Onde estivemos antes de chegar aqui, onde ficaram os afectos, quando se perdeu a inocência. O que faz sentido no meio de tudo isto? O relógio, o chefe, os sapatos, as gravatas, o aspirador, o fogão, o mecânico de automóveis, os sinais de trânsito, a TV, o sofá, o café e o tabaco, as chuvas, as luas, as chaves, as portas, a rede, a sede, o jardim, o gato, o aquário onde demasiados morrem afogados para lá da linha do equador. Então, no limite da lucidez, ou talvez da inconsciência, as palavras transformam-se em interrogações, o que foi feito de nós. Onde está a pessoa que eu sonhei, que eu queria ser, ou simplesmente o que eu conhecia! Chamam inconstantes aos que fazem demasiadas perguntas , e é solitária a procura das respostas.
"Raquel Serejo Martins escreve com paixão e inteligência em A Solidão dos Inconstantes." Richard Zimler
Uma definição. Sou coisa de difícil explicação! O que consigo explicar: Transmontana. Economista, pós-graduada em Direito Penal Económico e Direito Administrativo. Tenho dois gatos. Pratico SwáSthya Yôga. Já não danço sevilhanas. Comovo-me com as palavras do Joaquín Sabina e do Chico Buarque, com as pinceladas da Paula Rego e com o cheiro a terra molhada em entardeceres de Verão. Dos livros que leio, percebo que fui construindo uma geografia óbvia, os latinos, os mediterrânicos, os sul-americanos. A última coisa que tentei aprender: italiano! Falo e escrevo mal, consigo ler! A próxima coisa que quero aprender: fotografia! Talvez porque muitas vezes, ou em regra, as imagens explicam melhor do que as palavras. Enfim, a insuficiência das palavras!
Conheci a Raquel pela poesia. É pela poesia que a Raquel me entra pela alma dentro. Voltei a conhecer a Raquel, como se fosse a primeira vez, na prosa com este livro. Gostei da forma como as personagens são apresentadas. Gostei muito de alguns diálogos. A história em si mesmo - se é que se pode falar de história - leva-nos a estar atentos às falas e à sequência. E penso que é aqui que o livro tem o seu ponto menos positivo: a sequência e a ligação dos capítulos. Adorei o final. Não sendo o previsto, acho que a escolha está perfeita (quase).
Havia em mim uma vontade louca de fazer com que a Rita fosse mãe! Aliás, que fosse feliz. Mãe acaba por ser. Feliz é que não sei.
Adorei o Nacho. Não gostei do Jacinto. Dou crédito ao "mais inconstante", não ao cordeirinho que foge com medo da aventura.
O teu livro está carregado de personagens inconstantes. Ninguém é totalmente feliz - uns mais do que outros, mas à custa de sacrifícios. Alguns foram totalmente infelizes. Uma mata-se com Valium e Vodka. Outros são frustrados, mas sobrevivem.
Gosto das personagens mais velhas. Transmitem a sabedoria certa. Muita gente do campo. Dá um toque especial.
O que admiro na personagem principal: não cede. Tem uma natureza e justifica-se com ela. Segue o caminho. Acaba na Argentina.
Na verdade há coisas que gostei muito no teu romance. Primeiro, a frontalidade e nudez com que descreves as personagens. Ao pormenor, mas sem ser demasiado exaustiva, na medida certa.
Todas as personagens se ligam à principal. Nem todas se cruzam fisicamente, mas tu fazes cruza-las em conversas paralelas.
De quem gostei mais? Da Júlia!
O teu romance foi bom de se ler. O que mais gostei foi andar a saltar de sítio em sítio. Neste Portugal tão diferente, em Alexandria, Paris, Argentina.
Diz-me lá, foste assim a tanto lado? A precisão dos locais é extraordinária.
Outro aspecto que me agradou foi ir acompanhando os teus gostos: a tua literatura, a tua música, os teus pensamentos. Tudo isso disperso nas personagens que construíste. É bom conhecer os escritores que emprestam Alma aos livros que escrevem.
Revi-me em pensamentos das tuas personagens. Aliás, quis entrar na tela do romance para resolver alguns assuntos. Confesso que cheguei a ficar triste com os seus problemas.
O teu romance, Raquel, é muito português. Retrata bem o nosso estado de espírito. Julgo que somos assim, inconstantes como as tuas personagens.
É aí que está a vitória deste livro. A tua vitória.
TW: Referência Doméstica e Referência a Doença Oncológica
O discurso é próximo, sem grandes rodeios, apenas marcado pelo emaranhado de emoções e perguntas que vão surgindo: pela curiosidade, pela saudade e pela necessidade de unir pontas soltas. Confesso, ainda assim, que nem sempre consegui estabelecer um vínculo com a narradora.
Este livro é feito de medos e de desencontros, e traz retratos muito fidedignos de pessoas comuns, que escondem tantos mundos dentro. Apesar de não me ter arrebatado, abre vários pontos de reflexão e achei interessante que, depois de rasgos de solidão, termine quase com uma noção de esperança.
Um intricado enredo de vidas comuns, umas que se encontram no sossego da normalidade e outras que desafiam os planos, o que era expectável ou até legítimo, que não têm medo dos desencontros, das desilusões e com uma secreta esperança na redenção.