Escrever é o acto de pensamento mais justo. Obriga à escolha cuidadosa das palavras, a recuperar o pensamento que estava fixado e a fazê-lo voltar a mexer-se. Muitas vezes faz com que terminemos com o resultado contrário ao que tínhamos como certo antes de escrever a primeira palavra. Escrever crónicas obriga a um pensamento constante sobre o que nos rodeia, mas o que nos rodeia nem sempre é companhia aconselhável, e pensar sobre isso pode aumentar - para o bem e para o mal - o que antes não se via. Quando me convidaram para escrever crónicas semanais na revista Sábado (que sai à quinta, já agora), foi essa a minha dúvida: quais seriam as consequências de escolher mais uma maneira de ver de perto as coisas que me aleijam? Para me contrariar, aceitei. Enquanto escrevia dei por mim muitas vezes a pôr em causa o que pensava antes e a pensar sobre o que isso quereria dizer.
Não cheguei a conclusão nenhuma, mas ao preparar este livro percebi que as coisas dentro da minha cabeça fazem muito barulho. Ordená-las e escrevê-las é ainda o último reduto de sanidade contra esse ruído. Este livro é uma compilação dessas crónicas que escrevi e que agora vieram para aqui viver todas juntas.
Ajuste de contas com a amizade Tantos Alentejos em mim A árvore que era da casa da minha avó A solidão escolhida O cheiro da casa O que a luz esconde Estar calado é fazer muito mais do que parece
Obras de arte que provam que a crónica é um género maior. Ficam aqui as minhas preferidas!
Rir é algo que gosto muito de fazer e não me coíbo de soltar uma ruidosa gargalhada sempre que me apraz. Não perco uma oportunidade. Não sei se é muito valorizado mas eu gosto que o humor esteja presente no que leio. Ademais, humor inteligente que mais do que divertir, questiona, leva à reflexão e até crítica. Devia mas não li as crónicas na sábado (que sai à quinta). E devia porque sei o que visa, e fico reativa quando há tantos absurdos que lhe servem de matéria em que até os simples desenhos que acompanham algumas crónicas são muito ilustrativos neste humor interventivo. Serviço público como "Já não chegamos para quem nos ouve". Incomoda alguns, o que não é surpresa, porque se sentem julgados. A ironia e o sarcasmo de Bruno são de uma pertinência que pasma por sintetizar em breves crónicas bem escritas tantas conversas soltas anônimas de escárnio e maldizer.
Eu li “A Causa das Coisas” do Miguel Esteves Cardoso porque ouvi o Bruno Nogueira no seu podcast tecer sérios elogios ao trabalho do MEC. Pouco tempo depois, já andava a ler “A Causa das Coisas” e a adorar quando o Bruno Nogueira lança o seu próprio livro de crónicas “Aqui dentro faz muito barulho”. Comprei o livro assim que saiu e li agora, logo após o do MEC. Só li estes dois livros de crónicas na vida e acho que ganhei o jackpot das crónicas… Os dois autores são brilhantes! O Bruno Nogueira escreve bem, pensa bem e tem a alma e o coração do lado certo. Há humor, como seria de esperar, mas aquilo que me deixou maravilhada foi mesmo a alma e o coração que o Bruno jorrou naquelas páginas. As crónicas são lindíssimas e muito comoventes. Gostei de todos os textos mas a crónica sobre o Alentejo foi a minha preferida, a escrita é poética e o Alentejo tem ali uma digna ode.
Já conhecia muitas das crónicas, mas voltar a lê-las foi um exercício que me deu muito prazer.
Encontrei muitas das minhas inquietações nestas páginas e ver os meus pensamentos organizados por palavras, frases e parágrafos de uma forma tão fiel surpreende-me sempre, mesmo que seja uma leitura repetida.
Para além dos tormentos conhecidos, descobri outros tantos. Mesmo não sabendo que os tinha, estavam a moer no escuro. Dar-lhes corpo ajudou a suportar o peso.
O saldo final é que depois deste livro todas as inquietações parecem mais suportáveis por serem afinal inquietações do mundo, e o peso parece agora repartido.
Aqui dentro (também) faz muito barulho e o Bruno Nogueira consegue com este livro baixar o som um bocadinho.
Esperava um livro cómico, tendo em conta que era escrito pelo Bruno. Mas não é, e se calhar foi melhor assim. Adorei as crónicas, por vezes cruas e duras, daquelas que deixam a lágrima no canto do olho. E também deu para perceber que não é só ali dentro que faz muito barulho... Recomendo!
Eu gosto muito do Bruno Nogueira. O seu humor inteligente faz-me sempre rir (umas vezes mais do que outras, mas isso normalmente depende do meu estado de espírito e não da qualidade da piada). Neste livro, que não é mais do que um conjunto de cronicas escritas para a revista Sábado, conheci um outro Bruno, mais parecido com aquele com que tenho “falado” todas as semanas através do seu podcast “Isso não se diz”. Alguns pontos das crónicas foram discutidos no seu podcast. Cronicas inteligentes, perspicazes e escritas com uma clareza que me faz acreditar que o Bruno Nogueira é mesmo uma das vozes a ser ouvidas desta geração. E o Bruno foi muito espertinho porque juntou-se ao maravilhoso Juan Cavia para que este ilustra-se as crónicas. Essa jogada foi de mestre porque Cavia diz tanto com as suas ilustrações. São divinais!
Conjunto de crónicas de uma beleza e profundidade extraordinárias.
Algumas dessas coisas também me fazem muito barulho aqui dentro.... e vê-las descritas de forma tão familiar, e depois desconstruídas, analisadas e até relativizadas, de forma exímia com o Bruno o fez, permitiram-me não só perceber que é um peso partilhado, como ensinaram e ajudaram a silenciar um pouco esse ruído.
"As cabeças são fortalezas, e mares, e demónios. Conseguem fazer com que canhões que estavam em guarda a apontar para fora, rodem para dentro e fiquem a um rastilho de rebentar com tudo. Lutar contra ela pode durar uma vida toda e mesmo assim não chegar."
Parece-me que nos resta continuar a lutar... e aprender a domar o barulho cá dentro.
1ª leitura do ano e penso que foi uma boa maneira de começar. Revi-me e concordei com a opinião em várias das crónicas, sobretudo as mais relacionadas com a parentalidade e algumas das problemáticas dos dias de hoje, nomeadamente a questão das redes sociais, a forma como (não) comunicamos e o quão desvalorizados podem ser certos comportamentos e atitudes que, na realidade revelam muito sobre a pessoa e a forma como pensa.
Muito interessante, boa articulação e encadeamentos das crónicas.
Como iniciar o ano de forma sublime! Peguei neste livro como algo leve para iniciar o ano, conjunto de crónicas curtas, podendo folhear enquanto me deixava levar pela aleatorieadade do nome do capítulo! Fui surpreendida!! Aqui encontra-se humor (mas não só!), atualidade, temas estruturantes, valores e uma mensagem. Há crónicas que sem dúvida vou querer reler! O cheiro da casa <3
Ao acabar de ler este livro pergunto-me até que ponto é que Bruno Nogueira devia ser humorista - porque ele tem, de facto, rasgo para a escrita. E são as crónicas mais profundas - sem pingo de humor, só de humanidade e sensibilidade - que, para mim, são mais bonitas. Os textos que mais gostei são aqueles que não têm referências temporais e que não se referem a um evento em específico. A escrita de Bruno Nogueira lembra-me a minha própria forma de escrever em muitos aspetos - a forma como sinto os textos redondos, os fechos, o desenvolvimento de ideias iniciais - e isso, curiosamente, traz-me conforto. Eis as minhas crónicas preferidas, quiçá para ler no futuro: "Já não chegamos para quem nos ouve", "Isto não é o que parece", "Metro quadrado de silêncio", "Ajuste de contas com a amizade", "Saudades do presente", "Tantos Alentejos só num", "A árvore que era da casa da minha avó" e "As muitas verdades".
Acho que este livro representou muito bem a minha relação com o trabalho do Bruno Nogueira: de umas coisas gostei, de outras nem por isso. Não são crónicas essencialmente humorísticas, embora possam ter humor, e gostei particularmente disso. Gostei da vulnerabilidade e da melancolia. E, claro, não podemos esquecer as ilustrações belíssimas do Juan Cavia.
Um livro que compila várias crónicas e uma escrita maravilhosa, solitária, feliz mas também com muitas nuvens negras. Gosto muito da crueza com que o Bruno escreve sobre o tempo ser escasso e sobre muitas coisas nos escaparem rapidamente das mãos. As crónicas cheiro da casa e o amor das coisas belas vão viver para sempre no meu coração.
Nunca tinha lido as crónicas do Bruno, mas sendo um dos comediantes mais famosos em Portugal, decidi dar uma oportunidade.
O título já nos sugere que esta não iria ser uma leitura para rir, mas sim uma observação do mundo e da vida pelos olhos de um homem que faz comédia.
Entre críticas a acontecimentos recentes e pensamentos mais conceptuais, para mim, o pico deste livro está nas crónicas em que o autor reflecte na sua vida, na parte talvez mais biográfica do mesmo.
Confesso ter suado da vista, porque há barulhos na cabeça do Bruno que fizeram eco na minha.
foi mesmo bom ler este livro. senti que todo o barulho que faz dentro dele conseguiu tornar mais claro todo aquele que há dentro de mim. dos meus livros favoritos, sem dúvida. <3
Raro dizê-lo… mas era mesmo isto que estava a precisar!
Depois de ler a Little Life confesso que a vontade de pegar em que livro fosse era nula.
Aqui tinha uma vantagem (um pouco de descanso à cabeça e ao attachment que poderia ter) por ser uma compilação de crónicas sobre nada mais nada menos que: a imperfeição que é viver.
Deu-me vontade de voltar a pegar num caderno e escrever sobre muitas coisas que estavam a ganhar pó na minha cabeça, quem sabe vou mesmo fazê-lo.
Só queria sublinhar as ilustrações que jogaram muito bem com cada crónica e ainda permitiram personalizar o caminho que cada um faz ao ler “Aqui dentro faz muito barulho”.
Gostei de todas. O Bruno, pelo menos para mim, revelou-se um talentoso escritor e um grande pensador também. Há algumas, no entanto, que se destacam das outras, essas tenho a certeza que vou levar comigo, mesmo inconscientemente.
Sem dúvida uma das minhas partes preferidas, as absolutamente incríveis ilustrações do Juan Cavia, que enriquecem muito o livro, tornando visuais e artísticos conceitos abstratos.
Pensava que era um livro de humor e, por isso comprei-o para o meu filho. Peguei nele porque pensei que me ia fazer rir, … só que não. Eu até nem costumo gostar muito de crónicas, mas estas estão bem escritas, identifico-me com as ideias, pensamentos e palavras. Fez-me refletir e reler frases profundas, ou que pelo menos o são para mim.
O Bruno é um génio Ele consegue reproduzir, na perfeição, os pensamentos, as angústias, as certezas e as incertezas de todos nós Consegue dar voz a opiniões que todos temos, mas que não conseguimos reproduzir para o papel, em forma de texto,desta forma fenomenal Adorei, e revi me em muitos textos. Senti que ele me lia....que ele me conhecia, mas afinal, foi ele que se deu a conhecer e eu só fiquei mais fã, por saber que eu penso exactamente como ele,só não sei é explica lo assim Aconselho vivamente
Neste livro cheio de crónicas de Bruno Nogueira podemos encontrar algumas reflexões acerca de acontecimentos da actualidade e outras acerca de assuntos mais profundos. A genialidade deste homem não se fica apenas pelo humor. O que escreve de mais sério revela muita sensibilidade.
Aproveito esta review não só para recomendar o seu livro, mas para enaltecer todo o seu trabalho (para lá de genial na minha opiniã): Odisseia, Último a Sair, Como é que o bicho mexe, Fugiram de casa de seus pais (com o magnífico Miguel Esteves Cardoso), Princípio Meio e Fim, Tabu...
O Bruno tem uma capacidade única de interpretar aquilo que se passa em seu redor. É dotado de um olhar atento, uma inteligência fora do comum e o dom da comunicação (com um toque de humor).
Acredito que ele passe bastante tempo a observar, não só o exterior, mas também o que se passa cá dentro, onde faz tanto barulho que nem sempre se consegue ouvir bem. Mas ele consegue. Ouvir, reflectir e colocar em palavras aquilo que faz tanto sentido mas que nos escapou no meio da confusão. Estas crónicas são fruto disso. Agradeço ao Bruno por nos presentear com textos tão ricos, que despertam todos os tipos de reflexões e sentimentos.
É um privilégio poder ouvi-lo e lê-lo. São pessoas assim que me deixam ainda mais orgulhosa de ser portuguesa.