Quando vê passar pela rua um colega de infância que acreditava estar morto, Danylton é levado a investigar os eventos de vinte anos antes, no Núcleo Bandeirante. À essa narrativa, soma-se a de Boamorte – miliciano cuja trajetória confunde-se com a da construção da nova capital.
Na Brasília das casas geminadas, da terra vermelha e do asfalto quente, os vilões dos westerns tomam a forma de oficiais corruptos; os tiroteios aparecem primeiro nos videogames; os cavalos dão lugar ao Chevette; e o bairro vive sob o domínio silencioso do jogo do bicho.
Em seu livro de estreia, Dan se apropria de elementos da cultura pop e da cultura popular para construir um romance sobre um dos pilares da identidade brasileira: a violência que rege todas as relações sociais.
Que obra incrível! Vamos às considerações que me fizeram ler esse livro. Primeiro, foi indicado por uma amiga e eu tento ler todos os livros que amigos me indicam. Segundo, a história se passa no Núcleo Bandeirante, bairro onde estudei na infância e onde meus pais vivem atualmente, o que despertou um vínculo afetivo. Por último, estou priorizando a leitura de mais autores nacionais e até agora não me arrependi.
Danylton, ao ver passar pela rua um colega de infância que pensava estar morto, é levado a investigar os eventos de vinte anos antes, no Núcleo Bandeirante. Conforme a trama se desenrola, o leitor é imerso em uma narrativa intricada que abrange não apenas a jornada pessoal de Danylton, mas também revelações surpreendentes sobre a comunidade em que ele cresceu. A obra oferece uma profunda reflexão sobre os laços de amizade, os desafios da juventude e as complexidades sociais presentes em um ambiente marcado por mudanças políticas e sociais. Além disso, a tensão crescente resultante da formação da milícia local adiciona um elemento de suspense e intriga, mantendo os leitores envolvidos até a conclusão.
Livros com histórias que se passam no DF me interessam. Quando são bem escritos, como este, do autor Dan, são um prazer de ler. No caso do Vale o que tá Escrito, temos um faroeste moderno, com crítica social subliminar, toques de Tarantino, que se passa na cidade satélite de Brasília, Núcleo Bandeirante. Leitura que te agarra e faz querer avançar na noite para acompanhar a história.
Vale o que está escrito é, com certeza, uma das melhores leituras do ano. É envolvente, instigante, visceral, engraçado e violento. É uma leitura que vale a pena. Dan consegue ambientar a sua história de forma primorosa.
É um texto redondo. Parece que cada palavra está no lugar certo. A narrativa metalinguística segue um cara que começa a escrever uma história depois de ver um ex-conhecido que acreditava estar morto. A partir daí, fazemos uma viagem ao Distrito Federal, mais precisamente ao Núcleo Bandeirante, nos anos 90. Uma década marcada pela violência miliciana e pela parceria entre jovens. É gostoso de acompanhar.
Dan faz uma homenagem aos anos 90 e à cultura pop brasileira sem cair no exagero. Tudo se encaixa. É um livro que mexe com os sentimentos. Chorei com certa passagem, e meu ódio por gente de farda só aumentou. Eu me afeiçoei a Lilico, personagem cuja história o protagonista tenta recriar, e digo mais: ele matou foi pouco, e se realmente matou, foi tentando acertar.
“É raro achar um autor que saiba tratar com carinho seus personagens canalhas, mas fechamos o romance de estreia de Dan com vontade de tomar umas cervejas até com policiais corruptos. Nesse faroeste miliciano brasiliense, lemos, além da narrativa cativante, uma discussão necessária sobre o compromisso —ou não— da ficção com o real” (Lígia Gonçalves Diniz, prof UFMG, na Folha, 30/12/2023, como indicação de melhores livros do ano)
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Excelente crônica de Brasília. É uma história contada dentro de outra história e é interessante como o tipo de narrativa muda bastante quando acompanhamos o livro que é escrito pelo protagonista. A interação com regiões do Distrito Federal e Goiás enriquece bastante como cenário e os personagens têm motivações, reações e emoções bem desenvolvidas e com que nós conseguimos nos conectar. Vale muito a leitura do que tá escrito.
Vale muito o que está escrito aqui, viu. Dan é ágil com as palavras na capacidade de falar sobre esse famoso deserto brasileiro que são as terras goianas. O livro é uma excelente pedida para quem gosta de coisas como Marçal Aquino e Rubem Fonseca, mas especialmente para quem gostou de Vento de Queimada de André de Leones. Dan, entretanto, se interessa por discutir não só seu mundo, mas também a própria literatura.
O começo do livro indicava que seria uma história interessante, ao estilo Cidade de Deus, mas acabou se perdendo em algum momento. A virada de ponto de vista próximo ao final deu um fôlego que me instigou a buscar o final. No fim, apesar do título, mistura faroeste com contravenção, o que causa a confusão no título do livro. Poderia ser melhor, mas gostei mesmo assim.
Um narrador periférico com disposição para escrever, mas que não julga suficiente o material que traz de seu cotidiano e suas vivências. Só quando desenterra uma história que pode ser elaborada como uma saga protagonizada por uma figura que pode ser transformada em lendária ele sente ter encontrado algo que vale a pena contar. E vale a pena conhecer sua voz — tanto no cotidiano como na fabulação.
O livro te prende do início ao fim, uma leitura fluída, com diálogos naturais. A história surpreende e o jeito de contar é bem interessante. Recomendo.
Terminei, nesse segundo, a leitura de Vale o que tá escrito, do Dan, e vim correndo escrever essa resenha para aproveitar a adrenalina e o sangue quente dessa leitura que devorei em dois dias, porque eu precisava saber o final: o que aconteceu com Lilico? E se o narrador encostado acaba se redimindo também?
Como essa é uma história que se passa aqui na capital, vou usar da minha licença poética candanga pra dizer: vei, que livro cabuloso.
O narrador quer nos contar a história de um de seus amigos que havia sido dado como morto, mas que, um belo dia, passou pela frente do seu café, vivinho da silva. Começa aí uma investigação, passando por registros jornalísticos, diários e pela reconstrução da própria memória: qual foi o fim de seu amigo? Como ele pode estar vivo depois de tudo aquilo que aconteceu?
Temos um mistério-thriller-meio-faroeste que se passa nessa terra de umidade negativa, especificamente ali no Núcleo Bandeirante (Banban, para os íntimos), mas visto de outro ângulo: do surgimento da milícia, as heranças da ditadura, o jogo do bicho e tudo que orbita esse tema (((sexo, drogas, álcool))), a violência começando a dar a sentença de cada cabeça, dependendo dessa roleta-russa que é o nascimento. Gostei da ousadia de tratar de tantos temas, mas ainda assim não se perder, existe um fio condutor de ritmo viciante.
Sugiro nem procurar muito sobre o livro, vai no escuro mesmo. A emoção é maior, a raiva também. Mas já vai sabendo que a escrita é afiada, sem meio-termo: se escreve como se fala, e as ruas contam muitas histórias.
Se você leu e gostou de Ainda estou aqui, acho que pode gostar desse livro também.