Vencedor do Prêmio Sesc 2023 na categoria Conto, O ninho, de Bethânia Pires Amaro, mergulha em um intricado mosaico de imperfeições e doenças familiares, descortinando o véu que idealiza a casa como um lugar de segurança afetiva.
O livro de estreia de Bethânia Pires Amaro é composto por quinze contos, quinze pequenas obras-primas, que se aprofundam nas complexidades das relações familiares, explorando os recantos mais frágeis e perturbadores que podem habitar um lar. A autora nos convida a acompanhar personagens femininas que enfrentam mazelas diversas e, através de suas histórias, somos lembrados de que a casa, esse estranho ninho, não é tão sacra assim, nem tão segura.
A miséria socioeconômica e a fragilidade das conexões íntimas são exploradas com maestria pela autora, que, para Sérgio Rodrigues – jornalista e escritor que assina a orelha de O ninho –, estreia como “uma das melhores contistas da literatura brasileira”. Esses lares dessacralizados passam por vícios, suicídios, maternidades disfuncionais, abusos e violências devastadoramente reais. E, no entanto, a sensibilidade narrativa de Bethânia Pires Amaro nos ampara com as belezas imperfeitas que decorrem da tragédia cotidiana, e com a compaixão que corteja o desespero de vivermos, sempre, uns com os outros.
LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOKO DEMAIS. É A LUCIA BERLIN BRASILEIRA. CONTOS BRUTAIS, FILHAS E MAES QUE NAO SE ENTENDEM E UMA PÁ DE TRETA SOBRE MATERNIDADE. TEM UMA OUTRA SACANAGI E UMAS TRETA.
É normal que, em um livro de contos, tenha uns de que gostemos mais do que outros, o que torna até difícil avaliar o livro como um todo. No caso desse livro, eu tinha na cabeça ao longo de quase toda a leitura que seria um 4 estrelas (o que significa uma média alta nos contos em geral). No entanto, percebi que também a disposição dos contos tem lá o seu papel, pois, com a leitura dos três últimos contos, uma paulada depois da outra, o livro terminou em um nível tão elevado que eu não tive outra "saída" que não admitir que esse livro merece mesmo cinco estrelas, em vez de apenas quatro.
Esses três contos são: 1) "A causa", história muito bem construída sobre uma mulher que precisa cuidar do pai envelhecido e ao mesmo tempo circula pela vizinhança fazendo uma "patrulha" para evitar possíveis maltratos a animais; 2) "Em nome do pai", sobre duas mulheres que viajam para visitar os filhos da suas, ambos presos por crimes muito diferentes, sendo que o da narradora havia praticado estupro; 3) "Areia", conto curto que pareceria uma evocação lírica, não fosse o desfecho trágico, como se a vida tivesse que sempre que dar um jeito para impedir os vislumbres de felicidades que aparecem pela frente. O conto e o livro terminam fazendo a gente dizer "caralho!".
Além dessa sequência incrível, eu havia gostado muito de "Rinha", dolorosa história de uma neta que havia brigado com a avó por conta de umas barbaridades que havia descoberto, e que volta a encontrá-la muitos anos depois, a avó parece um pouco demente, mas ainda lembra de tudo aquilo e vai fazer questão de jogar na cara da neta.
"Iktsuarpok" também é um excelente conto, com a história de dois jovens vindos de uma família desestruturada (na verdade, mais do que isso, uma em que o pai abusava dos filhos) que tentam a sorte em outro lugar, depois de o fogo ter consumido o que tinham. Há ainda "Cabo de guerra", excepcional história curta sobre o que os pais separados são capazes de fazer no aniversário do filho que têm em comum. E o conto de abertura, "Leite de cacto", também é muito forte, com as reflexões lúcidas e cruas de uma mãe sobre a filha que havia nascido há poucos dias.
São 15 contos e aqui eu já citei quase a metade deles como contos excelentes, mas os demais também não chegam a ser em nenhum momento "ruins". Talvez fosse o caso de citar ainda "Ovelha negra", sobre uma jovem cuja mãe havia se matado em sua infância. Em todos os contos, há de alguma maneira a questão da maternidade, é de certo modo a tessitura do livro, sempre com aspectos diferentes que exploram as nuances dolorosas da relação de mães com filhos.
O livro tem uma unidade muito boa e é bem eficiente no que se propôs a fazer. É cinco estrelas.
Eu apelidei essa obra carinhosamente de leitura de um suspiro. Sabe por quê? Porque desde as primeiras linhas, ele nos obriga a manter os olhos fixos em cada palavra a um ponto em que esquecemos de respirar para poder nos debruçar em cada detalhe da narrativa, a escrita de Bethânia Pires Amaro exige um mergulho profundo sob o olhar sensível do leitor que só quem ler vai conseguir compreender cegamente do que estou falando neste parágrafo.
O Ninho nos convida a passear pelas tessituras dos cruzamentos mais delicados dentro das relações e ambientes familiares nos lugares mais banais do cotidiano. Logo em seu início, antes mesmo de alcançarmos a coletânea de contos, somos atingidos por uma enxurrada de frases em um discurso que engatilha lugares que somos colocados pelos mais velhos quando passamos pelo período da infância, mas que na vida adulta obtemos consciência da quantia de responsabilidade que se é despejada sobre o desenvolvimento de uma criança ao ouvir tantas palavras carregadas de preocupação, medos, anseios e angústias que moram dentro das expectativas que criamos sobre elas.
"quando eu tinha a tua idade no meu tempo era diferente enquanto você viver debaixo do meu teto você não sabe o que é cansaço"
Quantas vezes já ouvimos isso dentro dos ambientes familiares? Nesse ponto alcançamos a questão de análise dos excessos de proteção e até que ponto isso pode continuar não sendo prejudicial no desenvolvimento dos sujeitos como pessoas sociais?
O Ninho nos induz a um passeio incômodo e muito característico pelas vias utópicas do nosso mal-estar social. Escrito com destreza e mestria, foi uma das obras composta por contos mais premiadas em nosso país no ano de 2024, marcando a estréia da autora de forma simbólica e indescritível. É uma leitura obrigatória para todos os leitores, sem exceção.
a premissa é ótima, os contos são bem escritos, mas achei sem sal. as vozes das narradoras parecem sempre vir do mesmo eu lírico, o que tirou muito - para mim - o impacto das histórias, já que parecem todas narradas pela autora, e não pelas personagens em questão. entendo que não é simples pluralizar as subjetividades de suas personagens, mas a falta de um estilo de escrita também não ajudou a monotonia que a formalidade dos textos me causou; achei só bem escrito, mas repetitivo nas suas estruturas. o primeiro conto e o que é sobre a criança com os pais separados são os mais interessantes para mim. de resto, tudo parece mesmo um grande ninho emaranhado de galhos e folhas que não realmente se distinguem. em certo momento fiquei com a sensação de que poderia abandonar a leitura porque já havia entendido o tema do livro e, infelizmente, continuar lendo os outros contos não faria tanta diferença assim.
É triste limitar a avaliação a cinco estrelas, esse livro merece uma constelação! Há tempos não lia algo tão consistente sobre a complexidade da maternar. A autora é destemida, não tem medo de criar personagens de caráter duvidoso, e é excelente em amarrar a narrativa soltando uma bomba ao fim de cada conto. Acabei querendo invadir a casa de Bethânia e vasculhar as suas gavetas em busca de outros escritos. Não sei se aguento esperar pela próxima publicação dela, mas espero que demaaais que ela já tenha outro projeto no forninho haha
Os contos são impecáveis, principalmente o primeiro, cuja escolha para abrir o livro foi certeira. É impactante. Tem um pequeno trecho mal escrito num deles que não consigo compreender como escapou à autora e à lista dos agradecidos que leram previamente a obra (não me recordo exatamente as palavras agora, estou longe do livro, mas lembro-me que incluía o pleonasmo "planos para o futuro" e nitidamente não era algo intencional); uma pequena mácula num livro brilhante, que mereceu as premiações com as quais foi laureado.
“Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”
A autora abre o livro com essa frase de Liev Tolstói e ali entendemos o que nos aguarda nesse livro FANTÁSTICO e que não à toa recebeu o prêmio Jabuti.
Em cada conto Bethânia Pires Amaro traz a singularidade de um lar, com seu conflitos e angustias que com certeza (infelizmente) pairam vários lares brasileiros, mas ali ela narra de forma única.
Eu decorei o livro, ao final de cada conto fui deixada boquiaberta e o próximo sempre vinha com uma cacetada maior! Leiam Bethânia!
O frescor das personagens femininas em diversas idades, a certeza de que algo está errado mas que não será nomeado, as relações interpessoais perturbadoras mas estranhamente familiares. Ah, o conto contemporâneo em seu máximo!
Lembrou a mim, com gosto, de outras jovens autoras que merecem marcar a nossa geração: Sanda Cisneros em "A casa na Rua Mango", Jenny Zhang em "Coração Azedo" e em Andrea Abreu em "Pança de burro".
A introdução arranca o bandaid sem dó. O ninho é essa coisa dolorida a todos nós, se pensarmos bem. Nos contos "O fruto da árvore", "Cabo de guerra", "Ovelha negra" e "Areia", Bethania mostra a que veio. E desejo, sinceramente, que ela tenha vindo para ficar. Essa leitura de outubro do Clube de leitura Dedo de Prosa, me fez entender que um livro de contos é degustação e não corrida de 5km.
uma obra com histórias profundas, reflexivas, trazendo realidades e apontando bastante a respeito da desigualdade social sendo feito por camadas, literalmente e mostrando uma sensibilidade que é difícil de se encontrar em diversas obras
Contos potentes, surpreendentes, duros, que desfazem a ideia do lar como porto seguro. As personagens das histórias estão sempre diante de um esfacelamento de suas noções de segurança, seja por ação própria, de parentes ou do acaso. Um livro muito bom, que merece os prêmios que recebeu!
Um livro para ler aos poucos, digerindo a desconstrução do ninho como um lugar de calmaria e proteção. Melancólico, profundo e muitas vezes, esperançoso. Uma leitura que te impacta a ponto de muitas vezes exigir fechar o livro e refletir.
Nunca me apaixonei tão rápido por um livro. O primeiro conto é arrebatador. Nunca senti que algo tenha conseguido descrever tão bem o início da maternidade, as primeiras semanas do puerpério, como ela conseguiu. Escritora brilhante.
Todos os contos possuem como protagonistas mulheres. Alguns são mirabolantes como Nero e Cuco. Outros não gostei como A causa, chatíssimo. Poucos eu amei como Colagem que é lindo! E o Areia é triste, com um final inesperado!
Parece que a autora fez um checklist de temas "atuais" que chamariam atenção e escreveu um texto para cada um. A grande maioria dos textos segue a cartilha atual de "mulheres de vida sofrida", e os temas são tratados de uma forma super rasa. Considero vários dos temas importantes, mas nota-se que é uma escritora iniciante. O melhor texto é o conto mais curto do livro, com 2 páginas. Os demais tem finais totalmente esperados e personagens os quais não é possível sentir nenhuma conexão.
absolute literature!!!!!!!!!! Eu amei o livro. Se tornou um dos meus favoritos de todos. Ganhei o livro por causa de um evento do Sesc e nem pude prestigiar a Bethânia, mas todas as questões familiares são muito bem abordadas. A escrita dela é incrível.