Carlos, o filho de um comerciante inglês do Porto e Cecília, a filha do guarda-livros deste, encontram-se num baile de carnaval. Sem saber de quem se trata, Carlos apaixona-se por ela. É a irmã deste, Jenny que descobre tudo, e tenta proteger Cecília de quem é amiga, por recear que seja apenas mais uma aventura de Carlos. Contudo, ao convencer-se de que não é, acaba por proteger os dois e ajudá-los a chegar à felicidade.
JÚLIO DINIS, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nasceu no Porto a 14 de Novembro de 1839. Tirou o curso de Medicina na Escola Médica do Porto, aliando a profissão de médico à de escritor. Os seus primeiros textos foram publicados em A Grinalda e em O Jornal do Comércio. As suas principais obras, todas assinadas como Júlio Dinis, são: As Pupilas do Senhor Reitor (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868), Uma Família Inglesa (1868), Serões da Província (1870), Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871), Poesias (1873), Inéditos e Esparsos (1910), Teatro Inédito (1946-47). O único romance citadino é Uma Família Inglesa, baseado na literatura inglesa. As Pupilas do Senhor Reitor e A Morgadinha dos Canaviais foram romances praticamente escritos em Ovar; já os Serões da Província e Os Fidalgos da Casa Mourisca foram redigidos no Funchal. Esta última obra não chegou a ser totalmente revista pelo autor devido à sua morte prematura; um primo seu ajudou-o nesta tarefa e concluiu-a. Júlio Dinis morreu na madrugada de 12 de Setembro de 1871, no Porto.
Atendendo à época em que Júlio Dinis viveu, seria natural situá-lo no ultra-romantismo. Porém, as suas obras literárias não deverão ser inseridas nesta corrente, já que, devido à influência do pai, médico, e à sua educação científica, Júlio Dinis tinha uma visão bem mais real e verdadeira do que a dos autores ultra-românticos. Mas também não devemos classificar a sua obra na corrente Realismo – Naturalismo que começou com as Conferências do Casino da geração de 70, de Eça de Queirós. Podemos, sim, dizer que ele foi o percursor desta corrente literária no nosso país, o que levou a que fosse apelidado de inaugurador da escola naturalista.
Terminei a releitura deste livro ontem à noite e que posso dizer? Foi uma leitura melhor do que a primeira. Foi um livro que me deixou com um sorriso de orelha a orelha. Um livro que me fez rir! Um livro que, mesmo quando estava mais chateada, se pegava nele, ficava imersa na história e não pensava em mais nada. Um livro em que todas as personagens são maravilhosas, mesmo as de caracter menos maravilhoso. Um livro em que os diálogos do autor com o leitor são magníficos. Em suma, um livro delicioso!
Uma Família Inglesa is a good novel for its narrative technique. The action evolves in the various physical and social spaces in Oporto, essentially characterized by the commercial environment of the city, generators of backgrounds and characterizers of the characters: the elegant neighbourhood of the British colony, the residence of the Whitestone family; Rua dos Ingleses, at the time the centre of Porto's commercial and financial life, where Richard Whitestone's office located, an Englishman who owns a large export firm, and where Manuel Quintino, the modest and obedient bookkeeper, works. The romance makes us know home environments. The bohemian space is where Carlos Whitestone, the family's young heir, and his friends move, which includes the famous Café Guichard and the Golden Eagle, stage of the Carnival party, where Carlos crosses with the mysterious woman who will become Cecília; Foz, chosen by Jenny and Cecília as a place for confidences and outbursts, etc.
Nunca me tinha inclinado para Júlio Dinis (Joaquim Guilherme Gomes Coelho - 1839-1871) nem para as suas obras mais sonantes (A Morgadinha dos Canaviais ou As Pupilas do Senhor Reitor, entre outros). Comprei o livro numa loja em de artigos em segunda mão, custou-me um euro e achei graça à edição, no acordo ortográfico em vigor nos anos 70.
O autor é conterrâneo de Eça de Queiróz e de Camilo Castelo Branco, e creio que faz uma ponte entre os estilos praticados por um e outro. Camilo vivia o amor lado a lado com a tragédia, não há finais felizes para os seus mais famosos amantes. Eça via o mundo com um realismo irónico (uma espécie de rir para não chorar), e expunha os defeitos da sociedade hipócrita do século XIX. O jovem Júlio, sendo médico e de ascendência inglesa, era versado em literatura saxónica, menciona grandes nomes como Byron e Sterne, ou ainda Walter Scott, e estava familiarizado com o modo de ser inglês e português (portuense, em específico). Teceu assim uma obra de 424 páginas que expõe os preconceitos entre classes (e nações), na sociedade moderna, progressista mas ainda assim com um quê de tacanhez do Porto nos anos 60 do século XIX.
As personagens centrais são a família Whitestone, a família Quintino, mas também as más linguas da cidade, que acabam por pesar no enredo e transtornar os seus protagonistas. Há muita perspicácia na narrativa do autor, que recria de modo realista as atrações da Invicta, o quotidiano desta e doutras personagens da cidade, e que parece encontrar regeneração na natureza, pois que os passeios pelos arrabaldes da cidade, dominados pela paisagem ao redor, transportam a personagem central para o mundo interior das reflexões e da auto-descoberta, enquanto a vida boémia da cidade - o teatro, o jogo, os charutos, as mulheres de má fama, os clubes, casas de pasto, etc. - propiciam convivências superficiais e por vezes até prejudiciais à tomada de um rumo na vida.
O autor foi minucioso no retrato da sociedade portuense com toda a sua vivacidade, bem como da mentalidade que assistia os vários extratos sociais que a compunham. Gostei tanto que creio que, muito em breve, vou voltar a lê-lo. Que orgulho por encontrar um autor que sublima assim a nação portuguesa! Que retrato fascinante do Porto e da sua gente...
E o amor? Pueril, mas intenso. Que aconchego de alma, este livro...
Não vou conseguir esconder que muito me custou ler este clássico. Levei muito tempo, arrastei-o muito tempo, estive com ele em mãos muitos dias.
Não é de leitura fácil, é uma leitura para se fazer com tempo, muita atenção e um dicionário ao lado para alguns dos ‘palavrões’.
Muito engraçada a história do Carlos e da Cecília, cheia de contratempos, adversidades, alguns azares e vítima da má língua e coscuvilhice. Nada mudou desde 1868 portanto.
Irrepreensivelmente bem escrito (e descrito), o Porto e os seus tesouros muito bem representados e um ponto extra para os momentos em que o autor se dirige ao leitor.
Ainda assim, dentro do género, o Júlio não bate o meu querido Eça que está sempre no meu coração.
Ao invés dos outros livros de Júlio Dinis, 'Uma Família Inglesa' passa-se na cidade, neste caso, no Porto. Consta que este foi o primeiro romance escrito pelo autor que, no entanto, teve receio de publicá-lo.
A história gira à volta desta família inglesa de comerciantes, família que (tenta) manter os hábitos britânicos, e cujas personagens principais são o pai, Mr. Richard Whitestone, e seus dois filhos, Jenny e Charles/Carlos.
Mr. Whitestone é um rico comerciante. Trabalhador, conservador o suficiente para ter alguns preconceitos de classe e até de nacionalidade. Pedra por fora, exigente, pontual, cheio de correcção, mas alegre e afectuoso, por dentro. Ele e Charles nem sempre se entendem...
"Um único 《Ho!》, mas pronunciado com aquela expressão que só a laringe britânica lhe sabe dar, um ho aspirado, gutural, eloquente, inglês enfim, combinado a um abanar de cabeça rápido e desaprovador e a dois ou três particulares estalidos de língua, eram os sinais de impaciência e desagrado que Mr. Richard manifestava (...)." (p. 20)
Jenny é a alma da casa, a todos atende, não só aos familiares, mas também a empregados e conhecidos. Tenta manter as personalidades fortes e desejos opostos do pai e irmão, sob a sua boa e pacífica influência. Diria que é uma "costureirinha" de destinos. É bondosa, ardilosa, mas um pouco aborrecida para meu gosto.
"Jenny sabia que qualquer acção generosa servia a Carlos de estímulo para realizar sacrifícios." (p. 87)
Charles é uma personagem apaixonante, em parte por ser estouvado sem o querer, em parte por ter um coração bondoso.
O estilo romântico do autor está lá. O tema principal são as relações familiares e sociais, desta família, mas pelo meio, também se encontra crítica política e social.
O fim é previsível, mas nem por isso deixa de ser um gosto ler esta obra. Mais um bálsamo para a alma.
Quando leio Júlio Dinis regresso a época da minha adolescência, à um tempo em que gostava dos heróis românticos e sonhava com príncipes encantados... A escrita de Dinis é de uma imensa leveza, muito agradável de se ler mas oferece-nos uma visão idílica e irrealista do ambiente minhoto.
Achei interessante toda a discrição do ambiente citadino, os costumes ingleses e as cenas familiares. Principalmente admirei Jenny, disposta a todo pela felicidade do irmão e muitas vezes ponde-se em segundo plano. O amor entre Carlos e Cecília pouco convenceu.
Talvez por ter sido o primeiro, o meu favorito continua sendo "As pupilas do senhor reitor".
Acho absurdo só me ter decidido a ler este livro agora. Especialmente, porque me foi impossível largá-lo. Que saudades eu tinha de pegar num livro que me evocasse Eça e Camilo, numa mistura harmoniosa entre realismo e romantismo.
Uma Família Inglesa acompanha a vida dos membros da família Whitestone (comerciantes ingleses a viver no Porto) e as suas relações com a sociedade portuguesa da época. Entre amores discretos, conflitos morais e diferenças culturais, o romance oferece um retrato da classe média do século XIX e dos contrastes entre tradição e modernidade.
Temos um Carlos irreverente, uma Jenny angelical, um Richard típico britânico burguês, uma Cecília apaixonada, um Manuel distraído e uma Antónia fofoqueira que nos deliciam a cada página.
Júlio Dinis (pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho), nasceu em 1839 no Porto e faz desta cidade o espaço da narrativa. Descreve tão bem as suas ruas e os seus ambientes, que dei por mim a matar saudades do meu querido Porto e a percorrer aquelas ruas lado a lado com as personagens.
Esta é uma daquelas leituras que nos transportam. Não só para um tempo passado, mas para um certo ritmo de leitura, de escrita e de sensibilidade que parece quase esquecido nos dias de hoje.
A escrita de Júlio Dinis é cuidada e descritiva, mas sem exageros. Tem leveza e inteligência. Bem como, a pitada certa de humor e crítica. É absolutamente delicioso de ler, especialmente para alguém que é fã da escrita de Eça de Queirós.
As personagens, mesmo com os seus traços do século XIX, têm algo de intemporal. Sejam as paixões contidas, o orgulho, as convenções sociais e a luta entre o que se sente e o que é esperado.
E depois há o Porto… sempre o Porto, descrito com tanto carinho e detalhe que é impossível não o ver ali, quase como uma personagem também. (E sim, admito, foi uma das razões que me fez apaixonar logo de imediato pelo livro.)
Para além disto, Júlio Dinis tem a audácia de se dirigir ao leitor durante a narração. E, caramba, quantas vezes dei por mim a responder-lhe mentalmente? A todos os comentários perspicazes, às provocações ao leitor - do género: "eu sei que estás a pensar assim, mas não devias" - até aos desabafos do próprio sobre aquilo que escreve. É brilhante!
Foi uma surpresa. Uma daquelas boas, que nos fazem perguntar: como é que só li isto agora? Mas a verdade é: ainda bem que o li ❤️ diverti-me tanto que já só penso no próximo que vou ler do autor!
Uma história de contos de fadas. É do tipo romance clássico, por isso, aconselho a quem gosta deste tipo de livros. Jenny é angelical, pura e o menino rico apaixona-se pela menina de uma classe mais baixa. É uma história comum, mas contada de uma forma extraordinária.
Uma das coisas que mais gostei foi a caracterização da cidade do Porto e das suas gentes. Os teatros, as ruas comerciais, os cafés, a coscuvilhice, tudo é retratado de uma forma bastante real. Também gostei muito da evolução das personagens, que mudam de pensamentos e ideias naturalmente, com a evolução do tempo e dos acontecimentos.
É um livro simples e leve, com uma visão cor-de-rosa e mais idealista do mundo.
Surpreendeu-me este livro. Por esta altura já sei vagamente o que posso esperar de Júlio Dinis, mas devo confessar que este livro superou as expectativas. Não esperava ficar tão cativado por um discípulo do romantismo. Todos os esterótipos do romantismo literário marcam presença: as senhoras desmaiantes, a honra que tem que ser defendida, o amor à primeira vista, o amor proibido, o drama, o horror, a tragédia, e claro, como não podia faltar, a derradeira e eterna felicidade. A este romantismo vai-se, no entanto, associando uns gostos do realismo que principiava a entrar na literatura portuguesa. O facto de ser um livro romântico normalmente far-me-ia detestar o livro, mas devo confessar que é romantismo muitíssimo bem escrito e absolutamente cativante, com personagens de quem se é fácil gostar e um enredo enleante com uma pitada de suspense. É sem dúvida a melhor obra de Júlio Dinis que li até agora.
“Feliz idade e feliz coração!” (happy age and happy heart)
Mr. Richard Whitestone was a wealthy man living in one of the better neighborhoods of Porto, Portugal. He did his business transactions on Rua dos Ingleses (English Street) and even visited The Jockey Club with his English friends. He read his English paper The Times and loved English literature, especially Laurence Sterne and Tristan Shandy. Grand things. Jolly old England. Rule Brittania. God save the Queen, Victoria that is, as the date is 1855.
Things weren’t all English. He had a long serving Portuguese bookkeeper called Manuel Quintino. He was a loyal servant, oops employee.
Mr. Whitestone had two children, Charles and Jenny. The elder Jenny moved to Porto at the age of two while her younger brother Charles or Carlos was born in their new land. After their mother died, Jenny took up the motherly role, serious and religious. She was the Angel in the family. Carlos, was nothing like his sister. He was sensitive to a fault. He would easily help an enemy than keep his distance like his sister. Carlos and his father kept their reserved appearances as is the English custom. Stiff upper lip, you know.
All was going well when Carlos went to Carnaval and fell for a young woman, hidden by her mask. He needed to discover who this woman was and he would go to great lengths to discover her name. His sister knew the woman Cecilia, who was the daughter of their father’s bookkeeper.
So begins a comedy of manners and of course, the age old question, can a rich Englishman pursue a woman of lower ranks? And if so, how do we save face? Yes, this is very dated today but we still read Jane Austen, don’t we? Consider this the Portuguese equivalent, granted written by a man, Júlio Dinis (1831-1871).
I have read several Dinis novels and his easy going manner and humour is laced through this one. Of course the comparisons between the English and Portuguese are a constant (the English do love their roast beef and beer). One of Mr. Whitestone’s friends rants about how great the empire is and surely one day English will be spoken everywhere. Yet, the English themselves live in a separate community while the Portuguese live elsewhere, and obviously they are less well off. It’s the constant battle between the two peoples. A light hearted laugh, or something deeper?
However Dinis focuses on the themes of love, family, traditions, and of course, respect. Aren’t these themes common in both the English and the Portuguese? Perhaps we are all closer than we think?
In the end, doesn’t a good romance crosses all boundaries?
“Há uma parte obscura do nosso mundo interior e sempre inacessa aos olhos estranhos, onde se refugiam esses muitos segredos do eu para eu, segredos que mesmos nós riríamos, se os lábios ousassem pronunciá-los um dia- que não ousam.”
“Família Inglesa” foi o primeiro livro que Júlio Dinis, pseudónimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, escreveu. Contundo, esperaria mais 5 anos (1867) para o publicar, após a edição de “As pupilas do senhor reitor”. É a segunda vez que exploro a obra do autor este ano, tendo a noção errada durante anos que Júlio Dinis seria “chato” e não teria paciência para o ler.
Dinis viveu a literatura do século XIX a par com Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós. Enquanto um se prima pela tragédia romântica e outro pela sátira humorística, Dinis reveste a sua escrita de intimidade, analisando psicologicamente as personagens, e aproximando-se-lhas da realidade.
Influenciado por Bryon, Sterne e Dickens, e tendo uma educação inglesa e portuguesa, Dinis apresenta-nos nesta obra a família Whitestone, uma família abastada de comerciantes ingleses que vive no Porto dos anos 60 do século XIX. É também um enredo das malediciências da cidade e um cruzamento com a família Quintino, por quem Carlos Whitestone se apaixona pela jovem e inocente Cecília.
Este livro é belo por duas razões. Dinis discorre pelas ruas do Porto, calcorreamos a Cedofeita, espraiamos a vista pelo belo Douro, saboreamos o seu belo vinho, vivemos o quotidiano da gente da cidade. Paralelamente, há a crítica subtil à maledicência, aos falsos preconceitos das gentes, os estratos sociais que compunham a população. E, além disso, reveste-se de uma história de amor pueril, intensa, quase que como um conto de fadas.
Dinis faz-nos acreditar que o mundo pode ser um bocadinho cor-de-rosa mas, às vezes, até precisamos disso. Um dos grandes nomes da literatura portuguesa. Pena que a sua tuberculose nos tenha deixado um pequeno legado.
"Ia-se ali respirar", disse Eça de Queirós sobre a escrita de Júlio Dinis. E que bem que essa frase assenta. Adoro ler Júlio Dinis pela simplicidade com que transmite as mensagens pretendidas, assim como pela leveza com que o faz.
Adorei este livro. Só o li já em adulta. Como era da área das ciências. Não era de leitura obrigatória. No entanto, depois de ler "Uma família inglesa". Pensei para comigo, porque todos temos de ler os "Maias"? "Uma família inglesa" era muito mais interessante e a leitura bem mais leve, para miúdos de 16 anos.
Uma obra-prima de Júlio Dinis, a qual oferece reflexões e introspeções de cariz ímpar; a história de duas famílias unidas por um elo que no fim se desdobra em muitos mais; uma ambiência profundamente caraterística da cidade do Porto e dos modos de viver e ser da sociedade portuguesa no século XIX; assim descrevo esta história magnificamente manufaturada pelo romancista português!
Nunca tinha lido um livro deste autor, mas digo que fui lentamente capturada por esta história, e tal se deve a diversos fatores: personagens mais do que credíveis e humanas; enredo delineado com perícia e destreza; escrita sublime; e premissa capaz de atrair qualquer amante dos clássicos portugueses, principalmente se for portuense!
Gosto de ler clássicos portugueses pela sua natureza muito caraterística e tom cómico. É claro que, como jovem do século XXI que sou, não leio habitualmente livros com descrições tão aprimoradas e vocabulário tão rebuscado como os antigos épicos dos autores lusófonos, mas gosto de aprender com eles e manter-me sempre próxima deste tipo de obras, tão negligenciadas atualmente. Sinto que me aprazem pela minha curiosidade histórica, paixão pela escrita bela e ornamentada e caráter quase filosófico. E também por serem de fabrico português, claro está.
Quanto às personagens, Jenny é a minha personagem favorita. Mas Manuel Quintino também. E Cecília. E Carlos. Pronto, todos. Basicamente 😂
Em palavras mais simples: um clássico português longo e detalhista, mas cuja leitura aconselho vivamente. Tem de tudo: comédia, drama, romance, contexto histórico, filosofia, bisbilhotice entre vizinhas, indivíduos mórbidos e apatetados, entre muito mais. São centenas de páginas que prendem o bom leitor.
Se recomendo? Sim, com a vontade e efusividade da criada Antónia 🤭
Esta primeira obra de Júlio Dinis centra-se na família Whitestone. O patriarca Richard é dono de uma casa comercial na mais frequentada praça do Porto. A sua mulher já faleceu, vivendo com os seus filhos, Carlos, o mais velho, e Jenny.
Carlos é o chamado bon vivant: festas com os amigos, frequenta o teatro e os cafés, mostrando pouco interesse nos negócios do pai.
Certo dia, numa festa de Carnaval Carlos conhece uma rapariga por quem ficou logo encantado mas ela usava uma máscara e ele não sabe quem ela é.
Carlos vai procurar por todos os meios saber quem é aquela jovem por quem o seu coração palpita.
Apesar de linguagem algo rebuscada da época, gostei bastante de ler este livro. Interessante conhecer como era o dia-a-dia destas personagens e, em particular, dos jovens na segunda metade do século XIX.
Este romance citadino é uma história bonita de amor entre dois jovens, claro que à "velocidade" da época em que foi escrita. Achei apenas que o final foi um pouco apressado e queria ter sabido um pouco mais da história deste casal.
Lamentável que Júlio Dinis tenha falecido tão cedo, aos 31 anos. Ainda assim deixou um valioso legado que gostei de conhecer.
Esta foi uma leitura conjunta com @joanabeatoribeiro e a Cátia.
Pode parecer contraditório, mas este livro tanto cumpriu como superou as minhas expectativas, surpreendendo-me.
Devo confessar que a minha curiosidade por esta obra era grande, pois nunca lera nada de Júlio Dinis. E o que estava a perder! A escrita é tão cuidada, tão refinada, sem ser maçadora mas sim cativante, que me fez querer ler tudo deste autor e saber mais sobre ele. Na minha modesta opinião, penso que se esta história tivesse sido escrita por alguém com menos talento, não me teria despertado metade do interesse.
Falando agora do enredo: foi como eu esperava, apesar de, antes da leitura, ter pensado que, aparte o romance, incluiria mais referências políticas e mais profundidade intelectual. O retrato da burguesia e da sociedade em geral da altura é excelente, não fosse o autor focalizar-se tanto pormenores e descrever e desenvolver o caráter das personagens com tanto afinco.
A razão pela qual não dou a cotação máxima a esta obra é por não passar de um "romance romântico", não sendo este o meu género de eleição.
Foi uma leitura que há muito desejava fazer e que me satisfez por completo enquanto leitora.
Esta obra foi publicada em 1867, depois de "As Púpilas do Senhor Reitor" (1866). No entanto, foi a primeira que Júlio Dinis escreveu. "Uma Fam��lia Inglesa: Cenas da Vida do Porto" é um romance extraordinário. Nele conhecemos a família Whitestone e as pessoas com quem se relacionam. Carlos é uma personagem que, apesar de começar como ocioso, acaba por demonstrar a sua bondade e o seu lado mais trabalhador (tudo devido à "doença de coração" que Cecília lhe causou). A irmã de Carlos, Jenny, é a típica mulher romântica, bondosa e amável mas as suas acções demonstram ser essa a sua verdadeira natureza. Todas as outras personagens são complexas e realistas, mostrando constantemente as qualidades e fraquezas que as caracterizam. Apesar do seu começo lendo, não houve nada de que eu não gostasse nesta obra. Faz um retrato da sociedade portuense oitocentista e narra uma história de amor lindíssima. Também adorei todas as referências a autores ingleses, como Lord Byron e Sir Walter Scott. Infelizmente, Júlio Dinis não é reconhecido actualmente mas as suas obras são de uma qualidade literária inigualável.
The Britain-Portugal alliance is old. So are the examples of the expatriates, duly subjects of her Majesty, yet living in Portugal and, more precisely, in Porto. I mean, their presence is old.
The book is about the case of the phlegmatic Mister Richard Whitestone and his two children, living in the "Street of the English", in the second half of the 19th century. Sir Whitestone, a true British man.
A possible translation of the Portuguese title would be, I guess: "A British family living in Porto".
O escritor que até agora li com a melhor descrição da mulher portuguesa... Um livro muito doce e elegante.
"Vendo nisto de paixões uma espécie de doenças da alma, como alguns querem, era possível talvez estabelecer nelas divisão análoga à que, nas do corpo, admitem os médicos. Haveria assim paixões agudas e paixões crónicas; umas, como as doenças do mesmo nome, geradas por impressões súbitas, rápidas na sua marcha, prontas na sua terminação; outras adquiridas insidiosamente, por influência de todos os dias, e de que nem se suspeita mal, lavrando a ocultas e revelando-se apenas, quando o terreno já é seu e a vitória certa. Quais delas zombam mais arte, devem sabê-lo médicos e doentes." - Capítulo XI
✨8/10 Termino este romance com um sorriso na cara. É um livro de conforto, escrito de forma tão cuidada e bonita como os grandes romancistas do Século XIX nos habituam. É uma história de amor, é uma crítica social, é uma obra muito bonita e bem construída e demarca-se de Eça ou Camilo Castelo Branco pela elegância da prosa. Recomendo a quem quiser explorar clássicos da nossa literatura.
Uma bonita história com um final de "viveram felizes para sempre".
Não sendo eu um grande adepto dos clássicos portugueses, vou tentando ler um ou outro. Sendo um estilo marcado no tempo, é necessário acompanhar essa tendência tolerando certo palavreado por vezes demasiado exaustivo. Gostei de "rever" o Porto. Um outro Porto mas não deixa de ser o meu Porto.
Curiosamente, em 1855, também havia uma guerra na Crimeia, com os "aliados" de um lado e o império russo do outro. A história teima sempre em repetir-se.
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Adorei este livro. Júlio Dinis tem uma forma de escrever encantadora. Aconselho sobretudo a quem goste de romances clássicos. identifiquei-me imenso com a Cecília, uma personagem feminina. Uma história comum mas contada por este escritor ficou magnifica.
Júlio Dinis é daqueles autores que está na estante como reserva de valor. Tinha a certeza de que iria gostar, mas estava a adiar a abertura para uma ocasião especial. A oportunidade surgiu naturalmente e Uma Família Inglesa superou as elevadas expectativas. Não vou demorar-me a enfatizar a escrita sublime, os diálogos naturais, a descrição acutilante da cidade do Porto e das suas gentes, dos seus defeitos e virtudes. Vou destacar um dos aspetos que mais me deliciou, que foi, pasme-se, a personagem de Manuel Quintino, o bom guarda-livros que tanta preponderância tem na história. Sou contabilista de profissão e desde logo me identifiquei com aqueles trejeitos de perfeição, de vaidade pelo trabalho e enorme dedicação. A carolice do Manuel Quintino aconchegou-me muito esta leitura. Que pena que o autor não nos tenha deixado mais obras para ler. Parto para as próximas já com uma enorme saudade.