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As Visitas do Dr. Valdez

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Tendo como pano de fundo o final de um império e o nascimento de um país, esta é a história do ocaso de duas velhas senhoras e do crescimento de um rapaz.
Fechados numa pequena casa, esforçam-se os três – cada um à sua maneira – por construir uma família fora do tempo e das convenções. Mas são muitos, e fortes, os sinais que entram pelas janelas para dar sabor às suas vidas. Vindos de fora e também de trás, no tempo. Entre um passado denso e um futuro que é uma incógnita, surge um Dr. Valdez tocando à campainha para lhes estruturar os diálogos.

Paperback

First published January 1, 2004

2 people are currently reading
67 people want to read

About the author

João Paulo Borges Coelho

26 books17 followers
Escritor e historiador moçambicano, ensina História Contemporânea de Moçambique e África Austral na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo e é Professor Convidado no Mestrado em História de África do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Tem-se dedicado à investigação das guerras colonial e civil em Moçambique, assim como às questões de segurança regional no Sul de África e à política da memória.
Recebeu em 2004, com o romance As Visitas do Dr. Valdez, o Prémio José Craveirinha da Literatura, a maior distinção literária em Moçambique. Com O Olho de Herzog recebeu o Prémio Leya 2009. A sua obra literária inclui ainda outros quatro romances ( As Duas Sombras do Rio, 2003; Crónica da Rua 513.2, 2006; e Campo de Trânsito, 2007; Rainhas da Noite, 2013), dois volumes de estórias da série Índicos Indícios (Setentrião e Meridião, ambos de 2005; e duas novelas (Hinyambaan, 2008; Cidade dos Espelhos).

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Displaying 1 - 11 of 11 reviews
Profile Image for ale.
54 reviews
March 5, 2025
ooooooooohhhhmygod this book was amazing from start to finish.

Coelho has virtuoso talent for rhythm, for enumeration, for metonymy, for allegory, and for narrative structure (a remarkable gift for recognizing both the aesthetic and functional uses of analepsis).

multiple times this book made me tear up. wowowowow
Profile Image for Carolina Bento.
116 reviews7 followers
May 24, 2024
Um livro pequenino, mas tão bonito sobre o fim do colonialismo e o início da liberdade, assim como a dicotomia entre a servidão enraizada das gerações mais velhas e a rebeldia dos jovens.
Profile Image for Sara Bôto.
154 reviews
October 9, 2018
Este é um dos livros que mais me marcaram até hoje. É um privilégio contactar com uma escrita tão bonita, tão poética, marcada pela realidade que só a ficção pode mostrar, através dos seus meandros mais inigualáveis. As diferenças entre negros e brancos, numa sociedade em convalescença, num período histórico em que duas gerações demasiado diferentes colidem, e na qual, enquanto uns se agarram a um passado de privilégios, outros lutam por um futuro igualitário. Lindíssimo, da primeira à última página. É impossível não soltar as lágrimas com as situações descritas, nas quais a beleza encontra a violência e o leitor se vê perdido, entre o choque e a compaixão. Adorei. Livro a reler!!

Para mais comentários: https://youtu.be/cukMk64bFFM
Profile Image for Miguel.
Author 8 books38 followers
August 17, 2016
É o meu livro preferido do JPBC. Na minha opinião, trata-se da mais poderosa e comovente metáfora sobre o fim da presença portuguesa em Moçambique e o nascimento do novo país independente, olhada de uma forma serena, séria, mas com muito humor. Como na generalidade dos seus livros, a linguagem é muito evocativa, há uma grande atenção aos detalhes, e uma enorme simpatia pelas personagens.
Profile Image for lucca.
12 reviews
June 21, 2025
Num Moçambique em transição, onde as estruturas da autoridade colonial começam a ceder, o romance As Visitas do Dr. Valdez conta uma narrativa pequena em espaço mas temporalmente, emocionalmente e tematicamente abrangente. As velhas Sá Caetana e Sá Amélia se encontram, em um paralelo com Things Fall Apart, em um “mundo que desaba”. Mas enquanto no livro de Achebe o mundo desabava para Okonkwo e por extensão para as culturas nativas nigerianas, aqui o mundo desaba para os colonos, às vésperas de um momento de rompimento e libertação do povo moçambicano. Vicente, por outro lado, vem de um mundo que, mesmo que fisicamente idêntico ao de Caetana e Amélia, já estava em ruínas, desabado, e procura por um futuro emancipador.

O livro oferece uma narrativa complexa sobre as marcas persistentes da colonização em Moçambique, desenhando personagens que, mesmo após a queda na prática da ordem imperial, continuam a viver sob a sombra das suas estruturas simbólicas e emocionais. Através de figuras como Cosme Paulino e Vicente, Borges Coelho apresenta a servidão não apenas como um estado social, mas como uma performance enraizada e internalizada, transmitida entre gerações como herança. Essa performance, ao ser representada no romance como resistência e submissão em simultâneo, torna visível o caráter profundamente teatral e frágil da dominação colonial.

Para além das consequências políticas do colonialismo, há um trauma pessoal que se infiltra nos corpos e nos afetos dos indivíduos. Os personagens são, além de vítimas de um sistema opressivo, também seus replicadores involuntários, aprisionados em lógicas de submissão que se perpetuam mesmo na ausência dos opressores. As visitas do Dr. Valdez interroga as possibilidades de construção identitária num Moçambique ainda ocupado pelas ruínas do seu passado. A libertação – tanto individual como coletiva – passa não apenas pela denúncia das estruturas de poder, mas também pela reinvenção simbólica dos papéis que foram impostos.

O passado apresenta sempre essa vantagem sobre o presente. Por mais exíguo e infeliz, podemos sempre aclará-lo com a aura que quisermos, podemos sempre expandi-lo e moldá-lo segundo o nosso desejo. E esse desejo é tanto mais intenso quanto pior for o presente em que vivemos.
444 reviews2 followers
December 6, 2021
Não era o livro planeado para ler do autor e depois das referências do Good Reads acabei por optar por este.
Foi uma surpresa agradável; que bem que escreve o autor, numa linguagem poética, bela que nos embala em momentos divertidos, caricatos, e melancólicos.
Fala de forma leviana, sem dramas, alguns ritos de passagem na descolonização de Moçambique.
Só no classifiquei com mais, porque achei o penúltimo capítulo demasiado introspectivo/filosófico e melancólico, tornando-se um pouco aborrecido.
Profile Image for Jujuba.
155 reviews
June 14, 2021
(4,5)

Uau. Que surpresa deliciosa que foi esse livro.
Uma linguagem simples, mas absurdamente poética, profunda e metafórica. Isso numa trama em que personagens e História estão intimamente ligados, de modo interdependente e, portanto, indissociável.
Mágico. Espero ler mais do autor em breve!
421 reviews14 followers
April 6, 2022
Um texto muito delicado sobre um certo Moçambique colonizado escrito a partir das memórias de duas idosas naturais de uma aldeia perdida em Cabo Delgado, mas a viver os últimos dias de uma delas desterradas na cidade da Beira. Um olhar diferente e diferenciador sobre uma época ou, se quisermos, uma história da História. Muito bom.
Profile Image for Tânia.
17 reviews
August 18, 2024
Vicente é a presença jovem no meio de duas velhas senhoras, Sá Amélia e Sá Caetana, cujos corpos acompanham a queda de um regime moribundo e contrastam com a esperança de um novo paradigma. É nesta ténue linha, que estabelece as fronteiras entre os dois regimes, onde se localiza a história, sendo este um dado relevante para a compreensão da evolução da personagem Vicente.
Vicente descende de uma longa linhagem de fiéis criados do regime colonial: desde o bisavô, marinheiro que morre ao serviço, junto do seu patrão, nas águas do Índico; o avô, que cresce com Ana Bessa e que, inclusive, a acompanha nalguns dos estádios tradicionais da vida (o casamento, a descendência); por fim, o pai, Cosme Paulino, que desde tenra idade lhe é atribuído o mesmo papel social desempenhado pelo seu pai e avô (como se de algo atribuído à nascença se tratasse). A vida destes homens é indissociável da “arte de servir” e dos seus patrões, que moldam e definem as suas vidas como indivíduos num sistema que não lhes permite expressar a sua individualidade e tomar controlo sobre os seus destinos – e também dos seus corpos, cuja integridade física é violada de forma arbitrária pelos patrões. Vicente é também indissociável da sua ascendência, sendo, por isso, necessário mencionar as marcas que ficam da experiência passada destes homens na sua psique.
Como filho mais velho, são-lhe incutidos desde cedo os valores da lealdade e da submissão: o pai Cosme, aquando da sua partida com as velhas senhoras para Beira, pede-lhe que as sirva como ele as serviu.
A passagem da ilha do Ibo para a Beira marca, também, uma transformação interior: por um lado, a partida do núcleo familiar e da ordem hierárquica que sempre conheceu da ilha e, por outro, a chegada a uma grande e frenética cidade que inspirava os novos tempos de procura de libertação das amarras coloniais. É na Beira onde Vicente contacta com ideias novas, que destronam ideias velhas, e se confronta com realidades a que estava alheado no Ibo: com os vizinhos Sabonete e Jeremias, descobre os prazeres da vida noturna; com os jovens combatentes, descobre os ideais da revolução e a promessa de um mundo melhor. Vicente é, neste sentido, uma personagem que se movimenta em dois mundos: o colonial e o pós-colonial. O seu desenvolvimento como personagem acompanha, por isso, o processo de construção de Moçambique.
Por sua vez, surge no centro da narrativa os momentos de personificação do Dr. Valdez, um falecido médico que viveu na ilha do Ibo nos tempos coloniais. Vicente, quando encarna o Dr. Valdez, traz elementos do passado para o presente. Este exercício teatral faz parte de um acordo tácito entre as senhoras e Vicente que determina que este possa largar o seu estatuto de criado por uns momentos e passar a gozar dos mesmos privilégios dos brancos. Embora a princípio haja uma certa resistência a esta troca de papéis por parte de Sá Caetana (que se queixava do atrevimento do rapaz), há pequenos sinais que denotam uma mudança de postura das senhoras para com Vicente, que gradualmente deixa de ser visto como um criado e passa a ser visto como igual.
Tal como os familiares de Vicente eram indissociáveis dos seus patrões, Vicente também deve ser visto na sua relação com Sá Amélia e Sá Caetana, uma vez que é aqui que se estabelece uma total rutura com o passado. Vicente liberta-se dos constrangimentos coloniais e deixa de estar vinculado à obrigação de servir como tinham estado o seu pai, avô e bisavô. As “velhas hierarquias” que “pareciam de pedra e cal” são abaladas por ideais de igualdade e desejos de emancipação.
Vicente representa, por isso, um país (e uma nação) que, pela primeira vez, não está limitada pelo domínio colonial e que, por isso, detém total controlo sobre o seu futuro. Isto é evidente no episódio em que Sabonete, Jeremias, Maria Camba e Vicente dialogam entre si sobre o que vão ser enquanto viam o desfile dos soldados – antes disso, esta questão não se colocava, as suas vidas estavam determinadas. Vicente passa por um longo processo de transformação que culmina no momento em que se apercebe que, com o fim do regime e a independência, múltiplas oportunidades estavam agora ao seu dispor que não somente uma vida submissa.
Profile Image for Mady.
1,383 reviews29 followers
August 15, 2019
What a lovely story!
Two sisters at the end of their life move from the countryside to the city with a young boy as a helper. There they have to reinvent themselves. As the young boy incarnates Dr Valdez, a doctor long deceased but missed by one of the sisters, his role changes and his voice gets heard.

This one is part of my intention to read more books originally written in Portuguese. Definitely recommend!
Displaying 1 - 11 of 11 reviews

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