Primeiro romance de Socorro Acioli após A cabeça do santo, Oração para Desaparecer conta a história de uma mulher que, sem lembrança nenhuma de seu passado, precisa reconstruir a vida em um lugar completamente desconhecido, apenas com a língua portuguesa como porto seguro.
Cida, uma mulher sem identidade nem memória, reconstrói pouco a pouco uma nova vida em um lugar completamente desconhecido. Jorge encontra nessa misteriosa estrangeira uma paixão inesperada, que recria o que não parece provável. Do outro lado do Atlântico, Joana é o fantasma de um amor há muitos anos perdido por Miguel. Quando os quatro personagens se entrecruzam no tempo em busca de respostas para as próprias angústias, se deparam também com uma trama fantástica sobre magia, ancestralidade e pertencimento. Oração para Desaparecer é uma das histórias possíveis sobre o amor e seu poder de dissolver as barreiras do imponderável.
"Oração para Desaparecer é um romance de viagem. […] Escrito com vigor e dedicação, Socorro contribui para ampliar uma literatura com memória, em que a imaginação ativa é capaz de construir diversas realidades, apresentadas com verossimilhança e beleza. É um romance que prende e convence até os leitores incrédulos. Não se pode pedir mais, resta apenas agradecer." — Pilar del Río
"Socorro Acioli regressa à ficção e ao universo mágico tão bem trabalhados em A cabeça do santo, com um enredo extremamente bem-sucedido, misturando lendas indígenas do nordeste brasileiro com tradições portuguesas. Oração para Desaparecer é uma belíssima história de amor, que une Portugal e o Brasil, resgatando a grande arte da pura fabulação." — Mia Couto
A Brazilian journalist, novelist and children's author, Socorro Acioli (1975- ) holds a masters in Brazilian literature, and began her literary career in 2001, going on to publish in a number of genres, for both adult and child readers. She has participated in a workshop run by Gabriel Garcia Marquez; has done research at the International Youth Library in Munich, Germany; and is currently pursuing a PhD in Literary Studies at the Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro.
Socorro Acioli (Fortaleza, 24 de fevereiro de 1975) é uma escritora brasileira, formada em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e Doutoranda em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Sua obra de estréia, O Pipoqueiro João, foi escrita quando a autora tinha ainda oito anos de idade. Publicado pela Nação Cariry Editora.
Em 2001, durante o curso de jornalismo, retornou às letras com a biografia de Frei Tito de Alencar Lima. O livro, intitulado Frei Tito, foi publicado pelas Edições Demócrito Rocha na coleção Terra Bárbara. Em 2003 lançou, pela mesma editora e mesma coleção, a biografia de Rachel de Queiroz, escrita a partir de pesquisas e entrevistas com a autora. A partir de 2004, Socorro Acioli começou a escrever e publicar livros infanto-juvenis. Estreou com Bia que tanto lia - uma história do livros para crianças, pelas Edições Demócrito Rocha. Em 2006 foi a única brasileira selecionada para a oficina de roteiros Como contar um conto, ministrada pelo escritor colombiano Gabriel García Márquez (Prêmio Nobel de Literatura de 1982), na Escuela de Cine y TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba.
Em 2007 ganhou a bolsa de pesquisa da Biblioteca de Munique, na Alemanha, onde morou por dois meses. Em 2009, foi convidada pelos Centro Culturais das Embaixadas do Brasil em La Paz, Bolívia e em Praia, Cabo Verde, para proferir palestras sobre sua obra e seminários sobre Literatura Brasileira. (Wikipedia)
Não tem ninguém mais frustrado que eu por não ter curtido o jeito que esse livro é narrado.
A ideia e os elementos são fenomenais — uma mulher desenterrada viva sem memórias do passado, mas cuja história remonta ao soterramento de uma igreja no Ceará —, mas a execução me perdeu. Não senti força na protagonista até chegar na terceira e última parte, durante o livro ela me pareceu tão carismático quanto uma parede branca. As escolhas narrativas também me decepcionaram, especialmente a segunda parte, em que (spoiler???) descobrimos o passado da protagonista através dos diálogos de outro personagem.
É um livro com trechos e diálogos muito fortes, bem trabalhados, lapidados. Apesar disso, não me impactaram como poderiam porque me senti desconectado com a história por quase todo o tempo.
Enfim, feliz em finalmente ter lido mais um livro da Socorro Acioli, mas chateado por não ter alcançado minhas expectativas.
Nascida em Fortaleza, Ceará, Socorro Acioli saiu do nosso país para participar de um curso presencial com Gabriel García Márquez. Um privilégio para poucos e que foi fruto de muita dedicação da autora. E para nossa sorte, Socorro volta ao Brasil com narrativas que nos lembram o estilo do Gabo, mas sem perder sua voz única. Temos realismo mágico e uma incrível capacidade de nos contar histórias, junto com um cenário e um forte toque brasileiro.
Em seu último romance, publicado depois do sucesso “A cabeça do santo”, Socorro também parte de um fato real e extremamente curioso para escrever a sua obra. Uma igreja, situada em município cearense, ressurge após ficar 45 anos soterrada pela areia. Em “Oração para desaparecer”, a autora vai além e, logo no início, nos apresenta com uma personagem que nasce da terra, literalmente.
Ela não lembra o seu nome. Não tem memórias de seu passado. Apesar do sotaque nitidamente brasileiro, a mulher é encontrada - e precisa ser desenterrada - em uma pequena cidade de Portugal. Quem a resgata parece entender um pouco do que aconteceu com a mulher, mas os mistérios são revelados aos poucos. E logo a batizam de Cida.
E nesse ambiente de tantas redescobertas e dúvidas, a protagonista acaba encontrando uma paixão. É o medo de abrir mão de um passado desconhecido misturado com a vontade de criar uma nova história.
A leitura de Socorro é coringa e facilmente irá agradar o leitor: uma leitura fluida, personagens bem desenvolvidos, um bom mistério e o retrato dos sentimentos humanos.
Nota: Como considero a autora uma amiga, prefiro não dar nota.
Para mais resenhas, acesse o @book.ster no Instagram.
Nunca tinha lido Socorro Acioli, mesmo ela sendo bem quista na literatura contemporânea brasileira já há algum tempo e que surpresa! Me parece oriunda do realismo mágico latino-americano e por isso uma força da natureza.
com muitas lágrimas me escorrendo o rosto digo que este livro é uma das coisas mais preciosas que já li em toda a minha vida. nada, nada-nada-nada, é capaz de ofuscar o poder da memória, pois nela reside o pertencimento. é magistral a evolução e o primor de Socorro neste romance. que alegria é prestigiar o impecável da potência feminina na literatura nacional!
(por favor, por favor, por favor, façam suas pesquisas ao fechar o livro - há um universo gigantesco a ser descoberto!)
2.5 Eu queria ter gostado desse livro. E até achei que ia, lá pelo primeiro quarto de páginas. Mas a narrativa me irritou tanto: como pode uma história tão fantástica deixar tão pouco espaço para a imaginação? Tudo em Oração para Desaparecer é tão _escrito_, não há margem para interpretação, é o que é, são só palavras nas páginas e não universos na mente. O livro enfatiza tanto que muitas coisas nunca serão compreendidas (conceito que adoro, sou a favor do desapego da coerência) para depois fazer questão de explicar tudo tin tin por tin tin. Faltou vida, emoção; o que é paradoxal para uma história que se vende como, acima de tudo, uma história de amor. Além disso, o livro não é crível (e não digo isso num sentido de que é fantasioso. Livros fantasiosos podem ser críveis, livros realistas podem ser não críveis), e tudo é um pretenso drama que só por Jesus Cristo. Fico muito triste porque a premissa é interessante e tinha um super potencial, mas realmente não me convenceu. Dito isso ainda admiro muito a Socorro! Mas esse não foi pra mim
Há livros de escritores brasileiros e há livros brasileiros, sendo esse segundo o caso de A Oração para Desaparecer, uma vez que é um recorte de uma cultura e do costume de um povo ancestral que apesar de tudo e de tantos, sobrevive, em especial na literatura.
Narrando a história de uma jovem que renasce aos 22 anos nua na terra de outro continente, sem memória, passado e nome, e que carrega consigo apenas um colar de búzios e os sonhos que mais confundem que elucidam seu passado, é por meio dela que Socorro Acioli nos conta, dentre muito, que “entender o próprio país é uma das coisas mais importantes para entender o resto do mundo e saber de si.”
Sem passado e com um mistério atrás de si, a busca quase próxima à literatura fantástica descortina a religião e a tradição dos povos tremembés, bem como o morticínio deixado por Portugal. Conta-nos que a vida é “uma coisa atropelada, que passa muito rápido” e somente aqueles que atravessam o tempo entreguem ao amor podem ser felizes. Instigante do início ao fim para a resolução do sumiço e aparição assombrosa da mulher, a escritora viaja até as tradições e cultura dos Encantados, descobrindo um país e povo que somente movidos pela fé e pela crença conseguem entoar uma oração para desaparecer. E é acerca dessa oração e do amor pelos povos, que a escritora rememora e compõe uma obra brasileira do início ao fim, instigante e curiosa.
Quanto a mim, fiquei contente em tê-lo lido; a segunda e terceira parte me lembraram os capítulos finais de Torto Arado
3,5* Gostei muito da premissa deste livro: uma mulher surge de dentro da terra, nua, sem cabelo, sem saber de onde vem ou para onde vai. Uma família predestinada acolhe-a, diz-lhe que irá lembrar-se das suas origens e das razões que a fizeram atravessar o mundo como uma ressureta, mas tal não acontece. Sabe apenas que é brasileira por causa do sotaque. Enamora-se e a vida prossegue. Até um dia. Socorro Acioli tem uma imaginação bonita e um jeito especial de contar histórias. Apenas achei demasiado fantasioso e esperava outro desfecho.
"Fosse correto meu desatino, os amantes sempre teriam seu dia de sorte e os amores dariam certo por lei."
“Que capa linda!”, pensei a primeira vez que vi a edição portuguesa deste livro. Uma capa criada pela Vera Braga, suficientemente cativante para lançar a semente da vontade da leitura, que se consolidou quando comecei a ouvir falar bem dos outros livros da Socorro Acioli.
Antes de mais, parabéns à Particular pela aposta que tem feito em novas autoras brasileiras, com edições de enorme cuidado gráfico!
Mas voltemos a “Oração para Desaparecer” e às expectativas altas com que comecei a ler a história de Aparecida, uma mulher brasileira desenterrada viva em Portugal. Essas expectativas encontraram um primeiro obstáculo quando li na contracapa que o desenterro se dá em Almofala, na fronteira entre Portugal e Espanha, e depois, ao começar a ler o livro, me deparei com a informação que afinal a Almofala referida pela autora (há 6 em Portugal, como nos é dito no próprio texto) fica ao pé de Caldas da Rainha. Oh, diacho!
Parece um pormenor, mas este erro quebrou a minha relação de confiança com o que estava a ler, que não foi restituída quando comecei a ler falas de personagens portuguesas que me soaram... pouco portuguesas! E atenção, adoro ler em português do Brasil, mas quando me dizem que uma personagem é portuguesa, é bom que ela fale como um português, ou vai-se a credibilidade daquilo que estou a ler.
Estes elementos criaram uma barreira entre mim e o livro, embora ache a premissa da história muito interessante e até tenha achado a leitura da primeira parte cativante pelo mistério que rodeia Aparecida. Mistério que que ao longo do livro é abafado por uma necessidade de explicar excessivamente tudo, sem deixar margem ao leitor para imaginar, interpretar ou refletir. O que depois evidencia falhas entre a parte inicial do livro em que Aparecida é apresentada como uma entre muitos Ressurectos, e o final do livro em que nos é dito que o que o que lhe aconteceu está intimamente ligado às crenças e folclore de uma comunidade
E o que retiro disto tudo? Há coisas boas no livro, mas muitas outras que me levam a crer que precisava de mais trabalho e que ficou aquém do seu potencial.
Não que eu tenha desgostado do livro. Defintivamente não foi o caso. Talvez eu tenha esperado algo diferente, queria saber mais da história dos ressurectos, entender melhor as personagens, suas particularidades, suas fraquezas, sua humanidade. Agumas passagens são muito bonitas, mas me incomodou, por vezes, o tom, e a repetição de algumas sentenças e truísmos tornou a leitura um pouco cansativa. Socorro trabalha essa relação estreita com o fantástico, de que eu gosto, e sei que essa obra foi fruto de uma ideia muito interessante e uma pesquisa meticulosa da autora, mas eu precisava de um pouco mais pra me deixar levar. Como disse uma das boas resenhas que li por aqui, penso que eu, como leitora, possa ser o problema. Talvez eu estivesse esperando algo que a obra, por sua própria vocação, não pudesse e nem tivesse o intento de entregar. De qualquer forma, foi ótimo tomar contato com essa todo esse mundo, e pesquisar sobre a igreja, a história de Almofala, as crenças tremembés e, claro, a história de Joana Camelo.
É evidente o quanto de pesquisa tem por trás da escrita desse livro, a forma como ela costura os mitos, saberes, lugares, ficção e realidade pra tecer essa história é de fato envolvente, peguei o livro e não consegui largá-lo, mas se comecei ávida por ver onde iria chegar só continuei mesmo pela curiosidade de ver onde o tecido iria esgarçar. Talvez seja eu pouco romântica pra aceitar que o fio principal fosse um amor à primeira vista, um amor sem muitas explicações, um homem idealizado, uma mulher apagada, sem identidade e que foi salva por esse amor. Se o que me fisgou no começo do primeiro capítulo foi a promessa do realismo mágico, essa mágica se perdeu aos poucos ao ser constantemente explicada, reforçada, em diálogos pouco críveis com frases muito bonitas, claro, mas que mais parecem uma tentativa da autora de nos convencer da beleza do amor, faltou realidade. O capítulo final senti que foi uma tentativa de cerzir todos os buracos que a história pudesse deixar, não sobrou espaço pra imaginação, o arremate é um final feliz completamente explicado e cheio de elementos espontaneamente forjados, todos lindos, como num bordado dos namorados, meticulosamente calculados esperando serem pendurados e morrendo de medo de ser escarrado e pisado. É um livro bonito, sem dúvidas, gostoso de ler, despretensioso eu diria, mas ficou um gostinho de frustração que foi se acentuando do meio pro final.
É maravilhosa a maneira que a Socorro conta suas histórias. O fantástico é de uma sutileza sem precedentes! tudo muito crível mas com o tempero da magia, o que torna a narrativa ainda melhor.
Uma religiosidade plural, bem característica do Brasil. Os saberes indígenas com o catolicismo e o mistério. Os encantados.
A protagonista, um mistério a ser revelado, com muitas camadas. Achei o final a coisa mais bela e poética do mundo. Amei!!!
Daqueles livros muito bons, envolventes, mas que despertam mais um sentimento de tranquilidade do que uma adrenalina insana. Pelo menos foi assim que senti essa história: mesmo com um evento interessantíssimo e misterioso como pontapé inicial, não havia pressa e nem razões pra pensar que todas as coisas teriam uma explicação lógica.
Socorro Acioli é uma das autoras contemporâneas que provavelmente serão estudadas como autoras de clássicos daqui uns cem anos. Ela tem o dom de contar história, de passar as emoções com lirismo, sem deixar pontas soltas nem com eruditismo forçado. Aqui ela narra a história de uma mulher que sai de baixo da terra, como se fosse o oposto de um enterro, e que tem nenhuma lembrança do passado. A trama segue mostrando ao leitor como uma mulher sem passado consegue tomar as rédeas da vida e seguir em frente, e como ela consegue fazer as pazes com o passado.
É uma história de realismo fantástico com raízes indígenas do Ceará, e foi bem gostoso ler uma trama que honra essas tradições. Não sei se pela pesquisa ou pela Acioli estudar e ensinar literatura, mas também foi muito gostoso ler o texto dela. Minha nota é 4,5, gostaria só de saber mais sobre a mitologia dos Ressurectos, mas no geral recomendo muito a leitura de Oração Para Desaparecer.
Minha experiência de vida me fez cético, com certa dificuldade de voar pelas propostas da fantasia, crendo mais naquilo que entendo e explico, duvidando menos, portanto, de mim mesmo por justamente poder explicá-lo. O novo livro da autora me exigiu muito esse voto de fé. Dei o que foi possível, mas sinto que falhei. Aqui e acolá encontrei frases lindas e repletas de significado, mas no amontoado narrativo, fico com a sensação de que, para mim, faltou saber algumas coisas para que a história fosse minimamente crível, assentada numa realidade antes da magia, ainda que ela nunca me tenha pedido para sê-lo. Assim sendo, tenho plena consciência de que o problema deste livro está em mim, enquanto leitor. Pode ser que, fosse eu a tê-lo escrito, tivesse dado menos saltos elípticos para explorar melhor alguns personagens, expandi-los na vida para além do recorte absoluto da personagem principal. Também acho complicado quando o livro muda muito a voz narrativa (algo que, de forma similar, também encontrei em Salvar o Fogo, do Itamar Vieira Jr, e que é um livro de certa forma irmanado deste romance da Socorro), pois penso que este recurso faz perder profundidade narrativa e acaba dando um distanciamento higiênico para momentos sujos, que assim deveriam ser apresentados, crus, menos passíveis de uma autocensura dos personagens que as contam quase em tom de relato jornalístico e, sim, um pouco sensacionalista. De toda forma, é um livro bom, um entretenimento decente para dias em que nada melhor haja para se fazer.
Ao longo dos meus (não tantos) anos de vida, aprendi que existem livros que contam histórias e livros que nos transportam para dentro delas. Oração para Desaparecer é uma experiência sensorial, uma travessia entre tempos, espaços e identidades.
Socorro Acioli escreve de um jeito que faz a gente esquecer que está lendo. Em vez de páginas e letras, sentimos presenças. Estamos na mesma sala que as personagens, respirando junto delas e atravessando suas dores.
A trama nasce do desconhecido: uma mulher sem nome, sem memória, sem passado, enterrada viva em um lugar estrangeiro. O que a levou ali? Quem ela foi? O que precisa lembrar? O mistério se desenrola com uma naturalidade que beira o inevitável, como se as respostas sempre estivessem lá, esperando para serem aceitas. Enquanto Cida busca a si mesma, o livro nos empurra para uma reflexão profunda sobre identidade, ancestralidade e pertencimento.
Há uma sensação paradoxal nessa leitura: uma saudade de casa misturada com o desejo de recomeçar. A narrativa nos lembra de onde viemos e, ao mesmo tempo, nos dá coragem para mudar, desaparecer e renascer. A espiritualidade que percorre a história, entrelaçada ao realismo mágico, faz com que as emoções se confundam com os sonhos (há!).
É difícil descrever o impacto desse livro sem recorrer a sentimentos. A escrita de Socorro é deslumbrante, particular e hipnótica. Você não lê, você sente. Esse se tornou um dos meus livros favoritos porque me tocou em um nível profundo, num lugar que talvez sem ele eu nem soubesse que existia. Ao terminar, fiquei com aquela sensação rara de ter vivido algo inesquecível. Como se, por algumas horas, eu também tivesse desaparecido – para, enfim, me reencontrar.
Achei uma leitura muito leve e fluída, li 90% ontem e o resto hoje. Ele tem a dose certa de realismo fantástico e romance, além de mostrar uma mulher independente e forte saindo de todos os clichês e jargões que estou acostumada a ler por aí. Na minha opinião são 3 livros em um só: a parte em que Cida aparece, a parte onde conhecemos Miguel e a parte onde conhecemos Joana. Nenhuma deixa a desejar, e cada parte se complementa. Já é um dos meus livros favoritos da vida, junto com 100 anos de solidão e o conde de monte cristo
olha. não tem muito o que dizer assim, nossa, cara, tô nervosa. vou falar igual ela assim então, não pode deixar águas parada é isso então então, obrigado.
Socorro Acioli já é dona do meu coração, disso não tenho dúvidas. Panfleto "A cabeça do santo" pra todo mundo e não poderia ter ficado mais feliz de ter caído num grupo de leitura que também ama e espalha a palavra desse livro em todo o canto.
O "Oração" só veio pra consolidar a autora como uma das minhas favoritas da atualidade. Mas, como nem tudo são flores, tenho algumas reclamações:
i) a autora não tem nada a ver com isso, mas essas porcarias dessas capas que estão vindo atualmente (todavia e cia das letras têm vários livros assim) DERRETEM na nossa mão. eu tento ser o mais cuidadoso que posso com meus livros e esse aqui parece que foi lido por todo mundo de Pinhais e Piraquara e mais uns de São José dos Pinhais. o coitado está todo estropiado e isso me deixa muito agoniado. 'mas ai que frescura, nada a ver, é só um livro'. sim eu endeuso o objeto livro, fora que EU PAGUEI POR ELE E NÃO FOI BARATO NÃO
ii) outra coisa que a autora não tem culpa. ô, minha gente, eu tenho comigo um exemplar da 5a reimpressão do livro e tem erros de revisão aqui que não tem como deixar passar! pelo amor de deus, é o maior grupo editorial do Brasil e estamos falando de uma autora renomada. dá uma tristeza ler 'decida' no meio desse texto, quase caí da cadeira. tem um trecho que é uma canção e está em itálico e, de repente, volta a narração e não arrumaram a formatação. em outro, uma passagem de tempo de 49 anos vira 40, e não dá pra dizer que é um lapso da personagem, pois logo em seguida se fala em 49 anos de novo. 2048 + 2048 = 4094??? repito, é só O MAIOR GRUPO EDITORIAL DO BRASIL. dá pra aceitar passar tudo isso em um livro de 200 páginas que já foi reimpresso pelo menos cinco vezes?
iii) essa eu não sei dizer se é culpa da autora (tô querendo livrar ela de tudo ahahah), acredito que seja uma implicância minha, bem pessoal, com uma personagem. até já reclamei em uma atualização de leitura e vou reclamar de novo. tá, é uma história de amor. tá, a gente sabe que vai ter trecho meloso piegas e a gente aceita porque é uma história de amor. mas, assim, não sei se gosto muito de ver o jeito que o Miguel fala da Joana/Cida como se só houvesse ela no mundo. 'ah, mas cê acabou de falar que aceita os exageros e pieguices porque é uma história de amor'. tudo bem, eu aceito, mas ele fala dela com todo esse exagero de amor de novela mexicana e dá a entender que a mulher com quem se casou e passou o resto da vida não vale nada pra ele. achei bem podre. melhore, véio Miguel, e vá pedir perdão pra Tereza (que não tem obrigação nenhuma de perdoar). e nem me vem com 'ah mas ela casou com ele porque quis, sabia bem que ele idealizava a morta/desparecida', porque já que é pro Miguel ser o galã perfeitinho/idealizado ele poderia muito bem ter aberto mão de se casar com outra e curtir a dor de cotovelo dele sozinho.
iv) sou brasileiro, nem sei se aceito essa ideia de 'spoiler', mas olha, quem escreveu o texto da quarta capa só faltou finalizar com "e você nem precisa mais ler porque tô te dizendo tudo que acontece aqui, bjs"
v) Socorro, só queria reclamar que quero um calhamaço escrito por você. conceda-nos a honra de ler 500/600 páginas das suas ideias tão lindas e mágicas. por favor.
[12/02] até eu que não sou uma editora grande e famosa no país volto pra fazer uma revisão no meu texto.
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Se tem uma coisa que não se pode dizer da Socorro Acioli é que ela não escreve bem, que gostoso que é ler quem sabe o que está fazendo.
Contudo, acho que fui com expectativas muito altas. Apesar de ter gostado muito da narrativa, achei que o ritmo de leitura ficou um pouco quebrado em alguns momentos, o que não foi suficiente pra me tirar a vontade de ler o livro.
Gostei do começo, mesmo que lento, mas achei tudo após a primeira parte decepcionante. (A partir daqui, spoiler) problemas de continuidade: "já se passaram 49 anos" "quantos anos Joana tinha à época? / Vinte e dois. Se fosse viva ela teria sessenta e dois anos agora" uma semana depois o mesmo personagem está dizendo que ela teria 71 anos. Em 80 páginas pelo menos 3 menções de quantos anos ela tinha quando morreu e quantos anos teria agora, desnecessário. Pelas contas da a entender que estamos em 2004, mas 49-40 anos antes ele estava com uma música do Chico Buarque na cabeça... querendo fazer estudos do material genético de cavalos marinhos, sem verba para nada além de uma expedição de 4 meses, em 1955. passa 49 anos obcecado por uma mulher que ele namorou por, no máximo, 4 meses. Em um momento ele diz que pararam de chama-lo de assassino por pena, mas mais pra frente fica claro que ninguém o viu como assassino. Fala que passou todos esses anos sonhando com ela, e depois fala que isso foi só nos primeiros anos. Mostram o regionalismo da fala dos tremembés nas cantigas e orações, mas não na narração da mulher que viveu por 22 anos entre tremembés. A fala dos portugueses é muito mais característica do que a fala da personagem principal. Mas o problema maior é criar um grande suspense que é simplesmente desapontador. Nada é deixado para a imaginação, tudo é explicado tintim por tintim, mas uma explicação desnecessária, que não acrescenta à história, que só faz perder qualquer mistério que poderia ter sobrado (por exemplo, a travessia pelo mar até chegar onde foi desenterrada). Fiquei realmente desapontada já que achei as indagações e pensamentos sobre a vida da primeira parte bem moventes, e o resto não ficou a altura. Por fim, por mais que respeite todas as religiões, não consigo ter a visão do livro de ver como ato heróico matar e morrer por conta de uma estátua de santa. Eu poderia discutir pequenos problemas que me azedaram nesse livro por horas, mas acho que falei o suficiente.
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Esta foi uma leitura agradável. Notei que a primeira parte é muito enrolada e morosa mas, por outro lado, penso que este “alongamento” foi necessário para o desenrolar posterior da história, no sentido de que é, por vezes, difícil recuperar o passado, uma identidade, em suma, a história de si mesma.
O que acontece quando perdemos (temporariamente ou não) a memória? Quão angustiante isso é e quão frágeis nós podemos sentir em circunstâncias “desconhecidas”? É possível criar um presente (e futuro) quando se é “órfão” de passado? Onde fica, neste caso, a liberdade de Ser? Também fica soterrada, assim como a Igreja de Almofala?
A segunda parte já é mais dinâmica e o que me agrada mais é o facto da história ser baseada em factos reais e também este laço pulsante entre Brasil e Portugal. Depois, todo o caleidoscópico de memórias, umas aflitivas outras baseadas no amor, no simbolismo do colar de búzios e nos cavalos marinhos.
Agrada-me também toda a tapeçaria étnica, ancestral, parece que tudo comunica, tudo se encaixa e prevalece a voz de cada pessoa, no resgatar na identidade única que amadurece com o passar do tempo.
Infelizmente não senti a empatia próxima com as personagens. Entre este livro e “A Cabeça do Santo”, a minha preferência vai para este último, pela premissa, pelo desenrolar mais fluido da narrativa e, novamente, pelo facto da autora se ter baseado em factos reais.
Morei no Ceará por mais de 20 anos e desconhecia a história de Almofala, território Tremembé, cujo marco de encontro entre povos se materializa na construção de uma Igreja, a de Nossa Senhora da Conceição de Almofala— feita de tijolo, argila, cal e búzios. Assim como a personagem principal, que brota em outra terra, desconhecendo seu passado, quem ela é, mergulho nessa história vislumbrando meu próprio desconhecimento histórico, do que antes fora invisível para mim. Mas com o proceder da história, há movimento, há partidas, há ação em busca do relembrar. Pois, afinal, como coloca Saramago: “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam”. Frase que evoca uma fé cega, um conforto para transitar entre mundos, sabendo que indo pelo estado do amor, há de ser um caminho recompensador.
Minha primeira vez lendo Socorro Acioli e impressionada com a escrita e potencialidade que a autora possui de contar histórias.
Socorro Acioli apresenta-nos uma mulher que nasce da terra, que renasce. Questionei-me muito sobre o simbolismo deste nascimento, desta ideia de nascer da terra. Em momentos maus quantos de nós não deseja declamar a oração para desaparecer e renascer? Começar do zero não é fácil. Nascer adulta, sem memórias e ter de seguir com a vida, não é fácil. Mas como a história nos vai revelando: vale a pena; a vida refaz-se de maneira a valer a pena. Ainda que tenha muito de fantasia e realismo mágico, a mensagem da aceitação da mudança e da identificação do "eu" é muito importante. Nenhum mal é infinito. Mais cedo ou mais tarde, renascemos, seguimos com uma vida nova, aceitamos o destino.
Uma aposta narrativa interessante, gostei como a história vai sendo descoberta (embora por vezes arrastada), porém tem alguns elementos da história que simplesmente não me capturaram a atenção. Uma história que se entrega aos poucos e tem um final esperado e agradável (final feliz?), porém se excedeu em alguns pontos. Quatro estrelas pelo mérito de ser Socorro Acioli a escrever.
Não há como a descrição não tirar um pouco do encanto. É livro que traz pela mão o sentir, o olhar, muita história, muito acontecido, muito pensamento e ensinamento. É pra ler rápido ou devagar, e talvez um dia eu releia com calma. É Brasil, é lindo, se joguem.