Em Nu, de botas, Antonio Prata revisita as passagens mais marcantes de sua infância. As memórias são iluminações sobre os primeiros anos de vida do autor, narradas com a precisão e o humor a que seus milhares de leitores já se habituaram na Folha de S.Paulo, jornal em que Prata escreve semanalmente desde 2010. Aos 36 anos, Prata é o cronista de maior destaque de sua geração e um dos maiores do país. São de sua lavra alguns bordões que já se tornaram populares - como “meio intelectual, meio de esquerda”, título de seu livro anterior e de um seus textos mais célebres -, bem como algumas das passagens mais bem-humoradas da novela global Avenida Brasil, em que atuou como colaborador de João Emanuel Carneiro. Prata também é um dos integrantes da edição Os melhores jovens escritores brasileiros, da revista inglesa Granta. As primeiras lembranças no quintal de casa, os amigos da vila, as férias na praia, o divórcio dos pais, o cometa Halley, Bozo e os desenhos animados da tevê, a primeira paixão, o sexo descoberto nas revistas pornográficas - toda a educação sentimental de um paulistano de classe média nascido nos anos 1970 aparece em Nu, de botas. O que chama a atenção, contudo, é a peculiaridade do olhar. Os textos não são memórias do adulto que olha para trás e revê sua trajetória com nostalgia ou distanciamento. Ao contrário, o autor retrocede ao ponto de vista da criança, que se espanta com o mundo e a ele confere um sentido muito particular - cômico, misterioso, lírico, encantado.
Escritor, roteirista e filho dos escritores Abandonou sucessivamente os cursos de Filosofia (na USP), Cinema (FAAP) e Ciências Sociais (PUC-SP). Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como roteirista de telenovelas. Também trabalhou para a Editora Abril, colaborando com textos para a revista Capricho por seis anos. Foi um dos 16 participantes do projeto Amores Expressos, passando um mês em Xangai para escrever um romance. Atualmente é cronista d’ O Estado de São Paulo e mantém um blog no site do jornal. Obras: Adulterado (Moderna), Pernas da tia Corália (Objetiva), Estive pensando, (Marco Zero Editora), O inferno atrás da pia (Objetiva), Douglas e outras histórias (Azougue Editorial), Merreca christmas (Matrix Editora) e Meio intelectual, meio de esquerda
Estava mesmo a precisar de uma leitura leve, despretensiosa e divertida. Se tiver humor, ironia e sarcasmo à mistura então fico mais feliz que pinto no lixo. Antonio Prata conta-nos algumas memórias de infância, vivida nos anos 80, e em alguns momentos é impossível não rir às gargalhadas.
Terminada minha leitura de “Nu, de Botas”, eu estava ávida para ler os comentários de outros leitores, então fui até o Goodreads. Poderia dizer que todos eles, sem exceção, exultavam as qualidades do livro de Antonio Prata, se não fosse por um dito cujo que dizia: “livrinho de aeroporto, muito ruim”. De fato, foi o comentário mais verdadeiro de todos, se considerado apenas o pré-vírgula. “Nu, de botas” é mesmo um livrinho de aeroporto. No diminutivo por ser curto demais para algo tão divertido, e “de aeroporto” por ser capaz de capturar a atenção mesmo num lugar tão barulhento.
Ao todo são 24 crônicas, reunidas em ordem cronológica de acontecimentos, abrangendo os primeiros anos de vida do autor – uma infância dos anos 80. E é tudo muito bom. O humor é inteligente, de bom gosto, e de uma hora para a outra nos vemos imbuídos daquela sensibilidade infantil, daquele olhar que vê o mundo e o interpreta ao pé da letra, sem filtros sociais.
“Embora não tivesse escolhido a cor nem os móveis, os quadros ou tapetes, a casa era mais minha que de qualquer outra pessoa: só eu via os desenhos no piso do quintal, o que se escondia embaixo dos tacos, os tufos mágicos sob a cristaleira. Ali dentro, nenhum mal poderia me atingir. Um dia, brincando no chão da sala com meus carrinhos, ouvi um homem dizer na TV que, no ano 2000, o mundo ia acabar. “Pena”, pensei, sem tirar os olhos dos Matchboxes, “não vou mais poder sair pra rua” – e continuei a tratar dos meus assuntos.” (Pág. 12)
Com sua escrita cativante, Antonio Prata emociona. Em minhas duas crônicas favoritas do livro, por exemplo: “Alô, Bozo?” me envolveu de uma forma tão inexplicável, que fiquei aflita. Assim como o pequeno Antonio e seu amigo torciam para o cavalinho malhado na brincadeira do programa do “maior palhaço do mundo”, eu torcia para que os garotos conseguissem ganhar a bicicleta BMX da Monark, tão cobiçada na época. Minha aflição era tanta, que de repente me vi sentada, os ombros tensos, em vez da usual posição horizontal relaxada de sempre. Já em “Blowing in the wind”, a descrição de seu próprio pai como alguém com a “perspicácia pedagógica de uma criança de cinco anos” me causou uma risada que durou toda a extensão de suas quatro páginas.
Ler o livro de Antonio Prata é relembrar a própria infância, tendo sido ela vivida na São Paulo dos anos 80 ou não. Ele traz à tona aqueles acontecimentos pelos quais toda criança passa ou presencia, mas que a passagem do tempo nos faz esquecer. Sobre os reais interesses de uma criança, por exemplo, unicamente despertados pela curiosidade: Uma mãe que deseja convencer seu filho a visitar um velho de 80 anos deve saber quais pontos destacar. Saber que a idade do homem corresponde a todos os dedos das mãos levantados oito vezes pode não interessar nem um pouco a uma criança, mas contar que o homem tem uma perna só é capaz de fazer esta mesma criança abandonar seu programa preferido da televisão na mesma hora. “Nu, de botas” é pura nostalgia.
Em "Nu, de botas", Antonio Prata apresenta, por meio de crônicas leves e bem humoradas, as idiossincrasias da infância, além de trazer aquele sentimento nostálgico associado aos anos 80, mas, fora uma ou outra, achei que a maioria das histórias parte de ideias muitos simples que não sairam muito do "lugar comum". O livro não é ruim e certamente recomendo para quem estiver procurando uma leitura mais leve, só não me despertou nenhum sentimento marcante.
"Pai e mãe me beijavam, apagavam a luz: o mundo desaparecia. Como ter certeza de que voltaria a existir? De que os dois não sumiriam no breu? Que garantia tinha de que não seria levado pelos monstros que, vez ou outra, apareciam nos pesadelos — eu, que ainda não sabia o que eram monstros ou pesadelos?"
Apaixonada por este pequeno livro de crónicas não podia deixar de vos recomendar. Episódios de uma infância feliz através do olhar de Antônio Prata que conseguiu trazer do passado as memórias.
O menino, os cheiros e os lugares numa escrita singela e tocante. Identifiquei-me inevitavelmente com vários episódios. O medo do monstro no quarto escuro depois da minha mãe sair. Lembro-me de mim tapada até ao nariz com medo de abrir os olhos, tenho de rir. As luzes acesas pela casa. O fogo no chão, saltos de tapete em tapete até chegar à cama com medo que o monstro me puxasse com uma mão. Saudade imensa de voltar ao esconderijo quando era a última a ser descoberta pelos amigos na rua. Subir à nespereira e ouvir ralhar da janela do vizinho.
As perguntas, as palavras levadas à letra. A curiosidade pelo mundo e os outros. A admoração pela mãe que consegue fazer tudo ao mesmo tempo e lhe dá segurança. A experimentação que faz parte do crescimento e da aprendizagem.
Este livro foi editado pela Tinta da China este ano e tem recebido rasgados elogios por parte das críticas. Um dos maiores cronistas brasileiros com mais um livro editado em Portugal intitulado ""Meio Intelectual Meio de Esquerda". Sem dúvida um autor que pretendo acompanhar.
Difícil não curtir um livro onde você empatiza automaticamente com o personagem principal (narrador) tem quase a mesma idade que você, viveu coisas parecidas e, principalmente, escreve bem pacas. Mas ao mesmo tempo, as crônicas do bozo, da cueca, do cocô, papagaio suicida, acabam se destacando muito entre as quase 25 e o livro acaba sendo mais um livro de crônicas com altos e baixos. Mas nesse caso, os altos compensando os baixos.
Divertidissimo e com certeza ligar para o Bozo me fez chorar de rir! Ideal para relaxar, leitura rapida e tudo a ver com quem teve a infancia nos anos 80!
António Prata usa um olho lúcido de criança para encher de observações e comparações perspicazes e tão sábias quanto ingénuas um conjunto de relatos carregados de sentimento, verdade, algumas angústias e muitas descobertas. Para rir, meditar ou simplesmente sorrir de ternura.
Leitura facil e prazerosa sobre a infancia do autor que, por sorte, é contemporaneo meu. Dialogos e situacoes criativos, sempre pensando com a cabeça de uma criança. Garantiu varias risadas!
Este livro foi uma delícia de ler! É leve, engraçado, inteligente e fofo. Aqui Antonio Prata revisita sua infância com uma escrita que mistura o olhar da criança e a sagacidade do escritor adulto. Quem viveu essa fase nos anos 80 e 90 vai ter uma bela nostalgia. Acho que é um livro bem legal pra quem tem filhos, sobrinhos ou simplesmente convive com crianças porque ao ler a gente se reconecta com essa visão infantil, pura, imaginativa e lúdica.
Escolhi esse livro depois de pedir indicações para vocês de uma leitura mais leve, já que eu vinha em uma sequência de obras mais densas e impactantes. Fiquei muito satisfeito com essa sugestão! “Nu, de botas” é uma coletânea de crônicas que tem como temática momentos da infância do autor. E, de fato, como promete, a leitura é muito fácil e bem-humorada. O leitor não encontra um livro de memórias, mas sim uma narrativa criada a partir do ponto de vista de uma criança. Assuntos sérios e delicados são relatados com o vocabulário de um adulto, mas com a inocência e a ingenuidade características de uma criança, em que a cada dia há uma nova descoberta. A construção desse narrador infantil é feita de forma tão inteligente que em inúmeras passagens me identifiquei com os seus pensamentos. Imagino que quem tenha nascido na década de 70, como o autor, possa se conectar ainda mais com as referências contidas em cada uma das crônicas, como programas de televisão, brincadeiras e acontecimentos históricos. Para mim, que nasci na década de 90, já foi uma oportunidade muito legal de revisitar as memórias da infância!
Recomendo muito! .
“Hoje em dia, se a polícia para um carro e flagra uma criança nessa posição, o motorista deve perder a carta, talvez até a guarda dos filhos, mas estávamos em 1984 e o mundo era outro, não se usava cinto de segurança nem protetor solar, as pessoas não andavam por aí com garrafinhas d’água, como se fosse o elixir da vida eterna, fazíamos cinzeiros de argila para os pais nas aulas de artes e o colesterol era apenas uma vaga ameaça de gente paranoica, como a CIA ou a KGB, (…)”(p. 91) “De início, todos na rua tinham o mesmo poder aquisitivo e os bens per capita se resumiam a uma bicicleta, uma bola de futebol e uma caixa onde se misturavam Playmobils (…). Com o lançamento do álbum de figurinhas da Copa de 82, contudo, percebemos uma ligeira diferença na distribuição de renda: uns recebiam cinco pacotinhos por dia, outros tinham direito a dez, mas nada que ameaçasse nosso equilíbrio socioeconômico.”(p. 95)
E aí, quem tem outras dicas de leituras “mais leves”?
Dei para meu irmão de aniversário e até agora 8 pessoas já leram a mesma cópia, sendo 5 no período de uma semana (espero que não seja assim com todos, Antônio Prata vai falir desse jeito). Curtinho, gostoso, divertido. Muitas pausas para risadas e sorrisos saudosos. Recomendo demais :)
Você deve encarar “Nu de Botas” como uma leitura descompromissada, sem grandes expectativas...ai é possível que consiga curtir o livro, como um bom passatempo que ele é, nada mais que isso. Antônio Prata escreve bem e consegue nos conduzir com competência para os momentos marcantes e pitorescos de sua infância, mas a seleção de crônicas deixa um pouco a desejar. Muitas não dizem a que veio, e pra outras tantas faltou um capricho maior no encerramento. Tirando alguns elementos da década de 80 que evocam nossa memória afetiva e um punhado de boas sacadas, fica a sensação que faltou algo a mais.
Nestas crónicas muito bem dispostas somos confrontados com situações caricatas e surpreendentes vividas por uma criança pequena. Para além de sentirmos uma nostalgia imensa pelos tempos em que brincar e aprender sobre o mundo não envolvia qualquer tipo de acesso à internet; também rimos imenso com o nosso protagonista, sempre pronto a fazer questões e a sofrer com as incongruências do mundo em que vive. Saudades da sensibilidade e da simplicidade de ser criança.
Que leitura gostosa! Amei o jeito que ele consegue narrar a infancia, sem perder a inocencia, mas mesmo assim usando detalhes e uma linguagem “adulta”. Um livro leve, divertido, que você da risada e se identifica com certeza com pelo menos alguma das historias
Que divertido viver este livro pelos olhos de uma criança nos anos 80 em SP. Ri alto várias vezes, o que raramente me sucede. Foi o meu primeiro contacto com a escrita de António Prata e, com certeza, não será o último.
Encontrei uma versão bem curta, com dois contos, aqui em casa. Quero encontrar o livro inteiro, pois gostei demais do direcionamento desses dois contos.
Das melhores coisas que li em toda a vida. Cada pequena crônica, uma surpresa e uma vontade de voltar pro começo, pescando tudo o que ficou pelo caminho. Antonio Prata é o melhor exemplo de como fazer muito com pouco.
Que livro delicioso!! Uma leitura leve, engraçada e que nos faz lembrar de nossas próprias histórias da infância. O autor apresenta cada história com linguagem adulta, mas com os vívidos pensamentos de quando era criança, com a lógica incrível que só se encontra em quem ainda está tentando conectar seus conhecimentos de mundo para que eles façam sentido. Super recomendo!
Ja conhecia o Antonio Prata das colunas, e gostei ainda mais lendo as crônicas. Seguem um fio supostamente biográfico, contando na voz adulta peripécias infantis. Ri até chorar con alguns contos, e achei a progressão natural e fácil. Li praticamente em uma sentada só. Recomendo como leitura leve e divertida.
Melhores contos: Alo, Bozo? / Happy Hour / Blowing in the wind
Como o autor tem a mesma idade que eu -vixe me entreguei!- as histórias que ele narra tem um monte de referências a minha própria infância. A leitura é leve e com certeza vai te fazer rir várias vezes. Livro devorável em um dia!