Em Dias de se fazer silêncio, Camila Maccari nos presenteia com uma história a um só tempo intensa e delicada sobre vida, infância, amor, morte, luto, fraternidade, fragilidade, força e pequenas insurgências, escrita em uma linguagem tão poética quanto direta.
tudo nele me causou uma tristeza muito profunda e muito verdadeira. aqui a gente vai acompanhar a maria, que com 10 anos descobre que o irmão mais novo está em estado terminal (sem nem saber o que terminal significa no início). e daí vão se desenrolando muitas coisas: a solidão de maria, a inveja inconsciente que maria sente da atenção que os pais dão para rui, a cobrança constante para que ela seja uma filha exemplo e que não dê nenhum trabalho. são muitas camadas que a camila maccari executa perfeitamente em uma escrita que realmente parece o cérebro de uma criança tentando entender tudo que está acontecendo. maria sabe porque as relações familiares mudaram do dia pra noite, mas ela tem apenas 10 (11, 12) anos - é muito difícil pra ela.
me pegou demais, especialmente porque eu também sou uma irmã mais velha. é impossível não entender os sentimentos da maria, ainda que a parte da doença do irmão nunca tenha acontecido na minha família. absurdo, recomendo demais!
As durezas de ser irmã mais velha. Foi a frase que me passou pela cabeça quando encontrei o livro, passeando na Amazon.
Descobri que a editora Autêntica sempre traz leituras fortes e muitas vezes, femininas. Deixei guardado por um momento que eu precisasse ler. Nessa semana, meu irmão fez aniversário e eu tinha já começado a ler, sem lembrar desse ponto. Foi uma coincidência e acho que bateu perfeitamente.
A escrita de Camila é maravilhosamente fluída. Vi muitas críticas abordando o fluxo de pensamento, mas, se tratando de uma criança, a narrativa é para ser algo mais criativo. Vejo muitas reflexões de Maria, questionamentos dela própria sobre seu futuro, se vai ter filhos, se vai casar, pois não valia a pena repetir aquela rotina massante que vivia.
Eu me vi muito nela, por também ter tido irmão muito cedo, assumir responsabilidades para ajudar os pais e também ficar com ódio dos pais (ai gente, normal, para!).
No meio dessa história, sabemos um pouco (bem pouco, pois estamos na visão de Maria) a situação de Rui, irmão mais novo dela. Ela se questiona durante o livro "porque precisamos ter hora para ser 'família'?" e há um certo ciúme do carinho que há da mãe com Rui. Obviamente, Maria não entende a gravidade da situação e muitas vezes desabafa com a tia "Eu também ficaria dolorida se eu perdesse alguém perto de mim" dando a entender que ela não é tratada da maneira que gostaria.
> a partir daqui, spoilers <
A morte de Rui foi algo tão repentino e tive até o questionamento que a Maria teve "Porque falar algo para ele se ele nem está mais aqui?" quando mandaram ela falar com o corpo do irmão.
Há bastante ambientação de interior gaúcho. Achei muito bem explicada as histórias da avó, da casa, dos animais e a vida de rodas de chimarrão. Camila arrasou nessa parte!
O livro traz muita solidão. MUITA mesmo. Eu senti ela diversas vezes, tanto que Maria se encontrou na escrita após morte do irmão. Ajudou sua mãe no luto e definitivamente, é uma criança muito madura. Ao ponto de ser amiga de outra criança narradora, Maria Carmem de Se deus me chamar não vou, rs.
Enfim, para os que são irmãos mais velhos: leiam. Se deliciem com a dor e o crescimento de ser responsável cedo. Não é o certo, mas acontece.
Queria muito ter gostado mais, mas não consegui. O livro é lindo, sensível, emocionante, há inúmeros pontos que merecem elogios. Por outro lado, a repetição - tanto na linguagem quanto na temática - dificultou o meu processo de “conexão” com a narrativa. Também senti um certo descompasso entre as reflexões da protagonista e a sua idade; havia uma certa oscilação que me confundiu um pouco. Enfim, essa foi a minha experiência. Quero ler mais trabalhos da autora.
o livro de camila maccari explora o que acontece com Maria quando seu irmão Rui se descobre doente. as mudanças na casa, na rotina, na mãe e no pai. nas brincadeiras com o primo Germano. as coisas que já não são, na mãe que vira outro tipo de presença.
Maria precisa lidar com a informação de que o estado de Rui é terminal, precisa lidar com a ausência da mãe, com a falta de palavras dos adultos que parecem simplesmente não falar do que mais importa e está latente. Precisa lidar com seus desejos, como a saudade da mãe e da rotina, mas também com o fato de que deseja que o irmão morra logo para que ela tenha a mãe de volta.
de forma muito muito tocante, o livro desenvolve a percepção que a protagonista tem sobre a vida ao longo da doença de Rui. sua forma de ver o mundo é muito genuína e, por isso, me encantou. tem um pouco de graça, muita sensibilidade, e é um tantinho mordaz.
amei a experiência de ler e conhecer essa história. chorei muito em muitas passagens, é bem bonito mesmo o livro. recomendo!
Impossível não se conectar com a Maria e todos os seus pensamentos e sensações ainda sem nome e dúvidas sobre a vida e as relações humanas. Uma história que trata de questões tão profundas e complexas e, ainda assim, ditas de forma tão singela, como uma criança de 12 anos diria. Não é um livro triste, nem alegre, nem emotivo. É tudo isso ao mesmo tempo. Ele te faz sentir tudo isso ao mesmo tempo. Sempre amei ler a Camila e com o seu romance de estreia não poderia ser diferente: há muito tempo não lia um livro com tanta gana.
Belo livro, tema dificílimo. Me incomodou um pouco a linguagem repetitiva e a cronologia por vezes inconsistente. O silêncio e o nada são os personagens principais.
“enfim, a vida seguiu, porque essa é uma das coisas mais tristes sobre a morte de alguém a quem se ama muito: tudo continua.”
esse livro me lembrou alguns trechos de outros livros que também falam sobre o luto.
sobre a culpa que maria sente por querer que o irmão morra e que tudo volte ao possível normal, em a cabeça do santo é citado: “francisco era ajudante habitual, cresceu sabendo que até a morte faz falta quando demora a vir”.
e aline bei em o “peso do pássaro morto”: “entendendo que o tempo sempre leva as nossas coisas preferidas no mundo, nos esquece aqui, olhando pra vida sem elas”.
rui tinha morrido, e quem morre fica bem, e quem fica aqui aprende a lidar, e quem lida cresce e há que se crescer para saber perdoar.
Provavelmente um dos livros mais sensíveis que já li. Muito lindo. A autora sabe usar as palavras sutilmente para construir uma narrativa que se torna grandiosa.
“a vida sempre continua, mas como a vida pode continuar?” como se dá continuidade à normalidade da vida quando perdemos quem a gente ama pra única certeza que temos ao nascer?
No início fiquei meio incomodada com a repetição pouco apurada de palavras, mesmo pra um fluxo de consciência... mas a narrativa me pegou demais e apreciei completamente.
"Dias de se fazer silêncio" é um retrato sensível e poético da infância interrompida de Maria, uma menina de 10 anos, no interior do Rio Grande do Sul, que é forçada a encarar realidades difíceis demais para sua idade.
A narrativa se desenrola em torno da doença terminal de seu irmão mais novo, Rui, mas não se limita a ser apenas uma história de luto. Ao longo das páginas, acompanhamos Maria não apenas lidando com a morte iminente do irmão, mas também com a ausência emocional dos pais, especialmente da mãe, e as mudanças profundas em sua própria percepção de vida.
A solidão de Maria é um dos temas centrais do livro. Apesar de cercada por sua família, Maria se sente isolada, sensação intensificada pela forma como a casa se transforma à medida que a doença de Rui avança. Camila Maccari explora com delicadeza o quanto os dias de silêncio forçado dentro de casa molda a jornada de amadurecimento de Maria, que precisa aprender a processar tanto a culpa quanto o desejo doloroso de que a morte finalmente liberte sua família desse sofrimento.
A morte, nesse romance, não é tratada como um evento distante e abstrato. Pelo contrário, é algo palpável e presente, como se fizesse parte do cotidiano da família, convivendo com eles de maneira quase íntima. É como se a morte estivesse ali, tomando chimarrão com a família, esperando por Rui sem pressa. Essa perspectiva faz com que o livro vá além de uma simples história sobre perda; ele é também sobre o crescimento acelerado de Maria, sobre como ela é forçada a deixar para trás a inocência da infância.
A autora constrói a narrativa com uma linguagem que equilibra bem a dureza da realidade e a suavidade dos sentimentos de uma menina em formação. A escrita é lírica, repleta de imagens sensoriais que capturam a textura dos dias, as rotinas da casa e os pequenos gestos que revelam muito sobre a complexidade das relações familiares. Em meio ao luto, a autora mostra como a vida continua – como Maria observa, “as coisas não recomeçavam, elas seguiam".
Essa é uma leitura que emociona e ressoa profundamente. O amadurecimento precoce de Maria, sua solidão e a forma como ela lida com a morte tornam este um livro inesquecível.
Esse livro é um abraço. "Dias de se fazer silêncio" é o primeiro romance da escritora Camila Maccari, e fala sobre a experiência da perda e do luto a partir da perspectiva de uma menina de doze anos, Maria, que junto com a família passa a enfrentar a notícia de que o irmão mais novo, Rui, é terminal.
O enredo do livro é intimista e muito marcado pelos pensamentos e questões de Maria, que logo se sente deixada de lado, solitária, pelos pais que orbitam em torno de Rui, e fazem o máximo para que a morte do filho não seja algo esperado, ainda que o seja. O silêncio é desconcertante no livro, especialmente nos gestos delicados de "morder a parte interna dos lábios" para segurar as lágrimas, ou na observação atenta de Maria para a mãe que era "ausência". Viver o luto ao longo da leitura passa a ser algo concreto e palpável.
Uma das ideias que paira a narrativa é a de que o fim, a morte que nos termina, é uma realidade, mas isso não significa dizer que ele seja aceitável de fácil modo. Passamos a conviver com o fim do outro, mas também com os nossos que se achegam quando quem tanto amamos termina. A personagem Maria entende isso, mas ainda assim, busca de muitas maneiras – e por amor – se insurgir contra os nossos fins, nem sempre em silêncio.
"Enfim, a vida seguiu, porque essa é uma das coisas mais tristes sobre a morte de alguém a quem se ama muito: tudo continua", mas nós nunca continuamos da mesma forma. Somos outros, também terminando mas fazendo de tudo para nos agarrarmos um pouco mais, o que ainda resta, à vida.
💬 Queria chorar o tempo todo, e se pudesse, deitaria ao lado de Rui na cama alta e deixaria as lágrimas caírem até molhar o travesseiro e ela e o irmão e o quarto inteiro e todas essas lágrimas por ele e por ela própria e pela mãe e pela saudade que ela já sentia de todos, embora todos estivessem presentes o tempo inteiro, mas que forma era essa de estar presente, se ela era tão solitária?
O primeiro livro que verdadeiramente me emocionou esse ano. Maria tem um irmão mais novo que está com uma doença terminal. Ela está pra fazer 12 anos e todos tentam evitar que ela saiba a realidade, mas ela sabe. Ela sente. Na tristeza da mãe, na ausência do pai, na falta que sente de uma vida que nunca mais vai voltar. E é nesse cenário que acompanhamos uma menina tentando lidar com o luto e o desespero de perder o grande companheiro e, ao mesmo tempo, sua família inteira. A escrita da Camila é muito poética, muito profunda, senti vontade de abraçar Maria e sua família o tempo inteiro. Lindo e triste, ao mesmo tempo.
📌 Indico para quem gosta de: literatura brasileira; história contada da visão de uma criança; relações familiares; personagens complexos.
Sou uma grande fã de livros narrados por crianças e esse não deixa nada a desejar. Uma das leituras mais delicadas que fiz nos últimos tempos, o que me surpreendeu muito positivamente já que trata de um tema tão difícil: o luto. E o que vem antes dele, principalmente. Gostei - e me identifiquei -, muito mais do que poderia imaginar. Aliás, diria que é quase impossível não ser cativado pelo olhar ingênuo e certeiro da Maria. Para mim, o ponto alto da leitura, sem dúvidas, está no preciosismo em como Camila Maccari narra e descreve a relação entre Maria e sua Mãe.
Esse livro me pegou muito. Primeiro porque fala do adoecimento de alguém, de como lidar com a doença e a morte iminente são difíceis pra todos os envolvidos, mas me corta o coração como isso mexe com Maria. Segundo que quando a gente tem uma doença assim na família adoecemos todos (e eu tenho alguma experiência). Terceiro porque Maria é uma personagem tão corajosa, tão honesta consigo mesma que eu me peguei chorando algumas vezes. Gostei muito da prosa de Camila Maccari. É um bom livro, mas tenham um lenço em mãos.
Impossível não sentir junto com a Maria, protagonista da história, tudo que ela sente. Todos os sentimento que cabem em uma criança de 11 anos com a irmão no hospital. É um retrato nu e cru da humanidade, do quanto somos complexos e contraditórios, amorosos e raivosos, junto e ao mesmo tempo. Fora que pra quem cresceu no interior ou perto dele, ainda tem um elemento de forte conexão. Belíssimo livro.
Gostei muito como a Camila faz um minucioso estudo de personagem da Maria, uma menia de 12 anos que está tentando lidar com a doença terminal do irmão, um pouco mais novo. Maria é a protagonista nessa história de luto, é o relato de quem fica. Acompanhar a raiva, as maneiras que ela percebe a mãe se metamorfoseando no meio da perda é muito dolorido e bonito. Destaque para o sotaque, do interior do RS, presente no texto.
Este livro foi uma leitura muito pessada, densa mas muito real também. Desde o início você sabe que não será uma leitura fácil pois envolve a morte de uma criança e cómo a família lida com isto antes e depois do acontecimento. A escrita e muito real, feita desde a perspectiva de uma criança também, que envolve as figuras maternas, fraternas do universo dela. Recomendo à pessoas que estejam passando por luto ou que tenham passado por este recentemente.
O estado de sensibilidade que esse livro me deixou é surreal, a autora não pecou em nenhuma palavra sequer ao descrever os sentimentos (que são muitos) durante sua escrita. É preciso de um coração de pedra para não conseguir se colocar no lugar da Maria, principalmente para nós que somos irmãs mais velhas e sofremos com essas cobranças absurdas, tendo que "amadurecer" mais cedo e suprir essa necessidade dos pais.
Dói saber que escritores se fazem no sofrimento, mas dói profundo saber que escritores se fazem no reconhecimento da felicidade, no resgate da alegria em meio a tanta lucidez. Acho bonito escrever em primeira pessoa, mas sempre muito corajoso quem escreve na terceira, quem de longe vê tudo, nomeia tudo e sabe de tudo que se passa com naquele universo - a dor e a felicidade. Não vem do umbigo, pois foi para fora e melhor visualizou o umbigo - muita coragem.
Nesse livro a gente acompanha as angustias de Maria, que enfrenta dificuldades em lidar com o adoecimento do irmão e todas as mudanças que isso traz. Ela retrata seus sentimentos conflitantes e principalmente a culpa que sente por conta desses sentimentos e pensamentos. É um livro sensível e a inocência da narradora criança torna tudo ainda mais profundo. Adorei.
Ah, nem sei o que falar sobre... Nunca me senti tão angustiada, tanto que demorei até para terminar ... o luto de fato é algo muito difícil e complicado de lidar. Maria tão jovem, tão madura e tão sábia ao mesmo tempo. Maria teve que aprender a lidar com o luto, a lidar com os comportamentos diferentes dos pais, comportamento do primo, lidar com seus pensamentos e seu entorno. Tantas camadas e amei todas ❤️
O livro já seria grandioso só pelo tema central, o luto vivido antes mesmo da morte do pequeno Rui e que foi pontapé para desajustar toda a família, mas a autora, de forma brilhante, falou sobre como as crianças internalizam comportamentos que reforçam o lugar de servidão, deixando claro que o trabalho do cuidado e o trabalho doméstico são reservadas às mulheres.
Como é possível enxergar os sentimentos dos personagens de uma forma tão nítida, que é quase tangível?? Camila viajou e desbravou minha criança interior, como irmã mais velha, carregando todos esses sentimentos e responsabilidades.
Poucas coisas nos causam tanta satisfação quanto concluir uma obra tão bem escrita!!!
Fiquei encantada com a escrita da Camila. Muito sensível, conseguir me sentir no lugar de todos os personalizados, principalmente da protagonista. Uma história simples que se aprofunda nos sentimentos de cada um. Muito emocionante.