Jump to ratings and reviews
Rate this book

Feliz Ano Novo

Rate this book
Feliz ano novo', lançado em 1975, teve sua publicação e circulação proibidas em todo o território nacional um ano mais tarde, sendo recolhido pelo Departamento de Polícia Federal, sob a alegação de conter 'matéria contrária à moral e aos bons costumes'. O regime autoritário, que tentava à força encobrir os problemas que compunham a face negra do país, não suportou a linguagem dessa coleção de contos que podem traduzir ficcionalmente a verdadeira fratura exposta do corpo social. (Portuguese Edition)

190 pages, Kindle Edition

First published January 1, 1975

39 people are currently reading
1161 people want to read

About the author

Rubem Fonseca

99 books418 followers
He is an important brazilian writer (novelist, short story writer and screenwriter), born in Juiz de Fora, state of Minas Gerais, but he lived for most of his life in Rio de Janeiro. In 1952, he started his career in the police and became a policy commissioner. Even though, he refuses to do interviews and is a very reclusive person, much like Thomas Pynchon, who is a personal friend of Fonseca.
His writing is pretty dark and gritty, filled with violence and sexual content, and it usually happens in a very urban setting. He says that a writer should have the courage to show what most people are afraid to say. His work is considered groundbreaking in Brazilian literature, up until then mostly focused on rural settings and usually treating cities with a very biased point-of-view. Almost all Brazilian contemporary writers acknowledge Fonseca's importance, and quite a few authors from the newer generation, such as Patrícia Melo or Luis Ruffato, say that he's a huge influence.
He started his career with short stories, and they are usually considered to be the best part of his work. His first popular novel was "A Grande Arte" (High Art), but "Agosto" is usually considered to be his best work.
In 2003, he won the Camões Prize - considered to be the most important award in the Portuguese language - and the Juan Rulfo Prize - award for Latin American and the Caribbean literature.

Ratings & Reviews

What do you think?
Rate this book

Friends & Following

Create a free account to discover what your friends think of this book!

Community Reviews

5 stars
679 (37%)
4 stars
717 (39%)
3 stars
334 (18%)
2 stars
56 (3%)
1 star
21 (1%)
Displaying 1 - 30 of 115 reviews
Profile Image for Eric Novello.
Author 67 books567 followers
Read
June 21, 2020
Me lembrava de duas coisas a respeito desse livro. O conto do Mandrake com a meliante de peruca. E vê-lo circulando pela minha família. Uma tia minha o ganhou de presente de Natal e o livro passou por todos que costumavam frequentar as festas na casa da minha avó. Passou pela minha casa, foi lido pelo meus pais, e eu dei minhas espiadas, não lembro com que idade.

Relendo-o muitas décadas depois me veem algumas observações:

- sobre os contos mais "sexuais": é engraçado como o que parece transgressor de um ponto de vista heterossexual (lembrando que o livro foi proibido na ditadura, um ano antes do meu nascimento) geralmente é careta para quem habita alguma das letras do LGBTQIA+ Ainda mais com tamanho espaço de tempo.

- seus contos ainda hoje celebrados são os mais violentos. neles, geralmente é um personagem homem que comete crimes. ou seja, o homem em posição de poder, mesmo sendo um texto crítico.

- os contos tidos como "mais fracos" são justamente os contos nos quais o autor se vale do humor para expor o teto de vidro dos seus personagens masculinos. ok, sabemos que o humor tem sua cota de detratores por si, mas me parece óbvio o motivo do incômodo maior.

- alguns dos contos têm um impacto maior quando se pensa no contexto da época, principalmente nos chiliques moralistas da ditadura.

- certos livros envelhecem mal nas suas tentativas de transgressão, mas até que feliz ano novo resiste bem ao tempo. ainda que seja um retrato da sua época, com pensamentos que hoje soariam enviesados (vide os personagens negros do livro), entende-se o motivo de ter feito todo o barulho que fez na época do lançamento.
Profile Image for Rita.
905 reviews185 followers
April 19, 2020
Rubem Fonseca (1925-2020) nasceu em Juiz de Fora – MG, mas considerava-se um carioca. Era filho de pais portugueses, da região transmontana. Teve uma ampla experiência profissional, foi estafeta, escriturário, revisor e inspector de polícia até que se formou em Direito.
Estreou-se na literatura nos anos 60 quando dois contos da sua autoria foram publicados em duas revistas.
Feliz Ano Novo, publicado em 1975, foi imediatamente censurado pelo regime militar porque atentava contra a moral e os bons costumes..
É considerado um dos trabalhos mais importantes do autor.

São 15 contos que retratam a vida urbana brasileira de forma muito realista. Os temas principais são a violência, a solidão, a melancolia, a hipocrisia e o cinismo.
As personagens retratadas são os extremos da sociedade brasileira, os pobres e marginalizados e as chamadas elites.
Embora consiga entender a utilização frequente do baixo calão não deixa de ser algo que me cansa e incomoda.
Não foi um livro que me tenha conquistado, mas deixou-me curiosa para ler outras obras (e tenho algumas) daquele que é considerado um dos maiores génios da literatura brasileira.

Destaco alguns contos que para mim valem bem as 5 estrelas:

Feliz Ano Novo
Passeio Noturno (Parte I)
Nau Catrineta
Entrevista
Profile Image for Antonio.
123 reviews58 followers
February 9, 2017
I've just realised I haven't written a word about this book! How could I have forgotten this one? This is one of the most amazing books I've ever read. And here's why: think about a high school student bored in classes and with thousands of books to read for his vestibular (an SAT-like exam applied here in Brazil). Then, among many works of unquestionable quality - maybe not the best ones for times of so much stress -, there's this one to save us from boredom and the annoyment of routine.

In this awesome book, Rubem Fonseca, a name to remember, shows us a side of society frequently left in the shadows. He tells us stories about the marginalised society. Fonseca gives voices to criminals, hookers and travesties through unexpected scenarios, from a sex competition to a travesty extortion. Besides the unanticipated plot, he submerges us in a sea of violence, disrespect (or would be respect, since their moral is different from ours?), disfigured values.

Recommended to everyone who wants to get off their comfort zones and learn a little bit more about this incredible Brazilian author who have done such marvellous work in this compilation of visceral short stories.
Profile Image for Daniel Benevides.
277 reviews40 followers
October 14, 2020
Tinha lido na adolescência. A releitura confirmou: é imoral, indecente, incorreto. Uma imundície!
Profile Image for Zé Frederico.
20 reviews2 followers
April 29, 2020
Livro proibido durante a ditadura, em uma censura no mínimo infantil. Não darei spoilers sobre os contos, e sinto que serei julgado se falar quais foram os que mais gostei 🙄, mas recomendo mto o último - intestino grosso - que é tido como uma visão do próprio Rubem Fonseca sobre sua literatura - muito bom e provocativo!
Profile Image for Luciana.
516 reviews162 followers
May 31, 2021
Dentre os grandes da literatura noir, contemporânea e pop, Rubem Fonseca se destaca com a rudeza de seus contos que retratavam a realidade do submundo; com crueza na linguagem expôs e brincou com aqueles que consideravam sua obra como pornográfica.

Barrado pela ditadura militar, a obra censurada só pode voltar a ser comercializada após o fim desse período nebuloso e nefasto, que, sem embasamento, acusou a obra de ir contra a moral e bons costumes, o que chega a ser cômico, uma vez que a prática da tortura e assassinatos era institucionalizada como política de Estado pelo governo ditatorial da época.

A obra é, assim, composta de contos que retratam os crimes, chantagens, suicídios, assassinatos e questões de sexualidade, todos com a perspectiva daqueles que o praticavam. Não é, portanto, uma obra que vá buscar justiça, é uma obra de fatos e relatos, quase sempre vividos e quase impossíveis de deixar de se ler.
Supreendentemente, os contos não oscilam, sendo excelentes em todos temas propostos, de qualidade ímpar e tão bons quanto os de Alice Munro e Mario Benedetti, em suma, excepcional.
Profile Image for Alessandra  Anyzewski.
166 reviews26 followers
January 24, 2018
Crônicas sobre o bicho homem, bastante atemporais. Eu acho realmente que era esse tipo de provocação que Nelson Rodrigues queria ter feito, mas que em mim não deu certo. Achei o último capítulo, "justificando" a existência do livro como ela é, genial.
Profile Image for Manuel Gómez.
96 reviews4 followers
February 22, 2022
Los cuentos de Fonseca son magníficos. Con respecto a eso hay poco que agregar. Creo que la riqueza de este libro está en las libertades que se da en los relatos. La violencia es protagonista, y el relato que le da nombre al libro es tal vez el que más se ajusta a las expectativa que uno tiene cuando lee a Fonseca, pero también se encuentra el lector con textos más cargados de humor, por preguntas existenciales sobre la escritura, y con algunos textos que además de la historia relatada son ejercicios de estilo de un escritor que explora distintas posibilidades de contar un historia.
Profile Image for Guilherme Vasconcelos.
129 reviews3 followers
May 16, 2021
Eu não li este livro com qualquer informação prévia, portanto não sabia o que esperar, mas ainda assim não esperava a "realidade crua" que é apresentada já no primeiro conto. Nessa incrível sucessão de horrores dois contos se destacaram: "Corações Solitários" por apresentar uma ironia tão divertida impossível aos europeus e "Passeio Noturno" que não é nada mais do que uma aula de literatura em duas partes.
Profile Image for Lu Monteblanco.
148 reviews32 followers
January 25, 2021
El 2020 se llevó también a Rubem Fonseca, un autor consagrado como clásico contemporáneo de la literatura brasileña, que recibió diversos premios, entre ellos el Premio Camoes en 2003, el mayor premio concedido a la literatura en lengua portuguesa.

Con una vasta obra, se destacó como un gran cuentista, y es considerado como el creador de lo que se conoce como la literatura brutalista brasileña o el neo-realismo violento. En el brutalismo de Fonseca los héroes son tan humanos como los malos, también tienen defectos, vicios, características sombrías. Los personajes están inseridos en historias urbanas contextualizadas por la violencia que genera la exclusión social de los grandes centros urbanos, donde no es tan fácil de identificar al bueno y al malo. Los protagonistas tienen problemas, los antagonistas no tienen moral, no sienten culpa y son brutales porque la naturaleza humana los hace así, sin importar de que clase social provengan. Esto también se refleja en el lenguaje utilizado, frases cortas, directas, malas palabras pero a su vez dotado de una elaboración muy sofisticada.

Publicado en 1975 tuvo muy buena aceptación porque era algo muy diferente a lo que venía siendo escrito en el país. En 1976 fue prohibido por la censura del Régimen Militar con la justificativa de que la obra era inmoral en sus escenas y en su lenguaje violento.

Rubem se desempeñó como escribano policial y como abogado penalista, antes de dedicarse de lleno a la literatura. Y su cercanía con ese mundo, se intuye sirvió de telón de fondo para muchos de sus cuentos. Cuando hablo de violencia, hablo de violencia en serio. Hablo de asesinatos, robos, abusos y hasta canibalismo. La crudeza con que son narrados estos quince relatos te hace explotar la cabeza.
Con la vuelta de la democracia, su obra adquirió renombre y muchos de sus cuentos fueron llevados al cine a lo largo de los años.

Los que destacan:
Paseo nocturno (I): hace parte de un díptico, en el que un ejecutivo de clase alta, con una familia perfecta y un trabajo estresante, llega por las noches a su hogar y decide salir a desahogarse de las tensiones del día, de una manera muy particular;

Entrevista: el cuento más corto de todos pero muy sugestivo, cargado de misterio, muestra un diálogo entre una prostituta que entra a la habitación donde el cliente la espera de luces apagadas;

74 peldaños: con una estructura muy particular, un triángulo amoroso narrado por la perspectiva de los tres involucrados en 74 parágrafos cortos;

Nau catrineta: el título del cuento hace referencia a un poema anónimo que se cree según la tradición oral fue inspirado en un viaje en un navío de gran porte, desde Olinda hasta Lisboa, en el siglo XVI, en el que por las diversas adversidades ocurridas, algunos tripulantes terminaron por practicar el canibalismo. La historia es narrada a partir de la familia descendiente de uno de esos tripulantes;

Intestino grueso: una entrevista entre un periodista y un arrogante escritor, donde se habla de su obra, de la literatura brasileña y de las características sociales en general. Fue analizado hasta el cansancio y durante mucho tiempo se creyó que en ese personaje, Fonseca depositó todos sus pensamientos más radicales.

En fin, termino con la sensación de que es un viaje de ida.
Profile Image for Antonio Rubio.
Author 4 books80 followers
January 31, 2019
Feliz año nuevo, el libro más celebrado de Rubem Fonseca, es difícil de comentar. Quisiera mejor que el Autor de "Intestino grueso" responda lo que podríamos considerar "una poética pornográfica": "Cuando los defensores de la decencia acusan a algo de pornográfico es porque representa funciones sexuales o funciones excretoras, con o sin el uso de los nombres vulgares comúnmente conocidos como groserías". Y agrega: "el ser humano aún está afectado por todo aquello que le recuerda inequívocamente su naturaleza animal". Así lo deja claro el cuento homónimo, cuando nuestro protagonista, luego de asesinar a una anciana y para robarle un anillo, decide morderle el dedo y arrancarlo. Después defeca en la cama de la dueña de la casa, una burguesita que realizaba una fiesta mientras estos personajes de las favelas hacían su visita salvaje.

Los textos aquí reunidos, en fin, asustan. Son horribles, repulsivos. Al mismo tiempo, ofrecen un dominio formal exquisito. Fonseca no solo sabe contar un relato de manera tradicional, sino que es capaz también de construir aventuras narrativas complejas y con conflictos igual de complicados de resolver. Concluyo: asustan y sorprenden.

Ejemplifican también una naturaleza animal. Matan por placer, como las mujeres de "74 grados": "Es tan fácil matar a una o dos personas. Principalmente si no tienes motivo para hacerlo". Desde una perspectiva superficial, escribiría que la violencia en estos cuentos es gratuita. Sin embargo, cuando se hace uso del evento violento siempre cumple una función narrativa, ya sea para perfilar a un personaje, para progresar la trama o el conflicto, o para alimentar esta poética arraigada en los instintos más salvajes de la humanidad. Esto me gusta de la poética de Fonseca: que hasta el peor de estos personajes puede en algún momento encontrar un rasgo equiparable a los pecados de cualquier lector.

Del uno al diez: OCHO.
Profile Image for Elisana.
125 reviews1 follower
July 28, 2019
Leí este libro por casualidad y preguntando de que trataba me dijeron que "era una tragedia".
Evidentemente demoré un rato en leerlo y no pude hacerlo en una sesión continua porque es un libro muy fuerte y con cuentos tan irreales como reales que hay que tener mucho estómago para leerlo.
Lo más triste (o increíble) es que no sólo refleja la realidad de un país, sino de un bloque tan interesante de las características animales del ser humano, que aplica para cualquier sociedad.

Un libro interesante, de fácil lectura y sobre todo, con una gran explicación (o justificación) al final de los cuentos.

La edición es muy recomendable para quienes aprenden el idioma.
Profile Image for Laura Vilarinho.
31 reviews5 followers
May 31, 2023
só uma das melhores coisas que eu já li em toda a minha vida ?
Profile Image for Amanto Moura.
206 reviews14 followers
January 2, 2019
Difícil por tratar de temas tão absurdos, duros e tão abertamente como violência, uso excessivo de palavrão e por aí vai não tem filtro mesmo além de ser bem real. Ao mesmo tempo é simples pois em raras ocasiões faz o uso de palavras sofisticadas, é uma relação de amor e ódio que se você não estiver devidamente preparado vai odiar o autor pra sempre pela "crueza" das histórias.

Eu tentei ler o mesmo livro há 5 anos atrás e detestei, não passei do primeiro conto, agora mais maduro e tendo em mente do que se trata já fui preparado para os murros no estômago que iria levar e não achei tão catártico, visto que já li coisa pior, mal escrita e aclamada pela crítica. Esse livro é foda e todos deveriam ler.
Profile Image for Joao Landolt.
15 reviews
August 14, 2025
Sempre bom regressar a Rubem Fonseca, um porto seguro.

Comprei o livro movido pela provocação/ironia que suspeitei no título: "Feliz Ano Novo".
E não fui defraudado. Temos sempre muitas ilusões com o início do novo ano, mas Rubem Fonseca lembra que o sol quando nasce, não nasce igual para todos.

O cenário é o Rio de Janeiro - cidade maravilhosa - a festejar o reveillón. Vários contos, passados num RJ implacável, duro, cru, cheio de marginais, que por vezes não têm sapatos, mas “o que (lhes) falta, sempre, é dentes”. Mas não só marginais, o autor também escreve sobre “gente fina e nobre”.

Num dos contos, a personagem que faz suspeitar ser um alter ego do autor diz: “sempre achei que uma boa história tem que terminar com alguém morto. Estou matando gente até hoje.”
Profile Image for Santiago Quijano.
Author 1 book18 followers
January 23, 2020
Los cuentos de este libro están escritos con un desparpajo que hace olvidar que uno está leyendo, lo cual no es poca cosa. Pero además, en ellos Fonseca se burla de todo, o de casi todo: de la autoridad, de las instituciones, de los ricos y de los pobres, de los policías y de los ladrones, de la escritura, del pasado y del futuro. Imperdible.
Profile Image for Rafaela Eichler.
22 reviews2 followers
December 28, 2020
"Gente como nós ou vira santo ou maluco, ou revolucionário ou bandido. Como não havia verdade no êxtase nem no poder, fiquei entre escritor e bandido."

3.5/5
Profile Image for Otto Henrique.
83 reviews4 followers
September 22, 2024
Os primeiros contos mais a alegria de estar tento meu momento num boteco em SP quase fizeram desse livro um 4/5.

Mas do meio para a frente e lendo no conforto do lar acabou batendo meio ok.
Profile Image for Julia Menezes.
121 reviews2 followers
November 17, 2025
"Usem a lei e o sistema em seu benefício. Sejam, como os outros, egoístas, dissimulados, implacáveis, intolerantes e hipócritas. Explorem. Espoliem. É legítima defesa."
Profile Image for Dulcinea Silva.
195 reviews
December 15, 2025
Há momentos em que a literatura nos abandona como um rádio fora de sintonia: as palavras passam, mas não nos atravessam. Os contos, ultimamente, vinham assim: corretos, fechados, quase educados demais para ferir. Então voltei no tempo, não por nostalgia, mas por instinto. Fui reler Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca, como quem retorna à cena de um crime para entender por que o impacto ainda ecoa no corpo.


Na primeira leitura, lá pelos anos 90, eu vinha de outros pactos narrativos: os clássicos, os romances femininos de banca e as aventuras morais da Coleção Vagalume. Livros onde o mundo, mesmo quando injusto, obedecia a alguma ordem secreta. Rubem apareceu como uma ruptura quase indecente. Pela primeira vez, a humanidade mesquinha que eu reconhecia nas ruas, nos almoços de família, nos noticiários de fim de tarde, estava inteira no livro, sem filtro, sem pedido de desculpas, sem a promessa de redenção. Aquilo não era conforto; era reconhecimento. E reconhecimento, às vezes, dói mais do que a ignorância.


Na releitura, décadas depois, o choque não vem do espanto, mas da precisão. Lembrei o que são contos quando não querem ser delicados: esse corte seco, quase cirúrgico, que não acompanha uma vida inteira, mas flagra um gesto, um pensamento, uma falha moral no instante exato em que ela se revela. Rubem Fonseca não narra trajetórias; ele arma emboscadas. Seus contos são episódios no sentido mais cruel da palavra: não explicam antes, não consolam depois. Entramos tarde demais e saímos cedo demais e é nesse intervalo mínimo que algo se rompe.



Aproveitando a época, começar pelo conto “Feliz Ano Novo” não é um gesto inocente. É quase uma provocação. Rubem Fonseca escolhe abrir o livro com um texto que recusa qualquer ritual de passagem civilizado: não há balanço, não há esperança, não há votos sinceros. O ano novo nasce velho, gasto, manchado de sangue. E o espanto não está apenas na violência explícita, mas no modo como ela nos é entregue: seca, direta, sem trilha sonora moral.


O conto se constrói como uma invasão, não só de uma casa burguesa, mas de um imaginário. A festa, com seus símbolos de fartura e promessa, é violentamente interrompida por aqueles que a sociedade insiste em manter do lado de fora do quadro. A diferença social aqui não aparece como abstração sociológica, mas como choque físico: corpos que entram, armas que apontam, vozes que não pedem licença. É um tapa na cara porque Rubem não nos permite olhar de longe. Somos empurrados para dentro da sala, sentados no sofá, obrigados a assistir.


O mais perturbador não é a brutalidade em si — a literatura já nos ensinou a conviver com ela —, mas a naturalidade com que ela se apresenta. Os personagens que cometem a violência não são monstros excepcionais; são produtos de um mundo onde o abismo social não é um erro do sistema, é o próprio sistema em funcionamento. Não há discurso explicativo, não há flashback redentor. A desigualdade não é debatida, ela age. E age rápido.


Rubem Fonseca desmonta qualquer leitura confortável ao recusar vítimas puras e algozes metafísicos. O conto não pede empatia, tampouco condenação fácil. Ele expõe. Como se dissesse: olhem bem, é isso. A violência não cai do céu nem nasce do nada; ela atravessa a cidade todos os dias e, naquela noite, apenas trocou de endereço. O choque vem do reconhecimento: aquilo que parecia exceção é regra, aquilo que parecia distante está logo ali, no tapete da sala.


Como abertura do livro, “Feliz Ano Novo” funciona como um aviso ao leitor: aqui não haverá proteção. O conto inaugura uma ética do desconforto, em que a literatura não serve para aliviar o peso do mundo, mas para devolvê-lo em forma concentrada, quase insuportável. E talvez seja por isso que, relido hoje, ele continue atual, não porque a violência aumentou, mas porque seguimos fingindo que ela não senta à mesa conosco quando o relógio marca meia-noite.


Rubem escreve curto, mas o impacto é longo. O conto termina, o espanto fica. E a pergunta também: quem realmente invade quem?


Depois do golpe inicial, o livro não recua. Ao contrário: os contos seguintes parecem levantar a voz, como quem diz — se ainda restava alguma dúvida — a que Feliz Ano Novo veio. “Corações Solitários” desloca o foco da violência física para outra, mais silenciosa e igualmente corrosiva. Ali, a revista feminina da classe C surge como vitrine de desejos domesticados, um manual sentimental onde a solidão é embalhada para consumo rápido. Rubem desmonta o vocabulário do afeto padronizado com ironia cruel: o amor vira formulário, a intimidade vira resposta automática. Não há sangue, mas há um esvaziamento tão brutal quanto. Tudo ali grita, ainda que em fonte cursiva.


Já “Passeio Noturno” devolve o espanto em estado bruto. O incômodo não está apenas no ato violento, mas na sua banalidade meticulosamente narrada. O assassino não é um desvio da ordem: ele é a ordem. Pai de família, homem integrado, sujeito funcional. Rubem aperta o parafuso onde mais dói, na suposta normalidade. O conto nos força a encarar uma verdade desconfortável: a violência mais perigosa não é a que invade, mas a que circula livremente, bem vestida, respeitável. Aqui, o grito é mudo, e talvez por isso ecoe mais alto.


Esses contos iniciais formam um bloco quase irrespirável. Cada texto parece calibrado para atingir um nervo diferente: o social, o íntimo, o moral. A sensação é de um autor no auge da precisão, escolhendo ângulos e golpes com frieza cirúrgica. A primeira metade do livro não apenas se destaca, ela impõe um padrão tão alto que qualquer desaceleração posterior soa como queda, ainda que não seja exatamente isso.


Na segunda metade, o livro muda de ritmo. Não há colapso, mas há dispersão. Alguns contos parecem menos concentrados, menos urgentes, como se Rubem afrouxasse levemente o cerco. “A Entrevista”, em especial, funciona quase como um comentário sobre o próprio gesto narrativo: a linguagem, o poder, o jogo entre quem pergunta e quem responde. É um conto inteligente, afiado, mas menos visceral. A violência aqui é discursiva, simbólica, talvez até elegante demais depois do massacre emocional anterior.


Essa divisão não compromete o conjunto, mas o revela. Feliz Ano Novo é um livro que começa no grito e termina no eco. A primeira metade nos atropela; a segunda nos observa sangrar. E talvez seja esse o desenho oculto: Rubem Fonseca não sustenta o choque o tempo todo porque sabe que o choque contínuo anestesia. Ele alterna intensidade e reflexão, punho e bisturi.


No fim, o livro permanece inteiro porque sua proposta nunca foi a homogeneidade. Ele quer incomodar, desestabilizar, expor fissuras, e isso ele faz do começo ao fim. Mas é verdade: há livros que entram devagar e crescem. Feliz Ano Novo não. Ele entra arrombando a porta, grita o que tem a dizer e, quando baixa o tom, é apenas para garantir que escutamos tudo.



Talvez os contos recentes não estejam me atingindo porque esqueceram isso: que o conto não precisa ser redondo, apenas fatal. Feliz Ano Novo me lembrou que a boa literatura curta não acaricia o leitor; ela o surpreende em posição vulnerável. Como a realidade. Como a memória. Como esse passado que, relido hoje, continua perigosamente atual.


Feliz Ano Novo de Rubem Fonseca.  Rio de Janeiro: Nova Fronteira,  2020. 168p. Leitura de Dezembro 2025.
Profile Image for Moureco.
273 reviews3 followers
December 29, 2013
Lançado em 1975, este é um livro de contos violentos e viscerais, como Fonseca nos habituou ao longo dos tempos. O último conto deste livro, 'Intestino Grosso', é uma declaração programática do que é relevante para Fonseca e encontramos vertido na sua escrita: "[...] para entender a natureza humana, é preciso que todos os artistas desexcomunguem o corpo, investiguem, da maneira que só nós sabemos fazer, ao contrário dos cientistas, as mais secretas e obscuras relações entre o corpo e a mente, esmiucem o funcionamento do animal em todas as suas interações." e "A pornografia está ligada aos órgãos de excreção e reprodução, à vida, às funções que caracterizam a resistência à morte - alimentação e amor, e seus exercícios e resultados: excrementos, cópula, esperma, gravidez, parto, crescimento. [...]"
Profile Image for Newton Nitro.
Author 6 books111 followers
April 12, 2015
Um dos clássicos da literatura brasileira contemporânea e com razão. Feliz Ano Novo é sensacional, uma das melhores livros de contos que já li. Contos variados e criativos, cruéis e fascinantes, um dos melhores trabalhos do grande Rubem Fonseca, e serve como uma excelente introdução ao autor. Não sei nem qual é o meu conto favorito, todos são muito bons e bem variados entre si. E ainda tem a estréia do detetive Mandrake, que seria o protagonista de romances futuros do Fonseca.

Recomendadíssimo, muito gostoso de ler , cruel e até assustador em alguns momentos, tive um choque ao ler o conto de dá o título ao livro, Fonseca tem muito a manha de pegar o leitor de surpresa, seu texto acertando como um boxeador experiente, soltando cruzados de direita quando esperamos um gancho de esquerda.

Recomendadíssimo!

Profile Image for Ana Nehan.
370 reviews33 followers
January 16, 2019
"Mas quando os defensores da decência acusam alguma coisa de pornográfica é porque ela descreve ou representa funções sexuais ou funções excretoras, com ou sem o uso de nomes vulgares comumente referidos como palavrões. O ser humano, alguém já disse, ainda é afetado por tudo aquilo que o relembra inequivocadamente de sua natureza animal."

"Eu gostaria de poder dizer que a literatura é inútil, mas não é, num mundo em que pululam cada vez mais técnicos. Para cada Central Nuclear é preciso uma porção de poetas e artistas, do contrário estamos fudidos antes mesmo da bomba explodir."


Ao ler e reler Rubem Fonseca a sensação é sempre a mesma: puta autor FODA.
Profile Image for Ref2090 Figueiredo.
60 reviews1 follower
November 23, 2021
As 2 estrelas não são porque eu não achei bom, é porque simplesmente não fez muita diferença para mim. Quer dizer, alguns contos são legais: o primeiro é bem visceral em relação a realidade brasileira, tem um do cara que atropela pessoas que tbm é interessante. Há algumas coisas sobre travestis, um cara que, ao meu ver, é uma mulher transexual e também uma história de possíveis lésbicas? O que é interessante ver ser tratado em uma obra daquela época.
Curioso saber que ele foi censurado na ditadura, mesmo não tendo nada explícito, o que mostra que o conservadorismo da época era extremamente babaca.
Profile Image for kiubert.
96 reviews14 followers
December 20, 2015
Son cuentos bastante brutales/violentos, ambientados en el Brasil de la dictadura militar. Hay varios estilos, desde relatos realistas, hasta historias de terror o relatos experimentales. Leí una traducción al chileno por editoriales Tácitas que siento que aporta bastante, sobre todo en relatos como el que titula el libro, protagonizado por unos jóvenes delincuentes, un texto como ese traducido a un español neutro tipo Alfaguara sería fomísimo para leer.
Profile Image for Suellen Rubira.
954 reviews89 followers
December 8, 2016
Como todo livro de contos, Feliz ano novo possui várias histórias sensacionais, outras boas e algumas nem tão brilhantes. Normal. Mas quero destacar as sensacionais, na minha humilde opinião: Feliz ano novo (Um socão no estômago do leitor), Corações solitários (bem engraçado!) Passeio Noturno I, Passeio Noturno II (bem loucos), O outro, Agruras de um jovem escritor e Intestino grosso (sobre escritores e seu papel no mundo).
Profile Image for Camila JR.
551 reviews
December 12, 2018
Algo que no se puede negar es que el escritor es bueno en lo que hace, desafortunadamente tampoco se puede negar que es un misógino de primera, todas las historias de este libro destilan odio hacia la mujer, incluso las historias donde ni siquiera se incluyen personajes femeninos, un ejemplo perfecto del intelectual latinoamericano.
Displaying 1 - 30 of 115 reviews

Can't find what you're looking for?

Get help and learn more about the design.