O protagonista de O seu terrível abraço é um escritor e intelectual paulistano branco, de classe média e sujeito às contingências de sua origem. Sua infância foi como todas as outras para as pessoas de seu mesmo estrato social: escola e clube, condomínio e praia. As primeiras experiências com sexo, drogas e a consciência do abismo entre classes em um país como o Brasil, tudo isso fez parte de sua formação, juntamente com os livros, o cinema e a música popular. Aos quarenta anos, porém, ele descobre ter uma doença terminal. E o Brasil também parece estar muito pouco saudável política e socialmente: mergulhado num regime autoritário, em que livros são banidos e as liberdades individuais estão constantemente ameaçadas, num momento em que as diferenças entre classes só aumentam. Neste romance agudo sobre escolhas, fatalidades e falta de direção, Tiago Ferro exercita uma veia ficcional que mistura, em doses iguais de inconformismo e despudor, o romance e o ensaio, a fabulação e o comentário político, a meditação pessoal e a escatologia. O resultado, explosivo a cada parágrafo, dialoga com o melhor da literatura latino-americana contemporânea. Este é o retrato de uma geração que cresceu com muitas opções, mas que chegou à maturidade encontrando um beco sem saída em suas vidas pessoais e no próprio país em que nasceu.
Uma análise duríssima sobre um grupo de uma geração com muitas oportunidades, mas que não chegou muito longe.
O autor emprega uma série de recursos textuais muito interessantes para formar uma acumulação desigual de tempos e memórias que formam o caráter do personagem narrador.
Cansativo de ler, senti pena do protagonista, não pela doença, mas sim por nunca ter se orientado. Gostei imenso das descrições da realidade e dos factos aleatórios, cativava nessas partes.
Estranhei a escrita do livro de princípio, porque ele é quase um fluxo de consciência. Queria que ele conectasse melhor os pontos em alguns momentos, deixasse mais claro aonde queria ir com algumas cenas, mas consigo admitir faz sentido: claramente a gente acompanha as memórias de um homem, e nem sempre elas vêm numa ordem que faça sentido, assim como a vida real.
Adorei como a análise da classe média paulistana é brutal, sincera e direta.
Enfim, só não dou 5* porque alguns pontos realmente ficam confusos demais. Mas é um livro diferente do normal, original e que vale muito a pena ler, nem que seja para rever nossas próprias hipocrisias cotidianas.