Gaspari se tornou depositário de cinco mil documentos do Arquivo Golbery e do diário de Heitor Ferreira, secretário particular de Geisel, "o sacerdote", e de Golbery, "o feiticeiro" para escrever ´A ditadura derrotada´ - primeiro volume do tríptico ´O sacerdote e o feiticeiro´ - obra espetacular, já que trata de conversas e de assuntos cujo conteúdo nem mesmo os envolvidos sabiam. Num dos trechos mais importantes de ´A ditadura derrotada´ fica-se sabendo que Geisel, antes de ser empossado em fevereiro de 1974, ouviu do general Dale Coutinho que o "negócio" - a repressão à subversão - "melhorou quando começamos a matar", numa referência ao fim dos "confrontos armados" e dos "suicídios" suspeitos e ao surgimento da figura do "desaparecido". "Ó Coutinho", disse o futuro presidente, "esse troço de matar é uma barbaridade mas eu acho que tem que ser." Disse isso com a mesma simplicidade com que repeliu o golpe dentro do golpe, ao vê-lo se desenhando após a vitória da oposição nas eleições de 1974. "Pois não fizemos uma eleição? É isso e pronto!" O resto das revelações fica para esta grande obra intitulada A ditadura encurralada, novo volume de ´O sacerdote e o feiticeiro´, cobrindo até a demissão do general Sylvio Frota, em 1977, pá de cal no autoritarismo.
Chegou ao Brasil ainda na infância. Começou a carreira jornalística num semanário chamado Novos Rumos, e depois foi auxiliar do colunista social Ibrahim Sued, passando a seguir por publicações de destaque, como o Diário de São Paulo, a revista Veja e o Jornal do Brasil.
É comentarista do jornal Folha de São Paulo, jornal diário de São Paulo, onde está radicado, tendo seus artigos difundidos para outros jornais, dentre os quais O Globo do Rio de Janeiro, Correio do Povo de Porto Alegre e O POVO de Fortaleza.
Em seus artigos, trata com ironia as personalidades. Para tanto, lança mão de personagens como Madame Natasha, professora de português que "condena a tortura do idioma" e vive concedendo "bolsas de estudo" àqueles que se expressam de modo empolado. Já Eremildo, o idiota, é uma sátira aos que usam indevidamente o dinheiro público.
Dono de consagrada carreira no mundo jornalístico, publicou uma série de quatro livros sobre a ditadura militar brasileira, dividida em duas partes, as Ilusões Armadas e O Sacerdote e o Feiticeiro.
Importante documento deste período histórico do Brasil, Gaspari havia em 1984 iniciado suas pesquisas a partir de uma bolsa de estudos no Wilson Center for International Scholars, cuja temática seria centrada nas principais figuras do período ditatorial: os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva. Embasado em documentos pessoais de ambos, a obra deslinda os bastidores do regime militar que por duas décadas mergulhou o Brasil no regime de exceção.
Um golpe. A vergonha de assumí-lo. O medo de regredir a revolução gera a ditadura. Nesse contexto o sacerdote e o feiticeiro emergem da penumbra das engrenagens militares e tentam reproduzir um governo de fato. Porém, não houve governo com nenhum presidente militar antes e não houve com ambos. Finalmente, a ditadura se encontra derrotada. Uma eleição para legitimar a revolução acaba mostrando que o sucesso mental dos militares era amplificado apenas entre eles. O presságio e o fim do golpe de 64.
"Geisel preparou-se para a eleição de 1974 com a serenidade do vitorioso. O general perseguia um resultado simbólico. A vitória não devia ser tão grande que parecesse fraude, nem tão pequena que parecesse derrota. (...) A nova composição do Congresso obrigava o projeto de reforma política a passar pela oposição, coisa para a qual Geisel nunca se preparara. O governo não tivera um plano concreto de reformas constitucionais."
Os dois volumes anteriores foram ótimos. A partir desse começa o declínio. Gaspari entra em minucias de bilhetes escritos entre Geisel, Figueiredo, Golbery e Heitor Teixeira que simplesmente não são necessários para se entender o período ou o sistema decisório. Vai muito além de abrir a cortina para revelar como foram tomadas as decisões de Geisel para entrar no terreno da pura fofoca deixando a leitura entendiante sem nenhuma recompensa para o leitor. Não recomendado, apenas para quem for pesquisador da área e achar absolutamente necessário.
A qualidade que faltava no volume anterior volta nessa. Dessa vez Gaspari se concentra no que queria escrever originalmente, "O sacerdote e o feiticeiro" sobre Geisel e Golbery. Uma vez que ele tem acesso a documentos pessoais dos dois, é aí que a obra se destaca mesmo, com retratos de conversas no poder que ele não podia dar na obra até agora.
Bem mais focado nas pessoas de Geisel e Golbery do que os livros anteriores, entendo que foi o ponto de partida da pesquisa, mas deixa um pouco mais chato. Senti falta da resistência e de explorar mais a derrota do governo nas eleições de 1974.
The third volume of Gaspari's series on the Brazilian dictatorship. The title of the first two volumes is "The Illusions Armed" in reference to the imaginary that led to the coup and that made the dictatorship, in the period 1968-73, implement a policy of repression incompatible with the low level of the internal threat represented by small and disorganized groups of guerrillas. This third volume opens the second part of the series. It is entitled "The priest and the wizard" in reference to President Ernesto Geisel (priest) and the regime eminence grise, Golbery do Couto e Silva (sorcerer). This volume begins with a brief biographical presentation of these two characters, narrating Geisel's rise to power, and the challenges he faced to promote the regime's opening. In this last aspect, there is, of course, an emphasis on the difficulties of the internal discipline of the armed forces, but the author also highlights the challenges faced in the economy after the 1973 oil shock and the political defeat suffered by the regime in the 1974 elections.
As is well known, Gaspari's central argument in this series is that the end of the dictatorship is due more to a willingness on the part of Geisel and Golbery to end the regime for fear of the anarchy that had set in the armed forces than to factors exogenous to the regime. . Reading this volume is essential to understand this argument making it one of the main, if not the main, book in the series.
Um pouco como o meio de qualquer trilogia cinematográfica, este é um prelúdio a mudanças mais sérias no quadro brasileiro da ditadura iniciada em 1964; já com dez anos decorridos, o Milagre Econômico dando sinais de erosão e o rigorosíssimo Médici saindo para ceder espaço a Ernesto Geisel, trata-se do início do fim: Golbery perde poder, Figueiredo desponta mais e mais, a Igreja pressiona pelo fim da violência institucional e ninguém está realmente satisfeito com os rumos que o País começa a tomar. Como antes, o trabalho de Elio Gaspari é primoroso na documentação, no enfeixamento e na reflexão; apenas o conflito sangrento sai de cena, a elevada quantidade de negociações políticas se avoluma, e o País caminha para uma modorra. O quarto livro poderá ser ainda menos empolgante; a ver. Mas não é culpa do autor, e sim dos tempos retratados.
O 3º volume da coleção de Gaspari aborda especialmente a era Geisel.
Conversando com um amigo historiador, este quis notar algumas pequenas incorreções no trabalho (Gáspari não é propriamente um historiador, senão um jornalista), embora reconheça-lhe a genialidade e o valor do trabalho.
Gáspari consegue tornar delicioso estes anos de chumbo com tal leveza que praticamente não sinto já ter passado por quase 1500 páginas sobre o assunto, indo para o 4º livro com gosto.
Talvez o livro em que o autor traz mais informações inéditas. Porém é um período bem menos interessante em relação ao tratado nos dois livros anteriores.