Seguindo a trilha de vários policiais que embarcaram na trajetória meteórica do mundo do crime — como Adriano da Nóbrega, Falcon, Ronnie Lessa, Batman e Batoré —, o jornalista Rafael Soares nos apresenta Milicianos, um impressionante panorama da complexa relação entre agentes da lei e criminalidade.
Há décadas o estado do Rio de Janeiro é um desafio no que diz respeito à segurança pública. A cultura da violência se tornou uma marca indelével de sua história que, dentre outras questões, gerou o fenômeno das milícias. A partir dos anos 1990 elas evoluíram e se espalharam, hoje impactando de forma dramática a vida de milhões de pessoas. Em Milicianos, o jornalista Rafael Soares acompanha a história de vários policiais que se tornaram lendas no mundo do crime, e desvenda as engrenagens de grupos como os Galácticos, formado por alunos de uma das melhores turmas do Bope; o Escritório do Crime, consórcio de matadores de aluguel com uma clientela variada, como bicheiros, milicianos, empresários e políticos; e a Liga da Justiça, fundada no final dos anos 1990 e que, sob nova direção, se tornou o Bonde do Ecko, inaugurando uma perigosa parceria entre traficantes e milicianos. Um livro essencial para quem quer entender o poder, os alicerces e as conexões das forças criminosas que operam no Rio de Janeiro.
Livrasso! Sou do rj porém moro atualmente no PR, minha familia se mudou do Rio justamente pela violencia e foi até meio engraçado ler esse livro e ver como grande parte das coisas que sao relatadas no livro aconteceram na zona norte do rio, onde eu morava e minha familia por parte de pai ainda mora.
Minha leitura acabou coincidindo com a ultima operaçao feita no Rio nesse ultimo mes no complexo da Penha e do Alemao. Fiquei pensando MUITO sobre tudo que estava lendo aqui e como várias coisas se aplicam a essa operaçao mais recente.
Nao conhecia o autor, é um reporter da globo se nao me engano, tem que ter muita coragem pra publicar esse livro, colocando nome e cara em varios policiais envolvidos com a milicia.
Além de falar de alguns casos atuais como a morte da Marielle e a relaçao da familia bolsonaro com a milicia o livro tambem contextualiza como surgiram esses grupos paramilitares no rio, lá na decada de 90 e como eles se organizam até hoje.
Gostei demais, leitura indispensável pra todo carioca.
Que trabalho jornalístico e narrativo primoroso Milicanos apresenta. Uma apuração gigante, completa e estarrrecedora que consegue escancarar o tamanho do buraco que a relação das forças policiais cariocas tem com o terror aue a milícia instaurou no Rio de Janeiro. Livro fantástico!
Torço para muita gente ter acesso a esse livro e abrir os olhos para as atrocidades que acontecem com direitos humanos por conta do poder dos milicianos na criminalidade atual.
Rafael Soares é um dos herois sem capa deste país sem lei, da categoria em extinção de jornalistas que vão fundo na investigação e tomam enormes riscos pessoais para expor o esgoto da relação entre o Estado e o crime. 'Milicianos' é riquíssimo em histórias; não tem (e nem pretende ter) uma teoria unificada do surgimento de grupos paramilitares, mas traz material riquíssimo para quem quiser construí-la. No caminho, nos deixa enojados e desesperançosos.
Moro no Rio de Janeiro e sempre quis entender o que se passa na nossa sociedade. Lendo o livro do Rafael Soares fui capaz de concatenar notícias jogadas sem contexto nos meios de comunicacao.
Muito bom - 3,5. O livro é 3 estrelas apenas porque procuro manter um mesmo parâmetro de classificação (para efeito, o sensacional 100 anos de solidão, também recebeu 3 estrelas). Mas não é, de modo algum, demérito do livro, muito pelo contrário...
É um apanhado, de um fenomenal trabalho de investigação e reportagem feito por um jornalista carioca, que acompanha há tempos o editorial de polícia e traça um amplo e bem fundamentado panorama de como o crime, as facções, o tráfico (de drogas e de armas), as milícias e as polícias estão intrincados no RJ. O subtítulo é um primor de síntese do que as mais de 300 páginas vão revelando e demonstrando, sempre bom base em diferentes fontes e recortes de investigações, detalhadamente identificadas e referenciadas em uma enormidade de processos, fatos correlacionados e informações de investigações paralelas conduzidas pelo jornalista. É um trabalho enorme e certamente será objeto de premiação jornalística, pela qualidade, robustez e clareza que vai 'desnovelando' esse emaranhado que é a milícia no Rio de Janeiro.
É um aprofundamento factual e detalhado do que é levantado no livro (e filmes) Tropa de Elite, e demonstra a porosidade das forças de segurança do RJ ao crime organizado, e como essa dinâmica complicada se organiza. Obviamente o livro não pode ser tomado como um tratado sobre o problema da segurança pública (que é muito maior e mais complexo), mas lança luzes como a corrupção das polícias se dá desde os pequenos níveis (2.500 reais mensais divididos em 4 policiais) até as dezenas de milhões gerados pela exploração da milícia e contravenção do jogo do bicho. É um excelente documento jornalístico sobre o fenômeno...
O livro parte da investigação sobre o assassinato de Marielle Franco por Ronnie Lessa (e os achados da investigação dos suspeitos do 'escritório do crime' de Adriano da Nóbrega, que no fim não tinha relação com a morte de Marielle, mas que nessa trilha tinha dezenas de outros casos) e faz um flashback em relação ao papel desse e de alguns outros líderes da milícia, e de como se deu o seu desenvolvimento. Não chega a abordar toda a milícia, mas descreve como alguns dos milicianos fizeram a transição entre a polícia (e alguns casos do Bope, batalhão de elite) e as milícias, assim como durante boa parte do tempo mantinham as duas atividades em paralelo. Dessa forma desenvolve a perspectiva de demonstração da relação intrincada entre as duas "corporações"...
Dividido em 7 grandes capítulos, que abordam grandes temas e conjuntos de histórias (que estão relacionadas, porque ao longo do livro tem citações cruzadas), e dentro deles, em sub-capítulos de histórias que vão construindo a narrativa do autor. É um grande livro reportagem, formado por 7 grandes reportagens e dezenas de reportagens menores, mas todas com apurado e cuidadoso trabalho de levantamento de informações, fartamente documentados e referenciados, em especial em processos e relatórios de investigação da própria polícia, além de outras fontes de dados jornalísticos e entrevistas com envolvidos e familiares.
1. Ronnie Lessa e a Patamo 500 Relata o inicio de Ronnie Lessa na PM e as atuações fora de padrão que a sua patrulha (patamo500) fazia nas ruas. Elenca uma série de ocorrências e as origens e destinos dos demais envolvidos nessas patrulhas.
2. Adidos Aborda a atuação de PMs cedidos à polícia civil (os adidos) e como trabalhavam no submundo do crime para obter informações, de forma a que serem um importante ponto de contato entre as corporações (a do crime e a policial).
3. A Tropa do Bicho Explora a relação entre as atividades ilícitas do jogo do bicho e a ascensão dos milicianos e tomada de posição de destaque dentro do espólio dos bicheiros, em especial com a saida de cena de Castor de Andrade a as guerras ocorridas a partir disso (e o envolvimento e participação do poder na contravenção dos participantes da polícia, inicialmente como seguranças, depois tomando posição de chefias).
4. O caminho das armas Reporta a forma como o tráfico de armas ocorre e a participação de policiais no fluxo de armas e munições para as facções, tanto diretamente com desvio de armas (e especialmente munições) apreendidas ou da própria corporação, quando através de tráfico e vendas de armas pelos policiais para os grupos criminosos que seriam usadas justamente contra as forças de segurança.
5. Os Galácticos. Faz o apanhado dos alunos de destaque do curso do bope do início dos anos 2000, extremamene operacionais e que referenciados na corporação (e por isso receberam o apelido de galácticos) e registra como vários deles foram cooptados pelas milícias e organizações criminosas e passaram a empregar suas habilidades em favor do crime.
6. Escritório do Crime Revela as origens e como se desenvolveu o 'escritório do crime', um grupo especializado de extermínio formado eminentemente por ex-policiais que era contratado e seguia suas vítimas, com atuação de sicários, desenvolvido por Adriano da Nóbrega, Batman e Batoré (e depois a 'segunda geração', à medida que os originais saiam de cena). Descreve uma série de atuações descobertas pelas procuradoras do MP do RJ e outras tantas que não chegaram a ser aprofundadas, mas que havia indícios da atuação do escritório.
7. Liga da Justiça O desenvolvimento da milícia e a formação da 'liga da justiça', em especial em Rio das Pedras, onde a milícia surge desorganizada pelos habitantes do local nos moldes dos grupos de extermínio, mas depois são tomadas pelas forças policiais (que começam a usar o símbolo do batman para demarcar áreas de proteção da milícia), que passam a organizar o achaque aos moradores e explorações de atividades ilegais nas suas áreas de atuação, paralelo aos poderes do Estado (mas sob a vista dos agentes do Estado).
O livro foi lançado e 2023 e faz um apanhado (não exaustivo, mas bastante exemplificativo) dos casos ocorridos e dos desdobramentos até essa data. Como o autor menciona no livro, várias das investigações e elucidações seguiam em aberto na data de publicação do livro, inclusive o mandante do assassinato, que Ronnie Lessa revelou em delação premiada em fev/24 e que seria Domingos Brazão, ex-deputado e conselheiro do TCE/RJ (embora as investigações até o momento ainda sigam, corrobora justamente o intrincamento umbilical entre o crime organizado e o poder político no RJ, que o livro bem retrata).
É impressionante como as aleatoriedades se tornam relevantes... Nas minhas leituras paralelas, que em princípio não teriam nenhuma relação, estava lendo o livro com textos do Sergio Buarque de Holanda, "O Homem Cordial" de "Raízes do Brasil", e um conjunto de outros textos dele. Impressiona como a formação histórica desse comportamento "cordial" (de coração, pouco afeito a racionalidade e respeito a normas) desemboca na realidade dessas relações sociais aceitas e da linha tênue que separa o crime da polícia, e como esse comportamento e conceitos de família e da moral duvidosa daí formada, gera a justificativa desse desenvolvimento nesses últimos 100 anos... Puro suco de Brasil...
Eu nasci e cresci no Rio de Janeiro, e esse livro deveria ser leitura obrigatória para todos que moraram na zona norte e precisam entender os últimos 20 anos da história criminal da cidade.
Leitura jornalística dinâmica, com sensação até de romance (minha experiência com leituras jornalísticas são de livros cansativos e densos demais, nada comparado a este). A combinação de conteúdo literal e prosa ficou realmente boa.
Praticamente todas as informações com as devidas fontes: decisoes juridicas, dados do instituto de seguranca publica do RJ, informes policiais, etc.
O livro é interessante para qualquer público geográfico. Unifica uma quantidade de manchetes sensacionalistas que, mesmo para os não cariocas, permite criar o fio lógico que sempre ficou pairando na nossa frente, mas que não fica claro sem que alguém te guie. De assassinatos e torturas de crianças e adolescentes a atentados Hollywoodianos na barra da Tijuca, onde tudo só parecia ser uma grande festa da criminalidade e tráfico cariocas, endêmico da cidade, sem conexao alguma entre si. Rafael Soares é este guia.
"Treinado pelo Estado para servir e proteger a sociedade, o ex-cabo Freitas morreu defendendo o traficante."
"Nao sao raros os casos de policiais que abandonam a farda e passam a fornecer armamento para os criminosos que, anos antes, haviam jurado combater."
"Num dia, os policiais da escolta de Bide subiam favelas vestidos de fardas pretas a pretexto de combater o crime. No outro, estavam a serviço dele."
Ler esse livro eh passar raiva com a promiscuidade dos agentes de seguranca do RJ: PMs, PCs, juizes. Eh a nojeira e a impunidade q todo mundo sabe q existe, mas q o rodrigo soares descreve mt bem.
O livro eh excelente, mas o titulo eh meio clickbait. O titulo real eh o subtitulo. Nao eh um livro sobre milicianos, eh um livro sobre policiais corruptos e criminosos que se envolvem com diversas organizacoes criminosas. Dentre elas, faccoes, jogo do bicho, grupos de exterminio e milicias.
Eh doideira q ele foi pesquisado pelo Ronnie Lessa e mesmo assim teve a coragem de escrever esse livro falando sobre varios outros policiais/ex-policiais bandidos. Tbm foi pessoalmente atacado pela PMERJ no facebook, surreal.
Um dos livros mais importantes da história brasileira recente. Mostra todo o submundo que emergiu após a tampa do esgoto que a morte de Marielle Franco causou. MOstra as ligações espúrias entre políticos, policiais e como estes se transformaram em milicianos. Um estudo baseado em fatos e que conta uma narrativa absolutamente incrível que parece filme ou romance. Impressionante como o Rio de Janeiro e suas polícias são complexas e estão em uma condição de difícil solução atualmente. Mostra também, claro, as ligações do clã Bolsonaro com as milícias e milicianos e como, efetivamente, as milícias chegaram ao palácio do Planalto. Livro impressionante. Recomendadíssimo. OBRIGATÓRIO para quem deseja entender o Brasil e o Rio de Janeiro.
Se um jornalista conseguiu correlacionar e relatar todas as histórias e desmistificar o bem que faz os para militares , fico imaginando o que falta para se fazer justiça. Enfim, um livro imperdível que conta a história das principais milícias do RJ e seus atores principais. Escancara o conluio entre segurança pública, judiciário, políticos, bicheiros e carnavalescos. Diria que é leitura obrigatória para todos, pois o que está acontecendo no Rio pode estar se espalhando por todo o Brasil.
Na mesma linha de obras como A Guerra, República das Milícias, Vale o Escrito... este livro é essencial para entender como o crime organizado se estruturou para fazer parte da institucionalidade por meio das forças de segurança do Estado. Para quem nasceu ou vive no Rio de Janeiro é uma leitura ainda mais impactante.
“Quando se confere ao policial liberdade para matar, para executar criminosos, sem que isso custe nada, se lhe confere também tacitamente a liberdade para não matar e negociar a sobrevivência. Olhe a moeda que o policial da ponta tem em suas mãos: a vida. Não há moeda que se inflacione mais, não há bem mais precioso. O suspeito dá o que tem e o que não tem para sair vivo”.
Muito bom o trabalho do Rafael Soares!! Pesquisa, texto, dados atuais e muito completos. Uma aula sobre o Rio de Janeiro e a história da intercessão entre milícias, política e polícia - mas sem que o texto seja cansativo. Para quem gostou do livro, recomendo também ouvir o podcast "Pistoleiros", do mesmo autor.
a coletânea de acontecimentos que é apresentada em ‘milicianos’ não faz parte de uma investigação qualquer, rafael soares traz para esse livro um real trabalho jornalístico, capaz de ir até a raiz e entender as ligações que são postas entre o estado e as instituições corruptas que fazem parte dele.
Livro incrível com um trabalho de investigação maravilhoso. Em contrapartida, é triste ver um Estado com tanto potencial largado às traças pelo poder público.