendimento (algo que me parece muito complicado de atingir).”
Ao encontrar por acaso o médico de cuidados paliativos que assistiu o pai nos últimos dias de vida, Natalia Timerman compõe uma obra sensível, bonita e triste acerca das memórias daquele que foi amado, ainda é, mas que foi embora. Revisitando, portanto, os meses, semanas e dias que antecederam sua morte, a escritora reflete acerca da esperança, dos pequenos gestos e da perda, em uma obra em que a morte e a vida se entrelaçam para formar o nada, já que "é isto a morte, nada, e isso não é possível suportar".
Acompanhando a dor e o desenvolvimento da doença do pai, com foco nas questões ligadas à identidade, pertencimento e ao judaísmo, a escritora pincela a última ida ao teatro, o último filme na sessão de cinema, o último jantar, os hábitos, os abraços finais, a corrida contra o tempo para chegar antes que o pai parta, e sobretudo, a relação entre pai e filha, que "embora tenha sido tanto, foi tão pouco. É sempre tão pouco perto do nunca mais. E nunca mais é tanto tempo", em uma obra que apesar de ser um tratado sobre a vida e morte, é também uma bonita homenagem a quem a escritora tanto amou. Tive uma boa leitura.
Muito impactante ver o relato de despedida e luto da Natalia com seu pai, que lidava com um câncer terminal. Comovente. A morte (ou a proximidade da morte) dos nossos pais realmente mexe com o nosso psiquismo. Quando Natalia se volta ao judaísmo e a seus rituais para lidar com sua tristeza, mesmo não seguindo a religião, nos mostra que todos os recursos são válidos quando um ente querido se vai.
O livro se perde um pouco na terceira parte, embora a cena final que Natalia constroi seja bem bonita.
Achei a parte três do livro bem desconectada com a primeira e segunda parte :/ Ficou maçante, cansativo. Entretanto tenho que elogiar a escrita da autora nos 2/3 do livro. A despedida do pai me comoveu demais. Tocante, profundo e sensível.
As pequenas chances é sobre vida e morte - a dor da perda, o luto, a saudade, a efemeridade da vida - mas também sobre o que não é efêmero, permanece, se fragmenta em mil para resistir ao tempo, para se espraiar e se estender entre as muitas vidas que se sucedem, entre começos e fins. Há sempre algo de generoso na partilha da intimidade não-confessional, seja das memórias dolorosas, difíceis de revisitar, seja das lembranças felizes, que guardamos, por vezes, como preciosidades tão essencialmente nossas que tememos tirar desse lugar inviolado. Que significados os outros imprimirão a isto que me é tão caro? Será que poderão entender, se irmanar nesse sentimento? Permanecerão impassíveis em seus desertos íntimos? E será que isso importa? A ideia jogada ao mundo é ser alado, a quem não se dá direção, nem destino. Há uma intenção, por certo, mas não passa disso. Os caminhos da vida são por vezes mais oblíquos do que se pode imaginar. Num desses caminhos, uma escritora descobre uma semelhante, ambas buscando vestígios de um passado a ser desvelado, e encontra um desfecho para o seu livro inacabado, que aguarda o último fôlego, uma leitora cruza com o livro, agora já concluído, e lá se refugia para viver o luto pelo seu pai, que, interrompido, pendia também de um desfecho. As pequenas chances, por vezes, acabam por se tornar grandes encontros, singelos em sua materialidade, mas enormes no indizível. E, para mim, este foi o caso aqui.
as pequenas chances levou-me de volta a 2019. não foi o meu primeiro contacto com a morte, mas de um familiar direto sim - era o meu avô. lembro-me perfeitamente das visitas no hospital, do nó na garganta sempre que entrava naquele hospital com aspeto de hospício, do nosso último momento juntos, de o ver tão pequenino na cama, de como chorei à sua frente e de como pela primeira vez me ouvi dele algo carinhoso “Porque estás a chorar? Não chores; assim vais estragar essa cara bonita”. lembro-me de como esperou que a minha prima regressasse da suécia e de como só partiu depois da despedida.
sinto o dia 8 de março como se tivesse sido ontem: de receber a notícia de 48 horas de vida, no dia anterior, de no dia seguinte ter um teste de geografia A e de pedir à minha professora para o repetir porque me tinha corrido terrivelmente mal, de a ouvir dizer “não te preocupes. nos próximos dias se calhar não vais estar em lisboa.”, de receber uma mensagem da minha tia e sentir “foi agora”, e depois, de ser chamada à receção da escola porque a minha mãe me tinha ido buscar. lembro-me de percorrer os corredores da escola e tudo estar em câmara lenta. lembro-me de tudo isso.
e lembro-me de pensar que nunca mais o ia ouvir falar. aquela voz rouca. que nunca mais o ia ouvir resmungar. que nunca mais ia ver os seus olhos azuis. que nunca mais o ia ver receber a pata da galinha na canja. que nunca mais estarei nos corredores do hospital dos covões, à espera para o ver. e a vida continua. tudo permanece igual exceto nós, que agora temos um vazio.
relacionei-me muito com o livro, de como a autora posteriormente se agarrou à religião para fazer sentido da sua dor, para poder fazer luto e sarar a ferida. e ao ler lembrei-me de livros que gostei tanto no passado, “o ano do pensamento mágico”, “notes on grief” e o “morreste-me”.
li as primeiras duas partes do livro e pensei “ok, está aqui um livro de 5 estrelas”… e depois veio a terceira parte. pareceu-me completamente desconectada da primeira. sei que natalia estava a caminho da europa quando as reminiscências começaram, mas não esperava que na terceira parte fôssemos acompanhar a sua chegada a Iaşi e que de repente partíssemos numa viagem para descobrir as origens da sua família judaica. parecia que estava a ler outro livro e tornou-se anti-climático. fiquei triste.
"A morte me diz que não há mais abraço de pai, que nunca mais haverá; a morte é a morte do cheiro, nunca mais, da presença, do tempo. A morte sussurra o não, minha insuficiência; embora tenha sido tanto, foi tão pouco, pai. É sempre tão pouco perto do nunca mais. E nunca mais é tanto tempo. A morte, aprende-se com o luto, abre e fecha a verdadeira dimensão do tempo. Ou com o luto não se aprende nada."
Adiei por bastante tempo a leitura deste livro. Com o meu pai doente, não me quis aproximar de nada que pusesse como possibilidade um mundo sem o meu pai. Talvez tenha sido desnecessário. Este livro é sobre luto e sobre os últimos dias de vida do pai da autora, assuntos mais que suficientes para o tornar um livro duro e sombrio. Mas não é. É um livro luminoso, sobre amor e despedidas, sobre aceitar o absurdo, sobre memórias. Já a terceira parte do livro, tem algumas reflexões interessantes, mas não creio que a ligação com as duas partes anteriores tenha sido muito bem feita. De qualquer forma admiro muito a autora pela coragem de nos abrir o seu coração num processo tão conturbado como o luto pelos nossos. Espero que tenha sido terapêutico.
Antes de ler esse livro eu ouvi uma entrevista da Natalia Timerman e do Christian Dunker no podcast da revista 451 (o 451 MHz). No podcast Natalia falou algo que me tocou profundamente e me fez paralisar no meio da rua, com lágrimas nos olhos. Recontei a fala dela na análise e comecei a chorar de novo. Fui redizer a amigso e chorei mais uma vez. Gravei a fala dela mais ou menos assim: Quando o pai de Natalia morreu, ela foi falar com amigos sobre o luto - no funeral mesmo; encontrou uma amiga que tinha perdido o pai recentemente, já adulta e perguntou: isso passa? a amiga respondeu: passa; depois encontrou outra amiga, que tinha pedido o pai bem jovem, adolescente ainda, e perguntou: isso passa? a amiga respondeu: não passa. Esse pequeno fragmento de conversas pra mim simboliza o luto de uma maneira imensa. Passa e não passa. - Ganhei o livro de aniversário. Estava na minha lista da amazon como uma das possibilidades de presente que tinha elencado para amigos, entre uma centena de outros livros que deixo lá à espera do dia que serão comprados e lidos. Foi esse o escolhido por eles. Talvez por acaso, talvez por eu ter repetido tanto a história acima, meus amigos optaram por ele. A verdade é que eu já vinha namorando o livro há algum tempo e sempre ensaiando a compra em alguma livraria, mas acabava deixando para outra hora - talvez com medo do que ele despertaria em mim. A verdade é que eu queria ganhar esse livro de alguém. E ganhei. Depois, demorei mais quatro meses para encarar o livro de frente e ler. E que deleite. A literatura do luto tem me atravessado de forma estranha. Escrevo esse review no dia em que se completam 3 anos da morte do meu pai. A literatura do luto tem me chegado como forma de entender, processar, refinar meu processo, mas acima de tudo como forma de saber que não sou só eu que passo por isso no mundo. A Natalia já passou, a Annie Ernaux já passou, o Didier Eribon já passou, o Mathieu Lindon já passou, o Paul Auster já passou. Estão passando. Passa e não passa. - Me vi nessas páginas. Vi algumas resposta nessas páginas. Vi meu pai nessas páginas. Vi as coisas que queria que tivessem acontecido quando meu pai morreu, vi as coisas que de fato aconteceram. Vi uma ritualística que apesar de não ser da minha família ou da religião de ela adota, muito tem a dizer sobre o processo de deixar alguém ir. Vi, talvez não com peso histórico idêntico, mas tão profundo na personalidade do meu pai, a origem migrante que também havia na família de Natália (meu pai sendo um descendente de imigrantes italianos - e tão apaixonado pelo tema - e o pai da autora de imigrantes judeus). Tudo isso informou em mim uma certeza profunda de que não estou só e, para além da escrita impecável do livro (que é um memoir, um thriller, um relato de viagem e um romance ao mesmo tempo), que outros passaram pelo mesmo. Passam. Passa e não passa.
Enquanto aguarda um voo, Natalia encontra o médico de cuidados paliativos que atendeu seu pai Artur. A conversa desperta nela toda a experiência da perda, ainda próxima e repleta de cicatrizes.
Por completo, Natalia apresenta uma obra sensível, triste e bela. Quando percebemos que vamos morrer? Quando percebemos que antes de nós, havia outras pessoas que sequer haviam sua identidade? Mulheres, solteiras, que haviam outros sobrenomes, outras vidas, nas quais foram trocadas na imigração.
O luto da Natalia a faz perceber coisas que a gente não dá conta quando nossos pais e parentes estão vivos: conhecer a bagagem ancestral da nossa família, materna e paterna.
Me identifiquei, pois na minha família por parte de pai é do sul e da minha mãe é carioca, toda vez que falo das misturas para meu noivo percebo cada vez mais e tenho mais orgulho de ter tantas culturas dentro de mim, que visitarei lugares, países e estados completamente absorta de uma familiaridade pra mim.
Existe dentro de mim, árabes, italianos, indígenas, nordestinos, cariocas, sulistas... Um combinado imenso de pessoas e histórias que eu sequer conheço, apenas por pouco do que minha avó me contava. Inclusive, ontem foi o dia da avó, um dos nossos contatos com a história da criação da família e semente viva da família.
A terceira parte foi a minha favorita, diferente de muitos que falavam sobre o livro, o nascimento, pertencimento e a morte numa só pilastra do livro. Foi magnífico ver o processo da Natalia procurando sobre sua família, de ver (e sentir junto) o parto tão lindo e sentimental, segurando as mãos das mulheres anteriores à ela, que também trouxeram vidas, trouxeram sangue e novos laços.
Eu acredito que todo mundo deveria ter essa consciência sobre sua própria história. Buscar, independente de quantos parentes tiver, um pouco sobre você. Vai se surpreender quando descobrir histórias diferentes, em que você foi gerada por cada vida que passava nessa longa linha do tempo que é a vida.
É uma narrativa tão pessoal, que fica difícil encará-la para além disso. Creio ter sido isso que me deixou distanciado do texto durante a leitura: entender o luto a partir do recorte de relação com o pai que ela nos apresenta, sem desenvolver o personagem que morre, deixando difícil entender quem foi esse homem para além dos seus dias de agonia. É um livro não sobre o pai, tampouco para o pai, mas sim para a posição que ficou desocupada a partir da morte do pai e, por isso, sem referência, levando a narradora a encampar uma viagem genealógica como se isso definisse o contorno dessa ausência, que justifica-se pela morte e pela possibilidade da perda da memória. É complicado, enquanto leitor, ver-se nesse lugar de observador da dor, mas não da dor real (porque jamais saberemos o tamanho da dor do outro), mas a dor que a escritora inventou para caber no livro que ela quis escrever. Penso que o final é também bastante previsível nos paralelos estabelecidos pelo tema principal e solução batida, no lugar-comum do empoderamento feminino e de seus sagrados ancestrais. De qualquer forma, Natália escreve sempre lindamente e o livro tem passagens e reflexões que são lindas, memoráveis. Vale ser lido.
As pequenas chances é isso mesmo... Aproveitar cada momento que temos com quem amamos, pois não sabemos quando vai ser o último... Já li bastante sobre o luto e a perda, não só para compreender e ajudar os outros, em termos profissionais, mas também para lidar com as minhas perdas e o meu próprio processo de luto... Adorei a escrita, a forma como a Natalia nos envolve na história e como descreve os sentimentos de culpa, amargura e frustração face ao sofrimento de quem nos é próximo... bem como a busca do sentido da nossa vida. Ao perdermos alguém, perdemos também uma parte de nós e também do nosso rumo... O nosso mundo fica despedaçado... Sem hipótese de resposta às nossas questões, sem aquele colinho e abraço que tanto precisamos...aquele sorriso que melhora o nosso dia... Recomendo muito este livro!
é preciso ser rápida, é preciso saber que o tempo de uma vida é pouco, é preciso estar pronta para escutar as pequenas chances que o passado dá de ser visto.
Conheci a Natalia Timerman na Flip de 2023 - minha primeira vez nesse evento incrível - e desde lá a acompanhado pelas redes. Seja nos textos no Instagram, suas participações em podcast ou em lançamentos virtuais, a sensibilidade permeia as falas da autora. Sua entrevista no podcast "Quarta Capa", da editora Todavia, foi o que despertou ainda mais meu interesse em conhecer suas obras.
Comecei, então, por "As pequenas chances" (Ed. Todavia), seu último lançamento. Esse é um livro de memórias e também auto ficção. O registro pessoal do que aconteceu complementa-se com o que não foi possível viver, seja pela brevidade da vida, imprevistos e a eclosão de uma pandemia mundial.
O "luto" é um assunto presente em todo o livro, que não se refere somente ao fim de uma vida humana, mas também ao fim do futuro de uma pessoa amada, das possibilidades e pequenas chances que temos de estar ao lado delas.
"O tempo se fecha sempre, todos os dias, a cada instante em que uma escolha é feita em detrimentos de todas as outras. A morte é quanto não há mais nenhuma a se fazer."
Mesmo não conhecendo tanto a escritora, esse primeiro contato com suas memórias me emocionou muito e reflete sua habilidade com as palavras, além de provar que o medo que todos nós compartilhamos da finitude é uma forma poderosa de nos conectarmos nessa experiência doida que é viver.
"A morte é abstrata mas dói em detalhes concretos, e essas duas instâncias, a concreta e a abstrata, nunca se encontram, daí a estranheza".
Dispensava a maioria da terceira parte do livro, mas as duas primeiras partes marcaram-me imenso. Sobre o luto, não há quem escreva melhor do que alguém que passou por ele, pelo luto próximo, de alguém que nos compôs, e compõe, e leva um quase literal bocado de nós quando parte. Quase literal porque a dor é física, não me lixem, e poucas se assemelham a perder quem nos segura e constrói.
no começo achei o livro “bem” escrito, mas isso foi se perdendo ao longo da leitura, principalmente, quando a escritora traz pra história fatos históricos bastante imprecisos e descontextualizados. no mais, não consegui me envolver, apenas em uma parte, mas foi breve.
Gostei bastante das duas primeiras partes. A terceira parte deixou-me algo desiludido, principalmente depois do epílogo. Globalmente é muito interessante e comovente.
Era uma tarde de um sábado qualquer, sugeri conhecermos a Livraria Cabeceira. Já na entrada, as cores de As Pequenas Chances me chamaram. Só depois percebi se tratar de uma obra de Natalia Timerman, autora que eu já queria conhecer. Não tenho o costume de ler sinopses, mas aquela eu li e me deparei com parte da minha própria história: a de uma filha que perdeu o pai após o diagnóstico de câncer.
As Pequenas Chances é uma obra de ficção que flerta - muito - com a realidade. E não seria, então, uma analogia e uma inversão da própria dor da perda? Afinal, o luto é uma obra da realidade reescrita pela ficção que criamos do passado, do presente e do futuro para lidar com a ausência de quem amamos.
Apesar de ter vivido muito do que narra a 1ª parte, não me conectei como esperava. Já na 2ª e na reta final, “conexão” fica aquém do que senti. Acompanhar o pai durante o tratamento fragmentou Natalia da mesma forma que me desfez. Mas se engana quem pensa que nos transformamos apenas em pedaços que doíam. Não, eram fragmentos de inesperada gratidão e, acima de tudo, de amor, que nos mantiveram e mantêm inteiras da forma que é possível.
Eu poderia falar sobre as difíceis experiências que Artur, o pai de Natalia, e Fernando, o meu pai, compartilharam já em cuidados paliativos. Ou de como me vi nas dores e reflexões que o luto trouxe à protagonista. Mas gostaria de falar sobre as enormes chances que a vida, beirando à morte, me deu. A 1ª foi a coragem, a urgência de falar o que eu gostaria que meu pai soubesse sobre mim e sobre nós. A 2ª foi o encontro dele com meu filho.
Eu passei quase toda a gravidez pedindo saúde para o meu menino e força para o meu pai, para que eles pudessem se encontrar diante de mim. E quando vi o Julian nos braços que também me carregaram, o amor que pairava entre eles abriu uma fenda, no tempo, no espaço e em mim, onde não havia doença, dor ou frustração. Só havia a felicidade por ver e viver aquela cena.
Talvez seja difícil entender como aquele momento, tão diferente do ideal, pode ter sido tão perfeito. Mas é que eu já conhecia as chances que não têm a chance de ser. E sabia que a perfeição mora naquelas que temos a simples chance de viver.
As duas primeiras partes do livro são brilhantes, comoventes, furiosas. Devia ter ficado por ali. A última parte aparece sem sentido, parecendo querer sabotar o que até aí tinha sido tão belo. Dou nota máxima mesmo assim, perdoando a autora.Também sofri a terrível vivência da morte do meu pai 💚 (por vezes tive de parar a leitura para limpar as lágrimas em cascata).
o livro tem 204 páginas e eu desisti na 149. infelizmente, não consegui me conectar com a escrita de Natalia (este foi o primeiro livro que li dela) e tampouco me comover com seu relato, mesmo a morte e o luto sendo temas que me interessam muito.
Os primeiros dois capítulos são um relato muito cru da doença e morte do pai da autora, e consequente processo de luto da mesma. Foi a minha parte preferida do livro, não só pela intensidade e emoção da escrita, mas também porque reforça a importância dos Cuidados Paliativos no acompanhamento do doente e da família. O terceiro capítulo, embora perceba a necessidade da autora de o incluir, achei-o maçudo e demasiado longo. Se não fosse este último capítulo, daria 4 ⭐️