Esta é a história de um homem cujo nome, Chivukuvuku, significa bravura. Um homem casado com uma mulher chamada Victória, e com três filhos: Pedro, Mário e Celma. Um homem nascido a 11 de novembro (data da independência de Angola), e que dedicou toda a sua vida ao combate pela democratização do seu país. Abel Epalanga Chivukuvuku sobreviveu a duas quedas de avião durante a guerra civil, a um atentado e a uma terrível tentativa de linchamento, sem jamais perder a alegria pela vida e a capacidade de perdoar, de escutar o outro, de dialogar. A sua história é também a história de Angola, olhada a partir do Bailundo, no coração da nação ovimbundo.
«José Eduardo Agualusa [Alves da Cunha] nasceu no Huambo, Angola, em 1960. Estudou Silvicultura e Agronomia em Lisboa, Portugal. Os seus livros estão traduzidos em 25 idiomas.
Escreveu várias peças de teatro: "Geração W", "Aquela Mulher", "Chovem amores na Rua do Matador" e "A Caixa Preta", estas duas últimas juntamente com Mia Couto.
Beneficiou de três bolsas de criação literária: a primeira, concedida pelo Centro Nacional de Cultura em 1997 para escrever « Nação crioula », a segunda em 2000, concedida pela Fundação Oriente, que lhe permitiu visitar Goa durante 3 meses e na sequência da qual escreveu « Um estranho em Goa » e a terceira em 2001, concedida pela instituição alemã Deutscher Akademischer Austauschdienst. Graças a esta bolsa viveu um ano em Berlim, e foi lá que escreveu « O Ano em que Zumbi Tomou o Rio ». No início de 2009 a convite da Fundação Holandesa para a Literatura, passou dois meses em Amsterdam na Residência para Escritores, onde acabou de escrever o romance, « Barroco tropical ».
Escreve crónicas para o jornal brasileiro O Globo, a revista LER e o portal Rede Angola.
Realiza para a RDP África "A hora das Cigarras", um programa de música e textos africanos.
----- José Eduardo Agualusa (Alves da Cunha) is an Angolan journalist and writer born to white Portuguese settlers. A native of Huambo, Angola, he currently resides in both Lisbon and Luanda. He writes in Portuguese.
He has previously published collections of short stories, novels, a novella, and - in collaboration with fellow journalist Fernando Semedo and photographer Elza Rocha - a work of investigative reporting on the African community of Lisbon, Lisboa Africana (1993). He has also written Estação das Chuvas, a biographical novel about Lidia do Carmo Ferreira, the Angolan poet and historian who disappeared mysteriously in Luanda in 1992. His novel Nação Crioula (1997) was awarded the Grande Prémio Literário RTP. It tells the story of a secret love between the fictional Portuguese adventurer Carlos Fradique Mendes (a creation of the 19th century novelist Eça de Queiroz) and Ana Olímpia de Caminha, a former slave who became one of the wealthiest people in Angola. Um Estranho em Goa ("A stranger in Goa", 2000) was written on the occasion of a visit to Goa by the author.
Agualusa won the Independent Foreign Fiction Prize in 2007 for the English translation of his novel The Book of Chameleons, translated by Daniel Hahn. He is the first African writer to win the award since its inception in 1990. (wikipedia)
O livro, intitulado "Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku. Uma Biografia de Angola", do escritor angolano José Eduardo Agualusa, relata-nos o percurso de vida de um destacado líder da UNITA, oriundo da cidade do Bailundo, província de Huambo, na região do Planalto Central de Angola, Abel Chivukuvuku, que é actualmente deputado na Assembleia Nacional em Angola, eleito pela UNITA.
E narra-nos também a história recente de Angola, em particular, vários episódios da guerra civil angolana, após a sua independência, ocorrida a 11 de novembro de 1975, nomeadamente, durante os anos oitenta, e, posteriormente, quer na sequência das primeiras eleições gerais em Angola, que tiveram lugar em setembro de 1992, e cujos resultados, que deram a vitória ao partido do MPLA de José Eduardo dos Santos, os quais foram reconhecidos internacionalmente, não foram, porém, aceites pela UNITA, quer, em 1995, quando, uma vez mais, a UNITA, na pessoa do seu líder máximo, Jonas Savimbi, se recusou a implementar o Protocolo de Lusaka, celebrado em novembro de 1994, negociado entre o MPLA e a própria UNITA, sob mediação internacional, em que este movimento se comprometia a proceder ao aquartelamento, ao desarmamento e à desmobilização dos seus combatentes e à sua integração nas forças armadas angolanas e, finalmente, ao assassínio de Jonas Savimbi em fevereiro de 2002.
Decidi ler este livro não por causa do tema em si mesmo, mas porque gosto muito de vários dos livros escritos por José Eduardo Agualusa, em particular de "O Vendedor de Passados", " A Rainha Ginga" e "A Sociedade dos Sonhadores Involuntários".
Mas esta obra foi de leitura difícil para mim, pois pouco conheço da história recente de Angola, a não ser o que acompanhei nas reportagens transmitidas pela televisão portuguesa e nas notícias que li nalguns jornais.
Pelo que, não obstante o trabalho de pesquisa desenvolvido pelo escritor José Eduardo Agualusa e as entrevistas que realizou ao protagonista desta história, Abel Chivukuvuku, bem como a vários políticos e militares seus contemporâneos, houve partes da história que não compreendi totalmente, pois eram muitas as personagens envolvidas, os locais onde as mesmas decorriam e as interferências externas, de Portugal, da ex-U.R.S.S., de Cuba, dos Estados Unidos e de alguns países africanos, como África do Sul, Zaire (actual República Democrática do Congo), Zâmbia, entre outros.
O autor José Eduardo Agualusa pareceu-me ser isento nesta biografia do dirigente da UNITA, Abel Chivukuvuku, e na descrição dos conflitos entre MPLA e UNITA, bem como na caracterização de Jonas Savimbi, o dirigente máximo da UNITA, um homem contraditório, que não confiava inclusivamente noutros líderes desse movimento, a quem destituiu de funções por diversas vezes, como Abel Chivukuvuku, ou que mandou prender e, mesmo, executar.
Abel Chivukuvuku, que foi, durante vários anos, representante da UNITA para as Relações Exteriores, tentou sempre ser fiel aos seus princípios e, não obstante, ter-lhe sido retirada a sua confiança por Jonas Savimbi, e de ter sido aliciado pelo MPLA para abandonar e trair a UNITA, nunca o fez, e procurou nos acordos de Bicesse, que estiveram na origem das primeiras eleições gerais em Angola, as quais ocorreram em setembro de 1992, e no Protocolo de Lusaka, de novembro de 1994, promover um caminho para a paz em Angola e para o seu desenvolvimento económico-social.
Um livro interessante para quem quer conhecer a história recente de África, mas para mim, de difícil entendimento, por, provavelmente, ser portuguesa e europeia, e como tal, infelizmente, nunca ter procurado aprofundar os problemas políticos dos povos africanos que advieram de muitos séculos de colonialismo.
Trata-se de um notável trabalho de investigação de Agualusa que procura detalhar os eventos mais marcantes da história recente de Angola, desde a sua independência em Novembro de 1975.
Diria que é quase imprescendível conhecer, mesmo que vagamente, alguns dos nomes mencionados durante o livro, uma vez que ajuda a juntar as peças dos factos históricos abordados, que são muitos.
Li algumas críticas sobre o livro e grande parte delas fala da falta de exatidão de datas, mas creio que é um ponto menos relevante, pois o que torna este livro fantástico é a forma como Agualusa nos explica a História através de relatos e experiências de uma figura que viveu os eventos mais marcantes da Guerra Civil Angolana, conflito este que marcou muito o país, e que se tornou uma figura incontornável do panorama político de Angola.
Um documento extraordinário de explicação de uma parte importante da história de Angola, a partir de uma incursão biográfica a um dos históricos da UNITA, Abel Chivukuvuku.
Importante para as gerações nascidas pós independência. mas muito redutor em termos de informação histórica soube- me a muito pouco. No entanto é um princípio para futuras abordagens da história dos nacionalistas fora da órbita do partido todo poderoso , guia da História (construída à la carte) de Angola, que normalmente nós é apresentada
Excelente livro! Na verdade, trata-se de fragmentos biográficos de depoimentos de testemunhas que são combinados de forma bastante solta num livro sobre esta notável figura de proa da UNITA sob Savimbi. Sendo o primeiro livro de Augualusa, achei-o algo ligeiro. Sem complicações desnecessárias, nem sínteses analíticas por parte do autor, que prefere combinar as vozes das testemunhas ouvidas num todo mais ou menos coerente.
Mas foi, sem dúvida, informativo, um verdadeiro tesouro para o meu conhecimento da sociedade política angolana. Também me deu alguns conhecimentos regionais sobre a história recente de África. E, finalmente, apreciei também as referências ao presente, pois o livro termina no momento das eleições de agosto de 2022.
A biografia de Chivukuvuku é também, indiretamente, uma biografia de Savimbi, pois a figura do líder da UNITA é omnipresente. E isso confirma a narrativa de um psicopata. O tratamento dado a colaboradores próximos, como o próprio Chivukuvuku, faz lembrar Estaline.
Por fim, é também interessante verificar quem não é mencionado no livro, como é o caso de Adalberto Costa Júnior (apenas mencionado de passagem). Isto deve-se certamente ao facto de Chivukuvuku ainda ter uma vida pública, ter de ser ponderado e ser, apesar de tudo, um animal político inveterado.
Um livro fantástico. Os livros do Agualusa fazem-nos sempre sentir bem, têm uma certa musicalidade, uma certa ligeireza, sem perder profundidade e complexidade.
Este é um pouco diferente do habitual e da uma biografia ligeiramente romantizada duma figura aparentemente importante na história da Angola pós-colonial, mas creio que não suficientemente importante para ter outras biografias. E assim através de Abel Chivukuvuku conhecemos mais dos diálogos e dramas interiores da UNITA sobretudo no pós-Guerra, e acima de tudo , por tabela, temos uma entrada directa e muito bem feita na mente e ethos do Jonas Savimbi.
Gostei imenso deste livro e contribui de forma muito lógica coerente para o cânone do Agualusa, que sobretudo - e além de muitas outras coisas - é um cronista da Angola que ama, da Angola (e da África) contemporânea , e de como a Angola antiga (e a muita antiga) contribuem para o que o país, e o continente, e hoje.
Não é portanto de surpreender a vontade do Agualusa de entrar num registo mais biográfico (se bem que, felizmente, não académico, embora bem informado), ele que gosta sempre de olhar para o passado como fonte de respostas, e também de algum conforto, certamente algum prazer.
Este livro consegue ser um “Agualusa” dos que estamos habituados ao mesmo tempo que tem uma abordagem e estilo novos e bem-vindos
Uma obra necessária que conta uma parte da história pouco visivel em Portugal. Talvez por isso, senti alguma dificuldade em acompanhar todos os episódios narrados. Obra interessante que merece estudar um pouco mais.
“Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku”, a última obra do escritor angolano José Eduardo Agualusa, assume-se como “uma biografia de Angola”. Contributo importante para a compreensão de um conjunto de factos determinantes na construção da nação angolana e na recuperação e consolidação da sua independência, o livro assenta num conjunto de entrevistas a Abel Epalanga Chivukuvuku, histórico dirigente da UNITA (fundou o movimento em 1966, na Suíça, juntamente com Jonas Savimbi), um homem que dedicou a vida ao combate pela democratização do seu país. Um guerrilheiro e um político cuja figura e o seu destino extraordinário “evocam o passado e o presente, as exceções e as escolhas, as dificuldades experimentadas por homens livres que nunca desistiram. Por isso a sua história é também a história de Angola, olhada a partir do Bailundo, no coração da nação ovimbundo.”
Traçar o percurso histórico do Reino do Bailundo - que preservou a sua independência até 1902 - é uma das primeiras preocupações do autor. Recuperando actores e factos históricos, José Eduardo Agualusa aborda a estrutura económica e social deste enclave tão particular e mergulha na cultura e nas tradições próprias do povo ovimbundo. Esta visão inicial permite ao leitor perceber que há aqui uma clara predisposição para a afirmação de vontades em torno de matérias tão importantes como o sentimento de pertença e a luta pela liberdade e pela auto-determinação, o que faz com que o grande movimento oposicionista ao regime do MPLA se tenha fixado no Planalto do Huambo e não em qualquer outro lugar. Determinação, coragem e ambição é aquilo que vemos em Jeremias Chitunda, Miguel N’Zau Puna, Tito Chingunji, Isaías Samakuva, Abel Chivukuvuku, Jonas Savimbi e muitas outras figuras do movimento do Galo Negro, mas sobretudo um enorme orgulho fundado num passado rico de História e tradição.
A partir da “segunda morte de Abel Epalanga Chivukuvuku”, no primeiro de novembro de 1992, o autor traça um percurso que nos leva através de uma Angola mergulhada na Guerra Civil, ao encontro de jogos de interesse e de poder que implicam russos e americanos, cubanos e sul-africanos, e nos quais os angolanos são meros peões num tabuleiro da cor do sangue. À escrita cuidada e envolvente que o caracteriza, acrescenta José Eduardo Agualusa uma singular arquitectura literária que permite ao leitor acompanhar os desenvolvimentos da história como se de um romance se tratasse. Marchas de milhares de quilómetros, ciladas e jogos de bastidores, o animismo e as superstições latentes ou a enorme desconfiança que Jonas Savimbi nutria por Abel Chivukuvuku e que marcou décadas de tensão entre estas duas figuras maiores da oposição ao regime angolano, são-nos mostrados como episódios de uma saga que, do Planalto do Huambo, se estende a Luanda como a Washington, a Lubumbashi como a Kinshasa, a Lusaka como a Bicesse. Pelo que acrescenta à visão da História de Angola, este é um livro a não perder.