A identidade é construída a todo momento: quem é você, do que gosta, quais são suas bases. É um processo que mistura passado e presente para formar um indivíduo único, independente. Esse processo torna-se ainda mais difícil quando a sociedade inteira o enxerga como “o outro”, quando encontrar a própria identidade significa reconhecer-se uma pessoa racializada em um lugar que desconsidera as individualidades e a alegria de encontrar espaços de acolhimento.
As histórias apresentadas em Vozes Amarelas são ao mesmo tempo particulares e comuns à realidade de muitas pessoas amarelas no Brasil. Com muita sensibilidade, Monge Han traz suas já conhecidas cores vibrantes e os característicos três olhinhos para compartilhar reflexões fundamentais sobre preconceito, identidade, ancestralidade e respeito.
Monge Han é ilustrador asiático-brasileiro descendente de coreanos. Busca o desenvolvimento de uma linguagem própria na arte e no desenho, para que o trabalho seja sempre seu reflexo e um veículo para entender-se melhor como artista e pessoa racializada. Seus trabalhos permeiam narrativas autobiográficas, histórias ficcionais influenciadas por quadrinhos leste-asiáticos e tirinhas existenciais e humorísticas. É autor dos quadrinhos Vozes Amarelas e Mondolís.
uma obra que consegue conversar sobre questões diversas de forma muito particular, mas que me pareceram muito universais para brasileiros amarelos. me enxerguei em diversos momentos dentro das histórias retratadas. é uma obra universal no sentido de dialogar bem com quem nunca teve contato com a pauta antirracista contra amarelos, mas também com aqueles que já possuem uma bagagem no assunto! e as dicas no final do livro é a cereja do bolo, pois permite que o livro tenha uma vida além das suas páginas.
É muito legal ter e saber que temos vozes nos quadrinhos para a maioria das identidades que os seres humanos assumem e são encaixados. Vozes Amarelas é um desses quadrinhos. Ele encara a vida através da perspectiva da etnia amarela, mais especificamente dos coreanos. Acredito que outro trabalho brasileiro que faça esse movimento seja apenas o Amarelo Seletivo no Brasil. Fora dele temos O Chinês Americano. O trabalho de Monge Han é muito bonito tanto na forma como constrói os roteiro dos retratos que faz como na arte, com destaque para as primeiras páginas da primeira história que relata. Contudo, achei a introdução do quadrinho, em que explica sobre o uso dos olhos triplos em seus personagens, extensa demais, principalmente se compararmos com as outras partes que têm uma extensão menor. Assim, a sensação que dá é que aquela que deveria ser uma explicação acaba virando o assunto principal da graphic novel, quando sabemos pela sinopse, pela apresentação e pelo prefácio que não é. Faltou um toque editorial no quadrinho para evitar esse desiquilíbrio. De resto, que venham mais vozes amarelas para ampliar a representação e destruir preconceitos e estereótipos!
Conheci o Monge Han esse ano, acho que em março, quando fui na Loja Monstra pro evento de lançamento de seu quadrinho, Daruma: Perseverança. Lá também tinha Vozes Amarelas vendendo, mas não comprei.
Meses depois, uma querida colega de trabalho amiga amarela me dá esse livro de aniversário, atrasado, pois ela tava de licença, e me sinto obrigado a ler na hora.
Acho incrível como antes de iniciar as histórias, o autor se declara um ex-designer que se descobriu um artista autoral, mas, em comparação com Daruma, que tem uma arte mais mangá shonen, Vozes Amarelas realmente herda muito do que imagino que foi o trabalho de designer do Monge Han.
Parece realmente parece algo bem mais parecido de algo feito pra ser comercializado, e parece bem mais também com os trabalhos postados online pelo autor, e isso não é uma crítica, a arte do Monge é belíssima e transborda sua identidade, só que nunca antes tinha percebido que essa fase designer o influenciou tanto.
Enfim, falando mais da história, Vozes Amarelas é uma antologia de histórias de pessoas amarelas, suas dificuldades em seu país de origem no caso da primeira história, e sobre a percepção de ser um "imigrante", alguém "exótico", "diferente", dentre outras coisas, em terras brasileiras. São narrativas sobre identidade, sobre entender sua realidade, mas, mais importante: entender a si mesmo.
O livro inteiro é um ensaio sobre o amarelo-brasileiro como uma pessoa racializada, algo que, como o livro ressalta, muitos não entendem até sair de suas casas e perceberem que, no mundo exterior, pelos olhos alheios de pessoas brancas, eles são vistos por meio de diversos esteriótipos, como se fossem inferiores, alienígenas, ou até mesmo "bicho".
Apesar de ser branco, eu sou uma pessoa autista e que, durante boa parte de minha vida, sofri por ser enxergado como diferente antes mesmo de saber qual era essa diferença. E apesar de ter sofrido discriminação e preconceito por isso, eu sei que jamais entenderei o que é sofrer racismo, mas, como alguém que sabe o que é ser visto como uma aberração, declaro sempre minha solidariedade e apoio àqueles que de alguma forma, estão fora do padrão.
Voltando ao livro, a maior parte das histórias desse livro são protagonizadas por pessoas próximas do autor: sua mãe, seu primo, ele mesmo, e também sua avó, na última história do livro, que me fez chorar horrores no ônibus. Mas indo ao que importa: toda essa proximidade do autor com as histórias que ele narra aumenta muito as emoções trazidas através de suas páginas. É alguém contando histórias potentes não apenas sobre seu povo, seus semelhantes: é um artista, por meio de uma excelente exploração da linguagem dos quadrinhos, dando voz à própria família.
Vozes Amarelas é um retrato sensível, belíssimo, comovente e empático sobre um povo visto como "minoria modelo", enxergado sempre por seu silêncio, passividade, e receio de incomodar, mas que ainda assim incomoda uma sociedade racista apenas por existir, e já que incomoda sem querer, o autor resolve quebrar o silêncio, fazer barulho e dar tchau a passividade para se expressar.
Pra mim Monge Han já é um dos grandes nomes do quadrinho contemporâneo nacional. Excelente livro, e excelente presente!
O ilustrador, descendente de coreanos, reúne histórias sobre a vivência de amarelos em terras estrangeiras, particularmente no Brasil, inspirada nas vidas de seus familiares (avós, mãe, primo) e na sua própria experiência.
Com isso consegue mostrar toda uma vivência dos amarelos por aqui, sejam coreanos, japoneses, chineses e outros.
Ainda conta com um ótimo prefácio da atriz Ana Hikari e indicações, no final, de outras vozes amarelas para se conhecer e seguir (Leo Hwan, Normose, Kemi, Yo Ban Boo, GoHanGo).
Han faz uma introdução para explicar seu uso dos 3 olhos em suas ilustrações e à primeira vista, parece estranho, mas fica compreensível depois dessa intro.
Uma obra importante para um segmento que se fortalece cada vez mais, da comunidade amarela no Brasil.
Vozes Amarelas, de Monge Han, é um livro que acolhe, emociona e valida experiências muitas vezes silenciadas. Para pessoas amarelas no Brasil, a leitura se torna quase um espelho – um espaço onde histórias como as nossas finalmente ganham voz.
As narrativas são construídas com uma sensibilidade única, trazendo um profundo sentimento de pertencimento. É quase um abraço de consolo, um reconhecimento das dores e vivências que muitas vezes são invisibilizadas. Uma leitura essencial para todos, inclusive para aqueles sem ascendência asiática, pois oferece um contato sutil e poderoso com essas experiências, ampliando a compreensão sobre identidade e raça no Brasil.
Ler Vozes Amarelas é um convite para sentir, lembrar e, acima de tudo, se reconhecer.
3,5⭐️ Esse livro é um grande aprendizado de empatia. Eu, como pessoa branca, me vi em diversos momentos nessa história. Momentos em que os esteriótipos colocados em pessoas amarelas eram citados até pq eu cresci ouvindo esses estereótipos e apesar de nunca ter falado para alguém, acreditava piamente neles. Crescemos em um mundo que banaliza o preconceito a ponto de ele ser enraizado nas gerações, não temos noção do quanto nossas “brincadeiras” afetam o psicológico, autoestima e aceitação de cada pessoa. Foi um livro que me trouxe reflexões necessárias e um outro olhar para com o outro.
Obrigada por abrir meus olhos, obrigada por essa história!
um livro sensível e muito importante! o autor conseguiu passar mensagens extremamente pertinentes e complexas de uma maneira respeitosa e acolhedora. a obra nos deixa diversas reflexões sobre questões e preconceitos enfrentados por pessoas amarelas, além da revisitação a memórias, sentimentos, cultura e experiências. é impossível não ser cativado pelo livro e pelas personagens, principalmente pela obra de arte que são os desenhos e traços do Monge. todo mundo deveria ler, vale muito a pena!
Sem dúvida alguma, um dos melhores livros que li esse ano. Se pudesse dar mais estrelas, com certeza daria. Um livro sensível e grandioso! São histórias sobre vivências, contadas de forma leve, mas muito profunda. Me coloquei no lugar dos personagens, em muitos momentos e senti um pouco das emoções deles, seja dor, alívio ou alegria. Um quadrinho excelente!
Acompanho o monge a mais ou menos 2 anos nas redes sociais e pra mim é muito bom ver como ele tem crescido tanto como artista, ter este livro em mãos é de uma sorte muito grande ainda mais saber que estou apoiando um artista maravilhoso quanto ele, Eric se um dia tu ler isso, saiba que você é o cara!
as histórias contadas em Vozes Amarelas foram um abraço pra mim, enquanto brasileira amarela. ler sobre experiências tão parecidas com as minhas e da minha família são como uma validação de que a gente importa e nossas histórias também. amei e me emocionei com essa leitura.
Um livro muito bom para refletir, o quanto pessoas não brancas sofrem agressões diárias, que são perpetradas como piadinhas, nas que machucam. Um livro em quadrinhos, rápido de ler, porém com muitas mensagens importantes.
melancólico e acolhedor. a leitura é uma experiência agradável, mesmo com temas sensíveis embasados em fatos reais, existe uma leveza que não sou capaz de explicar. é um trabalho lindo e necessário, meu segundo contato com uma obra do monge han!
Livro nacional em quadrinhos sobre questões sociais, étnicas, biográficas. Centrado numa visão de um brasileiro amarelo. Não sei de outra publicação parecida. Histórias interessantes e de fácil leitura, proporcionando por vezes reflexões.
arte belíssima e única, conteúdo sensível e importantíssimo. todo o sucesso do mundo ao monge han. que cada vez mais as portas se abram para figuras amarelas (e racializadas em geral)
Sensacional, eu amei o “easter egg” dos olhinhos, achei a sacada genial e única. As histórias são incriveis, histórias que todos nós deveríamos ler e saber mais sobre.
Legalzinho, mas não se distingue muito de outras obras, sejam elas graphic novels ou não, que tratam da experiência amarela imigrante em outros países. A força maior da obra vem justamente de um certo pioneirismo no contexto do mercado de quadrinhos brasileiro, mas a forma como o enredo, os diálogos e os temas são trabalhados lembra bastante o estilo de um filme inofensivo da A24. Assim como a maioria dos outros discursos e produtos midiáticos sobre pessoas amarelas diaspóricas, sinto que falta um exame crítico do nosso papel enquanto reprodutores e reprodutoras de dinâmicas de opressão que atingem outros setores da sociedade, especialmente os negros e indígenas. Afinal, não era a isso, à "transmutação das realidades", que se referia Ana Hikari no prefácio? De resto, faço coro com a resenha do Guilherme Smee: a seção explicando o motivo dos três olhos poderia ser mais curta.