След като прекарва детството си в сиропиталище, на дванайсет години Ноа най-накрая се среща с майка си Пейшънс. Тя прави всичко по силите си да компенсира изоставянето му, но никога не споменава какво я е накарало да вземе това решение. И така, независимо дали двамата прекарват дните си в къщата на плажа на Кейп Код, или в театъра в Бриджпорт, където работят заедно, помежду им се издига невидима преграда, която никой от тях не смее да прекрачи.
Когато Ноа среща Франк ОЛиъри – ексцентричен йезуит, който кара разноцветен Ролс-Ройс – той открива в него подкрепата, която винаги е търсил. Има неща обаче, които свещеникът предпочита да запази за себе си, например студентските си години, ирландския пъб в Бостън, където с приятелите му се събирали да пият бира и да рецитират стихове, както и Катрин, амбициозната млада жена, която не се поколебала да опита да го отклони от призванието му.
Докато тайните остават под повърхността и разпалват въображението, малките откровения имат силата на бурно море.
Макар да излиза извън пределите на Европа и любимата си историческа тематика, Жоао Пинто Коелю отново ни провокира с оригинален сюжет и изненадващ финал. С неподражаемия си стил, той ни увлича в запомнящите се истории на своите герои, потапя ни в свят на дълбоки емоции и ни пленява с този брилянтно написан шедьовър.
João Pinto Coelho nasceu em Londres em 1967. Licenciou-se em Arquitetura em 1992 e viveu a maior parte da sua vida em Lisboa. Passou diversas temporadas nos Estados Unidos, onde chegou a trabalhar num teatro profissional perto de Nova Iorque e dos cenários que evoca neste romance. Em 2009 e 2011 integrou duas ações do Conselho da Europa que tiveram lugar em Auschwitz (Oswiécim), na Polónia, trabalhando de perto com diversos investigadores sobre o Holocausto. No mesmo período, concebeu e implementou o projeto Auschwitz in 1st Person/A Letter to Meir Berkovich, que juntou jovens portugueses e polacos e que o levou uma vez mais à Polónia, às ruas de Oswiécim e aos campos de concentração e extermínio. A esse propósito tem realizado diversas intervenções públicas, uma das quais, como orador, na conferência internacional Portugal e o Holocausto, que teve lugar na Fundação Calouste Gulbenkian, em 2012. Perguntem a Sarah Gross é o seu primeiro romance. Em 2017, venceu o Prémio Leya com o romance Os Loucos da Rua Mazur.
Começo por dizer isto: o João Pinto Coelho podia perfeitamente ser tricampeão de Prémio Leya: foi finalista com o Perguntem a Sarah Gross (que achei bem melhor do que o vencedor desse ano), venceu com Os Loucos da Rua Mazur e, caso tivesse concorrido com este Mãe, Doce Mar, podia ter ganhado novamente.
Há muito que deixei de ler apenas como leitora. O facto de também escrever traz-me sempre uma camada adicional ao que leio: dou por mim a tentar desmontar o processo de escrita. Pergunto-me como é que o autor chegou ali, como é que montou aquele enredo, de onde vem este ou aquele traço desta ou daquela personagem. Muitas vezes chego ao fim da leitura com mais perguntas do que respostas. E quando isto acontece é porque o que li foi mesmo, mesmo bom.
Adivinhem: tenho dezenas de perguntas aqui a passearem-me pela cabeça.
A escrita do João é sublime e aqui, talvez pelo cunho mais pessoal desta história, isso é ainda mais presente. Senti-me envolvida, arrastada, sugada para esta narrativa. Vi-me ali, em Boston, em Nova Iorque, no aeroporto e no teatro, dei por mim sentada a conversar com o jesuíta e a ver todos os demónios de Patience. E Noah, sempre Noah. O surgir das cinzas, o construir-se, o descobrir quem verdadeiramente é. Tudo absolutamente sublime.
Acabei com este livro carregado de post-its nas margens, a assinalarem frases que sublinhei.
“Sei bem que mãe é um verbo, de todos o mais regular (...).”
“Seamus e Margaret, na altura ainda muito jovens, mal sabiam fazer filhos, mas foi do que se lembraram para lançar raízes.”
“(...) senti a casa gelada e esse silêncio maligno dos lugares abandonados.”
Não deixem de ler este livro. E leiam-no como se tudo o que estivesse ali fosse realidade e a ficção servisse apenas para temperar a história.
Quem ouve o Livra-te ou quem me segue por aqui sabe que eu não leio tantos livros portugueses como devia. São livros como este que me convencem ainda mais do quão errada estou por fazer estas escolhas. Mãe, Doce Mar é uma obra exímia, com uma estrutura irrepreensível e uma estória envolvente. Apesar de não ser a maior fã deste tipo de escrita assim mais floreada, percebi o porquê de ser assim, depois de o ler e pesquisar mais sobre o livro e o autor. O facto desta narrativa ser muito baseada na experiência de vida do próprio autor fez com que este livro crescesse muito mais no meu coração.
Gosto de ler Pinto Coelho, porque gosto do modo como ele me conta uma história. Apetece imaginar alguém a nos descrever esta história. Este livro encantou-me igualmente pelas referências geográficas a Massachusetts e ao Cape Cod, território que visitei faz alguns meses.
Gostei muito deste novo livro do João Pinto Coelho, um romance mais intimista e que nos leva a conhecer Noah que viveu num orfanato até aos 12 anos, idade em que conhece a sua mãe. Com a ajuda de saltos temporais vamos conhecendo Patience, a mãe de Noah bem como o que a levou a abandonar o filho, assim como vamos conhecer Frank O'Leary um padre jesuíta excêntrico e que vai ajudar Noah a "crescer" e conhecer a sua família biológica. Com uma escrita irrepreensível e envolvente, João Pinto Coelho transporta-nos até à Nova Inglaterra onde através de um final completamente inesperado ficamos rendidos a este fantástico livro.
Maravilhoso, simplesmente Maravilhoso! A escrita tocou-me profundamente, a história do Noah, da Patience, do Frank, tão doloroso mas ao mesmo tempo fascinante, o que me fazia simultaneamente querer chegar ao fim, mas não acabar o livro.
“O nosso trio de valetes passou então a contar com essa dama de trunfo para alterar as regras do jogo. Dava para ver nas conversas, agora sempre afinadas pelo tom de Catherine. Era ela que as lançava sem que déssemos por isso, jogando-as furtivamente como cartas de um baralho de costas voltadas para cima. E nós, imprevidentes, sem lhe cortar as vazas, acabávamos, já se sabe, a falar do que ela queria.”
É com frases como estas, que deambulam no decurso da narrativa, que somos levados a reconhecer neste livro uma escrita sublime e uma história que, na minha opinião, é deveras singular. Recomendo!
Тази книга ме отвя. Прочетох я за един следобед и минах през всякакви състояния. Беше ми любопитна, тъжна, скучна след това рязко изненадваща и за финал напълно разтърсваща.
За съжаление и тук, и на сайта, няма да мога да напиша много конкретно ревю, защото не искам да ви развалям удоволствието от четенето. Но ви приканвам - стигнете до финала на романа. Дори на моменти да ви се иска да го оставите, просто се заставете и стигнете до края на тази история. Защото е важно. Защото тук наистина дяволът е в детайлите.
В краткия си обем книгата на Коелю е събрала много важни послания - за родителството, за това как се справяш с трудностите в живота, какъв път избираш да поемеш - този на жертва, на човека, който не може да се справи или този на надеждата, че утре те чака нещо по-добро.
Това бе първата ми среща с автора и наистина мога да кажа, че неговият стил на писане е прекрасен. Толкова красиви фрази, толкова гениални метафори. Всичко това определено ме кара да искам да прочета и другите му книги.
Препоръчвам този роман, защото в него са преплетени реални биографични събития, които ми доказват, че животът е най-големият филм, най-разтърсващата книга и винаги може да те изненада.
Uma narrativa contada em três vozes, que no início parecem terem pouco em comum mas que no final agarre-nos de um modo avassalador. Noah cresceu em orfanatos e com muitos pais de acolhimento, sempre a espera do dia do aparecimento da sua mãe. Quando esta lhe aparece ela não demonstra ser a mãe afetuosa que esperava, se mantendo distante ao longo do tempo em que vivem juntos. A única coisa que realmente os une é o teatro.
A Patience e Noah junta-se Frank, um padre jesuíta que passa os dias no farol conversando com Noah. Ao contrário da mãe dele, demonstra um afeto sincero e dispõe-se ao ouvir os seus lamentos. Contudo pouco revela da sua vida pessoal, que mais tarde sabemos foi feita de algumas festas e paixões loucas. Noah passará toda a ação tentando encontrar a sua história, compreender o verdadeiro motivo do seu abandono e porque Patience demonstra por vezes ser uma figura tão melancólica.
Ao contrário do livro anterior deste escritor, este de facto conseguiu surpreender-me e apenas achei que teria ficado um pouco melhor se o passado de Patience pudesse ter sido melhor explorado.
João Pinto Coelho é dos meus autores prediletos. Acho inacreditável como me sinto quando termino de ler os seus livros. Sou uma leitora "fidelizada" e quando soube que tinha lançado este livro, fui a correr comprá-lo. Para mim é bastante claro e não tem margem para qualquer negociação: tudo o que João Pinto Coelho escrever, eu vou ler. Esta sua obra "Mãe, Doce Mar" põe a componente histórica em pausa e apresenta-nos um lado mais intimista. Conhecemos Noah e vamos de mão dada com ele descobrir múltiplos fragmentos da sua vida, pedaços soltos que se vão juntando aos poucos e poucos. Lentamente, são introduzidas personagens que se unem de uma maneira inexplicável e brilhante ao longo da narrativa. Uma dessas personagens é Patience, mãe de Noah, que ao fim de 12 anos aparece para o recolher do orfanato em que se encontra. 12 anos de silêncio, sem qualquer justificação para o abondono. Vamos entrando na relação deles e percebendo a complexidade humana dos sentimentos. Finalmente, conhecemos Frank, um padre jesuíta excêntrico, que conduz um Rolls-Royce peculiar e Catherine, senadora da cidade. Como é que estas personagens acabam por se relacionar? Adorava contar-vos tudo, mas ninguém conta melhor do que João Pinto Coelho. Acreditem, vale ler cada palavra. De uma delicadeza, de uma beleza e de uma qualidade sem igual. Brilhante, absolutamente brilhante. Aquele final deixou-me com o coração nas mãos, com uma vontade enorme de abraçar Noah, com vontade de dar um passeio à beira mar e vê-lo sobre a perspetiva deste livro. Absorver da visão de cada onda e do cheiro a maresia o desfecho desta história. Não me canso de dizer isto: todos deveriam ler João Pinto Coelho, pelo menos uma vez na vida - mas acreditem, a primeira vez que lerem, não será certamente a última, apenas o início de muitas leituras do autor.
Três personagens centrais numa narrativa autoficcionada. Um miúdo que inicia a sua história quando reencontra a mãe nos EUA aos 12 anos, a própria mãe que desertara e o abandonara sem explicação e o Padre jesuíta O'Leary. Três personagens enigmáticas e muito vívidas, baseadas na experiência pessoal do autor num primeiro romance que se distancia do Holocausto e das vítimas. Um romance que tem a força do mar como reflexo das tempestades que os assolam. E em belas palavras se constrói grandes imagens que leio e releio com admiração enquanto cada um se expressa na sua vez.
O final, esse continua a ser surpreendente como todos os outros. Ainda que conte com essa possibilidade, não consigo imaginar semelhantes desfechos que tanto relevo dão aos seus romances. Vidas não cumpridas que regressam ao que deixaram.
There are not enough stars for this book. I’ve never felt so week in finding words to express my feelings. And actually I prefer not to tell anything. Just read it. Please read it.
Confesso que demorei a habituar-me à narrativa do autor, ainda que a escrita seja lindíssima. Na primeira metade do livro achei que o ritmo da narrativa estava sempre a alterar de lenta para mais rápida. No entanto, a partir do momento que fui ligando os pontos, li num ápice. Todas as ligações e a forma como a história nos vai sendo apresentada está muito bem arquitectada. Embora tenha sido difícil para mim acompanhar a história quando houve personagens e enredos que foram introduzidos sem contexto, o que me deixou meia perdida até perceber as ligações umas páginas à frente.
Destaco o final surpreendente!
“- (…) Esquece lá a fantasia de viver cada minuto como se fosse o último. Se hoje pareço viva, amanhã, no hospital, posso vomitar as tripas ou contorcer-me com dores. É o tempo que me resta e gasto-o todo com o medo. - E, mesmo assim, vieste ver o mar.”
“- (…) se, quando acabares de o ler, ainda não te apetecer levar o autor para os copos, sabes imediatamente que não leste uma obra-prima.”
“As mães ligam-nos ao mundo, cada vez mais me convenço; perdes a tua, deixas de fazer parte, fica tudo mais hostil.”
daria 10 estrelas, mas merece todas as da Via Láctea.
a maravilha deste livro é tudo o que não conta, como se todos os segredos estivessem escondidos no fundo do mar e só nos fosse permitido boiar. mas a escrita de JPC é água cristalina. está tudo ali.
JPC é o meu autor português preferido. já vos tinha dito, não já?
É um livro cheio de frases bonitas. Acho que isso é o que me fica. Isso e um mar de inverno. Mais do que uma história é uma exposição de memórias. Há uma história mas também não é isso que me fica. Mas o que ficou foi bom e bonito.
Gostei muito. Um livro de um registo diferente dos anteriores deste autor. Fala-nos da importância da maternidade e dos afetos que ela envolve ("ser mãe é um verbo, de todos o mais regular"), mas também de um lugar junto ao mar, um lugar de extrema beleza, um lugar de verdade e de redenção, onde "A praia era uma ilha que o acaso das marés atracara àquela costa". Adorei este livro, pela história, pelas personagens, pelo registo intimista com que se vão expondo e as vamos conhecendo, na sua fragilidade e na sua humanidade, pela beleza desse lugar junto ao mar "em que a beleza em estado puro é um chamamento de morte".
Интересна структура, увлекателна фабула и неочакван край. Стилът ми се стори доста различен от този на "Попитайте Сара Грос". Нещо в него леко затрудняваше четенето ми – не знам, може би е синтаксисът на фразите. Хареса ми смяната на гледните точки, как са навързани, за да създадат общата история.
Este livro está muito bem escrito, tem a poesia e a cadência perfeita. Fala de abandono e solidão e de procura. As paisagens agradam-me porque a Nova Inglaterra já me apareceu em livros e imagens, em vários suportes. No entanto, queria saber mais destas personagens e queria a história desenvolvida em termos mais lineares porque é essa leitora que sou... Adivinhei a reviravolta final e queria que mais fosse partilhado, é só...
Que rica forma de começar o ano. Apesar de já ter ouvido falar deste autor, não estava à espera de uma escrita tão bonita. Vou ter que ler todo os livros dele e saborear como se fosse uma dadiva oferecida pelos os deuses. "se, quando acabares de o ler, ainda não te apetecer levar o autor para os copos, sabes imediatamente que não leste uma obra-prima". Este quero levar para os copos 😁
Книгата ми потръгна доста трудно. Почти до средата не можех да се почувствам комфортно с историята и героите и. На 40та страници дори я оставих, но след 2 дни пак посегнах към нея. До 120 страница се чудех какво е искал да ни внуши Жоао Пинто Коелю. Последните 60 страници ми разбиха сърцето и пъзела се нареди. Романът е със автобиографични елементи и това изцяло повлия на начина, по който възприех историята!
4 части, които ни запознават с главните герои - Ноа, Франк и Пейшънс. Първа и четвърта част са посветени на Ноа. Ноа, който е и разказвачът ни.Ноа, който ми бръкна в душичката.
Няма да издавам нищо за сюжета, само ще кажа, че ако сте фенове на автора не трябва да пропускате книгата.
Семейството и липсата на такова водят до огромни травми и белязват живота завинаги. Фигурата на майката не може да бъде заменена от никой! Някои от сцените почувствах толкова силно, че буквално ме заболя!
Um romance forte, de enredo muito inteligente e de intensidade crescente. Cativou-me sobretudo pelas personagens e pelo modo como as suas vidas são cruzadas e tecidas de modo subtil e quase impercetível. O autor consegue transportar-nos, através do tempo e do espaço, para a Costa Este dos Estados Unidos e para o seu imaginário social e religioso, narrando a história do ponto de vista das três personagens principais. As inúmeras referências históricas e literárias, ajudando a compor o quadro, poderão contudo ser motivo de dispersão, obrigando a passar ao lado das mesmas ou então a investigar para compreendê-las - não se arrependerão por escolher, como eu, a segunda opção.
Recomendaria a todos, com a nota de que os temas tratados poderão por vezes ser fortes demais - a interioridade das personagens não nos é velada, bem como os temas que as ocupam: o sentido da vida, as relações humanas feridas, o esquecimento, a obsessão e o fim da vida.
Escrita poética, profundamente envolvente e emocional. Esta obra extraordinária cativou-me desde o primeiro instante! Se tivesse de 'definir' este Autor numa única palavra diria: Notável!
O livro foi uma agradável surpresa não estava á espera de gostar tanto. Pois começou lentamente e confesso que pelo meio me senti um pouco perdida, contudo mais para a última parte do livro até ao fim, percebi o porquê dessa impressão e achei que a história foi muito bem embrulhada e concluída. Isto não é uma história leve, é uma história que nos envolve, houveram algumas partes, que me fizeram ficar com uma lágrima no canto do olho. Sem dúvida uma das melhores experiências auditivas que tive este ano! Descobri este escritor com este livro, e tenciono ler outros livros do mesmo escritor. ✨
3,5 Escrita irrepreensível como sempre. Já lhe começo a notar a fórmula mágica: começa levezinho, vai baralhando o leitor com várias entradas de enredo e depois cresce, no fim, como um bolo no forno, que adquire formas imprevisíveis. Todavia, apesar da enorme maestria em contar uma história, o enredo nunca chegou a agarrar-me como aconteceu com os três anteriores livros. "My bad", que valorizo sempre mais os livros cujas histórias envolvam momentos mais históricos.
Descobri este livro por mero acaso, enquanto passeava pela Fnac, em busca de uma obra literária que me escolhesse como sua leitora, como escrevia Carlos Ruiz Záfon, a propósito do Cemitério dos Livros Esquecidos, local enigmático presente nalguns dos seus livros.
Como já tinha lido dois livros do escritor João Pinto Coelho, intitulados "Perguntem a Sarah Gross", uma das minhas obras preferidas de escritores portugueses contemporâneos, e "Os Loucos da Rua Mazur", que têm como cenário a perseguição e o extermínio dos judeus pela Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial, com personagens muito bem caracterizadas, li a história constante da contracapa de "Mãe, Doce Mar" e decidi adquiri-lo, apesar de, ou talvez por isso mesmo, não se passar na Europa em guerra, mas antes nos Estados Unidos, tendo como protagonista um menino de doze anos, cuja mãe biológica decide reaparecer e adotá-lo sem nunca lhe dizer as razões do seu abandono. E eu gosto de me aventurar em ler livros de escritores que não seguem a sua "receita" inicial de sucesso e que ousam escolher outros caminhos menos seguros.
Noah, após ter vivido com quatro casais, que o rejeitaram por motivos que se prendiam com o egoísmo destes, e de, em consequência, regressar sempre ao orfanato, no início da sua adolescência vai viver com a sua mãe e com o seu padrasto para Bridgeport, no Connecticut, passando várias temporadas de férias numa casa junto ao mar, na região de Cape Cod, no Massachusetts, local de que, quer a mãe, Patience, quer Noah, gostam imenso, pois permitem ao segundo fazer longos passeios a pé e de bicicleta junto à costa e conversar com um padre jesuíta, chamado Frank O´Leary, que lhe conta histórias fascinantes ocorridas nas praias e nos rochedos de Cape Cod. O jovem e o jesuíta tornam-se amigos, narrando-lhe o segundo por que razão tinha um Rolls-Royce pintado com três cores garridas, apesar de ter feito o voto de pobreza, bem como lhe descreve a sua infância e juventude.
Mas há algo que intriga Noah acerca do Padre O`Leary e que este não lhe revela: as visitas que uma senadora republicana, de nome Catherine, lhe faz na biblioteca onde aquele também trabalha, junto a uma das praias de Cape Cod, após a mesma ter renunciado ao cargo na sequência de uma grave doença de que padece.
Durante os seis anos de convivência com a mãe, Patience, uma coreógrafa de grande talento que trabalha num teatro do Connecticut, Noah vai estreitando a sua relação afetiva com a mesma e acaba, por sua vontade, por trabalhar com ela como técnico de iluminação, decisão em que esta o apoia. A mãe sempre lhe demonstra o seu carinho, mas nunca lhe conta quem é o pai, nem as razões de o ter abandonado, nem o jovem nunca a questiona sobre esses assuntos, pelo que permanece sempre um certo distanciamento entre ambos.
E de mistério em mistério, já perto do final do livro, o autor releva-nos os segredos das vidas das personagens, sem que eu, apesar de ser uma leitora atenta, jamais tivesse suspeitado ou andasse perto de os descobrir.
Em comum com os dois livros anteriores já referidos, nas histórias narradas pelo autor João Pinto Coelho, há sempre segredos por desvendar, personagens densas que carregam muito sofrimento, sendo a escrita clara e acessível, com uma característica particular neste último: as frases são poéticas e soam-nos ao barulho das ondas do mar, do vento e da chuva das tempestades e, também, ao ruído do trabalho desempenhado pela coreógrafa, pelos atores e pelos restantes trabalhadores enquanto ensaiavam as peças de teatro e, finalmente, ao clamor e às palmas do público.
Assim, irei com toda a certeza ler um outro livro de João Pinto Coelho, escrito ainda antes deste "Mãe, Doce Mar", denominado "Um Tempo A Fingir", que só descobri aquando da compra daquele.